O ganhador do Emmy, designer Scott Chambliss, é um dos profissionais no gênero que trabalhou na produção de Star Trek. Chambliss foi um dos desenhistas contratados para o novo visual da franquia. Numa entrevista ao SciFi Now, Chambliss explica porque decidiu aceitar o convite de J. J. Abrams. Ele também falou sobre a sua reabordagem de futuro para Jornada, incluindo a nave Enterprise. Veja os pontos mais importantes.
Scott Chambliss é um velho conhecido de J. J. Abrams, tendo trabalhado nas séries Alias, Felicity e em Missão Impossível III. Ele recebeu várias indicações de premiação na categoria Production Design Award, tendo recebido a estatueta duas vezes pelo trabalho em Alias.
“A minha reação foi realmente de espanto”, disse o designer referindo-se ao convite. “Claro que eu queria fazer o próximo filme de J. J. e fiquei animado porque era algo que nunca havia feito antes. Mas, ao mesmo tempo, eu também senti muita ansiedade por causa de toda a história e bagagem que tem a franquia. Isso foi um pouco perturbador, mas depois descobrimos como teríamos de abordá-la e avançar. A partir de uma perspectiva criativa, há uma diferença real entre os que se aproximam de um pedaço de material novo que não tem qualquer história e a expectativa baseada no que veio antes, e ela só tem história e expectativa. Jornada possui um fervoroso grupo de fiéis ao seu conteúdo e existe tanto material que você tem de estar ciente de antemão, em termos do que veio antes, do que pode ser considerado, antes mesmo que venhamos abordar a maneira como podemos fazer algo novo”.
Chambliss explica que quando ele e Abrams começaram a projetar o filme Star Trek, estabeleceram algumas regras fundamentais. Primeiro, eles prestaram atenção principalmente na série original, e depois no primeiro filme produzido por Robert Wise, para então tirarem uma concepção contemporânea do filme. “A partir desse ponto, para mim, o que fez o conceito de Jornada radicalmente diferente das produções sci-fi dos últimos 15 ou 20 anos, foi o lado otimista. Ela não tinha aquele ponto de vista de futuro, que era pós-Vietnã, pós Nixon, pós-desastre ambiental em que o futuro era sombrio e ferrado. Eles saíram-se bem e não importa quanto conflito tiveram de enfrentar no espaço exterior, com diferentes culturas. Esse era, afinal, um quadro otimista para a história. Isso me fez, de um ponto de vista de design, olhar para o que estava acontecendo. Não na época em que o seu desenho original tinha referências de um atualizado Flash Gordon, mas, em vez disso, eu estava olhando para aquilo que foi realmente contemporâneo, progressivo e muito cientificamente baseado na concepção arquitetônica, concepção de veículo e desenho industrial. Lembro-me de uma das nossas primeiras reuniões sobre o conceito básico, e estávamos dizendo as mesmas coisas sobre o otimismo e eu comecei a detalhar para ele referências visuais a partir daí”.
Chambliss justifica o visual limpo e claro como forma de inserir uma concepção otimista ao telespectador, embora ele aprecie algo mais realista e cheio de defeitos, “Isso faz parte dela. Olhando para o trabalho que fiz com J.J., você pode dizer que ele sempre tenta fazer as coisas acessíveis. Ele sempre tenta transparecer a vida real. Se você estiver em um veículo, se é uma nave de transporte militar ou uma mais velha, como a enorme Kelvin neste filme, essas coisas aparecem. Elas dão solavancos e rangem, a pintura está descascando e as coisas são fixadas com fita. Isso é real e dá um ambiente mais tangível do que a super elegante e limpa visão de mundo perfeito. Mas isso não era o que nós estávamos tentando conseguir. Ao mesmo tempo, se você olhar para algo como o filme Children of Men (Filhos da Esperança), onde tudo é carbonizado, estreito e fumacento, verá que é o oposto disso. Ainda existem realidades físicas que você tem que confrontar e ainda quebrar e explodir e pegar fogo, isso é parte do que eles estão lidando no espaço e nos planetas. Mas, por exemplo, olha para a nova Enterprise, ela é otimista na sua elegância, bonito design. Se você fizer uma comparação, é o mundo digital em oposição ao mundo analógico das antigas naves que tem 30 anos. Há um efeito de racionalização que não significa que as coisas serão sempre perfeitas, mas é o tipo de coisa que quando você olha para ela, você se sente bem com isso, você se sente bem sobre o presente e esperança quanto ao futuro”.
Sem entrar muito em detalhes, Chambliss recordou que havia elementos da série original que eles quiseram manter nesse novo formato da Enterprise, “Você não ía querer continuar com a Enterprise e não olhar qualquer coisa que lembre você do programa de TV”, observou o desenhista, “Você quer ter certeza de que tem o coração e a alma. Fizemos três caminhos diferentes sobre o que deveria ser, e uma das coisas que incidiram, naturalmente, foi a ponte de comando. Em particular, a cadeira do capitão e sua relação com Sulu e Chekov e seus consoles à frente deles. Isso ficou determinado. Queríamos manter Spock e Uhura nos locais, fisicamente, que já estávamos habituados a vê-los na antiga série. Era como recriar a relação física desses personagens na nave de uma forma que estávamos familiarizados; queríamos proximidades espaciais similares e uma grade que envolva o núcleo central da mesma área, sem duplicação submissamente de paletas de cores. Queríamos atualizar a tecnologia de tal forma que fosse super legal sem ser idiota”.
Continuando Chambliss a descrever o interior da Enterprise, “Queríamos que a ponte parecesse realmente funcional, muito detalhada e muito multimídia. E muito delicada, ao mesmo tempo. Sexy, sem dúvida. Um dos problemas com a antiga série é que não tinham orçamento e tudo era feito de papelão, parecia como um soapbox derby (corrida de carros feitos em casa) no espaço exterior. Tudo isso é muito doce de olhar agora e teve definitivamente a sua importância. Bem, nós queremos que este filme seja o nosso momento, apenas trazendo mais para o século 21. Mas é praticamente impossível para um filme apresentar tecnologia que está à frente do seu tempo, porque tudo o que estivermos nos referindo agora como novo, no momento em que a mudança aparece tudo vai ficar para trás. Nós não queremos nos encontrar na armadilha de fazer um grande barulho sobre a tecnologia, que foi super legal e super nova, e no meio do caminho dizermos que vimos isso no Sharper Image (loja virtual) e que foi uma divertida brincadeira”.
Fonte: TrekMovie