Coluna do Alf: “Cadê as séries inglesas?”

Cadê as séries inglesas?

Dias atrás fiquei espantado ao tomar conhecimento que o canal pago People & Arts estava exibindo a série “Dr. Who” aqui no Brasil. Até onde sei, “Dr.Who” nunca tinha sido exibido por aqui como série regular, nem mesmo na TV paga.

Para quem não sabe “Dr.Who” é uma série inglesa de FC criada nos anos 60 que se tornou um ícone em seu país e também no Japão, onde foi exibida com grande sucesso. A série é para a FC inglesa aquilo que Jornada nas Estrelas é para a FC televisiva americana, ou seja, um marco que acabou dividindo a FC para a TV entre ANTES e DEPOIS dessas séries.

Isso pode soar meio estranho por aqui e talvez muitos fãs brasileiros de Jornada nas Estrelas considerem “Dr. Who” algo mais para “Perdidos no Espaço” do que uma FC com toque mais sério. Mas “Dr. Who” é um bom exemplo de como as séries inglesas de FC são mal tratadas no Brasil. Nem mesmo os canais pagos daqui se animam em exibir com mais freqüência a FC para a telinha produzida na Inglaterra, por razões diversas. Mas basta dizer que a hegemonia americana na FC para a telona ou a telinha é tão acachapante que muitas vezes esquecemos que a FC, como gênero, nasceu na Inglaterra e na França no final do século XIX, impulsionada por obras como “A Máquina do Tempo”, de H.G.Wells, ou “20.000 Léguas Submarinas”, de Júlio Verne, muitas vezes carregadas com uma visão nada abonadora das sociedades européias do final daquele século. Com um passado glorioso como esse, a FC inglesa e francesa acabaram tomando rumos muito diferentes que, acertados ou não, não previram o enorme avanço da ficção científica produzida nos EUA, que acabaria atingindo em cheio o cinema e a TV de uma maneira que jamais ocorreu na Europa.

Mesmo assim algumas séries britânicas conseguiram romper esse “cerco” americano e acabaram chegando na telinha daqui. Um bom exemplo disso foram as séries criadas por Gerry Anderson, como “Thunderbirds”, aquela famosa série dos marionetes, que gerou uma família inteira no mesmo estilo, com “Joe 90” e “Capitão Escarlate”. A maioria dos quarentões como esse humilde escriba lembra bem dessas séries, que hoje provocariam espanto na turma “teen” acostumada com todo tipo de animação em CGI.

Mas Gerry Anderson também criou duas séries na primeira metade dos anos 70 que acabariam marcando a FC inglesa para a TV: “UFO” e “Espaço 1999”. Essas séries fizeram com que muitos críticos e fãs vissem em Anderson uma espécie de sucessor de Gene Roddenberry e Irwin Allen como o novo gênio da FC televisiva. Mas as limitações e problemas que essas produções tinham também se acentuaram com o passar do tempo e não duraram muito. Mesmo assim até hoje é comum encontrar gente que vê em “Espaço 1999” uma clara tentativa de Anderson de conquistar o mercado americano tentando tornar a série uma espécie de “herdeira” de Jornada nas Estrelas.

Mas vamos voltar ao ponto inicial dessa conversa… por que as séries inglesas não têm um espaço maior no Brasil mesmo nos canais pagos? Se verificarmos a maioria dos canais pagos atuais disponíveis por aqui, veremos claramente que as séries inglesas de FC raramente tiveram vez. Até onde tenho notícia, a única série inglesa de FC mais recente exibida no Brasil foi a elogiada “Farscape”. Outras produções novas, como “Flexx”, por exemplo, nunca deram as caras por aqui… pelo menos até onde se pode apurar. E o que dizer da versão para série de TV de “O Mochileiro das Galáxias”? Nem sequer um pequeno boato de uma possível exibição por aqui.

Há quem diga que as séries inglesas de FC são mais “cabeça” que suas equivalentes americanas e que isso as torna de difícil apelo para o público daqui, mais acostumado com as produções americanas. Esse raciocínio é uma tolice pois quem já viu pelo menos mais de dois episódios de “Espaço 1999” sabe perfeitamente bem que “cabecice” nunca foi um grande defeito dessa série. Não levem a mal esse meu comentário… mas Jornada nas Estrelas também foi acusada de sofrer do mesmo mal em certas ocasiões e o resultado todos nós conhecemos…

A explicação mais provável para a quase total ausência de séries de FC inglesas em nossa TV talvez seja a velha e nefanda preguiça dos responsáveis pela programação das emissoras brasileiras e dos canais pagos que atuam por aqui. Já é um milagre essa turma saber distinguir um mega sucesso com “Stargate SG1” de uma série destrambelhada como “Andromeda”. E ainda assim trazem para cá toda sorte de besteiras como “Mutant X” ou “Smallville”, enquanto uma série como “Farscape” ainda tem cara de “alternativo” por aqui.

Outra possibilidade é uma série de FC inglesa realmente estourar nos EUA, como aconteceu com “UFO” e “Espaço 1999” nos anos 70, e isso acabar repercutindo aqui. Seja como for é injustificável que no Brasil a FC inglesa continue ausente da TV paga, já que é nela que certamente está concentrada a maior parte do público daqui de séries de ficção científica. Vamos torcer para que isso mude.

Alfonso Moscato escreve com exclusividade para o TB