Texto de Rosimeire Anne
Ele é ator, diretor, produtor, inteligente e acima de tudo um Vulcano de sucesso. Sua vinda ao Brasil no fim de outubro de 2003 marca uma data importante para quem é trekker, mas deveria marcar no calendário de todos que amam as grandes cabeças do cinema. Spock ou Leonard Nimoy, não há disputa: ambos são fantásticos. “Só posso esperar que, quando as pessoas olharem para a figura de Spock, algumas vezes pensem em mim.”
Leonard Nimoy nasceu em Boston, Massachusetts, em 26 de março de 1931. Ele é o segundo filho do casal Max e Dora Nimoy.
Seu interesse pela carreira começou quando ele ainda era pequeno, atuando no teatro em uma comunidade local desde os oito anos até sua adolescência. Em 1949, depois de um curso de verão no Boston College, ele foi a Hollywood, onde teve aulas de teatro, tentou perder seu sotaque interiorano de Boston e trabalhou em lugares esquisitos para se sustentar.
A estréia de Nimoy no cinema foi em 1951, quando ele conseguiu um pequeno papel no filme “Queen for a Day”. Depois desse, muitas outras pequenas oportunidades surgiram, em filmes obscuros e em continuações, como “Zombies of the Stratosphere”, e todos foram valiosos treinamentos para ele.
Em 1952, veio seu primeiro papel principal, no filme “Kid Monk Baroni”. Depois de dois anos servindo o Exército, Nimoy voltou a trabalhar em filmes, televisão e teatro. Durante os anos 50 e 60, Nimoy apareceu em muitas séries de TV conhecidas do momento, como “Wagon Train”, “Man from U.N.C.L.E”, “Rawhide”, “Perry Mason” e “Combat”.
Entretanto, foi o grande sucesso como o “charmoso” (para as mulheres) Vulcano na série Jornada nas Estrelas, que deu a ele reconhecimento mundial. Estreando em 1966, o personagem de Nimoy, sr. Spock, foi se tornando um ícone enquanto a série foi ao ar na TV e logo depois na grande tela, com seis filmes. Seu personagem o garantiu três indicações ao Emmy.
Em 1973, Nimoy voltou a fazer o Vulcano na série animada de Jornada nas Estrelas, que foi passada durante duas temporadas num sábado de manhã. Nimoy também tentou aventurar-se “onde muitos homens sempre estiveram”: atrás das câmeras, e como já era de se esperar de um Vulcano como ele, deu certo. Leonard não só dirigiu como co-escreveu os roteiros de Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock (1984) e Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa (1986), que conta a história do resgate de uma baleia corcunda e é um dos melhores filmes da série.
Nimoy também foi produtor-executivo em Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida (1991). Gene Roddenberry considerava Leonard “a consciência de Jornada nas Estrelas“. Em 1991, Spock também estava de volta nos episódios da Nova Geração: “Unification, Parts I e II”. Esses dois episódios fazem eco ao sexto filme de Jornada.
O sucesso de Spock chegou a trazer alguns incômodos ao ator, que escreveu dois livros, o primeiro foi publicado em 1975 e foi intitulado “I´m Not Spock”. “Cometi um grande erro ao escolher o título para o livro. Já cometi vários erros em minha vida, mas esse foi grave e atingiu o público em cheio. O público passou a achar que não havia mais Jornada nas Estrelas porque eu jurara nunca mais interpretar o Vulcano novamente e porque eu odiava Spock”, relembra. Leonard diz que se divertiu escrevendo o livro, elaborando discussões filosóficas entre Spock e ele mesmo, chegando a raciocinar se um ator é ou não o personagem que faz.
Todo esse desentendimento gerado entre ele e os fãs, fez com que ele escrevesse outro livro, dessa vez com um título afirmativo “I´m Spock”. E fez questão de escrever que não odeia o Vulcano. Nesse livro ele também conta o quanto a história do Corcunda de Notre Dame, Quasímodo, o tocou num dos tantos dias que ele foi ao cinema com seu irmão “…porque a história continuava e eu ia percebendo que, por baixo daquele exterior ‘diferente’, havia um coração que clamava por amor e aceitação”. Nimoy conta que desde pequeno sentia o que era ser “diferente”, pois era um garoto judeu que morava em um bairro italiano. Segundo ele, Spock começou a ganhar forma nesse dia “levei comigo a imagem sofrida de Quasímodo pelo resto daquele dia; a semente daquilo que Spock viria a ser foi plantada naquele dia”.
Realmente, se Nimoy não tivesse tido esse sentimento de outsider, talvez isso influenciasse nos papéis que iriam tocá-lo ou não, e talvez ele olhasse para o roteiro de Jornada e achasse ridícula essa história de Vulcano, orelhas pontudas…
Fora de Jornada nas Estrelas, ele dirigiu vários outros filmes: “The Good Mother”, estrelando Diane Keaton e Liam Neeson, o sucesso “Três Solteirões e Um Bebê”, com o famoso trio Tom Selleck, Ted Danson e Steve Guttenberg, “Funny About Love”, com Gene Wilder, Christine Lahti e Mary Stuart Masterson, e “Holy Matrimony”, com Patricia Arquette e Joseph Gordon-Levitt. Uma pesquisa certa vez já mostrou três filmes de Nimoy entre os maiores sucessos de bilheteria de todos os tempos.
Nimoy participou de muitas produções teatrais, incluindo Fiddler on he Roof, Camelot, Oliver e Vincent, uma peça de apenas um ator no qual ele ajudou como diretor e produtor. Ele também conseguiu o papel principal como Sherlock no grande sucesso da Royal Shakespeare Company “Sherlock Holmes”. Claro que Broadway recebeu este grande talento, em Equus e Full Circle.
Na televisão, ele ficou dois anos como o personagem Paris em “Missão: Impossível”. Entre as séries que ele apareceu fora de Jornada estão: “A Woman Called Golda”, na qual ele co-estrelou ao lado de Ingrid Bergman; e “Never Forget”, na qual ele intrepretou um sobrevivente que luta em uma briga judicial, com sucesso, contra os que contradizentes do Holocausto. Essa última foi nomeada para um prêmio Cable Ace. Já em 1996 Nimoy interpretou o profeta bíblica Samuel, na TNT.
Leonard também é ótimo narrador. Ele narrou o documetário Ring of Fire em 1991, Destiny in Space, em 1994, Carpati: 50 Miles, 50 Years, em 1996, e A Life Apart: Hasidism in America, em 1997. Em séries de Tv constam trabalhos de narração em In Search Of, Ancient Mysteries, e na série da TV Australiana, The Coral Jungle. Recentemente, ele interpretou a voz do Rei de Atlantis no desenho da Disney “Atlantis: The Lost Empire”.
Obviamente que este “homem bombril”, “multi-uso”, tem sua estrela na Calçada da Fama. Ela foi “inaugurada” em 16 de Janeiro de 1985 e está localizada no endereço 6651 Hollywood Boulevard, entre North Cherokee e North Las Palmas, Hollywood, Califórnia. Se por alguma sorte você for para lá, essa é parada obrigatória, até para quem não é trekker. Afinal, Leonard Nimoy é motivo de orgulho para o cinema, o melhor presente que Jornada já revelou, contando competência, inteligência e paixão pelo que faz, em uma mesma pessoa.
Achando que havia acabado tudo que era possível falar sobre Nimoy, descubro que além de diretor, produtor, narrador, etc., ele é também fotógrafo. No site www.leonardnimoyphotography.com, você pode apreciar ensaios de foto como “The Hand Series”, “The Dance Nude”, “The Borghese Series”, “The Classic Nudes”, “The Shekhina Project” e “The Egg Series”. Fotos de mãos, corpo nu, ovos, beleza feminina são temas dos ensaios.
“The Borghese series é um ensaio fotográfico cujo assunto é a escultura de Casanova “Paulina”, que encontra-se na Borghese Gallery em Roma. A modelo da escultura, que foi feita no começo de 1800, foi a Condessa Paulina Bonaparte Borghese, irmã de Napoleão Bonaparte. …Fotografei essa série em 2001 durante residência na American Academy em Roma”, afirma Leonard Nimoy.
Outra das produções de Nimoy que é interessante citar é “Alien Voices”, na qual ele juntou-se com John de Lancie, para conseguir adaptações de audio de clássicos da ficção científica, apresentadas em radio plays. Fazem parte desse trabalho: The Lost World, Journey to the Center of the Earth, The Time Machine, e Spock vs. Q. Esse homem não pára.
Nimoy tem dois filhos, Julie e Adam, muitos netos, e é casado (pela 2ª vez) com Susan Bay Nimoy.