A última edição da revista “Star Trek Communicator” traz uma exaustiva entrevista com o produtor-executivo e co-criador de Enterprise, Brannon Braga. Nela, o escritor conta sua satisfação com o programa, revela algumas das coisas que devem aparecer no segundo ano da série e comenta, episódio a episódio, a primeira temporada. Confira abaixo a tradução, na íntegra, da matéria da “Communicator”.
Quando a USS Voyager voltou para casa em triunfo em “Endgame”, em maio de 2001, sinalizou o fim da viagem de sete anos de “Jornada nas Estrelas: Voyager”, e o fim de uma era também. Depois de três séries e centenas de episódios, a Jornada da tv estava deixando para trás o século 24 pela primeira vez desde que foi primeiro mostrado, 14 anos antes. Embora “Jornada nas Estrelas: Nêmese” vá continuar as aventuras daquela era em forma de filme, na telinha uma nova abordagem estava nascendo.
Procurando seu futuro no passado, o franchise se relançou com a série pré-sequência Enterprise. Sem o familiar título “Jornada nas Estrelas”, e ambientada a bordo da Enterprise NX-01 do século 22, a missão da série de explorar os anos iniciais da Frota Estelar também estava sendo como uma chance de soprar nova vida e energia no franchise. A aposta valeu. Estreando em 26 de setembro de 2001 na UPN, o piloto marcou pontos com os fãs e a crítica, recebendo resenhas positivas e dando à UPN sua segunda maior audiência da história (depois da estréia de Voyager, “Caretaker”).
Para o produtor-executivo Brannon Braga, que junto com o co-criador Rick Berman passou dois anos preparando a série, foi um gratificante começo para o que ele considera uma temporada de estréia muito forte.
“Nós conseguimos cumprir bem o que queríamos”, diz Braga. “Os personagens se saíram melhor do que esperávamos. A aparência e sensação do show é do jeito que queríamos. A cereja no bolo foi a resposta entusiasmada da audiência e da crítica. Isso foi algo que torcíamos e rezávamos para que acontecesse, mas excedeu nossas expectativas mais otimistas.”
Estreando com o duplo “Broken Bow”, o piloto estabeleceu a premissa tripla da série: a relação desafiadora da humanidade com os Vulcanos, a nova missão de exploração da Enterprise e a misteriosa Guerra Fria Temporal. Também introduziu o novo elenco, liderado pela ex-estrela de “Quantum Leap” Scott Bakula, como o capitão Jonathan Archer, e atirou o quociente de ação de volta aos níveis da Série Clássica.
“Nossa meta, por mais arrogante e pretenciosa que pareça, era fazer o melhor piloto já feito para Jornada nas Estrelas”, diz Braga. “Foi certamente o mais ambicioso. Se você olhar para a enorme quantidade de sequências de ação e de valores de produção, foi bem impressionante.”
Seguindo o piloto a temporada regular foi iniciada com uma série de quatro episódios projetados para cimentar a atitude da nova série e dos personagens. Centrando na abordagem ingênua e ampla da exploração espacial, as diferenças entre esta e as outras Jornadas ficaram cada vez mais claras conforme a tripulação da Enterprise passava de um novo encontro ao seguinte.
Em “Fight or Flight”, a indecisão de Archer quando confrontado por alienígenas hostis e pelas críticas de T’Pol levaram a algumas preocupações sobre o personagem. Esperando que a abordagem retrô significasse um Archer bem parecido com Kirk, alguns fãs não estavam certos inicialmente do que pensar do novo capitão.
“Essa [indecisão] era planejada”, diz Braga. “Queríamos um capitão que estivesse animado para sair lá fora e explorar, e então percebesse que a galáxia não é bem o que ele esperava. Ele não é Kirk. Kirk teve o benefício de uma Federação, de uma Frota Estelar de naves e da Primeira Diretriz. Archer está por conta própria. Você poderia dizer que ele é indeciso, mas para mim essa é parte da diversão. Queremos vê-lo frustrado. Gradualmente ele começa a ganhar suas ‘pernas espaciais’. Mas isso é algo que você quer que seja mostrado, porque é bom drama de personagem.”
“Strange New World” serviu como um estudo de personagens do tipo “Naked Now”, em que Trip, T’Pol e Mayweather são expostos a um pólen alucinógeno. O episódio também ajudou a mostrar que a tecnologia tradicional de Jornada, como o transporte, está longe da perfeição. Quando Archer relutantemente teleporta um tripulante a bordo, ele se materializa com rochas e galhos fundidos em seu corpo. Os criadores acharam essa nova “limitação” um alívio bem-vindo.
“Está brincando comigo?”, Braga pergunta retoricamente. “Em A Nova Geração e Voyager, você mal podia fazer qualquer coisa porque as naves eram tão avançadas. Tomamos uma decisão consciente aqui de fazer menos tecnobaboseira, resolver histórias com soluções de personagens. O que me preocupa é que não queremos ter tudo inventado muito depressa.”
A ansiedade e a gravidez alienígena de Trip em “Unexpected” mostraram mais as diferenças entre essa tripulação do século 22 e suas contrapartes dos séculos 23 e 24. Em particular, a interpretação de homem comum de Connor Trinneer como Trip rapidamente fez dele um dos personagens mais identificáveis da série.
“É tudo uma grande viagem [trip] para ele”, brinca Braga. “Quando Trip vai à nave alienígena, ele não pode esperar por chegar lá. Mas quando ele chega lá, ele rapidamente descobre que quer sair de lá. É demais. É muito estranho. Esse é o tipo de coisa que você nunca veria um Riker fazer, porque eles seria muito experimente. E Connor trouxe mais para Trip do que poderíamos ter imaginado.”
Na tradição da série original de Jornada, “Terra Nova” ofereceu uma olhadela em uma colônia da Terra fracassada e a tripulação tentando resolver o mistério do lendário grupo perdido. Dirigido por LeVar ‘Geordi La Forge’ Burton, esse foi o primeiro dos vários episódios dirigidos por veteranos de Jornada –uma lista que incluiria também Roxann ‘B’Elanna Torres’ Dawson, Robert Duncan ‘Tom Paris’ McNeill e Michael ‘Worf’ Dorn.
“Gente como LeVar e Roxann são realmente diretores talentosos, antes de mais nada”, diz Braga. “Eles também entendem Jornada muito intimamente e o que estamos tentando fazer. Eles realmente adicionam muito e vamos continuar a usá-los.”
O show desceu em outro poço de Jornada clássica com o tão antecipado retorno dos Andorianos, mostrados só perifericamente nas décadas que se seguiram à sua estréia em “Journey to Babel”, de 1967. “The Andorian Incident” reintroduziu a raça azul colocando-os em conflito com os Vulcanos. Trazendo realismo aos alienígenas reimaginados estava o veterano de Jornada Jeffrey Combs, mais conhecido como o Weyoun e o Brunt de DS9.
“Nós tínhamos como meta pegar os alienígenas mais patetas da série original e transformá-los em uma cultura real que seja legal e crível”, explica Braga. “Acho que fomos bem-sucedidos. Escalar o papel de Shran foi uma tarefa assustadora, porque você precisa ter um cara azul com antenas que parece ameaçador. Quando você tem alguém como Jeffrey, que você sabe que vai acertar e trazer dimensão, você vai como, ‘Vamos usá-lo’. Além disso, os fãs o adoram.”
“Breaking the Ice” continuou a lidar com a fricção entre humanos e Vulcanos quando a Enterprise descobre uma nave Vulcana secretamente perseguindo-os. Enquanto a maioria da tensão interespécies foi filtrada por T’Pol depois do piloto, “Incident” e “Ice” trouxeram os Vulcanos de volta ao foco como raça, de novo destacando sua relação disfuncional com os humanos.
“Os Vulcanos são muito parte dessa série”, diz Braga. “Nós realmente sentimos que eles eram essa fonte intocável de material para histórias, e quando estávamos concebendo a série, tínhamos uma escolha a fazer. Os Vulcanos vieram até nós e ficaram conosco com uma relação realmente amistosa, ou eles nos deixaram e se tornaram um mito, ou eles ficaram e se tornaram uma presença antagônica? Obviamente a última dá a maior alimentação para o drama e para contar histórias essenciais de Jornada sobre as pessoas superando seus preconceitos.”
Logo depois veio “Civilization”, uma história Kirkesca em que um Archer disfarçado ajuda uma sociedade pré-industrial contra exploradores alienígenas –e se relaciona com uma nativa. Ele foi seguido por “Fortunate Son”, que ofereceu a primeira e única olhada na temporada na cultura dos “Space Boomers” –aqueles que moram por décadas em lentos cargueiros– quando a Enterprise vai ajudar uma nave terrestre. Embora os escritores tenham planejado originalmente explorar mais os Boomers, os planos mudaram depois do episódio.
“Nós tínhamos outro história ou duas planejadas com os Boomers”, revela Braga, “mas decidimos não nos debruçarmos muito sobre encontros com humanos o tempo todo, porque daria a impressão de que a Enterprise ainda estava um pouco perto demais de casa. Também decidimos que era importante mostrar alguns outros lados de Mayweather além de tê-lo falando de Boomers o tempo todo. Mas realmente vamos voltar a topar com Boomers novamente, com certeza. Achamos que eles são realmente interessantes.”
Chegando à metade da temporada, “Cold Front” marcou o retorno do arco da Guerra Fria Temporal, quando Archer é confrontado pelo Suliban Silik e Daniels, um membro da tripulação de Archer que é um viajante do tempo. O episódio respondeu algumas perguntas, mas levantou muitas outras.
“Você basicamente aprendeu o que a Guerra Fria Temporal é, mas você necessariamente não sabe quais são os atores”, diz Braga, que sente que o arco dá à missão de Archer um senso extra de peso e urgência. “Porque tanto do conceito da série é baseado na história de Jornada, pensamos que daria um certo sabor criar um vilão que não quer ver os humanos serem bem-sucedidos no espaço. Era uma premissa muito legal para deixar passar.”
Depois de “Cold Front”, Hoshi tentou aprender mais sobre o enigmático tenente Reed, enquanto a tripulação lutava com alienígenas hostis, em “Silent Enemy”. O dr. Phlox tomou o centro das atenções em “Dear Doctor”, quando a tripulação encontrou um dilema pré-Primeira Diretriz ao lidar com a ética de interferir com outra cultura. Braga aponta para o episódio como um exemplo da tentativa de Enterprise de mostrar novas culturas mais realisticamente do que as séries anteriores de Jornada.
“Tantas vezes em Jornada você voa para um planeta em que todo mundo usa as mesmas roupas, fala a mesma língua e tem as mesmas atitudes”, diz Braga. “Ao passo que, se você voa para a Terra, há centenas de diferentes linguagens e culturas. Por que qualquer espécie que a Enterprise encontra deveria ser diferente? [Em ‘Dear Doctor’], aquilo era só um continente. Deus sabe o que mais haveria no resto do planeta. Queremos fazer isso mais realista e ver como eles lidam com essas questões, que seriam as questões reais hoje se descobríssemos o que há lá fora.”
Choques de cultura foram o foco de “Sleeping Dogs” e “Shadows of P’Jem”. Em “Sleeping Dogs”, a tripulação da Enterprise tenta resgatar uma nave Klingon desabilitada, ainda incerta sobre considerar os Klingons como amigos ou inimigos –uma questão não esquecida por Braga.
“Meu arrependimento pessoal sobre a primeira temporada é que fizemos episódios Klingons muitas vezes”, admite Braga. “Até agora, parecemos estar ajudando-os o tempo todo. Se vamos lidar com os Klingons de novo, precisamos estar certos de que eles são malvadões e começarmos a apontar como eles se tornaram nossos inimigos. Eles não têm sido exatamente os vilões titânicos que poderíamos esperar deles.”
“Shadows of P’Jem” então enfocou a dinâmica complexa evoluindo entre humanos, Vulcanos e Andorianos, quando o Andoriano Shran resgata Archer de terroristas. A relação entre Archer e T’Pol também dá um grande passo à frente quando, depois de Archer lutar para que ela não fosse transferida da Enterprise, T’Pol desafiar o Alto Comando Vulcano pedindo para ficar.
“Isso foi um passo rumo à união deles, porque no piloto T’Pol pensava que a missão era uma idéia estúpida”, diz Braga. “Além do mais, vemos na relação T’Pol/Archer um microcosmo de como humanos e Vulcanos ficaram tão próximos. Eles têm suas birras respectivas um com o outro. E ver T’Pol e Archer superarem esses preconceitos é o que Jornada realmente é.”
Logo depois veio “Shuttlepod One”, um episódio claustrofóbico que desenvolveu a relação entre Trip e Reed, quando a dupla fica presa em um shuttlepod. O estudo de personagens continuou em “Fusion”, com T’Pol. Já testadas regularmente por seus tripulantes humanos, as crenças de T’Pol são mais desafiadas no encontro com Tolaris, um renegado Vulcano buscando se reintegrar a suas emoções. A sedução dela por Tolaris também atraiu a atenção para a sexualidade exacerbada da nova série.
“Uma certa sensualidade sempre foi parte de Jornada nas Estrelas”, defende Braga. “A série original tinha uma gata em uma míni-saia toda semana. Não queremos fazer isso demais, mas não há razão para não nos divertirmos um pouco. Temos um grupo de atores com aparência fantástica e ótimos corpos, que tem uma dinâmica incrível uns com os outros. Pode acreditar que vai haver uma tensão sexual.”
Quanto a uma nova aparição do grupo de Vulcanos emocionais de Tolaris, Braga é cético, mas não exclui a possibilidade. “Não sabemos ainda”, diz Braga. “Pode ter sido uma coisa one-shot. O movimento todo obviamente não foi a lugar nenhum quando chegou a era de Kirk. Eles definitivamente não tiveram o impacto que gostariam de ter tido.”
“Rogue Planeta” abriu o último terço da temporada colocando Archer contra um grupo de caçadores alienígenas. Enquanto a instância moral da tripulação contra a caça recreativa não foi tão pesada quanto outras questões da temporada, ilustrou a tentativa contínua da série de equilibrar a tradição “temática” de Jornada com sua nova atitude orientada a ação. Braga acha que os dois não são mutuamente exclusivos.
“Não gostamos de fazer episódios Temáticos com um ‘T’ maiúsculo”, diz Braga. “Queremos que eles sejam mais centrados na realidade da série. Sempre haverá questões de moralidade humana em cada episódio. Precisam estar lá. Mas você precisa primeiro contar uma boa história às pessoas, e então deixar os temas emergirem.”
Talvez o episódio mais controvertido da temporada tenha sido “Acquisition”. O episódio teve um encontro com os Ferengi, 200 anos antes do primeiro contato oficial de Picard, em “The Last Outpost”, da Nova Geração. Para os fãs preocupados com que o cânone de Jornada seja revisado em Enterprise, a aparição dos Ferengis parecia provar seus medos. Braga discorda totalmente.
“A tripulação nunca descobre como essa espécie se chama”, diz Braga. “Podemos até lidar com isso conforme evoluirmos. Mas eu acho que os [fãs irritados] perceberam tudo como um ‘danem-se’. Bem, eu trabalho nessas séries há 12 anos. Isso é a minha vida. Eu inventei muito dessas coisas. Então, dizer que eu não conheço o show e a continuidade bem o suficiente é absurdo. Estamos extremamente conscientes da continuidade.”
“Acquisition” também teve aparições convidadas de Ethan Phillips de Voyager, Jeffrey Combs (seu segundo papel em Enterprise) e Clint Howard, lembrado tenramente como o pequeno Balok de “The Corbomite Maneuver”, da série original. Rene Auberjonois de DS9 então apareceu em “Oasis” como um dos misteriosos sobreviventes de uma nave abandonada. As exibições seguidas dos episódios levantaram o estigma da escalação de atores só para atrair audiência, mas Braga desconsidera as preocupações, dizendo que a sequência foi coincidência.
“Foi feito por duas razões”, diz Braga. “Um, porque eles são atores maravilhosos e essa é uma série difícil de escalar atores. E dois, porque é divertido. Não vamos escalar famosos de Jornada o tempo todo. Não queremos que isso se torne rapidamente a versão de Jornada de “The Love Boat”. Mas eles trazem algo para a mesa, e vamos continuar a fazê-lo enquanto isso beneficiar a série.”
Uma escalação de atores diferente também surgiu em “Detained”, que reuniu Bakula com seu colega de “Quantum Leap” Dean Stockwell. O episódio colocou o Archer de Bakula contra o coronel Grat de Stockwell, o comandante de um centro de detenção que está mantendo Sulibans inocentes como prisioneiros para se proteger contra as maquinações da Cabal.
“Eles tiveram cinco cenas juntos onde ficavam frente a frente”, diz Braga. “É bem diferente de sua dinâmica em ‘Quantum Leap’, e saiu maravilhoso. Dean fez um trabalho incrível.”
O episódio também revelou que os Sulibans são na maioria pacíficos, nômades, com apenas uma pequena fração pertencendo à geneticamente melhorada Cabal. Traçando paralelos com eventos recentes em torno do preconceito para com árabes-americanos, assim como com os campos de concentração para japoneses da Segunda Guerra Mundial, os Suliban se tornaram alienígenas mais completos e também ofereceram uma boa metáfora para a época.
“Você aprende um monte sobre os Sulibans naquele episódio”, diz Braga. “A maioria dos Sulibans são como você e eu. Infelizmente, muitos dos Sulibans que estão vivendo em outros mundos estão sendo perseguidos só porque eles são e se parecem com eles. Eles estão pagando o preço pelos que pertencem à Cabal. Então é realmente um episódio sobre preconceito racial e classificação racial.”
O episódio seguinte fez aparecer um ‘monstro-da-semana’, em “Vox Sola”, onde uma estranha forma de vida aborda a nave e começa a atacar a tripulação. Ele foi seguido por “Fallen Hero”, em que a Enterprise se enrosca com uma missão secreta de uma embaixadora Vulcana. De sua atitude condescendente para com os humanos e de seu sensor escondido e de sua perseguição secreta à Enterprise e suas atividades secretas, algumas pessoas começaram a se perguntar se os Vulcanos –uma vez considerados os paradigmas da honestidade– estavam sendo reinventados.
“Eu não discordaria mais”, reage Braga, que oferece uma interpretação diferente de seus comportamentos. “Eu não acho que suas protuberâncias tenham sido totalmente expostas antes. Basicamente, essas verrugas eram um pouco maiores na época –sua interação com os humanos ajudou seu crescimento como cultura, também. Agora, não queremos que eles de repente estejam mentindo, trapaceando. Eles ainda são extremamente dignos e iluminados. Eles são só complicados, como qualquer cultura, e essas são coisas que estamos retratando conforme a série avança.”
“Desert Crossing”, que estrelou Clancy Brown de “Highlander”, trouxe outros subplots quando as ações de Archer em “Detained” fazem com que um terrorista peça a Archer que ajude seu povo, mais uma vez levantando as neo-preocupações da Primeira Diretriz. Para Braga, foi ainda outro forte exemplo do esforço contínuo da série em explorar as implicações de primeiro contato em uma luz mais realista.
“Terminamos parando em uma cultura desértica”, diz Braga, “apenas para descobrir que uma cultura próxima que está em guerra com eles não gosta de ver que estamos indo lá. Seria como alienígenas vindo à Terra durante a Segunda Guerra Mundial e fazendo primeiro contato com os nazistas. Estaríamos aterrorizados! Estaríamos como, ‘Eles vão ajudar os nazistas a vencer a guerra?’ E os alienígenas iriam dizer, se fossem gente como a da Enterprise, ‘Não não não. Estamos apenas tentando fazer amigos com novos povos’. E antes que soubessem, já estariam no meio do conflito. Esse é o tipo de coisa que iria realmente acontecer.”
O penúltimo episódio da temporada, “Two Days and Two Nights”, viu a tripulação visitar o planeta do prazer Risa para uma série de desventuras cômicas. Embora o episódio pegue o plot do coronel Grat quando uma de suas agentes tenta seduzir Archer para obter mais informações sobre os Sulibans, Braga destaca o humor do episódio como uma das assinaturas do tom da nova série.
“Queríamos que Enterprise fossem em geral mais engraçada”, diz Braga. “Queríamos que o humor viesse organicamente. Muitas vezes em Voyager o humor era feito como, ‘E aqui está o episódio engraçado’. Mesmo quando tentávamos humor em episódios normais, parecia meio forçado. Com essa série, esperamos, as pessoas vão olhar e dizer, ‘Enterprise –aquela era a engraçada. Voyager e A Nova Geração podem ter mais gravidade semana após semana, mas rapaz, Enterprise era um estouro’.”
A primeira temporada terminou com uma explosão –e um cliffhanger– em “Shockwave”, quando a Enterprise se viu mais uma vez envolta pela Guerra Fria Temporal. Depois de a nave aparentemente queimar a atmosfera de uma colônia e matar 3.600 pessoas, a missão é cancelada. Mas quando Archer e T’Pol descobrem que a Cabal é a responsável pela catástrofe, muitos dos enredos da temporada e arcos de personagem finalmente chegam ao topo.
“O episódio final, com o qual estamos muito felizes, fala da temporada inteira que veio antes dele”, diz Braga. “O Comando da Frota Estelar e o Alto Comando Vulcano decidem juntos que a missão é um fracasso. Archer, claro, é quebrado pela culpa. E é T’Pol quem diz a ele que ele precisa lutar contra essa decisão, e que ela está disposta a lutar com ele. O relacionamento dos dois realmente chega a termo emocionalmente, onde pela primeira vez ela fica ao lado dele como capitão em vez de combatê-lo. O episódio se torna uma luta para salvar a Enterprise e manter a missão, então é bem sentimental e excitante.”
No novo ano –acelerando para a temporada dois
O elenco e a equipe de Enterprise usaram o hiato para merecidas férias. Deixando de lado a sua para falar com a “Communicator”, o co-criador/produtor-executivo Brannon Braga discutiu o próximo ano. Enquanto o trabalho nos roteiros da segunda temporada só está começando agora, Braga ofereceu algumas pistas do que está por vir.
Abrindo a segunda temporada teremos “Shockwave, Part II”, que Braga promete que vai continuar com as revelações iniciadas na primeira parte sobre a Guerra Fria Temporal. “Vamos sugerir que alguém lá fora não quer ver os humanos terem sucesso no espaço”, diz Braga, “porque vai eventualmente resultar na formação de uma aliança interplanetária. Leia isso como quiser.”
O episódio vai abrir com Archer ainda preso no século 31, que, como o século 22, é um dos muitos fronts da Guerra Fria Temporal. “Então você vai ver um pouco do que está acontecendo lá”, diz Braga. Os fãs não devem esperar que o episódio revele tudo, entretanto. Esticar o mistério é parte do plano de longo alcance da série. “Mapeamos grande parte do arco”, diz Braga, “e queremos ter certeza de que toda vez que o fizermos, você aprenderá algo muito chocante.”
Um mistério-chave que pode ser revelado na temporada dois é a identidade do ‘Future Guy’, a misteriosa figura humanóide que dá ordens à Cabal Suliban. Enquanto ele não oferece garantias de quando, Braga diz que sua identidade é algo que os fãs provavelmente não terão de esperar até o fim da série para descobrir.
“Pensamos em revelá-lo no finale, mas parecia muito cedo e não servia à história”, diz Braga. “Apenas não sabemos quando vamos fazê-lo. De tudo que sabemos, ele será revelado da próxima vez que fizermos uma história com a Guerra Fria Temporal.”
Depois da abertura da temporada, Braga diz que a Enterprise vai continuar a explorar novos mundos e fazer novos primeiros contatos. Aparições garantidas são os Klingons e os Vulcanos, e os recém-chegados Sulibans e os desenvolvidos Andorianos também são apostas seguras.
“Acho que os Sulibans acabaram se tornando uma raça bem interessante”, diz Braga. “E os Andorianos funcionaram muito bem. Você provavelmente vai ver Jeffrey Combs de novo. E, lembre-se, os Andorianos se tornam nossos aliados eventualmente. Eles são atores, então queremos mantê-los vivos. De tudo que sabemos, até iremos a Andoria.”
A grande interrogação é com os Romulanos. Além de tomar o centro do filme “Jornada nas Estrelas: Nêmese”, seu papel central no começo da história de Jornada tem só aumentado o interesse. O truque para os roteiristas de Enterprise, entretanto, será descobrir como usá-los se sua aparência real ficará escondida até “Balance of Terror”, de 1966.
“Temos grandes questões de continuidade com eles”, diz Braga. “Gostaríamos muito de fazer os Romulanos, mas a) não sabemos como ainda, ficando consistentes com a série original, e b) como o novo filme lida com os Romulanos, queremos dar a eles uma folga. Vamos fazê-los eventualmente, mas não logo de cara.”
A formação da Federação — a “aliança interplanetária” mencionada na segunda parte de “Shockwave” — pode também ser mais trabalhada com o andar da temporada, mas apenas gradualmente. Um tópico quente entre os fãs desde a revelação do conceito da série que está também muito na cabeça da equipe de roteiristas. Mas a consideração-chave, entretanto, é o timing.
“A formação da Federação definitivamente vai ser parte dessa série”, promete Braga. “Mas vai levar um bocado de tempo, suor, conflito e grande eventos galácticos acontecerem. Isso é tudo material que vai se desenvolver ao longo da série. Não é nada que queremos correr. Acabamos de sair lá fora. Mal sabemos como dizer ‘Oi’. Dito isso, podemos começar a desenvolvê-la mais no próximo ano.”
Além disso, Braga diz que as possibilidades permanecem bem abertas. Ele quer construir sobre a bem-sucedida reconstrução da premissa de Jornada, ainda explorando territórios novos.
“Acho que vamos experimentar um pouco com a fórmula”, diz Braga. “Mas todo mundo está feliz. Eu continuo esperando uma ligação do Demônio ou do ‘Future Guy’, dizendo, ‘Ok, o show é um sucesso. Todo mundo o ama. Agora é hora de pagar!’ É assim que tem sido até agora.”