O que 2006 poderia ser para a ficção

Certamente este ano que passou foi muito atribulado para a ficção-científica produzida para a TV. Entre quase mortos, feridos e vencedores, podemos dizer que 2005 terminou positivamente para os fãs de ficção-científica. Mas temos que encarar certos fatos… e, quando falo nos “quase mortos” desse ano que se foi, é claro que me refiro à Jornada. Infelizmente, a franquia mais famosa da história da ficção mergulhou em uma crise que parece incapaz de superar. O cancelamento de Enterprise foi um golpe muito duro, embora fosse bastante previsível para a maioria dos fãs que acompanhavam a série e se preocupavam com a forma errática com que Enterprise foi conduzida em suas quatro temporadas. Já entre os “feridos”, creio que “Arquivo-X” é o maior candidato, já que Chris Carter anunciou, mais de uma vez, o início das filmagens do segundo longa metragem para o cinema de sua famosa série, mas não rolou ainda por causa das confusões jurídicas entre Carter e a Fox, que se arrastam desde o fim de “Arquivo-X”.

Mas os grandes vencedores de 2005 foram, sem discussão, as duas séries “Stargate SG1” e “Stargate Atlantis” e a campeã imbatível, a fenomenal “Battlestar Galactica” que venceu todos os percalços que poderia encontrar pelo seu glorioso caminho e conquistou até mesmo a atenção da revista Time, que a considerou a melhor produção para a TV do ano. É uma grande demonstração de força do gênero sci-fi dentro do enorme e complexo mercado televisivo americano.

Costumo dizer que o pessimista, na verdade, é um otimista que não abre mão de pensar. Por isso mesmo destaco a situação lamentável de Jornada em um cenário tão favorável para a sci-fi televisiva. Sua crise pode ser didática e mostra o que NÃO se deve fazer quando se está lidando com um fenômeno cultural da importância de Jornada. A lição mais importante aqui mostrada (e aprendida… espero) é que, no caso de Jornada, as pessoas que vão trabalhar com seu universo ficcional devem, antes de tudo, ter um interesse genuíno por ele. E isso não ocorre com Rick Berman e sua turma.

Como é normal em todo começo de ano as pessoas já fazem suas apostas sobre o que poderá rolar em 2006. E já que esta é uma coluna de opinião (com fortes pitadas de informação), resolvi falar sobre o que eu gostaria que acontecesse na FC da TV no ano que começou.

Uma das coisas que eu espero que aconteça este ano é que volte a haver uma relação maior entre a ficção televisiva e escritores de ficção científica. Jornada e “Além da Imaginação” foram séries do passado que tentaram construir uma ponte entre a TV e a ficção literária que, infelizmente, não conseguiram consolidar. Claro que a ficção televisiva quer e deve contar suas próprias histórias. Mas seria muito bom que a ficção literária fosse melhor aproveitada na TV, seja com escritores do gênero criando material inédito ou então com adaptações de grandes obras da ficção para a telinha. Essa é uma ponte que precisa voltar a ser construída.

Eu sempre gosto de imaginar projetos para séries de FC que me deixam aborrecido pois não posso colocá-los em prática. Podem rir a vontade…mas minhas obsessões mais recentes que não saem de minha cabeça são uma série de “Rollerball” e de “A Conquista do Planeta dos Macacos”. Quando penso no material bacana que esses dois filmes dariam para uma série de TV, minha vontade sincera é matar Brannon Braga, já que ele tem o privilégio de estar “no meio do furacão” e faz um monte de besteiras…

Paciência… mas acredito que 2006 poderá ser também um ano em que a ficção televisiva, com produções de qualidade como “Battlestar Galactica”, poderá acender uma luz amarela nas produções de FC para o cinema, que andam mal das pernas já algum tempo. O cinema, entre outros problemas, está sofrendo com a ida cada vez maior de bons roteiristas para as séries de TV. No caso da FC, isso é especialmente fácil de constatar, já que, na telinha, efeitos especiais caríssimos e ultra elaborados não funcionam para tentar encobrir um roteiro ruim, como acontece com mais freqüência no cinema.

Esperemos que, em dezembro de 2006, possamos falar apenas de vencedores…e que os “quase mortos” e feridos tenham conseguido se recuperar. Feliz novo ano!!!

Alfonso Moscato escreve com exclusividade para o TB