Star Trek: Sem Fronteiras ganhou um empurrão do aniversário de 50 anos da franquia e cruzou a barreira dos US$ 300 milhões de arrecadação. Já são US$ 318 milhões para os cofres da Paramount. Além disso, os números do novo filme impressionaram em mercados emergentes, como a China e o Brasil.
Até o momento, o longa-metragem, orçado em US$ 185 milhões, arrecadou cerca de US$ 156,5 milhões no mercado americano. Considerando que sua estreia se deu por lá em 22 de julho, a essa altura a arrecadação na terra do Tio Sam já está na reta final e, assumidamente, aquém do que Paramount e Bad Robot esperavam.
Comparando o filme a seus dois antecessores, a perspectiva não é favorável. Star Trek (2009) faturou US$ 257 milhões nos EUA, enquanto Além da Escuridão: Star Trek (2013) arrecadou um pouco menos, US$ 228 milhões. Era esperada a descida de mais um degrau, mas ele foi maior do que o estúdio desejava. Embora haja ainda algumas semanas pela frente em cartaz, o filme deve fechar com algo como US$ 160 milhões no mercado doméstico.
Um aspecto curioso ligado ao aniversário de 50 anos de Star Trek é que Sem Fronteiras viu uma incomum subida de arrecadação na última semana, com relação à anterior. Entre 26 de agosto e 1o de setembro, ele havia arrecadado US$ 3,2 milhões, e entre os dias 2 e 8 de setembro a bilheteria amealhou US$ 3,8 milhões — uma subida de 18,3%, apesar de uma redução de cerca de 70 salas de exibição. Decerto ainda haverá um efeito residual do último fim de semana (que parece ter rendido mais US$ 1 milhão), mas não tanto quanto poderia ser — na sexta-feira, logo após o aniversário de 50 anos, o filme viu seu número de salas ser reduzido à metade nos Estados Unidos.
Sem dúvida o resultado aparentemente decepcionante de Sem Fronteiras no mercado doméstico americano pode ir inteiramente para a conta da Paramount Pictures — que escolheu mal a data de estreia, fez pouco esforço de divulgação e, de forma bizarra, não se preparou nem mesmo para capitalizar adequadamente em cima da mídia espontânea que seria gerada pelo aniversário de 50 anos. É realmente como pegar um 38 e dar três tiros sequenciais em cheio no pé.
Havia a ambição de estrear o filme durante o verão americano — época em que há férias escolares e os cinemas estão mais cheios –, mas vamos combinar que ter colado o filme — não só na data, mas sobretudo no material de divulgação — ao aniversário de 50 anos poderia ter gerado melhor retorno.
(Desconfio que o desprezo da Paramount pelos 50 anos tenha a ver com o fato de que o que realmente está fazendo aniversário é a série original, que agora pertence a outra empresa, a CBS Studios. A briga entre os dois lados, embora não declarada, é tão surreal que a Paramount, ao produzir um clique comemorativo dos 50 anos para divulgação nas redes sociais, usou apenas cenas dos filmes, só para não pedir à CBS autorização para lançar mão de material do lado televisivo da franquia!)
OUTROS MERCADOS, OUTRA HISTÓRIA
Em países como China e Brasil, o lançamento foi “retardado” até a semana de 1o de setembro, a fim de pegar um melhor momento nas salas de cinema — e, coincidentemente, capitalizar melhor com o aniversário de 50 anos.
O resultado foi espetacular. Na China, o filme fez, no fim de semana da estreia, cerca de US$ 30 milhões, colocando-o em boa condição de superar seu antecessor, Além da Escuridão: Star Trek, que rendeu US$ 57 milhões no país mais populoso do mundo.
E no Brasil — um mercado bem menor, que fique claro –, o resultado já é expressivamente superior ao obtido por Além da Escuridão, que por sua vez foi bem melhor que Star Trek (2009).
“Estamos muito contentes com o resultado de Star Trek: Sem Fronteiras no Brasil”, disse João Beltrão, assessor de comunicação da Paramount no Brasil. “Estimamos que fecharemos o primeiro fim de semana com aproximadamente 270 mil ingressos. Este resultado é 32% acima do filme anterior em bilheteria e 10% acima em público, com aproximadamente o mesmo número de salas.”
De acordo como o site BoxOfficeMojo, o Brasil rendeu ao filme em seu fim de semana de estreia respeitáveis US$ 1,6 milhão. E Sem Fronteiras tem tudo para fechar com o filme mais bem-sucedido de Star Trek em solo brasileiro pelo menos desde o reboot de J.J. Abrams, em 2009.
A TERRA DESCONHECIDA
Apesar de sopro de otimismo, é difícil prever o que vai acontecer a portas fechadas na Paramount a partir de agora. O estúdio passa por um momento muito difícil. De todas as as apostas para este ano, o único filme a não fazer feio foi mesmo Sem Fronteiras, e ainda assim está longe de ser qualificado como um sucesso indiscutível. E não é segredo para ninguém que a Paramount está com as finanças abaladas — há até um rumor de que ela possa se refundir com a CBS num futuro próximo (o que seria incidentalmente bom para a franquia de Star Trek).
Em princípio, teríamos um quarto filme capitaneado pela Bad Robot de Abrams lançando mão do elenco da linha do tempo da Kelvin. Ele chegou a ser anunciado por J.J. Abrams dias antes da estreia de Sem Fronteiras como estratégia de alavancagem, destacando o retorno de Chris “Thor” Hemsworth no papel do pai do capitão Kirk.
Contudo, a bilheteria vacilante de Sem Fronteiras pode ter colocado esse plano em risco. Uma regra básica de Hollywood é que um filme precisa, para se pagar, arrecadar aproximadamente o dobro do seu orçamento. Para Sem Fronteiras, esse valor seria de cerca de US$ 370 milhões.
Neste momento, o filme chegou à marca de US$ 318 milhões e deve ter fôlego para chegar a 330, talvez 340 milhões. Ainda vai faltar um “troco”.
Para Star Trek, isso não chega a ser um grande problema, porque o mercado de home vídeo é forte e acaba compensando qualquer deficit nas bilheterias. Basta lembrar que até mesmo Nêmesis, o filme de despedida de A Nova Geração, que custou US$ 60 milhões e arrecadou US$ 67 milhões, acabou rendendo alguns tostões à Paramount depois do home vídeo e das negociações de direitos de exibição na TV.
De toda forma, o tropeço obrigará a Paramount a pensar mais sobre o que fazer a seguir. Meu palpite — e vai saber o que realmente se passa na cabeça dos executivos na Melrose Avenue — é que eles vão seguir em frente com o quarto filme da linha do tempo da Kelvin, mas com um orçamento mais enxuto que o anterior. O que, por sinal, é bastante razoável. Nem todo filme precisa ter orçamento (e, por consequência, bilheteria) de Marvel para ser bem-sucedido.
Balanço final: se por um lado Star Trek: Sem Fronteiras não foi o sucesso retumbante que poderia ter sido, por outro lado, o estúdio não tem mais nada de grande valor em que possa se escorar no momento. Star Trek ainda é uma franquia valiosa para a Paramount e, com a combinação certa de gasto e marketing daqui para a frente, pode ainda voltar a ser a menina dos olhos do estúdio.