Repensar a Clássica pode ser solução, diz Sussman

O escritor da série Enterprise, Mike Sussman, numa entrevista exclusiva à revista Star Trek Magazine em sua edição nº 124, fala sobre a experiência que teve como roteirista das séries Voyager e Enterprise e sobre o futuro da franquia. A seguir, alguns pontos mais importantes dessa entrevista.Mike diz que não poderia ter sido melhor para ele do que escrever episódios para quarta temporada de Enterprise. “A quarta temporada de Enterprise foi a melhor que já trabalhei em Jornada. Foi o ano mais agradável para mim. Eu tive mais episódios divertidos do que já escrevi em outras séries. Foi bastante divertido reunir muitos elementos da franquia dentro de Enterprise. Foi absolutamente agradável contar os tipos de histórias que eu sempre pensei que nós deveríamos ter contado desde o começo da série”, disse o escritor.

Para Mike, Manny Coto (produtor executivo) estabeleceu um link entre Enterprise e a Série Clássica, além de fornecer as bases para o começo do nascimento da Federação. “Manny Coto realmente trouxe uma diferente perspectiva para Enterprise. Foi algo realmente engraçado ter um rapaz que é um fã incondicional da Série Clássica que se tornou o chefe do time de roteiristas de Jornada. Muitos grandes escritores já passaram pela sala de roteiristas nestes muitos anos de Jornada. De Michael Piller a Ken Biller e Ira Behr, mas acho que estas foram pessoas que fizeram de Jornada parte de suas vidas. Então, com Manny, foi muito bom ter a oportunidade de levar algumas idéias específicas que tiveram origem nas séries anteriores. Fazer coisas como explorar os Tellaritas, pôr os Vulcanos de volta nos trilhos, escrever duas partes para um universo espelho e finalmente ligar as existências dos diferentes tipos de Klingons da Série Clássica ao resto da franquia. Nós também arranjamos tantos caminhos quanto pudemos considerar para a fundação da Federação.”

Sobre o cancelamento de Enterprise, Mike achou um erro, já que para ele a quarta temporada foi bem sucedida a ponto de fortalecer a série para o ano seguinte. “Eu estava muito feliz com a quarta temporada, no geral. Foi o primeiro ano onde nós alcançamos mais ou menos tudo o que queríamos fazer. Eu acho que nós estávamos a todo o vapor naquele ano.” Contudo, Mike lamenta que a série, nos três anos anteriores, não tenha dado atenção a exploração de novos mundos como deveria. “Eu fiquei muito grato pelo trabalho que fizemos nos primeiros três anos de Enterprise, mas eu sei que muitos telespectadores sentiram que as perspectivas da série no primeiro e segundo anos não eram boas e que os personagens não progrediam. Havia um sentimento de que a ênfase da série na exploração do espaço parecia se perder um pouco. Então nós direcionamos toda uma história na terceira temporada, que foi um ano difícil, sombrio e excitante para os personagens. Mas fazendo essa mudança (de rumo), nós também não criamos tantos momentos de brilho quanto gostaríamos. Felizmente, creio que a quarta temporada fez a mistura certa dos elementos. Foi realmente uma vergonha a série ter sido cancelada no fim da temporada.”

Entre as últimas contribuições de Mike para a série, ele cita o conceito inicial para o fechamento do último episódio. “Eu contribui com uma idéia para o final da série numa pequena seqüência de montagem de cenas, onde estariam juntas as Enterprises de todas as séries. Eu me lembro que em “These are The Voyages…” (episódio final), os roteirstas Berman e Braga gostaram de minha sugestão e fizeram a sequência. Eu fiquei agradecido por isso.”

Se Enterprise tivesse continuado por mais uma temporada, Mike Sussman acredita que não haveria absolutamente nenhum decrescimento no potencial dos diálogos. “Havia muitas histórias que queríamos fazer na quinta temporada. As intenções Romulanas estavam obviamente se construindo. O relacionamento da humanidade com os Vulcanos tinha obviamente mudado, e eu sei que Manny queria manter o personagem Andoriano Shran (interpretado por Jeffrey Combs) durante toda a quinta temporada. Acho que teria sido um grande modo de sacudir a habitualidade da série.”

Mike Sussman confessa que sua paixão por Jornada é antiga, chegando, ainda jovem, a escrever seu primeiro livro com pequenas histórias sobre a Série Clássica. Após atuar como freelance, vendendo premissas de histórias para a série Voyager, sua primeira participação efetiva na franquia foi quando teve uma história inteira desenvolvida no episódio “Meld” (Elo) na segunda temporada de Voyager. Já na sétima temporada da série, Mike ficou participando efetivamente no grupo de roteiristas. Em Enterprise, trabalhou como escritor em vários episódios, mas um em especial, ficou marcado para ele. “Fiquei muito feliz pelo episódio ‘Twilight’ (terceira temporada) que foi o meu primeiro episódio depois que Phyllis Strong (editor e escritor) e eu seguimos caminhos diferentes. Eu queria que fosse o tipo de episódio de Jornada que as pessoas lembrassem um dia. Para mim, a história teve dois elementos essenciais. O episódio teve um forte conceito de ficção científica, mas também teve um grande relacionamento entre os personagens. Realmente foi uma história de amor entre o capitão e sua primeiro-oficial. Eu usei o cenário do “se” para levar os personagens a lugares que eles nunca tinham sido vistos antes.”

Outro episódio que Mike gostou muito de fazer foi o episódio sobre o universo espelho. “O episódio duplo da quarta temporada de Enterprise, “In a Mirror, Darkly” foi um deleite na qual me envolvi. Eu sabia que quando estava escrevendo esses episódios seriam praticamente os últimos da série e eu estaria escrevendo para essa particular história de Jornada, de modo que adquiri uma valiosa experiência. Havia um maravilhoso momento no script do episódio dois, quando eu aproveitei a oportunidade para pôr a foto do Archer e da Hoshi e imaginar o que teria acontecido com eles no futuro através de suas biografias na tela. Então eu decidi que Archer tornou-se um oficial do alto escalão da Frota e mais tarde eleito presidente da Federação e que o planeta Archer IV, mencionado na série A Nova Geração, foi em homenagem a ele. Eu coloquei estes poucos detalhes no monitor da Defiant. Muitas pessoas provavelmente não perceberam isso, mas estão lá no monitor e foi muito divertido fazer aquilo.” Já o episódio “Hatchery”, da terceira temporada, diz o escritor, não foi do seu agrado. “Acho que o problema foi que a audiência percebeu, logo no início, que um distúrbio (do capitão) estava surgindo. Nos pareceu que poderia acontecer num estágio da história, mas a nossa audiência é muito inteligente e ainda viu o distúrbio surgindo. Acho que isso fez T’Pol e Trip parecerem estúpidos, porque eles não viam o que acontecia, quando a audiência já tinha percebido. Acho que perdi a oportunidade de fazer realmente um bom episódio sobre um motim”, disse lamentoso.

Mesmo tendo trabalhado após Enterprise em outra série de ficção, “Threshold” (que foi recentemente cancelada), Mike Sussman ainda não perdeu contato com a franquia. Ele está escrevendo livros para a editora Pocket Books sobre o universo espelho e espera um dia poder continuar a trabalhar com histórias de Jornada para TV. Para isso Sussman tem umas idéias definidas sobre como ressuscitar a franquia. “Eu não tenho nenhuma dúvida de que Jornada voltará e quando isso acontecer, eu creio que somente duas escolhas você terá de fazer: ir bem além no futuro (após “Nêmesis”) ou fazer um tipo de reboot (começar de novo) da Série Clássica. Eu não estou certo se é algo que os fãs tolerariam neste ponto, mas acho que eventualmente nós veremos um repensamento da Série Clássica, especialmente após o sucesso da série “Galactica”. Ron Moore é um escritor incrivelmente talentoso e tem transformado a ficção científica na televisão, em geral, com a nova série. Eu tiro o meu chapéu para ele. É minha série favorita”, disse Sussman.

Mesmo sem saber o que o futuro de Jornada nos aguarda, nada diminui a gratidão de Mike pelo seu tempo gasto com a franquia, “sendo um fã do passado, foi um sonho que se tornou realidade estar trabalhando em Voyager e em Enterprise e ficar conhecido das pessoas como Rick Berman e Brannon Braga, cujo trabalho eu admiro há tempos. Escrever para Jornada foi uma experiência prazerosa, porque a premissa é tão flexível e que existem tantas diferentes coisas que você pode fazer numa adorável história da semana, uma aventura de ação numa semana e após uma comédia. Houve muitos aspectos sobre isso que não tiveram continuidade. Seria muito bom trabalhar em Jornada outra vez, um dia. Como telespectador e fã seria fabuloso pensar – Eu gostaria de saber o que Jornada tem guardado para nós esta semana? – e ser surpreendido com tudo isto de novo”, finaliza o escritor.

Fonte: TrekToday