Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa

Aventura e comédia, em história sem vilão, realçam preocupações ambientais

Sinopse

Data estelar: 8390.0

Uma estranha sonda cilíndrica vaga pelo espaço, e a USS Saratoga investiga a misteriosa espaçonave. Em paralelo, o Conselho da Federação ouve o testemunho do embaixador klingon, que exige a extradição de Kirk para julgamento após a morte de uma tripulação klingon e o roubo de uma ave-de-rapina, além de seu envolvimento na criação do torpedo Gênesis. Sarek, o embaixador vulcano, se manifesta em defesa de Kirk. O presidente da Federação diz que o almirante será julgado por violações das regras da Frota Estelar. O embaixador klingon promete que não haverá paz enquanto Kirk viver.

Em Vulcano, Kirk e seus comandados pretendem voltar à Terra na ave-de-rapina, rebatizada por McCoy de “HMS Bounty”. Todos estão de acordo com a decisão. Spock, enquanto isso, segue em sua recuperação após a miraculosa ressurreição. Ele participa de um teste conduzido por computador, mas tem dificuldade em responder “como se sente”. Sua mãe, Amanda, o lembra de que ele é meio humano, e o computador sabe disso. Spock decide retornar à Terra com seus colegas. Saavik ficará para trás, em Vulcano.

No espaço, a Saratoga encontra e é desativada completamente pela sonda. Ela está emitindo um sinal incompreensível. No Comando da Frota Estelar, o presidente da Federação se encontra com o almirante Cartwright, que indica que a sonda desativou três naves federadas e está a caminho da Terra. O mesmo ocorre com a ave-de-rapina comandada por Kirk.

A aproximação da sonda desativa a Doca Espacial, bem como sistemas de defesa terrestres. Pior: a mensagem transmitida por ela é incompreensível, e o sinal começa a levar à evaporação dos oceanos terrestres. A 1,6 horas da Terra, a ave-de-rapina recebe um sinal de emergência: o presidente comunica que a Terra está sob ataque e uma visita ao planeta deve ser evitada a todo custo, já que todas as naves que se aproximam são desativadas pela misteriosa sonda.

Kirk pede para ouvir a mensagem, direcionada aos oceanos. Spock lança a hipótese de que ela seja projetada para ser recebida sob a água. Uhura adapta os sistemas para simular como ela seria ouvida no fundo do mar, e Spock a identifica como o canto de baleias jubarte, uma espécie extinta desde o século 21. Kirk então decide tentar voltar no tempo para resgatar um par de baleias jubarte capazes de entender e responder à mensagem.

Em meio ao caos, o Comando da Frota Estelar recebe a mensagem de Kirk em que ele conta seu plano para tentar atingir uma dobra temporal passando de raspão pelo Sol a fim de retornar ao fim do século 20 e resgatar duas baleias jubarte. O sinal é perdido antes do fim da mensagem, e a Terra parece fadada à destruição.

A ave-de-rapina faz o contorno do Sol, sofre muitos danos, mas a empreitada tem sucesso, e ela chega à Terra em 1986. Kirk ordena a ativação do sistema de camuflagem para não serem detectados, e Uhura detecta cantos de baleias, mas vindo de São Francisco. Scotty, na engenharia, tem más notícias: os cristais de dilítio fraturaram na manobra de viagem no tempo. Não há meio conhecido no século 23 de recristalizar o dilítio, mas Spock sugere que no século 20 talvez exista um: obtendo energia de um reator de fissão nuclear disponível em navios dessa época.

Kirk decide por um pouso no parque Golden Gate e defende que eles trabalhem em equipes. Spock é um problema adicional, já que ninguém na Terra viu um extraterrestre, mas o vulcano resolve rasgando parte de seu roupão e amarrando uma fita sobre as sobrancelhas e orelhas. O pouso apavora uma dupla de lixeiros, que saem correndo com seu caminhão.

Na cidade, Kirk decide que a primeira medida será conseguir algum dinheiro, essencial à sobrevivência na Terra do século 20. Ele leva os óculos que foram um presente de McCoy a uma loja de antiguidades, que os compra por cem dólares. Kirk divide o dinheiro e as equipes: ele e Spock irão atrás das baleias, Scott e McCoy irão atrás de um tanque capaz de transportá-las, Sulu conseguirá um helicóptero para transporter as placas do tanque, e Uhura e Chekov vão procurar um navio com um reator de fissão nuclear.

Kirk nota um anúncio do Instituto Cetáceo, em Sausalito, que tem duas baleias, George e Gracie. Enquanto isso, Chekov e Uhura perguntam na rua se alguém sabe onde encontrar os navios nucleares. A viagem de Kirk e Spock até o Instituto Cetáceo fica tensa quando eles encontram um punk no ônibus que se recusa a baixar o volume de seu aparelho de som – até Spock aplicar uma pinça vulcana nele, deixando-o desmaiado.

Ao chegar no instituto, eles tomam parte em um grupo de visitantes guiado pela bióloga Gillian Taylor. Ao encontrar o tanque de George e Gracie, Spock mergulha para fazer um elo mental com as criaturas. Ele volta dizendo que elas estão dispostas a ajudar, mas Gillian fica furiosa de ver Spock nadando com as baleias. Kirk tenta convencê-la de que ele não quis mal aos bichos. Os dois partem e vão caminhando de volta a São Francisco. Gillian, por sua vez, está triste que as baleias em breve serão libertadas no mar, onde estarão sob a ameaça de caçadores.

Enquanto isso, Chekov e Uhura encontraram um navio nuclear, e é o USS Enterprise CVN-65. Eles vão se transportar para colher a energia do reator à noite e sair de lá antes de serem vistos. Kirk e Spock recebem a notícia e logo em seguida veem Gillian em sua caminhonete, também a caminho de São Francisco. Ela oferece uma carona aos dois.

As coisas esquentam quando Spock revela que Gracie está prenha – algo que deveria ser um segredo. Kirk diz que pode proteger as baleias de caçadores, mas Gillian está cética: nem ir de Sausalito a São Francisco sem um carona ele consegue. Ainda assim, ele a convence de jantarem juntos, enquanto Spock é deixado no parque.

Enquanto isso, Scott e McCoy visitam a fábrica da Plexicorp. O engenheiro finge ser um acadêmico de Edimburgo que veio visitar a instalação. O doutor Nichols os levará num tour pela empresa. Em paralelo, Sulu conversa com um piloto de helicóptero e se familiariza com a aeronave. Ao fim da visita, Scott oferece algo a Nichols: a fórmula para alumínio transparente, em troca das placas para o tanque de que precisam. McCoy chama Scott de canto e pergunta se não estão mudando o futuro, mas o engenheiro se pergunta: “Como sabemos que não foi ele que inventou?” Nichols concorda com a troca.

Durante o jantar, Kirk revela sua verdadeira identidade e que veio do futuro para levar duas baleias para o século 23 e, com isso, salvar a Terra. A refeição é interrompida quando Gillian revela que as baleias serão despachadas de avião para o Alasca no dia seguinte, ao meio-dia. Kirk agora tem pressa e quer a frequência de rádio para rastrear as baleias. Gillian hesita. Ele diz que, se ela mudar de ideia, basta procurá-lo no parque.

Uhura e Chekov se transportam para o navio e encontram o local ideal para absorver a energia do reator com um dispositivo construído para esse fim. O procedimento dá certo, mas a tripulação detecta um vazamento de energia. Pela interferência do reator, Scott só pode transportar um de cada vez. Uhura sai com o dispositivo, mas Chekov é cercado e detido antes que consiga enviar um sinal para Scott efetuar o teletransporte. Chekov é interrogado e tratado como um espião russo. Numa tentativa de fuga, ele sofre uma queda e é levado ao hospital, inconsciente e em estado grave.

Gillian chega ao instituto pela manhã e descobre que as baleias já foram embora, sem que alguém a avisasse. Desesperada, ela vai até o parque tentar encontrar Kirk. Sulu e Scott estão terminando de montar o tanque, e ela nota a estranha operação e descobre a nave invisível. Aos berros, Gillian chama por Kirk, que a transporta para a ave-de-rapina. Ela conta que as baleias já partiram, mas Kirk diz que eles ainda não podem ir atrás delas – estão com um tripulante perdido. Uhura descobriu o hospital onde ele está, em condição crítica.

Com isso, Kirk, McCoy e Gillian se disfarçam de médicos para se infiltrar no hospital e salvar Chekov. Em meio a confusão, McCoy dá uma pílula a uma senhora que estava em diálise, e ela ganha um rim novo. Ele também consegue tratar Chekov, e o trio consegue tirá-lo do hospital antes que policiais pudessem detê-los. A despeito dos protestos de Kirk, Gillian decide ir com ele para o futuro. De volta à ave-de-rapina, ela ruma para o oceano, em busca dos sinais de George e Gracie. Os dois chegam bem a tempo de salvá-las de um baleeiro prestes a alvejá-las. Com as baleias a bordo, Spock precisa dar um palpite nos cálculos para projetar o retorno ao futuro. Kirk se anima com isso, e McCoy diz que ele confia mais nos palpites de Spock que nas certezas de outros.

A manobra de estilingue gravitacional ao redor do Sol mais uma vez funciona e a nave, severamente avariada, retorna ao século 23,, onde faz um pouso forçado sob a ponte Golden Gate. Kirk precisa nadar pela nave que afunda para libertar as baleias. Elas respondem ao sinal e a sonda interrompe seu ataque à Terra, retornando ao espaço profundo.

Com o sucesso da missão, é hora de Kirk e seus comandados serem julgados pelos atos que envolveram o roubo da Enterprise e o resgate de Spock. O presidente da Federação informa que todas as acusações foram retiradas, exceto um, a de desobedecer ordens de um superior, e esta só seria aplicado a Kirk. Como punição, ele seria rebaixado de almirante a capitão. Spock reencontra seu pai Sarek e manda à mãe um recado: ele se sente bem. Já Gillian se despede de Kirk, tendo sido integrada à tripulação de uma nave científica. Quanto a Kirk e seus comandados, são designados para uma nova nave. Uns esperam a Excelsior, outros um cargueiro, mas no fim se trata da Enterprise-A, uma nave idêntica à perdida no planeta Gênesis. Kirk então proclama: “Amigos, estamos em casa.”

Comentários

Ele será eternamente conhecido como “aquele filme das baleias”, e não por acaso. Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa foi o primeiro filme da saga, e possivelmente o único, a furar a barreira do público de ficção científica e atingir uma audiência mais ampla. Tudo graças a uma mágica combinação de elementos, da sensibilidade do filme à temática, passando pelo humor.

Trata-se efetivamente de uma comédia de aventura, de onde a graça emerge com naturalidade, em razão da premissa extremamente acessível de “peixes fora d’água”, com astronautas do futuro voltando à Terra do presente para resgatar duas baleias e, com isso, salvar o futuro do planeta.

A preocupação ambiental era então já um tema importante e de grande alcance, e a ficção científica associada ao filme serve para amplificar essa preocupação, ressaltando não só a inapropriada arrogância do ser humano (que se julga a última bolacha do pacote no planeta Terra, enquanto cetáceos, milhões de anos atrás, já haviam travado contato com alienígenas) como a importância de resguardar a biosfera como um todo, a fim de garantir o futuro da civilização.

Décadas depois do lançamento do filme, a humanidade ainda digladia com questões ambientais, e não é incomum até hoje ver defesas míopes da devastação como um direito adquirido da espécie humana. A natureza vem dando sua resposta, não como uma sonda interestelar que ameaça o futuro dos oceanos, mas com a crise climática causada pela queima de combustíveis fósseis e o colapso de ecossistemas pela destruição promovida pela ocupação humana não sustentável.

A despeito da urgência do tema (ainda mais hoje que em 1986), o filme trata da questão com leveza e respeito, sem exagerar em um discurso inflamado e ofender sensibilidades. Para tratar da questão, o roteiro faz uso de Gillian Taylor, a apaixonada bióloga de cetáceos frustrada com a insensibilidade humana, e de Spock, que lembra que fazerem o que bem entenderem das baleias, sem consultá-las, seria tão desrespeitoso quanto a atitude dos responsáveis por sua eventual extinção.

A trama se estrutura com começo e fim no século 23 e o meio no século 20. No coração da história, como não poderia deixar de ser, estão os membros da tripulação da finada Enterprise, em particular Kirk e Spock. Ambos têm um arco a realizar no filme. Kirk, um de redenção, em que, por meio de suas ações, contorna a inevitável condenação por desobedecer ordens e volta ao comando de uma nave estelar – seu “primeiro e melhor destino”. Já Spock ainda transita pelo arco da ressurreição, começando o filme deslocado e confuso com seus sentimentos humanos, mas terminando por aceitá-los, ao enviar um recado à mãe: “eu me sinto bem”.

A despeito desse destaque maior para Kirk e Spock, a trama faz bom uso de todos, permitindo até que os personagens secundários tenham seus momentos. Uhura talvez seja a mais discreta deles, a despeito de demonstrar sua proficiência costumeira. Scotty brilha como poucos ao se fingir de arrogante acadêmico numa visita à fábrica de plexiglass, para depois entregar a fórmula do alumínio transparente em troca das placas que precisava para construir o tanque para as baleias. McCoy, nessa sequência, ganha um papel secundário, mas ainda assim importante.

Em fórmula similar, Chekov é o astro do esforço para conseguir colher os fótons necessários à recristalização do dilítio da ave-de-rapina. A noção de um russo, em plena Guerra Fria, invadindo um navio nuclear americano é tão chocante que, em outro filme, poderia acabar em pancadaria e morte. Aqui, com a leveza que marca todo o filme, vira uma magnífica sequência de humor. A exemplo de McCoy, Uhura serve de escada para Chekov brilhar.

Sulu acaba relegado a um papel menor, mas adequado aos seus talentos, no esforço para conseguir o helicóptero para transportar as placas de plexiglass. Aprendemos neste filme que ele é nascido em São Francisco e por pouco não tivemos um divertido encontro entre ele e seu tataravô, ainda menino, nas ruas da cidade. O garoto contratado para fazer a cena esteve indócil durante as filmagens, impedindo que a sequência fosse realizada, para a tristeza de George Takei. Mas a boa intenção de dar algo relevante para todos esteve lá.

Naturalmente, a despeito dessas boas aparições, o centro narrativo ao longo de todo o filme fica com Kirk e Spock, enquanto a dupla se esforça para identificar e resgatar as baleias. Vemos uma rara situação em que o charme de Kirk parece inefetivo com a obstinada Gillian, que se preocupa mais com os cetáceos do que com qualquer outra coisa no mundo. As cenas em que Spock nocauteia com uma pinça vulcana um punk no ônibus, faz um elo mental com a baleia Gracie e tenta usar “metáforas pitorescas” (vulgo palavreado chulo) para se adaptar aos costumes do século 20 são impagáveis. Leonard Nimoy e William Shatner como sempre estão afiadíssimos em seu talento cômico, valorizando cada segundo em tela. Destaque maior para Nimoy, que teve de atuar pesadamente no filme enquanto o dirigia, trabalhando bem dos dois lados da câmera.

De novo, todos os lances de humor emergem naturalmente: Scotty tentando falar com um computador primitivo do século 20, Chekov perguntando sobre navios nucleares a transeuntes, Kirk intrigado ao ser barrado no ônibus por não ter troco, e por aí vai. Trata-se acima de tudo de uma jornada leve e divertida, a despeito dos riscos existenciais para o próprio futuro da Terra.

E por isso cativou tanto a audiência. É uma ficção científica majoritariamente “pé no chão”, que completa de forma espetacular o que acabaria sendo uma trilogia. A Volta para Casa remete essencialmente ao fechamento de um ciclo, que começa com o embate a Khan e a perda de Spock, passando pela ressurreição do vulcano e a destruição da Enterprise, e culminando com a salvação da própria Terra e a recolocação de Kirk na função que sempre o consagrou: a de capitão de uma nave estelar.

Impossível não ter uma lágrima nos olhos quando vemos a Enterprise-A surgir por detrás da Excelsior, fazendo jus de forma sublime ao título do filme, sobretudo para aqueles que são fãs da saga como um todo.

Há de se elogiar também os valores de produção, beneficiados pelas filmagens em locação, passando por diversas paisagens de São Francisco e imediações, e a necessidade relativamente modesta de efeitos visuais. Em compensação, um trabalho muito competente de efeitos especiais dá vida ao filme, recriando as baleias em toda a sua glória. Na maioria das tomadas, não estamos diante dos animais de verdade, mas de marionetes animatrônicos. As tomadas espaciais, com a sonda, as naves e a Doca Espacial desabilitadas, são muito bem feitas. E a sequência “desbunde” é a montagem que sucede a viagem ao passado, com uma pegada artística surrealista em que as cabeças dos personagens surgem de uma névoa enquanto ouvimos vozes, terminando pelo canto das baleias. É o momento 2001 do filme, cortesia do diretor Leonard Nimoy.

Por sinal, este talvez seja o longa-metragem com maior envolvimento dele, trabalhando em três frentes: como ator, roteirista (coautor do argumento) e diretor. Faz contraste com Jornada III, em que ele dirigiu, mas pouco atuou e nada escreveu. Aqui, Nimoy faz de fato um grande trabalho, com uma direção mais inspirada e criativa que no filme anterior. E seu sucesso pilotando Jornada IV o colocou numa trajetória de sucesso como diretor, ao lançar no ano seguinte a comédia de grande sucesso Três Solteirões e um Bebê.

Vale também destacar a trilha sonora de Leonard Rosenman. Substituindo James Horner, autor das músicas dos dois filmes anteriores, ele traz uma sensibilidade diferente para Star Trek, com um som que até hoje é sui generis na saga. Há algo de maravilhamento e diversão circense nas músicas que tornam a trilha muito especial. Não por acaso, foi indicada ao Oscar.

Com todos esses elementos, Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa consolida o sucesso da franquia no cinema e assegura a produção de um quinto filme, desta vez com William Shatner como principal força criativa. Seria a fronteira final para os filmes com o elenco da Série Clássica?

Avaliação

Citações

“To hunt a species to extinction is not logical.”
“Whoever said the human race was logical?”
(Caçar uma espécie até a extinção não é lógico.)
(Quem disse que a raça humana era lógica?)
Spock e Gillian Taylor

“Don’t tell me. You’re from outer space.”
“No, I’m from Iowa. I only work in outer space.”
(Não me diga. Você é do espaço sideral.)
(Não. Sou de Iowa. Eu apenas trabalho no espaço sideral.)
Gillian Taylor e James T. Kirk

“Do you have a message for your mother?”
“Yes. Tell her… I feel fine.”
(Tem algum recado para sua mãe?)
(Sim. Diga a ela… que me sinto bem.)
Sarek e Spock

“My friends. We’ve come home.”
(Meus amigos. Voltamos para casa.)
James T. Kirk à tripulação, ao ver a Enterprise-A

Trivia

  • Leonard Nimoy e Harve Bennett queriam dar mais leveza ao quarto filme e, ao conceber a história, ambicionavam fazer uma trama sem vilão. Mas William Shatner hesitava em retornar ao papel, o que fez a dupla passar oito meses considerando a ideia de uma prequela concebida por Ralph Winter que mostraria os personagens jovens, na Academia da Frota Estelar. Shatner acabou topando fazer o filme em troca de um aumento, o que derrubou essa ideia.
  • Decididos em focar em uma viagem no tempo, Nimoy e Bennett quebraram a cabeça em pensar o que precisariam resgatar no passado para salvar o futuro. Cogitaram ideias sobre fabricantes de violinos e perfuradores de petróleo, ou mesmo uma doença cuja cura havia sido destruída em uma floresta perdida. Mas nada disso se alinhava muito com a ideia de um filme leve.
  • No fim, Nimoy teve a ideia de pensar no desafio de comunicação com espécies alienígenas inspirado por uma conversa com o cientista Phillip Morrison, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Achou que a ideia de uma espécie extinta e o canto das baleias, com seu mistério, traria desafios para os protagonistas, incluindo a dificuldade de transportá-las em razão do tamanho.
  • Após a concepção da história, Steve Meerson e Peter Krikes foram contratados para dar forma ao roteiro. O filme foi pensado originalmente como uma forma de combinar dois grandes sucessos da Paramount, o ator Eddie Murphy e a franquia Star Trek.
  • Nessa versão original, em vez de Gillian Taylor, o filme continua um estranho professor de faculdade que era fissurado por óvnis – o papel que caberia a Murphy. O ator, consagrado após o filme Um Tira da Pesada (1984), era fã de Star Trek e procurou a produção para participar do longa.
  • No fim, contudo, Murphy optou por estrelar em O Rapto do Menino Dourado (1986), deixando caminho livre para a reescrita do papel que acabaria com a atriz Catherine Hicks. O estúdio também acabou desistindo da ideia, com medo de começar com dois sucessos e terminar sem nenhum.
  • Insatisfeito com o roteiro, o estúdio chamou Nicholas Meyer, roteirista não creditado de Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan, para ajudar a dar forma final ao filme. Coube ao primeiro reescrever o início e o fim, ambientado no século 23, e Meyer deu forma ao miolo, no século 20.
  • O retorno de Nicholas Meyer a Star Trek se deu de forma tranquila. Ele havia se recusado a retornar para o terceiro filme por ser contra a ressurreição de Spock (anos depois ele admitiria que era a decisão certa do ponto de vista da franquia), mas, uma vez que isso estava feito, ele não se incomodou em voltar a trabalhar com o personagem neste quarto filme.
  • Na versão de Meyer, Gyllian ficaria no século 20 para tentar impedir a extinção das baleias, mesmo que isso criasse um paradoxo temporal. O escritor preferia esse desfecho, por enfatizar a necessidade de as pessoas do presente assumirem responsabilidades para evitar problemas no futuro.
  • Originalmente, o roteiro revelaria que Saavik ficara em Vulcano por estar grávida de Spock, após tê-lo ajudado a superar seu pon farr no planeta Gênesis. A cena acabou não se concretizando, deixando em aberto uma ideia muito interessante. Bennett e Meyer cortaram também uma sequência em que a ave-de-rapina apareceria diante de um estádio cheio no intervalo do Super Bowl.
  • O roteiro final continha uma cena sugerida a Bennett por George Takei, em que Sulu encontraria um ancestral distante, ainda menino, em São Francisco. A produção bem que tentou filmar a cena, mas a criança não era um ator profissional, e a mãe dele estava no set, o que deixou o garoto muito nervoso. Acabaram não conseguindo filmar a cena e tiveram de desistir dela. O material, contudo, aparece na romantização do filme escrita por Vonda McIntyre.
  • A maioria das cenas de baleias foram filmadas com modelos animatrônicos de 1,2 metro. Foram criados quatro deles e eram tão realistas que, após o lançamento do filme, autoridades ambientais criticaram publicamente a produção por chegar tão perto das baleias para filmar. Nimoy e Bennett dizem ter adorado revelar às autoridades que, exceto por tomadas que aparecem no fim do filme, à distância, as cenas com as baleias não eram reais – foram filmadas numa piscina em uma escola da região de Los Angeles. Uma cauda grande animatrônica também foi criada, para figurar na cena com a ave-de-rapina afundando. Isso foi filmado no estacionamento da Paramount, alagado para as gravações. Era nesse mesmo tanque, décadas antes, que o estúdio gravava seus filmes de navios piratas.
  • O plano original era lançar o filme durante o verão americano de 1986, mas as filmagens acabaram atrasadas para permitir que William Shatner concluísse seu trabalho naquela temporada da série Carro-Comando (J. Hooker).
  • A fotografia principal começou em 24 de fevereiro de 1986 e tinha duração prevista de 55 dias. Num testemunho da eficiência de toda equipe sob o comando do diretor Leonard Nimoy, elas acabaram três dias antes.
  • Em seu segundo filme como diretor, Nimoy teve desavenças com Harve Bennett, que chegou a admitir ficar muito mais tempo nos sets do que ficaria se houvesse um diretor experiente. As coisas andaram bem durante o terceiro filme, mas no quarto Nimoy achava que já tinha se provado e não precisava mais de uma “babá”. Além disso, os dois brigaram porque Bennett queria legendar a conversa entre as baleias e a sonda, algo que Nimoy repudiou. A visão do diretor acabou prevalecendo.
  • Uma das histórias mais pitorescas das gravações se deu na cena em que Chekov e Uhura perguntam a transeuntes sobre os “navios nucleares”. A instrução para todos os figurantes era interagir com eles, mas não falar nada. Layla Sarakalo era uma dessas figurantes, mas ela acabou reagindo e respondendo. A cena ficou tão natural que Nimoy decidiu mantê-la no filme, e Sarakalo teve de ser incluída no sindicato dos atores.
  • As cenas no Instituto Cetáceo foram filmadas no Monterey Bay Aquarium.
  • Já as sequências no porta-aviões foram filmadas a bordo do USS Ranger (CV-61), se passando pelo Enterprise, que estava indisponível, em missão, na época das filmagens. mas, ainda que estivesse à disposição, seria muito complicado filmar num navio nuclear real, por conta de segredos militares. O Ranger, que não tinha um reator nuclear, se preatava mais à função. Os marinheiros embarcados que aparecem como figurantes, por sinal, eram todos pessoal do Ranger.
  • O filme, lançado em 26 de novembro de 1986, é dedicado à tripulação do ônibus espacial Challenger, da NASA, que explodiu pouco após a decolagem, em 28 de janeiro de 1986 – quase dez meses antes da estreia.
  • Esta é a última aparição de Majel Barrett como Christine Chapel.
  • Brock Peters, que aqui faz o almirante Cartwright, repetiria o papel em Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida. Mais adiante, ele viveria Joseph Sisko, pai de Benjamin Sisko, em vários episódios de Deep Space Nine.
  • O efeito estilingue usado para viajar no tempo já havia aparecido na Série Clássica duas vezes, em “Tomorrow Is Yesterday” e “Assignment: Earth”.
  • A capa do jornal San Francisco Register indica que o filme se passa ao redor de 18 de dezembro de 1986.
  • Merchandising de produtos em filmes de Star Trek é algo relativamente raro, mas a visita ao século 20 permitiu algumas inclusões. Gillian Taylor pede uma cerveja Michelob, e Scotty opera um computador Macintosh Plus, da Apple. A Pacific Bell, empresa de “páginas amarelas” americana, também aparece.
  • O longa arrecadou US$ 109,7 milhões nas bilheterias dos EUA. Contando o mundo todo, foram US$ 133 milhões. Com um custo de cerca de US$ 26 milhões, foi um grande sucesso e assegurou a produção de mais uma continuação, bem como impulsionou a criação da série A Nova Geração.

Ficha Técnica

História de Leonard Nimoy & Harve Bennett
Roteiro de Steve Meerson & Peter Krikes e Harve Bennett & Nicholas Meyer
Dirigido por Leonard Nimoy
Produzido por Harve Bennett
Música de Leonard Rosenman

Estreia em 26 de novembro de 1986 (EUA), 7 de maio de 1987 (Brasil)

Título em inglês: Star Trek IV: The Voyage Home

Elenco

William Shatner como James T. Kirk
Leonard Nimoy como Spock
DeForest Kelley como Leonard H. McCoy
James Doohan como Montgomery Scott
George Takei como Hikaru Sulu
Walter Koenig como Pavel Chekov
Nichelle Nichols como Nyota Uhura
Jane Wyatt como Amanda Grayson
Catherine Hicks como Gillian Taylor
Mark Lenard como Sarek
Robin Curtis como Saavik
Robert Ellenstein como presidente do Conselho da Federação
John Schuck como embaixador klingon
Brock Peters como almirante Cartwright
Michael Snyder como oficial de comunicações da Frota Estelar
Michael Berryman como oficial de tela da Frota Estelar
Mike Brislane como oficial de ciências da Saratoga
Grace Lee Whitney como Janice Rand
Jane Wiedlin como oficial de comunicações alienígena
Vijay Amritraj como capitão de nave estelar
Majel Barrett como Christine Chapel
Nick Ramus como piloto da Saratoga
Thaddeus Golas como controlador 1
Martin Pistone como controlador 2
Scott DeVenney como Bob Briggs
Viola Stimpson como senhora no tour
Phil Rubenstein como lixeiro 1
John Mmiranda como lixeiro 2
Joe Knowland como dono do antiquário
Bob Sarlatte como garçom
Everett Lee como dono do café
Richard Harper como Joe
Alex Henteloff como Nichols
Tony Edwards como piloto
Eveen Smith como paciente idosa
Tom Mustin como residente 1
Greg Karas como residente 2
Raymond Singer como jovem médico
David Ellenstein como médico 1
Judy Levitt como médica 2
Theresa E. Victor como porteira
James Menges como corredor
Kirk Thatcher como punk no ônibus
Jeff Lester como agente do FBI
Joe Lando como patrulheiro da costa
Newell Tarrant como CDO
Mike Timoney e Jeffrey Martin como técnicos de eletrônica
Joseph Naradzay como sargento da Marinha
Donald W. Zautcke como tenente da Marinha

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Edição de Maria Lucia Rácz

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