Coluna do Alf: “O rei do horário nobre”

Anos atrás, lá pelo final da década de 1970, o produtor de TV e roteirista Glen A. Larson deu uma entrevista para a revista “Fantastic Films”, na qual contou uma história curiosa. Ele disse que, certa vez, estava em um lugar do Havaí e, de repente, notou um tumulto na rua por onde passava. Ficou curioso e decidiu ver o que estava havendo. A multidão aumentava cada vez mais e Larson teve alguma dificuldade para descobrir qual era a razão de tanta balbúrdia. Eis que, então, viu, finalmente, um homem sendo interpelado freneticamente pela horda humana que o cercava… esse homem era ninguém menos que Gene Roddenberry, criador de Jornada nas Estrelas!!! Larson contou que ficou pasmo com aquela cena e imaginou que, no mínimo, Willam Shatner, Leonard Nimoy e o restante do elenco de deveria também estar naquele local… mas, não… era Roddenberry sozinho!!! Após presenciar aquela cena incrível, Larson disse que um único pensamento lhe invadiu a mente: “Está na hora de voltar ao projeto”…

O “projeto” ao qual Larson se referia era o que viria a ser depois a série “Battlestar Galáctica”, que se tornaria seu maior sucesso dentro da FC televisiva. A idéia de “Battlestar Galactica” nasceu a partir de um roteiro que Larson escreveu em 1969, com o título “Adam’s Ark”, mas que acabou sendo recusado pelas três emissoras “majors” americanas. Naquela época, Larson ainda atuava como músico e escreveu o roteiro de “Adam’s Ark” durante um tour que fazia com o grupo vocal The Four Preps, do qual era integrante. “Adam’s Ark” só não saiu do papel porque, segundo Larson, o cancelamento de Jornada nas Estrelas havia tornado as emissoras muito restritivas com novos projetos de séries de FC. Mas o destino daquele roteiro já estava aparentemente traçado… e dez anos depois ele se tornava “Battlestar Galáctica”.

Mas Larson, apesar desse fracasso inicial, não desistiu do seu fascínio pelo mundo da TV e, após deixar o “The Four Preps”, foi trabalhar com o produtor Quinn Martin, a quem admirava pela criação da série “O Fugitivo”. Larson contou que seu fascínio pela série era tão grande que chegava a levar uma TV portátil durante os tours do “The Four Preps”, para não perder nenhum episódio. Depois de colaborar como roteirista em algumas séries da Quinn Martin Production, Larson foi contratado pelo Universal Studios e lá criou e lançou sua primeira série, “Alias Smith & Jones”, voltada para o gênero western. Foi a partir daí que começou a ficar conhecido como “o rei do horário nobre”, graças à popularidade que cada série criada por ele ou que tivesse sua colaboração rapidamente alcançava.

Depois dessa experiência, Larson se envolveu com o projeto inicial do que seria então a série “O Homem de Seis Milhões de Dólares”, estrelada por Lee Majors. Foi por essa época que a idéia de retomar “Adam’s Ark” começou a tomar forma na mente de Larson. Ele decidiu reescrever várias partes da história, mas manteve a idéia básica original, sobre um grupo de humanos a bordo de uma enorme espaçonave, procurando um novo lar para viver.

Com a fama e o dinheiro que já havia conseguido como produtor de TV, Larson resolveu apostar suas fichas em um filme piloto para seu projeto de FC. Foi assim que “Battlestar Galacticia” estreou na TV americana em 1978. Apesar da boa audiência, o filme sofreu críticas nada amigáveis, principalmente por parecer apenas querer aproveitar a onda de “Star Wars”. Como se não bastasse, o próprio George Lucas resolveu atazanar a vida de Larson, movendo um processo contra ele alegando que “Battlestar Galacitica” roubava várias de suas idéias. Essa confusão irritou Larson profundamente, mas o processo não foi adiante.

Com o sucesso de público do filme piloto, a série “Battlestar Galáctica” estreou com um público já fiel e ávido para acompanhar aquela história que, para a FC de sua época, tinha bastante influência e elementos das idéias do escritor Erik Von Daniken, famoso com o livro “Eram os Deuses Astronautas”. Larson soube aproveitar a popularidade das idéias de Daniken e juntou isso com seu interesse pela FC clássica, cuja “space opera” era o estilo mais evidente. Para Larson, o que mais fascinava na FC era a idéia da “diáspora humana” rumo às estrelas e era essa a saga que ele queria mostrar com “Battlestar Galactica”.

Apesar de sua enorme popularidade, “Battlestar Galáctica” foi cancelada e só retornaria depois como “Battlestar Galáctica 1980”. O resultado foi um desastre de crítica e público e Larson hoje reconhece que “Battlestar Galáctica 1980” foi o maior erro em sua carreira de produtor de TV. Curiosamente, porém, foi exatamente durante o intervalo entre o primeiro cancelamento de “BSG” original e “BSG 1980”, que o filme piloto da série foi também exibido em alguns cinemas nos EUA e na Europa, com um sucesso inesperado, já que se imaginava que o público estava um pouco cansado de FC sobre aventuras espaciais.

Com o fim de “BSG 1980”, Larson resolveu partir para outros projetos. Dentro da FC, ele ainda criaria dois outros sucessos: “Buck Rogers no Século XXV” e “Supermáquina”. No caso de “Buck Rogers”, muitos de seus cenários e figurinos eram originários da produção de “BSG”.

Depois de passar anos um tanto afastado, Larson tentou de novo sacudir o mundo da telinha com a série “Nightman”, baseada na HQ homônima da Marvel Comics… mas a série não fez sucesso e foi logo cancelada. Por volta de 2002/2003 o Sci-fi Channel começou a elaborar o projeto de remake de “Battlestar Galáctica”. A minissérie baseada na série famosa de Larson ganhou uma nova “pele” e características mais sombrias e realistas, cujo roteiro foi escrito pelo produtor e escritor Ronald Moore.

Atualmente, Larson está envolvido no que parece ser uma versão de “Supermáquina” para o cinema. Ele não está envolvido com a produção da nova “Battlestar Galáctica”, mas escreveu várias das novelizacões da série original, sozinho ou em parceria com outros autores.

Como produtor de TV, a colaboração de Larson para a FC televisiva pode ter sido pequena no sentido quantitativo. Mas as séries que criou marcaram milhões de fãs mundo afora, que cresceram vendo as produções de Gene Roddenberry e Irwin Allen, criando um novo interesse pelo gênero. A FC de Larson nunca teve uma atenção maior por parte da crítica, mas “Battlestar Galáctica” parece fadada a se tornar uma dessas lendas que só um gênero como a FC é capaz de produzir.

Alfonso Moscato escreve com exclusividade para o TB