O pessoal do site Omelete esteve em visita aos estúdios da Bad Robot Productions em Los Angeles, no final do ano passado, e como havia prometido, trouxe mais detalhes sobre a produção do badalado novo filme Além da Escuridão – Star Trek. O que esperar dessa nova sequência? Veja o que eles conseguiram apurar. Possíveis Spoilers.
O artigo foi produzido por Érico Borgo, um dos editores do Omelete. Trazemos para você um resumo do que foi visto por lá e suas opiniões.
No final do ano passado, a Bad Robot abriu suas portas para a imprensa para uma visita de cortesia. Em 9 de dezembro de 2012, o pessoal do Omelete esteve lá como convidado e conheceu um pouco dos bastidores de Além da Escuridão.
De acordo com Érico, a visita começou pelo departamento de efeitos especiais, onde foi exibido um clipe de uma cena de ação que lembra a queda livre do primeiro filme. “Sem entrar em detalhes, nela, Kirk e um companheiro precisam cruzar em altíssima velocidade o vácuo entre duas naves usando apenas uniformes capazes de manobras simples”, disse Érico. “Somando a esse clipe a introdução de Além da Escuridão – Star Trek, é seguro dizer que J.J. Abrams acertou outra vez: a tensão do filme é de trincar os dentes, mas sem esquecer o humor e os diálogos afiados que marcaram a série”, disse o editor.
Depois dessa abertura, Roger Guyett, responsável pelos efeitos especiais e pela direção de segunda unidade, mostrou alguns dos maiores desafios do novo filme para seu departamento, como a criação de efeitos volumétricos de água e fogo em larga escala. Mas, para ele, é tudo muito empolgante. “Agora estamos em território conhecido, então revisitar os cenários é a maior diversão, já que podemos dar a eles novas características e trabalhar com a tecnologia disponível, além de fazer tudo com uma escala maior”, disse o diretor.
Essa escala passa tanto pelo espaço, a “fronteira final”, quanto pela Terra, onde conheceremos versões futuristas de outras cidades além de São Francisco. “Para criar Londres, por exemplo, mantivemos alguns marcos importantes, como o Olho e monumentos históricos, e tentamos imaginar como seria o desenvolvimento dos edifícios ao redor deles”.
Guyett comentou também que quase todas as cenas que mostram o elenco ao ar livre, quer sejam na Terra ou em outro planeta, foram filmadas em exteriores, já que J.J. Abrams e ele preferem sempre usar luz natural. “A luz natural dá ao filme um realismo que é quase impossível de obter em estúdio, mesmo depois que colocamos os efeitos especiais em cima”. Ele demonstrou isso mostrando sequências antes (com os atores em pequenos cenários construídos fora do estúdio) e depois dos efeitos especiais (que ampliam a dimensão e a ambientação).
A visita continuou com a figurinista Ann Foley e o responsável por objetos de cena (os chamados “props”) Andy Seagal. Ambos mostraram diversos figurinos do filme, além de objetos importantes para a produção. Alguns são versões melhoradas de Star Trek, outros são criações totalmente novas.
“Pesquisar materiais é uma das partes mais difíceis do trabalho”, explicou Ann. “Eles precisam parecer futuristas, mas funcionais – e muito legais”. Para tanto, a produção conta com uma fábrica em Nova York que pesquisa e desenvolve novos materiais, que podem ou não ser empregados pela indústria anos à frente.
O design de tudo, por sua vez, é baseado na simplicidade. Em comparação ao primeiro filme, alguns objetos icônicos, como os tricorders ou phasers, ficaram mais limpos e tecnológicos, “uma abordagem da Apple à Federação”. O custo de fabricação dos “hero props”, os objetos de cena que aparecem em close-ups e em cenas importantes, foram às alturas. As armas, por exemplo, custam 10 mil dólares cada, pois têm movimentação eletrônica na simulação de recarga que dispensa o uso posterior de efeitos especiais. “Precisa ficar tudo perfeito, pois tanto as roupas como os equipamente aparecerão ampliados dezenas de vezes em uma tela IMAX. O que parece um defeitinho a olho nu vira um defeito gigantesco na telona se estiver em close”, explicou Seagal. “Esse é o nosso maior desafio. Criar objetos e figurinos que pareçam perfeitos, ao mesmo tempo em que cumpram sua função na trama e parecem legais”.
Para os profissionais, um dos maiores desafios foi a roupa de exploração vulcânica de Spock. “Quando você precisa criar algo que aparente uma função quase impossível, como proteger o usuário das temperatura do núcleo de um vulcão, é sempre um grande problema. A roupa final, com umas escamas metálicas de uma suposta liga alienígena, era pesadíssima, mas ficou incrível. Você acredita que ela é capaz daquilo que aparece fazendo no filme. O mesmo pode ser aplicado à bomba que Spock carrega em uma maleta, fizemos uns 20 designs dela”, explicou Seagal. “Já as coisas mais fáceis são os tecidos rústicos, que Kirk e McCoy aparecem vestindo no planeta cheio de nativos do começo do filme. Eles são bem crus e pesados, no nível tecnológico daquela civilização. Só demos cores distintas a eles para o que o público conseguisse identificá-los no meio da ação”.
A dupla explicou também que quando surge a oportunidade de criar algo novo, eles sempre buscam a Série Clássica como referência. Os klingons de Além da Escuridão – Star Trek, por exemplo, foram extrapolados do que já existia, mas ganharam novas características e detalhamentos. “Com eles, tudo é influenciado pela barbárie, como as lâminas, armaduras e armas”, seguiu Seagal, enquanto mostrava manequins de guerreiros da raça empunhando armas pesadas que parecem uma mistura de alabarda (lança dos tempos medievais)) com escopeta e com seus capacetes (aparecerão klingons de rosto descoberto também, com piercings metálicos).
David Anderson, chefe de maquiagem, apresentou o penúltimo segmento da visita aos estúdios Bad Robot: o departamente em que são criadas as criaturas com efeitos práticos (sem computação gráfica).
Nas prateleiras, cabeças de diversos formatos e cores, uma amostra da variedade do universo de raças de Jornada. Entre elas, a mais conhecida de todas: o rosto vulcano do Sr. Spock (Zachary Quinto). Com orelhas pontudas moldadas para se encaixarem perfeitamente na cabeça do ator, o desafio diário maior é ajustar as sobrancelhas. Quinto leva alguns minutos todos os dias para retirar (ele mesmo) qualquer fio que esteja crescendo. Ele o faz com a ajuda de uma máscara vazada, que mostra exatamente qual parte da sobrancelha deve sair. Depois, durante 45 minutos, Anderson cola, fio a fio, os cabelos naturais para cima, formando a parte pontuda da sobrancelha, com a ajuda de um segundo molde vazado.
Igualmente curioso é o processo que transforma Jeremy Niburans em uma raça alienígena inteira. Nascido com a fronte pronunciada e traços bastante distintos, o ator serviu de molde para a raça do planeta em que o novo filme começa. Ele atua como todos os alienígenas em primeiro plano nas cenas, sendo que os que estão em segundo plano são maquiados como ele. Já os do fundo levam apenas máscaras comuns com suas feições. Para interpretar os personagens, Niburans foi totalmente depilado e pintado e ganhou maquiagem prostética no rosto, como um segundo par de narinas.
Pra completar, Anderson mostrou os novos klingons. Os grandes antagonistas da Série Clássica são interpretados por homens corpulentos, que têm seus rostos cobertos por maquiagem de silicone para dar os traços da raça. A novidade é que foram cobertos de piercings, para aumentar a sensação de ameaça de seu visual. Cada ator passa por seis horas de maquiagem para poder ir ao set – o que significa que em dias de filmagens com klingons a equipe de Anderson começa a trabalhar às 2h da manhã.
A “expedição” pela Bad Robot terminou no estúdio de Michael Giacchino, o compositor do primeiro Star Trek, que retorna para Além da Escuridão.
Dono de um Oscar pela trilha sonora de Up – Altas Aventuras (2009) e indicado também por outro filme da Pixar, Ratatouille (2007), além de colaborador frequente de J.J. Abrams em todos os seus filmes e séries como Lost e Fringe, Giacchino nos recebeu com uma apresentação completa sobre o papel da música no cinema e deu uma aula sobre o tema.
O compositor mostrou a mesma cena – a fuga de Kirk e McCoy do início do filme – em três versões diferentes: só com efeitos sonoros, só com música e com efeitos e música, apontando como cada das primeiras sempre deixa algo a desejar, até que a fusão aconteça. “A música é um guia emocional para a trama. Ela precisa conversar com a história o tempo todo”, explicou. Realmente, acompanhar a sequência inicial sem a composição dava margem a diversas interpretações da cena.
Giacchino comentou também que parte da sua diversão no novo Jornada foi desenvolver temas específicos para cada elemento, em particular o da USS Enterprise – e suas variações.
“O papel de trilha sonora é dizer ao público o que sentir, algo que o texto não consegue”, concluiu entre mixers, um piano, intrumentos diversos e inúmeras telas na salinha sutilmente iluminada, com um janelão ao lado, onde via-se o estúdio de gravação.
Opinião do Omelete sobre Harrison.
Durante a visita, foi solicitado que não comentassem, mas pelo que viram e ouviram, os rapazes do Omelete deram suas próprias opiniões sobre um dos assuntos mais comentados da sequência: Benedict Cumberbatch, que interpreta o vilão, é ou não é a nova versão do clássico Khan?
J.J. Abrams, logo de início, explicou: “o nome dele é John Harrison – e ele será um vilão muito mais intelectual e desafiador do que Nero, do primeiro filme. Eric Bana fez um ótimo trabalho, mas o personagem era mais limitado, mais simples”, comentou, defendendo que o problema da história de origem era estabelecer a tripulação e suas conexões. Para Além da Escuridão – Star Trek, Abrams promete um inimigo muito mais complexo e cheio de nuances, “sem limites”.
Até aqui, tudo o que sabemos de John Harrison é que ele é um brilhante estrategista que integrou a Frota Estelar e agora age contra ela, motivado por vingança. Considerado um terrorista, ele foi responsável por dois grandes ataques: um a Londres e outro a São Francisco. O personagem teve acesso a informações de alta patente que o Capitão Kirk sequer desconfia existirem.
Como todo bom antagonista, ele será, segundo as palavras de Chris Pine à revista Empire, “a sombra de Kirk e seu ponto fraco. Um reflexo ampliado de todas as inseguranças de Kirk, que ele vê claramente. É tão lógico e inteligente quanto Spock, mas um sujeito muito, muito mau e durão. Ele é quase super-humano e invencível. Poderoso física e mentalmente e capaz de manipular qualquer um, mesmo quando aprisionado. É uma espécie de Hannibal Lecter nesse sentido”.
Permanece, porém, a impressão geral de que Harrison está, de alguma maneira, relacionado à existência de Khan Noonien Singh (Ricardo Montalban), um dos mais icônicos vilões de Jornada. Como Harrison, ele é um estrategista, líder nato, superforte e dotado de uma inteligência superior. Seu nascimento, produto de manipulação genética e eugenia, porém, data da década de 1990, quando ele foi pivô das chamadas “Guerras Eugênicas”, o último grande conflito em escala planetária da humanidade.
O fato é que a linha do tempo alternativa proposta por J.J. Abrams no seu reboot Star Trek está situado séculos à frente da década de 1990, porém, sugere que o Khan que conhecemos na Série Clássica deveria ser exatamente o Khan que veríamos conhecer na franquia reformulada no cinema. Afinal, por anteceder a bifurcação temporal, ele não poderia sofrer mudanças tão radicais dentro das regras da ficção científica estabelecidas para o gênero. Fica a dúvida, portanto, se Abrams criou alguma nova espécie de relação entre Khan e Harrison. Seria o personagem de Cumberbatch um cientista geneticista (como ficou claro no preview de 8 minutos que foi revelado antes de O Hobbit) que deparou-se com a “fórmula” para Khan e aplicou-a em si mesmo (as tais informações privilegiadas que ele descobriu)? Ou talvez um clone do original, um descendente de alguma maneira?
De qualquer forma, com as várias pistas que Abrams está deixando de que o personagem pode ser Khan e a presença da doutora Carol Marcus (Alice Eve), personagem criada em 1982 para o filme Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan, parece ilógico que Abrams não se utilize do vilão – ou ao menos seu legado – em Além da Escuridão – Star Trek.
Segundo, Érico, ainda há mais coisa a apresentar. Então, ficaremos no aguardando.