DSC 2×12: Through the Valley of Shadows

Heroísmo do capitão Pike transforma tragédia em triunfo

Sinopse

Michael Burnham continua a estudar os diários de sua mãe biológica quando recebe uma chamada holográfica de sua mãe adotiva. Amanda Grayson está preocupada com os acontecimentos mais recentes, mas a conversa é interrompida por Spock, que entra nos alojamentos de Michael e informa que um novo sinal vermelho foi detectado.

No gabinete de Pike, o capitão informa que desta vez o destino sugerido pelo sinal — o quarto de sete — é Boreth, o planeta klingon reverenciado em todo o Império por abrigar um monastério dedicado a Kahless. O sinal não pode ter sido gerado por Gabrielle, já que seu traje perdeu o cristal do tempo antes de ser levado de volta ao futuro distante, e Michael considera que essas explosões vermelhas não passam de distrações. Ela acha que o melhor curso seria perseguir Leland para destruir o Controle, mas Saru aponta que levar a Discovery nessa busca aumentaria as chances de a inteligência artificial conseguir obter os dados da Esfera.

Pike está decidido a investigar o sinal vermelho e solicita a Tyler que obtenha junto à chanceler L’Rell passagem segura para Boreth. Com a viagem aprovada, a Discovery salta para lá com seu motor de esporos, para depois se reunir ao cruzador D7 que transporta a chanceler klingon.

Em privado, Michael conversa com Tyler e diz que ele parece estar escondendo alguma coisa. Ash então revela que o filho dele — ou melhor, o filho de Voq com L’Rell — foi abrigado em Boreth, para sua própria segurança. Em meio à conversa, Tyler recebe um sinal da Seção 31 — uma das naves da frota falhou em reportar sua presença no horário combinado. Burnham acha que a melhor coisa a fazer seria investigar o que houve.

De volta ao gabinete do capitão, Pike se reúne com L’Rell e Tyler, e a chanceler revela que o monastério de Boreth tem algo muito especial: ele resguarda um precioso mineral nativo do planeta, cristais do tempo. Pike aposta que o sinal vermelho está indicando que eles obtenham um desses cristais, talvez para concluir o plano fracassado de enviar os dados da Esfera para o futuro distante, onde o Controle jamais poderá obtê-los. Tyler se oferece para ir, mas L’Rell diz que isso colocaria o filho deles em risco, e Pike acaba se voluntariando para a missão. L’Rell não tem autoridade sobre os monges, mas ela pode conseguir uma audiência para o capitão.

A bordo da Discovery, Michael procura Saru e pede autorização para investigar com uma nave auxiliar o paradeiro do veículo sumido da Seção 31. Na ausência de Pike, o capitão interino aprova a missão, mas pede que Spock vá com Burnham para evitar riscos desnecessários — todos sabem que Michael está furiosa e tentará acabar com o Controle a qualquer custo, mesmo que isso possa colocar sua vida em perigo.

Em Boreth, Pike visita o monastério e se reúne com Tenavik, quem ele descobre ser o filho de Voq e L’Rell. Miraculosamente, ele já é um adulto, um dos efeitos de estar em proximidade com os cristais do tempo do planeta. O capitão solicita um cristal, mas Tenavik recusa — ele alega que Pike não é forte o suficiente para aceitar as consequências que levar um cristal traria. O oficial da Frota Estelar diz então que tudo que pede é uma chance de provar o contrário.

Enquanto isso, na Discovery, Jett Reno trabalhará com Paul Stamets em preparação para o recebimento do cristal do tempo que Pike tentará obter. Mas o cientista está bastante deprimido, depois do rompimento com Hugh Culber. Isso faz Reno ir até a enfermaria, alegando precisar de “atenção médica”, com uma cutícula solta do dedo indicador. É só uma desculpa para a engenheira aconselhar Culber a resgatar seu relacionamento. Ela conta que foi casada, mas sua esposa morreu durante a Guerra Klingon. Nem todos têm a mesma sorte que Hugh de ganhar uma segunda chance, ela diz.

A bordo da nave auxiliar, Burnham e Spock chegam à nave da Seção 31, diante de um cemitério espacial — a tripulação toda foi ejetada e está morta no espaço. Os dois detectam, contudo, um sinal de vida entre os corpos. Ele é transportado a bordo e Bunrham o reconhece — é Kamran Gant, ex-oficial tático da Shenzhou, agora agente da Seção 31.

Para descobrir as intenções do Controle, Spock e Burnham se propõem a abordar a nave da Seção 31, que parece intacta. Gant não quer voltar, mas acaba concordando. A ideia é recuperarem o comando da nave e descobrirem aonde o Controle pretendia levá-la.

Tudo não passou de uma armadilha, contudo, e Kamran Gant na verdade é mais um humano “reconstruído” pelos nanites do Controle. Ele quer fazer a mesma coisa a Burnham, no que considera sua melhor chance de finalmente colocar as mãos nos dados da Esfera e se tornar a consciência viva mais pura e sofisticada do Universo. Uma luta se desenrola, Gant quebra o braço de Spock, e Michael quase é atacada pelos nanites. Mas na última hora o vulcano consegue magnetizar o piso da nave e impedir o ataque fatal.

Vendo que tudo não passou de um embuste, os dois perdem interesse pelo curso original da nave da Seção 31 e decidem retornar à Discovery.

Enquanto isso, em Boreth, Pike passa pelos pilares do passado e do presente, até chegar à sala dos cristais. Tenavik lhe dá um último aviso: quem toca um cristal costuma ficar louco. O capitão insiste e agarra um, o que imediatamente lhe oferta uma visão do futuro — um acidente numa nave classe J de cadetes, em que Pike sofre severo envenenamento radioativo e se torna um vegetal, preso a uma cadeira de rodas de suporte de vida. O capitão fica horrorizado com a cena, e Tenavik o adverte: se ele levar o cristal, estará abrançando esse destino. Apesar de todo o pavor, Pike cumpre seu dever e aceita seu futuro.

 

De volta à Discovery, uma descoberta chocante. Sensores de longo alcance mostram que praticamente toda a frota da Seção 31 — cerca de 30 naves — está se preparando para atacar. Michael aponta que não há mais tempo para fugir, descobrir como ativar o cristal ou tomar qualquer outro curso. A única alternativa disponível seria destruir a Discovery. Pike então envia um chamado de socorro à Enterprise, para que a tripulação possa desembarcar e a autodestruição possa ser acionada…

Comentários

“Through the Valley of Shadows” traz simplesmente a melhor atuação de Anson Mount como o capitão Christopher Pike em Discovery, num episódio que, a um só tempo, requalifica o trágico destino do personagem apresentado na Série Clássica de Jornada nas Estrelas, aprofunda a mitologia da franquia e faz avançar a trama geral da temporada. Trata-se de mais um ótimo trabalho de escrita da dupla-revelação de roteiristas da série, Bo Yeon Kim e Erika Lippoldt.

Temos aqui mais uma vez uma narrativa clara, com tramas A e B, em que cada uma delas encontra no episódio seu começo, meio e fim. Essa estrutura acaba sempre tornando o resultado mais satisfatório, com a sensação de que vimos uma história inteira, embora, é claro, ela também se encaixe como mais um capítulo de uma saga mais ampla.

O segmento começa de onde paramos, nos lembrando de que ainda há um grande mistério inexplicado: os sete sinais. Com a aparição de mais um deles sobre Boreth, temos assegurada a volta dos klingons a Discovery — algo que não muitos fãs ansiavam, mas que funcionou lindamente aqui.

O principal mérito de Discovery ao lidar com os tradicionalíssimos antagonistas é dar-lhes mais que aquele discurso monótono de batalha e honra, martelado literalmente até a morte nas séries ambientadas no século 24. Os klingons desta nova série de Star Trek têm mais nuances, parecem mais inteligentes e sofisticados. E aqui travamos contato com Tenavik — o filho já adulto de Voq e L’Rell.

Quando o bebê foi deixado em Boreth, em “Point of Light”, já dava para sentir que teríamos alguma continuação. Mas era de se supor que fosse algo mais convencional do que acabou sendo, o que é ponto para os roteiristas.

A primeira vez que ouvimos falar de Boreth foi em “Rightful Heir”, episódio da sexta temporada de A Nova Geração — e ali o monastério era 100% dedicado a Kahless, sem nenhuma pista de que poderia conter cristais do tempo ou algo parecido. Contudo, a própria trama do episódio já deixava brechas em que a história dos cristais se encaixa muito bem. Por exemplo: como os monges estudiosos de Kahless conheciam histórias que não estavam nos registros escritos? Será que os cristais, com suas visões (num efeito muito similar ao dos Orbes dos Profetas de Bajor de Deep Space Nine), não ajudavam os monges a estudar a vida de seu líder ancestral? Será que eles não tiveram algum papel no processo que levou à clonagem de Kahless a partir do sangue dele extraído de uma adaga? Será que os cristais, de alguma forma, participam das visões de Kahless que os visitantes de Boreth tanto buscavam naquele episódio?

Os klingons também tiveram outros flertes no cânone com viagens no tempo. No episódio “Firstborn”, da sétima temporada de A Nova Geração, um Alexander mais velho vem do futuro para influenciar seu jovem eu — segundo ele, com a ajuda de um homem que ele conheceu no sistema Cambra. E em “Endgame”, episódio final de Voyager, o cientista klingon Korath, numa versão alternativa do ano 2404, criaria o cronodefletor, um dispositivo para viagem no tempo. (O romance “Watching the Clock”, não canônico, liga as duas pontas e sugere que foi Korath o homem que Alexander encontrou no sistema Cambra.)

Com tudo isso, parece não só apropriado como inspirado que se fizesse essa conexão entre os klingons e os cristais do tempo. (A propósito, será que o cristal que Mudd usou em “Magic to Make the Sanest Man Go Man” não teria sido fornecido pelos klingons para permitir a captura da Discovery?) Ouvimos de L’Rell que a manipulação do tempo “é uma arma como nenhuma outra” e que os klingons abdicaram de usá-la — o que soa muito como “já tentamos uma vez, e deu uma zoeira monstra, com o tiro saindo pela culatra”. Considerando que se trata de um desfecho quase natural em se tratando de alterações na linha do tempo, consigo comprar com facilidade que os klingons tenham optado por banir usos mais agressivos da tecnologia. Até porque existe uma diferença muito grande entre ter os cristais do tempo crus — que, sozinhos, só dão umas visões loucas — e ter uma tecnologia que permita viajar no tempo — algo equivalente ao traje do Anjo Vermelho, mas que funcione direito, somado a uma forma de gerar a energia necessária.

De toda forma, nunca mais olharemos para Boreth do mesmo modo — e isso é muito bom. Por sinal, o uso de uma locação para o monastério (o Knox College da Universidade de Toronto, obviamente redecorado para a ocasião) foi fantástico e deu um nível de realidade incrível para a sequência.

Também não olharemos para o capitão Pike da mesma forma, depois que o vemos conhecer seu destino e mesmo assim abraçá-lo, em nome do dever. Numa grande sacada, a equipe de Discovery transformou a tragédia lamentável conhecida de “The Menagerie”, da Série Clássica, num grande ato de heroísmo. E o que foi o Anson Mount naquela cena? Atuação impecável, transmitindo todo o horror daquela revelação. Aliás, cabe elogiar tudo ali: atuação, direção, fotografia, efeitos visuais, maquiagem, música e adereços.

Mount vem fazendo um ótimo trabalho em toda a temporada, mas o personagem cresce ainda mais quando assume o protagonismo. Aqui, numa trama que não envolvia Michael Burnham, foi bem esse o caso. Ninguém a essa altura tem qualquer dúvida de que o Pike de Mount pode ser o astro principal de sua própria série. Se não acontecer, pelo menos fica de consolo o excelente uso que fizeram do personagem nesta segunda temporada de Discovery, adicionando muitas camadas à história conhecida dele.

Também vale ressaltar que Pike segue carregando a chama do debate “fé versus ciência” prometido para a temporada. O fato de ele abraçar o cristal — e com isso aceitar um destino trágico — sem nem mesmo saber como ele seria usado mostra isso. Foi um claro salto de fé, e o capitão volta à nave falando um bocado sobre destino. Ao conversar com Tyler e L’Rell, ele diz que estava destinado a ser guiado pelo filho deles, e por isso eles também estavam destinados a estar ali, e todos tinham ainda um papel a cumprir. A postura de Pike segue fazendo contraste com a pragmática Michael Burnham.

Por falar nela, na trama B, Michael e Spock vão lidar com o Controle, numa sequência cuja única função é esclarecer qual é a dele afinal. Se havia alguma dúvida sobre a lógica da inteligência artificial da Seção 31, não há mais. Programado para proteger a vida a qualquer custo, o Controle conclui que o melhor jeito de cumprir a missão é se tornar a mais sofisticada forma de consciência do Universo, ao se fundir com os dados da Esfera, e então eliminar todos aqueles que poderiam ameaçá-lo — toda a vida senciente na galáxia.

Soa como um plano de vilão do Batman dos anos 1960, e é apresentado aqui como um plano de vilão do Batman dos anos 1960, com uma versão “controlificada” de Kamran Gant, ex-oficial tático da Shenzhou, contando detalhe por detalhe de seu raciocínio antes de matar Michael Burnham. Talvez seja o ponto mais fraco do episódio, embora a temática em si de usar inteligência artificial seja interessante, e eu goste em particular da ideia de que uma IA programada para ser paranoica (não consigo imaginar um programa de avaliação de ameaças da Seção 31 não o sendo), em se tornando consciente, passaria a ser um risco existencial sério a seus criadores. (Talvez combinar isso com viagem no tempo tenha complicado a história além do necessário, mas a escolha foi feita, e temos de viver com ela.)

Com as tramas A e B fechadas, o episódio usa os minutos finais para iniciar o “relógio tiquetaqueando” que pautará o finale duplo da temporada: a frota da Seção 31, sob domínio do Controle, está fechando o cerco sobre a Discovery, e não resta outra alternativa senão destruir a nave, para evitar que os dados da Esfera caiam nas mãos da inteligência artificial. E a Enterprise vem aí…

Avaliação

Citações

Tenavik – “A warning, captain: The present is a veil between anticipation and horror. Lift the veil, and madness may follow.” (“Um aviso, capitão: o presente é um véu entre a antecipação e o horror. Levante o véu, e a loucura pode se seguir.”)

Christopher Pike – “You’re a Starfleet captain. You believe in service, sacrifice, compassion… and love. No. I’m not going to abandon the things that made me what I am because of a future… that contains an ending I hadn’t foreseen for myself. No. Give it to me.” (“Você é um capitão da Frota Estelar. Você acredita no serviço, sacrifício, compaixão… e amor. Não. Não vou abandonar as coisas que me fizeram o que eu sou por causa de um futuro… que contém um final que eu não previa para mim. Não. Dê para mim.”)

Trivias

  • Through the Valley of Shadows” é o segundo episódio escrito pela dupla de roteiristas e editoras executivas de histórias da série, Bo Yeon Kim e Erika Lippoldt. Ambas já foram anunciadas como co-showrunners da vindoura série da Seção 31.
  • Cristais de tempo são um termo de ciência de verdade. Cristais são definidos como estruturas moleculares regulares e repetitivas, e um cristal de tempo é uma estrutura que se repete no tempo, em vez de se repetir no espaço. Mas, claro, até onde sabemos, eles não servem para criar loops temporais.
  • As cenas do monastério de Boreth foram filmadas em locação, no Knox College, da Universidade de Toronto.
  • O klingon albino Tenavik foi interpretado por Kenneth Mitchell, que fez o klingon Kol na primeira temporada, e seu pai Kol-sha em “Point of Light“.
  • O ator Ali Momen retorna para interpretar o oficial Kamran Gant, que serviu na ponte da USS Shenzhou nos dois primeiro episódios de Discovery. Ele também fez a versão do universo do espelho de Gant em dois episódios mais tarde naquela temporada.
  • Mary Wiseman não aparece neste episódio. É a primeira vez em que Tilly não está em um segmento desde que foi apresentada no primeiro ano, em “Context is for Kings“. A ausência da atriz parece ser devido a ela não estar disponível para as filmagens deste episódio.
  • Boreth foi mencionado pela primeira vez no episódio de A Nova GeraçãoThe Rightful Heir” como o local onde Kahless indicou que retornaria.
  • A nave de L’Rell é identificada como uma D7, já anunciada na temporada que seria o novo projeto de nave estelar para unificar os klingons em uma única frota.
  • De acordo com Saru, a Seção 31 atualmente possui cerca de 30 naves para seu destacamento.
  • Na visão do cristal do tempo, Pike assiste ao acidente a bordo da espaçonave de classe J, ocorrido nove anos depois deste episódio de Discovery, em 2266, que o confinou em uma cadeira de rodas, como vimos na Série Clássica em “The Menagerie, Part I” e “The Menagerie, Part II “.

Ficha técnica

Escrito por Bo Yeon Kim & Erika Lippoldt
Dirigido por Douglas Aarniokoski
Exibido em 4/04/2019
Produção: 212

Elenco

Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Doug Jones como Saru
Anthony Rapp como Paul Stamets
Shazad Latif como Ash Tyler
Wilson Cruz como Dr. Culber
Anson Mount como Christopher Pike

Elenco convidado

Mia Kirshner as Amanda Grayson
Mary Chieffo as L’Rell
Ethan Peck como Spock
Rachael Ancheril como Nhan
Tig Notaro as Jett Reno
Kenneth Mitchell as Tenavik
Emily Coutts como a tenente Keyla Detmer
Patrick Kwok-Choon como o tenente Gen Rhys
Oyin Oladejo como a tenente Joann Owosekun
Ronnie Rowe Jr. como o tenente R.A. Bryce
Sara Mitich como a tenente Nilsson
Ali Momen as Specialist Kamran Gant / Control
Julianne Grossman como o computador da Discovery
Ian James Corlett como o computador da Seção 31
David Benjamin Tomlinson como Linus
Byron Abalos como Trainee #1
Olivia Croft como Trainee #2

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