O produtor executivo de quatro dos dez filmes de Jornada nas Estrelas (“A Ira de Khan”, “A Procura de Spock”, “A Volta para Casa” e “A Fronteira Final”) Harve Bennett falou recentemente ao site TrekNation sobre o seu trabalho na franquia e seu envolvimento no projeto sobre a Academia da Frota Estelar, na Convenção Farpoint em Hunt Valley, Maryland (EUA). A seguir, alguns pontos mais importantes dessa entrevista.
Você acompanhou o declínio e o cancelamento da série Enterprise?
Harve: “Não. Eu não estou muito envolvido em séries subseqüentes por uma razão: é que A Nova Geração veio quando nós estávamos ainda fazendo os filmes. Eu vi o piloto, mas foi duro estar escrevendo para o filme “A Fronteira Final” e saber o que aconteceria mais a frente. De modo que eu nunca me envolvi nisso. O pessoal me pergunta sobre os episódios, como se eu conhecesse o Michael Piller, e eu não o conheci. Berman foi um executivo do estúdio e eu conhecia ele bem, mas esse foi apenas meu único contato com A Nova Geração.”
Você estava envolvido numa proposta sobre um filme com a Academia da Frota?
Harve: “Eu estava envolvido nisso. Nós tivemos sinal verde para filmar (após o quinto filme), que foi cancelado somente quando houve um regime de mudança no estúdio, passando a ser mais importante que nós fizéssemos alguma coisa mais convencional para o aniversário de 25 anos da franquia. Nós teríamos dezenove meses para fazer isso. Não havia nenhum modo de fazer um filme de efeitos especiais em dezenove meses. O menor tempo que tivemos foi em “À Procura de Spock”, quando tivemos dois anos da concepção a produção. E a razão para isso foi que nós escrevemos o script normalmente e foi um roteiro fácil, que durou seis meses e já estava pronto para seguir a diante. Mas o planejamento dos efeitos especiais tomou a maior parte do ano. Eu disse a eles: “Isso não pode ser feito”. Então meu tempo acabou e eu deixei a franquia.”
Você acha que esse tema da Academia da Frota voltaria a franquia agora?
Harve: “Eu contarei a você como recentemente aconteceu. Antes de Sherry Lansing (presidente da Paramount Pictures) deixar o estúdio, um ano atrás, nós tivemos um encontro dois anos antes no qual eu propus que fosse a vez de fazermos a Academia da Frota. E ela adorou. Nós teríamos feito isso. Mas então ela disse que o departamento de televisão tinha pedido a ela para não fazê-lo, porque Enterprise estava sendo produzida e eles pensavam que (o filme) seria o prequel. Portanto, nós não o fizemos. Poderia ser feito agora? Se alguém quiser, eu estou aqui. Tecnicamente, eu estou aposentado, e não tecnicamente, mas de fato, eu estou escrevendo o meu próprio livro. Eu estou consideravelmente feliz em não ir a cidade de Los Angeles todos os dias.”
Então você não está agora ativamente perseguindo essa idéia da Academia da Frota?
Harve: “Não, mas eu adoraria. Alguma energia se foi quando meu querido DeForest Kelley morreu. Ele estava para se juntar a Bill (Shatner) e Leonard (Nimoy), que eram os únicos dois regulares envolvidos em um flashback da história. Isso é como nós incorporaríamos os três personagens dentro de um prequel, que era uma memória. Kirk vem a Academia para falar aos alunos e relembra de seu tempo, quando ele tinha dezessete anos.”
Você tem conhecimento de algum projeto de William Shatner para Jornada?
Harve: “Nós sempre dizíamos que o benefício de fazer isso como um filme era, primeiro, que coisas boas resultariam disso, porque o elenco original continua, a Enterprise original está esperando para ser transportada pelos nossos rapazes. Segundo, que você tem uma série de televisão com potencial chamada de Academia da Frota. Eu vi o Bill há poucas semanas atrás na filmagem de “Boston Legal” e eu converso com o Leonard ocasionalmente, de tempos em tempos. Nós permanecemos amigos e temos todos quase a mesma idade. Indispensável para isso é um senhor chamado Ralph Winter, que foi o meu produtor associado em “A Ira de Khan”, e gradualmente tornou-se o homem que todos nós direcionamos para tudo.”
O que tem de verdadeiro sobre a história de que Leonard Nimoy não queria mais pôr as orelhas para fazer “A Ira de Khan”?
Harve: “Isso foi verdade. Antes de nós fazermos “A Ira de Khan”, tudo mundo dizia: “Como você vai pegar o Leonard para fazer outro filme?” Eu tive uma idéia. Fui ver o Leonard e tivemos um jantar. Então disse para ele: “Eu sei que você não quer fazer mais Jornada. Você se lembra do filme “Psicose”? Você se lembra que a maior estrela do cinema (Janet Leigh) foi morta, para o choque de todos, quando decorria um terço do filme?”. Ele disse que sim, então continuei, “Eu quero fazer o mesmo com Spock. Eu darei a você a mais gloriosa morte em cena já interpretada”. Então ele concordou que seria uma grande idéia e aceitou fazer o papel de novo.
Agora, Gene, O Grande Pássaro, já pensava ser duro (de aceitar) porque eu estava assumindo o comando e ele estava sendo deixado de lado. Eu fiquei numa posição desconfortável; eu respeitava e gostava dele, mas não havia nenhum jeito para um novo cara entrar e ele não ficar ressentido. Ele estava furioso. Os fanzines de Jornada (revistas produzidas para os fãs) eram o de melhor em informação antes da internet e Gene deixou que os fanzines soubessem que estávamos indo matar Spock. Centenas de cartas vieram até nós. Isso foi um vazamento. Depois o estúdio ficou em pânico e disse: “Você não pode mais matá-lo”. Mas Leonard já estava a bordo, então nós projetamos uma simulação de cena na qual Leonard era morto (no início do filme), e a linha chave seria de Kirk, “Você não está morto?”. E isso consolou a todos. Então, no fim, nós tivemos o mesmo problema, mas então veio o Nicholas Meyer, o gigante da força criativa, que escreveu e dirigiu o filme. Eu reescrevi algumas linhas e ele não sabia nada de Jornada”.
Você teve alguma objeção ao trabalho de Leonard como diretor em “A Procura de Spock”?
Harve: “Não. O que aconteceu foi que ele teve um momento maravilhoso. Perto do fim do filme, ele confidenciou a mim: “Isso é uma coisa diferente. Se houver um outro, eu gostaria de dirigi-lo”. Eu pensei que seria maravilhoso. Então, quando nós tivemos nosso primeiro preview, e Nicholas estava irredutível em que Spock seria morto, a audiência ficou seduzida pelo filme até o fim e então foi uma depressão. Nós sabíamos que não diriam nenhuma palavra. Então inventamos, no fim, como você sabe, as cenas adicionais e a voz de Spock: “Lembre-se”, que teve as objeções de Nicholas até que ele viu a próxima audiência dar ao filme uma aclamação de pé. Todos sabiam que agora tínhamos um filme que era doloroso e esperançoso. Já “A Procura de Spock” foi escrita em seis semanas porque todos os pedaços estavam no lugar; ninguém havia planejado fazer uma trilogia (para Jornada), mas nós acabamos fazendo uma”.
O que aconteceu na antiga União Soviética com o quarto filme, “A Volta Para Casa”?
Harve: “A mais longa gargalhada que já ouvi em um filme no cinema foi em Moscou em 1987. Nós estávamos rodando “A Volta Para Casa” com legendas em cirílico (alfabeto russo) no Moscow Motion Picture Academy, na ocasião da assinatura pelos russos do tratado anti-caça as baleias. A fundação World Wildlife Foundation enviou-nos para Moscou com este filme. O filme passou exatamente como nos EUA, exceto por uma linha. Perto do fim, a tripulação estava na doca espacial indo pegar uma nova nave e eles estavam pessimistas. Então o Dr. McCoy explicou que eles pegariam um cargueiro porque “A mentalidade burocrática era a única constante no universo”. A audiência ficou de pé e aplaudiu.”
Do que você mais se orgulha em Jornada?
Harve: “Você quer saber a verdade? Os que amam Jornada chamam-me de uma das pessoas mais importantes na ficção científica, mas eu nunca pensei em mim mesmo como um expert em ficção científica. Isto é porque do background eu apenas falei sobre o assunto. Eu escrevi sobre heróis, porque eu nasci e cresci num tempo heróico (Segunda Guerra Mundial). O que eu adorei de Jornada quando eu me transferi para a franquia foi os homens e mulheres heróicos, a etinicidade e todo este material que foi um legado da Declaração de Independência, essa foi minha afeição por ela”.
Harve Bennett, além de Jornada, trabalhou em outras séries como “O Homem de Seis Milhões de Dólares”, “The Mod Squad”, “O Homem Invisível”, “A Mulher Biônica”, dentre outros. Bennett também fez ponta no seu quinto filme de Jornada “A Última Fronteira”, interpretando um almirante.
Fonte: TrekToday