Vinda de Sulu ao Brasil completa 20 anos hoje

Sábado, 28 de setembro de 1996. Há exatas duas décadas, uma das páginas mais importantes da história de Jornada nas Estrelas no Brasil foi escrita no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo, onde o fã-clube Frota Estelar Brasil realizou a famosa Convenção do Capitão Sulu, com a presença de George Takei, o primeiro ator da Série Clássica a vir ao nosso país para participar de um evento como este.

Muitos fãs estiveram no Anhembi naquele dia (o espaço comporta 1.700 pessoas, mas os organizadores já disseram que até 3 mil passaram por lá), sendo até hoje o maior evento de trekkers já realizado no país. Quem foi não se esquece da emoção em ver tanta gente reunida para prestigiar Hikaru Sulu em pessoa. Passados 20 anos, o Trek Brasilis resgata esse momento fantástico do fandom nacional. É verdade que anos depois a antiga Frota Estelar trouxe pra cá Walter Koenig, o Chekov, num evento quase que nos mesmos moldes, embora bem menor em estrutura, e em 2003 encerrou suas atividades com a vinda de Leonard Nimoy (Spock) também no Anhembi, porém, com menos público do que a convenção de 1996, ano inclusive em que se comemorou os 30 anos de Star Trek.

“Tivemos, em 1995, uma reunião para tomarmos uma decisão. Ou traríamos um ator da série ao Brasil, ou iríamos procurar uma empresa que queira fazer isso”, contou o presidente da Frota Estelar Brasil, Luiz Ambrósio Navarro, em entrevista para a revista Diário de Bordo nº 23, edição publicada também há 20 anos. O fã-clube não tinha condições financeiras de bancar a vinda de algum ícone de Star Trek, e foi sugerido que se trouxesse Wil Wheaton, o Wesley Crusher de A Nova Geração, pois era um dos mais baratos. “Queríamos fazer algo histórico, algo marcante. Que fosse lembrado em 10, 20 anos. Nós queríamos um astro da Série Clássica. Ponto final”, profetizou Navarro.

E eles conseguiram. Com muita audácia, um grupo de empresários foi reunido para ajudar a financiar a vinda de alguém relevante. O anúncio foi feito ainda no primeiro semestre daquele ano via os informativos que o clube mandava pelo correio aos seus sócios, pela revista Diário de Bordo (que também era da Frota), e pela famosa linha telefônica Trekline (mais tarde renomeada como Frotaline), para onde se ligava a fim de se ouvir notícias quentinhas sobre a franquia. O nome era George Takei.

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Crédito: reprodução/arquivo do autor

Os ingressos foram divididos em nove categorias, da mais cara (na boca do palco do Palácio do Anhembi) ao mezanino na parte de cima. Os mais salgados, no setor Capitão Sulu, custavam R$ 78 para o sócio do clube, e R$ 110 para os não-sócios. Depois vinha o setor Excelsior, a R$ 78 para o não-sócio, e R$ 68 para o sócio. E os preços iam caindo. De R$ 48 do setor Kirk até módicos R$ 5, para quem quisesse ir no mezanino chamado EconoPlace. Um detalhe é que os filhos, pais, irmãos, maridos e esposas dos sócios do clube pagariam no ingresso o valor de sócio também. Tudo isso para lotar o auditório e conseguir bancar a vinda, hospedagem, traslado e outras necessidades com o ator.

Após meses de muita divulgação e venda dos tickets, o mês de setembro chegou, e com ele Takei ao Brasil. O oficial da USS Enterprise ficou por aqui de 25 a 30 de setembro, e além de São Paulo esteve em Brasília, já que queria conhecer a arquitetura singular da capital federal. No mesmo dia em que chegou, foi entrevistado por Jô Soares em seu programa Jô Soares Onze e Meia, no SBT. No dia seguinte, concedeu entrevista coletiva para muitos veículos de imprensa como a Folha de S.Paulo, Estadão, e revistas Wizard e IstoÉ.

A Convenção do Capitão Sulu contou com uma programação pra lá de caprichada. Pela segunda vez, a Frota Estelar exibiu em um de seus eventos o episódio “Relics”, de A Nova Geração, que apresenta o engenheiro Scotty junto com a tripulação da Enterprise-D. “Q Who”, o segmento de estreia dos borgs na mesma série, também fez parte do dia, assim como o especial Memórias de William Shatner, que inclusive saiu em VHS anos depois no Brasil. Mas o episódio mais aguardado foi “Flashback”, de Voyager, com a presença do próprio George Takei interpretando o capitão Sulu da USS Excelsior, para comemorar os 30 anos da série original. Exibido originalmente nos EUA apenas 17 dias antes da convenção, a Frota Estelar fez um trabalho hercúleo em conseguir a fita e legendá-la em tempo hábil para exibição no esperado evento. E isso marcou um recorde. Foi a vez em que um episódio de Jornada mais rapidamente chegou aqui para uma plateia enorme, legendado. Uma atração em particular naquele sábado.

Trekkers lotam o Anhembi; há quem diga que até 3 mil pessoas passaram por ali durante o dia histórico. (Foto: Amaury Simoni)

Enfim, Sulu – Só que nem o episódio mais inédito e comemorativo era tão esperado como, claro, a palestra de Takei. Exatamente às 13h30, o ator subiu ao palco do Palácio das Convenções do Anhembi, onde foi aplaudido pela enorme quantidade de trekkers por mais de um minuto. Flashs de câmeras fotográficas espocavam ao lado de câmeras de vídeo que trabalhavam para registrar o momento único, quando uma lenda viva da televisão começou a falar. Divertido e muito simpático, o eterno Sulu entreteu o público durante mais de uma hora com suas histórias, casos e imitações diversas, falando sobre os dias de filmagem da Série Clássica e dos filmes de cinema, e fazendo lobby para que todos apoiassem a produção de uma hipotética série As Aventuras do Capitão Sulu.

Amaury Simoni, Aldo Novak e Luiz Navarro, os responsáveis por trazer George Takei ao Brasil em 1996. (Foto: Amaury Simoni)

Durante todo o tempo a tradutora Cristina Assumpção transmitia para a língua portuguesa o que Takei dizia, embora na grande maioria das vezes os trekkers já riam, aplaudiam ou comentavam a fala do ator antes mesmo da tradução. “Ele não estava acostumado a ser traduzido, pois nunca houvera necessidade disso”, afirmou Cristina para a revista Diário de Bordo nº25. “Quando ele me esquecia, eu cutucava o braço dele, ele parava de falar e eu traduzia”, revelou.

“Eu tive o distinto prazer de ser o primeiro ator de Star Trek a participar de uma convenção latino-americana”, disse George Takei na época. “Esta convenção, tenho que confessar, se coloca entre as mais magníficas. Eu fiquei impressionado, seja na organização, cobertura de imprensa, foi de primeira linha. A hospitalidade que me foi apresentada fez jus ao conhecido ‘abraço’ da América do Sul. Eu fui levado para conhecer a cultura e a história, os costumes e a culinária, as alegrias e o comportamento de um povo maravilhoso”, completou.

Quatro anos depois do evento, o Trek Brasilis entrevistou de maneira exclusiva o ator, que ainda se recordava com carinho dos brasileiros. “Eu tive fabulosos momentos no Brasil e estou ansioso por uma próxima oportunidade de visitá-lo.” Mais cinco anos depois, em maio de 2005, novamente o TB conversou com Sulu. E mesmo nove anos após a histórica convenção, ele ainda se lembrava do tratamento que teve por aqui. “Eu ainda saboreio as maravilhosas lembranças de minha visita a São Paulo e a Brasília tantos anos atrás. Por favor, transmita minha apreciação a todos os meus fãs brasileiros.”

Dia 28 de setembro de 1996. Quem esteve no Anhembi jamais se esquecerá, e isso vale também para o convidado de honra daquela data. Olhando para trás e revendo o que ocorreu, só podemos nos expressar com a famosa interjeição que virou uma marca de George Takei. “Oh, my!

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