A última edição da revista Star Trek Magazine trouxe uma entrevista com a atriz Nana Visitor, que fez Major Kira da série Deep Space Nine. Nesse artigo, Visitor fala de sua experiência na franquia, de seu personagem e do duplo no universo espelho. O escritor Robert Hewitt Wolfe, um dos autores de histórias sobre o universo espelho na série, também falou sobre o assunto.
Nana Visitor é uma das atrizes mais queridas dos fãs de Jornada por sua atuação em Deep Space Nine, tendo, inclusive, participado da última cena da série. Após o fim de seu contrato na franquia, ela voltou à Broadway para interpretar Roxie Carmichael no musical Chicago. Também apareceu em seriados como Dark Angel, Frasier, Las Vegas, Wildfire e Battlestar Galactica. Seu último trabalho está sendo no remake de Sexta-Feira 13.
Falando a revista Star Trek Magazine, Visitor disse que não mudaria coisa alguma de seu personagem Kira Nerys, mesmo se tivesse a oportunidade de fazê-lo. “Eu não mudaria”, disse a atriz que passou sete temporadas fazendo o personagem. “Isso mostra, que a personagem realmente foi uma das coisas que definiu o resto da minha vida. Não é só porque eu fui parte dessa série de TV, que as pessoas ainda acompanham, mas porque do Siddig (ator Alexander Siddig que fez Bashir) nós temos um filho, e as pessoas que eu conheci há 15 anos que ainda me acompanham, que continuo a ouvir deles o tempo todo. É como uma espécie de colégio, que significou para muita gente. Você faz amizades que duram o resto de sua vida. Jornada foi a única experiência de interpretar, onde muitas amizades se formaram e isso tem permanecido”.
“Posso dizer-lhe, que mesmo tendo continuado a trabalhar após Jornada, esses anos me fazem pensar ainda mais com carinho dessa experiência na série”, continuou Visitor. “Sendo uma atriz, eu sempre me equiparei como um cavalo de corridas. Eu sou capaz de correr, e realmente executar integralmente o trabalho até o fim. Deep Space 9 estava em funcionamento pleno, em todos os sentidos. Muitos trabalhos eu faço agora, e francamente, é como estar em uma feira de agricultor, ou dando passeios ao redor do parque. É trabalho. É o que é. É o trabalho na mão. Mas certamente não me faz correr do jeito que me fez Deep Space Nine“.
“É interessante: quando meus meninos encontram a série na TV, eles param e assistem. Eles acham muito engraçado e muito estranho verem Siddig e eu nestas situações, fazendo aquelas coisas. Eu tendo a não ver os episódios, porque eu me distanciei muito. Eu posso olhar para uma série e olhar para aquele momento e saber exatamente aquilo que foi dito, quando filmamos, o que eu estava sentindo. O senso de memória ainda é muito forte. Acho que estava muito presente nesses anos, a cada momento eu estava no set, como talvez nunca tivesse estado tanto em minha vida. Mas foi necessário isso de mim. Fazendo a série, interpretando Kira, tudo o que tinha sido exigido”.
Para Visitor, de todos os personagens já interpretados por ela, Kira foi o papel mais importante de sua carreira. “Eu não posso imaginar uma personagem melhor do que ela”, disse entusiasmada. “Simplesmente não posso imaginar alguma outra, e felizmente eu sabia disso naquele tempo. Francamente, eu poderia ter seguido mais alguns anos com o personagem. Eu a adorava. Eu a amava e amava suas falhas, sua história. Os escritores de Deep Space 9, ocasionalmente, contrataram-me para fazer outros projetos, mas, diferentes deste, eu não toparia trabalhar nesse tipo de escrita novamente ou no desenvolvimento de personagem, ou mesmo o entendimento de que alguém pode ter um conjunto de moral que vai orientar o modo como eles são com outras pessoas. O comportamento, a mitologia de um personagem, não parecem fazer mais diferença para um monte de gente que agora produz séries”, lamentou a atriz.
Duas versões da mesma personagem foram retratadas por Visitor na série. Além de Kira, ela fez a sombria Intendente de Terok Nor, no chamado Universo Espelho. A atriz recorda esse trabalho como sendo algo estranho e fascinante, “Nós tivemos muito pouca informação antecipada do que eles iam fazer a seguir com os personagens”, disse Visitor. “Eu acho que era apenas ler o script e aprender o que eu era e como isso aconteceu. Isso me fascinou ao ver que a essência da pessoa era a mesma, com a mesma paixão, o mesmo DNA e ainda assim era diferente. É como ter um clone. Será que o clone tornar-se apenas como essa pessoa? Bem, talvez não. Então, ok, há um sentido real de propósito. O sentido de propósito de Kira era de alguém para o seu povo e a Intendente tinha um enorme senso de propósito, mas era tudo para ela. Então, essas coisas foram muito interessantes, e foi fascinante para fazer isso dentro de algo tão obscuro”.
“E foi também divertido ter todo um conjunto de regras diferentes em termos daquilo que escreviam para mim, com todos os escravos e humilhação. Para mim, a Intendente estava mais próxima do que uma drag queen faria. Ela chegou ao longo do topo, e havia uma linha que eu gostava de andar. Eu dei muito duro para não passar dessa linha, e sei que às vezes eu passei dela, mas quando se está fazendo um programa de TV como esse, você ganha alguns e perde outros. Geralmente, você só sabe o que fez, uma vez que tenha visto a série. Mas eu gostei de ter tido essa oportunidade, porque valeu a pena o risco”.
Usando o tema do universo espelho como artigo principal de sua edição, a revista Star Trek Magazine também conversou com o escritor Robert Hewitt Wolfe que trouxe o sombrio lado de Jornada para a série Deep Space Nine. Na entrevista, ele recordou como foi a criação das primeiras histórias desse universo e a mudança nos personagens.
“O retorno ao Universo Espelho surgiu como uma idéia jogada em uma reunião de roteiristas para a série”, revelou Wolfe. “Lembro-me de discutir a idéia do que teria acontecido após Kirk (não do universo espelho) convencer o Spock espelho a derrubar o Império (na série original Mirror, Mirror). Desagradáveis impérios são geralmente grandes e detestáveis por uma razão ou eles criam um monte de inimigos e, em seguida, justificam-se a continuarem a ser grandes e desagradáveis porque têm tantos inimigos. A idéia de que você pode simplesmente parar magicamente um império de ser desagradável e, em seguida, nada de mal irá acontecer é um pouco ingênuo. Esse foi um dos temas de Deep Space Nine: você não pode simplesmente voar para um planeta, dar todo um discurso e, em seguida, voar para longe e esperar que todos estejam bem. Se havia uma ingenuidade na série original e, algumas vezes, em A Nova Geração, era nisso. Uma das coisas que Deep Space Nine estava realmente empenhada era mostrar as consequências. Você não pode simplesmente decidir que irá mudar o governo de algum lugar e, então, tudo será maravilhoso. Nós quisemos mostrar que era verdade, mesmo no Universo Espelho”.
“Mas também foi só uma desculpa divertida para irmos a um lugar diferente e mostrarmos nossos atores sendo pessoas diferentes”, admite o roteirista.
Nana Visitor certamente roubou a maioria das cenas como a Kira espelho. Embora Wolfe não se recorde de nenhuma discussão específica sobre o seu traje, ele disse que o script a descrevia vestindo uma espécie de macacão colante. “Estou certo de que a roupa emborrachada não foi a primeira escolha de Nana”, disse Wolfe, “Porque penso que não era a mais prática roupa para se vestir. Ela levava a loucos ruídos que soavam como sacos de lixo esfregando juntos o tempo todo. Tal como um monte de coisas, penso que um colante de borracha era menos prático na vida real do que se poderia pensar”.
Para o roteirista, as cenas envolvendo Kira e seu duplo espelho não foram tão difíceis como se poderia esperar. “É algo que sei fazer”, explica Wolfe. “Foi muito menos problemático do que digamos, para alguns transmorfos de Odo, que naquela altura eram muito vanguarda. Tudo o que o Odo fez foi muito complicado tecnicamente. Fazendo uma dupla, eles sabiam como fazer isso 20 anos antes, em A Feiticeira “.
A respeito da bissexualidade da Kira espelho, Wolfe disse que eles não estavam preocupados com a reação negativa do estúdio. “Talvez eu estivesse resguardado por ele (Rick Berman) e isso foi algo que Rick (Berman) tratou exclusivamente, mas não me lembro de nenhum aviso do estúdio em todos os cinco anos que eu estive em Deep Space Nine“, disse Wolfe. “Houve uns avisos vagos, coisas ocasionais, mas, no geral, eles nos deixaram sozinhos para fazermos o que queríamos”.
Segundo Wolfe, o desempenho de Brooks, com seu duplo personagem, pode tê-lo ajudado a melhorar sua performance como Sisko, “Nana fez isso de maneira fabulosa, mas da mesma maneira divertida que George Takei fez com o seu espelho. Ele foi o principal cara mal desse universo, então Takei o interpretou no seu grau máximo. Nana realmente teve de fazer isso, assim como Avery, também, na primeira vez. Na segunda temporada, Avery ainda estava hesitante um pouco quando interpretava Sisko”, explica Wolfe. “Tempos mais tarde, como ele ficou mais confortável no papel, e como ficamos mais confortáveis na série, ele foi capaz de deixá-lo voar um pouco mais. O Sisko espelho foi certamente um desempenho muito mais solto e que ficou mais divertido. Vê-lo fazer esse trabalho pode ter nos ajudado a ficarmos ainda mais confortáveis com a idéia de Avery estar um pouco mais desembaraçado quando interpretava o Sisko original”.
Fonte: TrekMovie