Thomas Arp fala sobre a construção dos cenários

Se os episódios e filmes de Jornada passam em qualquer lugar no universo, da Terra a nave ou para a superfície de um cometa e além, as filmagens eram feitas em três estúdios da Paramount e raras locações externas foram escolhidas para outras tomadas. Os prédios da Paramount, que possuem toda uma infraestrutura de estúdios e cenários requeridos pelos escritores e produtores, têm uma coordenação, o coordenador de construção. No caso da última série, Enterprise, este trabalho foi feito por Thomas J. Arp.

“Basicamente, o que eu faço é levar a visão (do produtor) ao departamento de arte e pôr realidade nela”, disse Arp. “Nós discutimos construções técnicas e caminhos para construir coisas que sejam seguras (para os atores e equipe) e quanto isso irá custar. Então eu informo ao produtor o que esta visão realmente custará em dólares ao departamento de arte, e uma vez que todos concordem, é meu trabalho coordenar esse dinheiro, dar ao departamento de arte o que eles querem e listar todas as diferentes coisas que são criadas no processo. É muito envolvente”.

Arp não é nenhum estranho em Jornada. Foi o coordenador de construção na série Deep Space Nine (a partir do começo da terceira temporada) e nos filmes Generations, First Contact e Inssurreição.

O processo de coordenação de construção, do começo ao fim, se inicia onde muitos trabalhos numa série de TV ou filme começam: no script. Arp recebe o script, ao mesmo tempo que o departamento de arte, o analisa, e lista tudo que seja de um cenário requerido. Ele, então, se reúne com o departamento de arte, normalmente com o designer de produção, e discutem o que será necessário para fazer cenicamente o script se tornar realidade.

“Muitas vezes eles tem as informações antes de mim, apenas para que eles possam começar a desenhá-los”, disse Arp, “Obviamente isso torna o processo um pouco mais barato porque eles tem desenhos que eu posso olhar e dizer – Ok, eu estou olhando para um de 20.000 dólares ou você está olhando para um de 30.000 dólares – Mas muitas vezes nós não temos este luxo, então nós temos apenas uma conversa entre nós mesmos e dizemos que iremos pôr esta quantia no orçamento, e começamos a desenhar. É apenas uma espécie de trabalho contínuo até que nós tenhamos um encontro como a produção, quando os produtores nos dizem onde eles querem gastar o dinheiro”, confessa Arp.

Mas neste estágio de processo, o trabalho de Arp está apenas começando, “Minha maior concentração está no planejamento, porque nós estamos saltando entre três estúdios e eu tenho que programar meu trabalho em torno do que a companhia está fazendo. Se nós temos um cenário que nós construímos para um episódio em que eles estão filmando no estúdio 9 (que é uma espécie de área de constante movimentação), e então eles tem um outro cenário que precise ser posto neste lugar, eu olho para a programação e então vejo se devo retornar a noite ou nos fins de semana, ou fazer todos os tipos de chamadas estranhas, porque a produção é a coisa mais importante. Eles (os produtores) são obviamente aqueles que estão pondo a coisa no filme, então nosso trabalho é apenas fazer o que eles necessitam”.

Freqüentemente, devido à programação apertada das filmagens, os pedaços dos cenários têm de ser construídos na fábrica da Paramount para serem transportados para os estúdios mais tarde. “Nós pré-fabricamos todo este material, e tentamos fazê-los em seções modulares, de modo que possamos construí-los, pintá-los e num tempo tão pequeno quanto o do estúdio, remover tudo o que esteve naquele lugar, e então juntar esta coisa. Seja uma nave ou uma casa vitoriana, o que quer que chamem. Isso é um tipo de trabalho excitante em Jornada, a variedade de material que nós fazemos. Isso nunca é enjoativo. Você pode estar trabalhando em uma coisa legal, parte futurista de uma nave espacial, então, o próximo episódio o chama para construir uma casa contemporânea. Você constrói muito bom material”, diz orgulhoso Arp.

Com muitos cenários sendo construídos e desmontados rapidamente, Arp não só tem coordenado a criação dos mesmos, mas também verificado o destino deles após o episódio, quando são desmontados, “Isso é a parte principal do meu trabalho. Um cenário pode ser necessário para novas filmagens, inseri-lo em alguma cena. Nós construímos um cenário, como no cometa (referindo-se ao episódio de Enterprise “Breaking the Ice”) e obviamente o cometa foi um cenário que não podíamos guardar como um todo, porque era muito grande e então eu levei ao departamento de arte e ao produtor a pergunta – O que nós precisamos aproveitar? – O que nós decidimos salvar do cenário foram as rochas de aparência de cogumelo. Nós as separamos e as transportamos para (a cidade de) Burbank, onde temos um depósito”.

Muitos cenários de Jornada são reaproveitados de outros cenários. “Nós apenas tentamos levar pedaços de cenário que serão re-utilizados dentro de novas filmagens, onde podemos mudar um pouco. Então, se há um cenário que está em permanente rotação, como nosso cenário de armas, que vem e vai, é porque este lugar no estúdio pode ser re-usado para um novo cenário. Então nós tiramos estes elementos, os guardamos no depósito e quando o script precisar deles, nós os trazemos de volta e os colocamos junto com o todo o cenário. Muitas pessoas pegam nestes pedaços do começo ao fim das séries”.

Há também uma grande diferença entre construir cenários originais para o episódio piloto e para um episódio individual. “Na construção do episódio piloto (“Broken Bow”), nós tivemos de 130 a 150 pessoas trabalhando conosco. Mas quando você trabalha para um episódio normal tem de 20 a 25 pessoas. Algumas vezes nós temos 50, dependendo de quanto trabalhoso é. Nós tentamos manter uma média de 25 pessoas de diferentes profissões, não todos carpinteiros ou pintores, apenas um pouco de cada. Eles conhecem os cenários, conhecem a série e o modo que fazemos nosso trabalho. Essa é uma grande parte do trabalho, onde você acha que pode durar um longo tempo. Este piloto em particular foi uma boa produção; ele levou 38 cenários. Nós saímos para Bakersfield (na Califórnia), descemos para Redondo (também na Califórnia) e El Segundo (próximo a Los Angeles), de maneira que houve muita construção, construções de cenários adicionais permanentes. Foi muito envolvente”.

Em filmes e séries de Jornada anteriores, os monitores de uma nave ou estação espacial necessitavam de efeitos especiais para aparecerem funcionando. Arp conta como fez isso de maneira prática. “É realmente esquisito, porque quando eu comecei pela primeira vez em Deep Space Nine, os monitores de plasma estavam em desenvolvimento, nenhum de nós os tinha visto antes. Então nós construímos usando pedaços finos de plexiglass (espécie de acrílico) e fizemos burn-ins (efeito de simular o processo real). Então se tivemos um monitor, tivemos de construí-lo dentro de uma parede, porque ele era enorme. Agora, é engraçado porque a tecnologia nos envolveu. Agora nós tivemos essas pequenas e lindas telas, as quais você pode apenas colocá-las em uma parede. No trabalho em Jornada, você se sente bem porque muitas vezes as coisas formam um círculo fechado, como as telas do computador”.

“A série foi muito boa. Nós tivemos a oportunidade de construir o que o futuro é suposto parecer”, disse Herman Zimmerman, o produtor de designer, “E nós colocamos isso dentro da realidade. Ela passa nas telas da TV e talvez algum inventor ou alguém olhe isso e mais tarde a torne uma realidade”.

“Creio que Jornada é provavelmente o melhor trabalho em Hollywood. Nós tivemos bons produtores que se preocuparam com os sentimentos das pessoas e quando você tem isso, se torna muito mais fácil ir para o emprego e tentar fazer um bom trabalho. Isto é realmente o modo que eu vejo. Todos estão felizes de terem estado aqui porque, para mim, é a melhor série de Hollywood”, finaliza Arp.

Fonte: StarTrek.com