Dizer que o atual momento do Cinema Americano é de grande pobreza de idéias originais (“Moulin Rouge” e “Memento” sendo claras e óbvias exceções) é ser por demais polido. O grosso dos filmes produzidos, especialmente estes do último verão Americano, parecem se encaixar em uma destas categorias: ‘remakes’, continuações e adaptações. Tal tendência não mostra nenhum sinal de reversão próxima. É neste contexto que chega a ‘reimaginação’ do clássico de “Planet Of The Apes”.
Antes de falar algo do filme, devo dizer que a grande decepção fica por conta do próprio Tim Burton. Um dos poucos diretores de alto orçamento com alguma visão autoral (consistente e facilmente identificável), Burton faz um filme que qualquer “Diretor troglodita de filme de ação” poderia ter feito. Em raros momentos se nota o toque “parte gótico, parte macabro, parte conto de fadas” do diretor. De fato (em uma nota especulativa) uma troca de diretores entre este “Planet Of The Apes” e o recente “How the Grinch Stole Christmas” (dirigido por Ron Howard) talvez tivesse beneficiado a ambas as produções.
(Não estou dizendo que todos os filmes anteriores de Burton são maravilhosos mas sempre ficava claro o “toque” do diretor e, em suas opções, um claro valor artistico. Eu, particularmente, adoro “Ed Wood” e – o ganhador do prêmio Hugo – “Edward Scissorhands”, este último sendo seu filme mais pessoal e sentido. Coincidência, ou não, ambos com o ator Johnny Depp como personagem-título.)
Como qualquer produção envolvendo o (infinitamente abusável E abusado) truque de “viagem no tempo”, a história é um convite aos “nitpickers de plantão”, dai não vou perder tempo aqui. Só vou lembrar um ponto, que acho que demonstra bem a falta de sinceridade e artificialismo da produção, que é o fato de que a “a anomalia espaço-temporal da vez” têm propriedades específicas para fazer a trama funcionar em seus termos. Leo, seu “chimpanzé de estimação” e a Oberon, “caem” nos “lugares certos” e “tempos certos” para “fechar” a história.
Tim Burton (como muitos dos seus colegas diretores de Hollywood) é um esteta, não um diretor de atores. Portanto não esperem grandes atuações do elenco. O único que eu livro a cara é o Charlton Helston (SURPRESA), o resto é medicocre e previsível na melhor das hipóteses. As caracterizações estão entre as mais caricatas e estereotipadas já vistas. Espero que ninguém venha dizer que tal atitude serve a algum propósito de “mensagem social”, via paródia da nossa própria sociedade, simplesmente não é este o caso. Os personagens são escritos assim por que os executivos da FOX julgam a audiência alvo deste filme, de forma tão rasa, que eles acreditam que este estilo é necessário para que “todos entendam tudo”. A descrição da sociedade símia é (de novo) caricata e infantil na melhor das hipóteses.
(Não faltam também os já infames “truques de Hollywood” para manter a audiência em PG-13 e não afastar a criançada das salas de exibição.)
Mais a coisa mais irritante é a total falta de reação por parte de Leo em relação a sua visita ao “Planeta dos macacos”. Ele é o protagonista, o alter-ego da audiência no universo do filme. Se ele não se sente deslumbrado com o ambiente apresentado, devemos nós ? Foi um erro mostrar os humanos com o dom da fala. E a “união dos humanos inspirada por Leo ‘o poste andante’ Davidson” foi do tipo, quanto menos se falar melhor.
O final é a coisa mais artificial dos últimos tempos. Eles queriam fornecer algum impacto de encerramento similar ao filme original, dai vieram com esta bobagem. Isto foi inserido para que a audiência intrigada com tal final volte para ver se deixou “escapar pistas” que sugerem tal conclusão. E NÃO EXISTE nenhum “setup” para tal final, no curso do filme, É BESTEIROL PURO. O mais idiota é que todo o planeta Terra continua igual, a menos da estátua de Lincoln. Que coisa poética e memorável, senhoras e senhores !
(Com certeza os executivos quiseram introduzir um certo “Sixth Sense Factor” com este final. Que safadinhas estas raposas, hein ? Quem quiser assistir a um filme com um roteiro REALMENTE matador, sem falar no elenco e no diretor, corra para alugar “The Usual Suspects”.)
(O “triângulo” entre Leo, Daena e Ari é completamente estúpido. Ele não é desenvolvido de forma alguma e o final parece assumir que foi o caso. Mais manipulação descarada. Daena (a nova Nova, com perdão do trocadilho) não possui função alguma no filme, além de mostrar os seios e exibir os lábios com batom (?).)
A versão original de 1968 é um verdadeiro clássico (que levou a quatro erráticas sequências, é verdade) com um legítimo comentário social (Lembram de Rod Serling? Lembram de “The Twilight Zone” ?) e um final chocante, que brota de forma natural e consistente do que foi visto anteriormente no curso do filme. A versão de 2001 é tão descartável quanto o vasilhame do refrigerante que jogamos no lixo após a sua exibição.
RECOMENDAÇÃO: