“Dear Doctor”
Anteriormente em “THE PORTHOS’ LOG”:
“Além da falta de originalidade dos personagens regulares, as caracterizações estão “meio” finas para o meu gosto (os personagens parecem um pouco “genéricos” com interpretações meio “retas”, faltam atuações que, através de alguma forma de sub-texto, “digam mais sem dizer” e também caracterizações mais afiadas e distintas).”
“O doutor por outro lado saiu o melhor (ou único) atuado, com pausas e inflexões. Só espero nunca mais ver “aquele” sorriso em seu rosto.”
[Ambas do “Log” do piloto “Broken Bow”]
Mensagem da semana:
“É dos barrigudos com feições Talaxo-Cardassianas que elas gostam mais”
[Antigo provérbio Denobulano]
Abanando o rabinho:
“Dear Doctor” é simplesmente a melhor coisa parida por Enterprise até aqui, chegando a destoar do restante dos episódios da temporada. Calmo, agradável e com algo a dizer, este episódio deveria servir de molde para tentativas futuras (sem exageros na direção, trilha sonora, efeitos visuais, cenas de ação etc.). A utilização do “Voice Over” de Phlox contorna o já crônico problema de andamento de Enterprise (associado à redução em quase 20% da quantidade de diálogo nos roteiros de Enterprise em relação às séries anteriores de Jornada), tornando a experiência, de assistir ao segmento, muito mais interessante do que de costume.
Tal “Voice Over” oferece uma fascinante ferramenta de narrativa, permitindo apreciar o universo de Enterprise pelos olhos do seu mais maduro (e alienígena) personagem e aprender sobre ele e tal universo no processo. A palavra aqui é perspectiva, ligeiramente diferente e suficientemente similar a humana para podermos nos relacionar com os sentimentos do doutor e ao mesmo tempo refletirmos com ele sobre a famosa “condição humana” sob uma perspectiva “externa”. Belo trabalho. Não vou entrar em mais detalhes, mas quero dizer que temos real substância e esforço dos roteiristas aqui, ao contrário de muito do que foi feito em Enterprise. Podem “cavar” sem medo que temos FINALMENTE substância nesta série.
A discussão sobre a doença dos Valakians e o “dar ou não dar a cura” foram um pouco distantes e abstratos para o meu gosto (ainda que interessantes – especialmente a perspectiva de Phlox), entretanto não sou eu quem tem que se importar e defender um dos lados da questão, este trabalho cai sobre Archer e Phlox e o episódio faz um bom trabalho de posicionar as opiniões dos dois e justifica-las, o que está muito bom pra mim.
(EM TEMPO: o episódio só existe devido à ausência da Primeira-Diretriz neste período de tempo, o que aproveita diretamente a premissa de Enterprise como nenhum episódio até aqui.)
A questão específica envolvendo se Archer deveria ceder a tecnologia de dobra aos Valakians (para que eles pudessem procurar por uma cura no espaço), foi perfeita em si e por indicar um caminho mais ponderado e interessante sobre a relação entre os Humanos e os Vulcanos (a cena em que Archer admite a T’Pol que começou a entender a forma como os Vulcanos trataram os humanos ao longo dos anos e ainda tratam – foi o melhor esforço do gênero NA SÉRIE!)
Falando de Phlox e suas “três mulheres”, Hoshi se saiu muito bem (dando até idéia para um episódio solo dela, todo legendado – apesar das consultas/não-consultas dela ao UT parecerem completamente arbitrárias em sua conversa com Phlox) ainda que o “BIZARRO TRADUTOR UNIVERSAL” (TM) sempre coloque um certo tom de pilhéria na prática profissional dela.
Foi perfeito para T´Pol apontar que o interesse de Cutler poderia ser mera curiosidade (lembrados de “Stange New World”?) e ainda mais perfeito para Phlox classificar o pragmatismo lógico da Vulcana como algo “incompleto”. Sendo o conflito do episódio destinado a Archer&Phlox ou não, gostei mais de T´Pol como Primeiro-Oficial aqui, me pareceu razoável sem parecer relapsa ou algo assim.
As cenas entre Phlox e Cutler funcionaram extremamente bem, com um nível de honestidade e principalmente de maturidade, bastante raros em Jornada para relacionamentos de sexos opostos. Neste ponto é desnecessário reiterar que Bilingsley é a melhor coisa (SEM A MENOR SOMBRA DE DÚVIDA!) até aqui de Enterprise (e as três esposas de Phlox e a sua hibernação representam boa munição para episódios futuros) e “Dear Doctor” é o primeiro episódio de Enterprise a de fato fazer justiça ao nome Jornada Nas Estrelas.
Com certeza vocês já devem estar pensando que eu fui abduzido e trocado pelo “Mirror-Castanheira”, não temam, como sempre nestes “Logs”, chega a hora do nosso já tradicional ritual, todos juntos …
Levantando a perninha:
Alguns de vocês já devem saber que o final deste episódio como escrito pelo casal Jacquemetton era diferente. Nele Phlox desobedecia a uma ordem direta de Archer e destruía totalmente os seus estudos sobre a doença dos Valakians. Os executivos (da Paramount ou da UPN, não me importa) decidiram que não era “de bom tom”, a autoridade do capitão ser desafiada e forçaram a barra da “mudança de opinião de Archer” com um discurso pífio (que destoa horrivelmente do resto do episódio) em que o capitão literalmente obedece a Primeira-Diretriz sem ela existir (com referência explícita e tudo).
Fica o pensamento sobre como tais executivos tencionaram “imprimir a autoridade do capitão”, fazendo-o agir de uma maneira totalmente inconsistente com relação ao que já vimos anteriormente dele? Como demonstrar autoridade se o cara dá uma meia volta em seus valores pessoais (TUDO QUE ELE ACREDITA, segundo o próprio personagem) em uma noite? Como segurar a barra deste discurso carregado em episódios posteriores no futuro? Como tratar do real surgimento da Primeira-Diretriz após este tropeço? Será que estamos assistindo ao surgimento de mais um capitão esquizofrênico em Jornada?
(PELO MENOS ele não deu a cura no PADD, ai seria um golpe baixo demais.)
(Felizmente esta “mexida” não afetou em nada o personagem do doutor, que manteve a sua postura até o final.)
Além do já citado (e eterno) problema do TU, o seguinte incomoda: os Valakians tratando a sua moléstia genética como um vírus (e desenvolvendo um “tratamento” que para de funcionar por que o “vírus” muta – Andre Bormanis deveria ficar sem o pagamento este MÊS – apesar de termos que agradecer que “a mágica com DNA da semana” (TM) tenha ficado toda implícita – graças a Deus!), uma citação aos Ferengis (que Archer não faz a menor questão de ver os registros – Oh Boy!) e o filme exibido (“For Whom The Bells Tolls”) NÃO sendo projetado em Wide-Screen.
Bakula parece ficar mais à vontade em roupas civis. Basta comparar a atuação dele na cena do refeitório com Phlox (em trajes civis) e nas outras cenas, uniformizado. Reparem na rigidez que ele apresenta (por exemplo) quando ajuda o recém-resgatado astronauta Valakiano a se recostar na cama na enfermaria da Enterprise, parece que está em uma camisa de força. Sem falar em Jolene Blalock, muito fraca na cena “do dentista”, onde a gente percebe claramente os pequenos “risinhos” ao final de cada frase acentuada (isto sem falar em seu já consagrado “andar de mondronga”). O que me lembra que Blalock e Montgomery (de novo sem falas aqui) são os únicos atores que não receberam nenhum elogio sequer nestes “logs”, e tão cedo isto não vai mudar.
Cena deletada da semana:
(T´Pol é convocada a enfermaria por Phlox.)
Phlox: Hora do seu exame dental de rotina.
T´Pol: O senhor certamente tem coisas mais importantes para fazer.
Phlox: O capitão me ordenou que achasse a cura para uma raça a beira da extinção, mas isto pode esperar.
T´Pol: Acho que o senhor deveria parar de falar com o seu morcego.
Phlox: Como eu suspeitava, comendo torta de nozes de novo. Eu já avisei que a fisiologia Vulcana não trata bem de açúcar.
T´Pol: O senhor achou mesmo que eu ia ficar só olhando para aquela bendita torta ?
Phlox: Este não seria um sentimento reprimido com relação ao comandante Tucker?
T´Pol: Depois do Gel e da torta (e da dispensa do meu noivo) eu achei que isto fosse bem possível, mas nas próximas aventuras o capitão vai enfiar a cabeça por entre os meus seios (após se esfregar comigo de todas as formas imagináveis primeiro), o tenente Reed vai ter um sonho erótico comigo (além de se mostrar um admirador da minha região calipígia), vai surgir um interesse amoroso Vulcano também (aparentemente um Proto-Sybok, seja lá o que isto queira dizer) e vou fazer um oomax em um Ferengi.
Phlox: Vejo que andou bisbilhotando a cabine de Daniels de novo, hein?
T´Pol: Enquanto o capitão não (toma vergonha na cara e) volta a Terra para fazer uma investigação decente, eu tenho que tentar ao menos catalogar o material.
Phlox: Tendo alguma dificuldade em particular?
T´Pol: Fazer o inventário é fácil, o problema é resistir ao cheiro da roupa de baixo do colega de quarto de Daniels. O capitão não deixou que nada fosse lavado, para não perdermos nenhuma pista.
T´Pol: Doutor, posso fazer uma pergunta pessoal?
Phlox: Sempre.
T´Pol: Já contou a tripulante Cutler sobre a sua “diferente” genitália ?
Phlox: Ainda não, mas acredito que ela entenderá (como xenobiologista que é) se isto se fizer necessário. Prontinha, sólida como a mandíbula de uma Ciborgue.
(T´Pol testa a mordedura, agradece com a cabeça e deixa a enfermaria.)
Recomendação:
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