Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan

Sequência volta ao espírito clássico, abordando envelhecimento, sacrifício e vingança

Sinopse

Data estelar: 8130.3

Na Academia da Frota Estelar, a tenente Saavik participa do teste do Kobayashi Maru, que consiste em resgatar a tripulação de uma nave à deriva na Zona Neutra Klingon. A simulação termina em fracasso, com a perda de todos a bordo. O almirante Kirk surge para revisar o resultado, e Saavik protesta, alegando que não havia como vencer o teste. Kirk enfatiza que uma situação sem vitória é algo que todo capitão tem de enfrentar e é tão importante saber lidar com a morte quanto com a vida.

Ao fim da simulação, Kirk encontra o capitão Spock, agora instrutor da Academia comandando a Enterprise. O vulcano dá um presente de aniversário ao amigo, o livro Um Conto de Duas Cidades, e comenta sobre Saavik, lembrando que o almirante foi o único a superar o teste do Kobayashi Maru, com uma solução peculiar. Spock diz que irá à Enterprise, enquanto Kirk vai para casa, seu apartamento em São Francisco. Lá, ele é visitado por McCoy, que também leva presentes para ele: uma garrafa de cerveja romulana e um par de óculos, já que Kirk é alérgico a Retinax 5.

O almirante está deprimido, e o médico tenta lhe dar conselhos. Diz que Kirk precisa voltar à vida que nasceu para viver, voltar ao comando de uma nave estelar, antes que ele realmente fique velho demais para isso.

Enquanto isso, longe dali, a USS Reliant se aproxima de Ceti Alfa VI, em busca de um planeta desabitado para o teste do Projeto Gênesis, coordenado pela doutora Carol Marcus, a partir da estação Regula I. O comandante Pavel Chekov e o capitão Clark Terrell descem ao planeta para se certificar de que não há vida nele. Os dois encontram contêineres em meio ao deserto inóspito. Ao explorá-lo, Chekov nota um registro de sua origem: Botany Bay. O comandante fica desesperado para partir, mas ele e Terrell são então confrontados por um grupo de sobreviventes, liderados por Khan Noonien Singh.

Ele se lembra de Chekov, que teria encontrado a bordo da Enterprise quando Kirk, ainda capitão, encontrou a tripulação de Khan em hibernação a bordo da nave Botany Bay. Egressos da Terra do século 20, eles foram um grupo de tiranos geneticamente modificados. Quando sua identidade foi revelada, Khan tentou tomar o comando da Enterprise de Kirk. Ao fracassar, foi exilado com seu grupo em Ceti Alfa V.

Chekov argumenta que foi uma punição justa e que o planeta era adequado à vida, mas Khan reforça que eles estão agora no que restou de Ceti Alfa V. O sexto planeta foi destruído pouco depois da partida da Enterprise, 15 anos atrás, alterando a órbita do quinto e tornando-o quase totalmente inabitável. Uma das únicas formas de vida remanescentes é uma enguia, que penetra o corpo humano e gradualmente leva ao sugestionamento, à loucura e à morte. Ela teria matado muitos dos seguidores de Khan, inclusive sua esposa.

O tirano renegado agora quer vingança contra o almirante Kirk. Ele então implanta enguias em Chekov e Terrell para que eles fiquem suscetíveis a suas ordens e revelem por que foram a Ceti Alfa V e onde Khan pode encontrar Kirk.

Na órbita da Terra, o almirante Kirk vai à Enterprise com Sulu, McCoy e Uhura, onde eles farão uma inspeção da nave e os oficiais assumirão seus postos a bordo. O capitão Spock, Saavik, Scott e a tripulação em treinamento estão lá para recebê-los, dentre eles o sobrinho de Scott, Peter Preston. Kirk começa a inspeção pela engenharia, e Preston mostra sua impetuosidade ao almirante, que pergunta ao engenheiro-chefe se a nave poderia fazer uma viagem de teste. Com a confirmação de que sim, Kirk decide deixar o resto da inspeção para depois.

Na ponte, Spock concede a Saavik o comando da nave para manobrá-la na saída da doca espacial. Kirk fica um pouco nervoso pela inexperiência de Saavik, mas recusa um tranquilizante oferecido por McCoy. A Enterprise parte sem transtornos, em curso livre, a critério de Sulu.

Enquanto isso, no laboratório espacial Regula I, Carol Marcus recebe uma ligação de Chekov, que diz que Ceti Alfa VI passou nos testes e a Reliant está a caminho para o teste imediato do Projeto Gênesis. Marcus contesta as novas ordens, diz que seu projeto é civil, mas Chekov diz que elas foram confirmadas pelo almirante Kirk e pelo Comando da Frota Estelar. Na Reliant, Khan parabeniza Chekov pela mensagem e conta agora que Marcus tente confirmar a ordem com Kirk.

Na Enterprise, o almirante e Saavik se encontram no turboelevador. Ela tenta saber como Kirk venceu o teste do Kobayashi Maru, mas ele desconversa. McCoy embarca em seguida, quando Kirk recebe um chamado da ponte – um sinal de emergência vindo de Carol Marcus, com quem ele teve um relacionamento no passado. O almirante vai atendê-la em seus aposentos.

Ela questiona Kirk pela ordem sobre o Projeto Gênesis, mas a comunicação é interrompida antes que possam esclarecer qualquer coisa. Em Regula I, os cientistas discutem as ações da Frota Estelar. Carol Marcus e seu filho, David, decidem ocultar os materiais para não ceder às ordens.

Kirk procura Spock em seus aposentos e revela o que aconteceu, com a interrupção das comunicações com Regula I, pedindo que o vulcano leve a nave até lá. Spock sugere que Kirk assuma o comando, o que ele faz, ao retornar à ponte, ordenando um novo curso para a estação.

A Reliant se prepara para interceptar a Enterprise, mas Joachim, um dos seguidores de Khan, sugere que ele não precisa derrotar Kirk, agora que tem uma nave para ir aonde quiser. Mas o tirano está determinado em exercer sua vingança. Regula I, por sua vez, não responde mais a chamados.

Tentando entender melhor a crise, Kirk, Spock e McCoy se reúnem nos aposentos do almirante para acessar os dados disponíveis sobre o Projeto Gênesis. Em um vídeo, Carol Marcus apresenta a iniciativa como um esforço para converter planetas inabitáveis em mundos vivos. O dispositivo Gênesis seria testado em um mundo inóspito, que então se tornaria habitável. McCoy especula o que aconteceria se usassem essa tecnologia como arma, em um planeta já habitado. Spock conclui que ele destruiria a vida lá, em favor da nova matriz. O médico fica horrorizado. Kirk é chamado à ponte, uma nave se aproxima: a Reliant.

Tentativas de comunicação fracassam. De surpresa, a Reliant promove um ataque fatal à Enterprise. Khan então abre as comunicações e exige a rendição de Kirk, assim como todos os dados sobre o Projeto Gênesis. O almirante tenta ganhar tempo e acessa os códigos de comando da Reliant para forçá-la a baixar os escudos remotamente. A estratégia funciona, a Enterprise promove um contra-ataque, e a Reliant é obrigada a bater em retirada. O preço, contudo, é alto: vários tripulantes são feridos e mortos, dentre eles o sobrinho de Scott.

Na enfermaria, o engenheiro, desolado, quer entender a causa da crise. Kirk diz que Khan está em busca de vingança e pede que Scott tente recuperar a força principal da nave. McCoy está intrigado sobre como Khan sabe do Projeto Gênesis.

A Enterprise chega a Regula I, e o laboratório está abandonado. Um grupo de descida, com Kirk, McCoy e Saavik, vai a bordo da estação, que orbita um planetoide, Regula, e encontra vários cientistas e técnicos mortos. Mas não há sinal de Carol Marcus ou do material do Projeto Gênesis. Na investigação, eles encontram Chekov e Terrell trancados em um armário. Eles dizem que Khan estava furioso e matou os cientistas. Saavik nota que a sala de transporte do laboratório foi deixada ativa, com coordenadas para o interior do planetoide. Kirk decide ir para lá – seja lá onde for –, lembrando que o segundo estágio do Projeto Gênesis seria subterrâneo. Enfatizando que está seguindo o regulamento, e que dias serão como horas, Kirk contata Spock e ordena a Enterprise que parta em uma hora. Spock, também seguindo o regulamento, diz que não esperam recuperar a energia em dois dias. O grupo se transporta e chega a uma rede de túneis e cavernas.

Lá, ele é confrontado por David Marcus – filho de Kirk com Carol. O almirante fica chocado ao estar diante de seu filho adulto. Os tripulantes encontram então o dispositivo Gênesis, e Chekov e Terrell rendem o grupo, revelando estarem a serviço de Khan. Ao se comunicarem com ele, na Reliant, o tirano ordena que Terrell mate Kirk. Mas ele desobedece e em vez disso comete suicídio com um feiser. Em seguida, uma enguia sai pela orelha de Chekov e ele desmaia. Kirk provoca Khan, mas o vilão teletransporta o dispositivo Gênesis e diz que fará melhor que matar Kirk, deixando-o abandonado, enterrado vivo.

O almirante conversa com Carol, e diz ter feito o que ela pediu: manteve-se distante dela e de David. Ele também conta quem é Khan e por que está atrás de vingança. Kirk se sente velho, e Carol então promete mostrar algo que o fará se sentir jovem como quando o mundo era novo. Ela o leva à “caverna do Gênesis”, uma vasta área rica em vida, produzida pelo efeito Gênesis. Saavik aproveita a ocasião para mais uma vez perguntar a Kirk como ele bateu o Kobayashi Maru. O almirante admite que reprogramou a simulação para ser possível resgatar a tripulação. A vulcana acha que ele trapaceou, mas Kirk responde que ele não acredita em cenários sem chance de vitória. Em seguida, abre o comunicador e contata Spock, que diz estar pronto para transportá-los a bordo.

De volta à Enterprise, Saavik descobre que Kirk e Spock estavam se comunicando em código, “pelo regulamento”, trocando dias por horas nas mensagens. A Enterprise estaria pronta em duas horas, não dias. O grupo volta à ponte, enquanto a Reliant persegue a Enterprise. Kirk decide levar a nave até a vizinha nebulosa Mutara, o que barrará sensores de ambas as naves e equilibrará as condições de combate.

Uma caça de gato e rato se segue na nebulosa, e o domínio superior de Kirk em navegação espacial, pensando em três dimensões, permite que a Enterprise promova um ataque fatal à Reliant. Sem chance de escapar, Khan decide ativar o dispositivo Gênesis. Sem o motor de dobra, desativado pelos danos à nave, a Enterprise não tem chance de escapar da detonação. Spock então decide, por conta própria, descer à engenharia e enfrentar a radiação para efetuar os reparos na câmara de dilítio e permitir a fuga. McCoy tenta impedi-lo, mas o vulcano engana o doutor e o imobiliza com uma pinça neural. Antes de entrar na câmara, ele faz um contato telepático com McCoy, dizendo apenas as palavras: “Lembre-se.” A ação permite que a Enterprise escape a uma distância segura.

A explosão do dispositivo, por sua vez, além destruir a Reliant e Khan, converte a matéria da nebulosa Mutara em um novo planeta, cheio de vida. Em compensação, Spock está morrendo na engenharia. Kirk corre até lá para testemunhar os últimos momentos de seu amigo, enquanto o vulcano pergunta o que achou de sua solução do Kobayashi Maru e indicando que a necessidade de muitos se sobrepõe à de um. Spock morre, e Kirk está arrasado.

Há uma cerimônia fúnebre a bordo, e o corpo de Spock é lançado ao espaço num torpedo fotônico. Mais tarde, em seus aposentos, Kirk recebe a visita de David Marcus, que, após anos de mágoa, diz ter orgulho de ser filho dele. Os dois se abraçam.

Enquanto a tripulação admira o planeta Gênesis, recém-criado, e Kirk diz se sentir jovem, o torpedo fotônico transportando o corpo de Spock se vê suavemente pousado sobre a superfície do novo mundo…

Comentários

Se o primeiro filme se propôs a repaginar Star Trek para as telonas, com uma história épica e um ar filosófico, o segundo buscou retornar às origens, com foco maior nos personagens e suas relações interpessoais, resgatando até mesmo um dos mais fascinantes antagonistas vistos na Série Clássica. A despeito de seu escopo mais modesto, Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan é considerado por muitos como o melhor já produzido na franquia.

De fato, trata-se de uma obra-prima de roteiro, o que até surpreende ao se conhecer a forma conturbada como foi concebido, até ganhar sua forma final numa escrita relâmpago, não creditada, pelo diretor Nicholas Meyer. A Enterprise é essencialmente a mesma vista no primeiro filme, mas com alguns novos cenários (em particular a baía de lançamento de torpedos fotônicos). Já os antigos, como a engenharia e os aposentos de Kirk, foram redecorados para servir aos propósitos e à estética do novo longa, que abandona o visual ascético do primeiro filme e passam a um ambiente mais militarístico, que poderia ter saído de um filme de batalha naval entre encouraçados e submarinos. A iluminação, em particular, faz um ótimo trabalho em repaginar a “velha nova” Enterprise para o clima que Meyer queria para o filme. Os novos uniformes, também com aspecto mais militar, desenvolvidos por Robert Fletcher (o mesmo criador dos usados no filme anterior), dão toque final a essa repaginação, que chegou a ser vilipendiada pelo criador Gene Roddenberry.

Com apoio do produtor Harve Bennett, Meyer decidiu, em vez de disfarçar o envelhecimento da tripulação (algo que foi feito em O Filme, com maquiagem para tentar esconder o fato de que uma década separava os atores da época em que gravaram a Série Clássica), abraçá-lo como parte importante da temática do longa.

Adentramos o século 23 encontrando nossa tripulação servindo como oficiais de treinamento, com jovens tripulantes ocupando postos na Enterprise sob o capitão-professor Spock. Sua pupila, a vulcana Saavik, passa pelo teste do Kobayashi Maru, que deu notoriedade ao almirante Kirk, vivendo hoje das glórias do passado, por ter sido o único a vencer o “cenário sem vitória”.

Kirk está na crise da meia-idade – um retrato ousado e poderoso para um herói romântico do cinema –, dizendo que explorar o espaço é coisa para os jovens, e McCoy basicamente tenta chacoalhá-lo da depressão, dizendo que ele precisa voltar a comandar uma nave antes que de fato fique velho demais para fazê-lo.

Tudo isso oferece um visão muito honesta e humanizada do grande trio da Série Clássica, eviscerando os personagens de uma forma nunca antes feita, como preparação para o confronto com Khan Noonien Singh. Saído diretamente de “Space Seed”, na primeira temporada, ele quer vingança contra seu antigo algoz, que o condenara ao exílio. Ricardo Montalban faz um retorno triunfal ao personagem que interpretara 15 anos antes, criando com sua atuação um dos vilões mais marcantes da história do cinema.

Em contraste com seu predecessor, A Ira de Khan não se escora excessivamente em seus efeitos visuais. Algumas tomadas, inclusive, como a partida da doca espacial, são reciclagens de cenas produzidas para o filme anterior. Em compensação, as novas tomadas mais uma vez se revelam pinturas na forma de efeitos visuais. Produzidas pelos magos da Industrial Light & Magic, companhia fundada por George Lucas para desenvolver as novas tecnologias requeridas para os efeitos de Star Wars, as cenas da Reliant e da Enterprise em sua batalha na nebulosa Mutara são nada menos que espetaculares.

Menos caprichada e realista é a pintura que dá vida à caverna do Gênesis, no planetoide Regula, mas ainda assim nada que prejudique o andamento da história. Até porque, como se nota, o filme está de fato escorado em seus personagens, que desde o começo estão enredados numa trama que envolve escolhas, sacrifício, vida e morte. Começa lá no Kobayashi Maru, onde Spock morre “só de brincadeira”, e termina com a batalha na nebulosa Mutara, onde o vulcano precisa de fato enfrentar o desafio e sacrificar sua vida pela sobrevivência de seus amigos a bordo da Enterprise.

A nobreza do personagem aqui chega ao seu ápice, e a cena em que Kirk e Spock se despedem, separados por um vidro, na engenharia da nave é uma das mais potentes, se não for a mais, já vistas em Star Trek. Tanto William Shatner como Leonard Nimoy entregam o que têm de melhor para seus personagens lendários.

Kirk, como protagonista do filme, também completa um arco completo ao longo da jornada. Em crise, ele se sente velho, e precisa encarar a mortalidade – estampada de forma muito lógica por seu amigo vulcano – e ao mesmo tempo a vida – com o reencontro com seu filho, David. Há quem estranhe, por sinal, que ao fim do longa o jovem abrace seu pai e se diga orgulhoso dele, depois de uma vida de afastamento. Mas é uma cena bonita, que retrata o ciclo de destruição e construção que envolvem morte e vida. Kirk começa se sentindo velho, acabado, e termina se sentindo novo, com muito ainda por viver.

Como, por sinal, esse é o tema do grande mote de ficção científica na trama, o intrigante Projeto Gênesis. Ele também é sobre morte, vida, e o que há ligando os dois, com um dispositivo fabuloso que pode servir tanto para criar quanto para destruir – um poder talvez grande demais para que qualquer um o detenha. É parte do que dá um escopo maior ao filme, para além dos dramas pessoais dos personagens envolvidos – equilibrando muito bem o trabalho entre caracterização e enredo.

Numa análise detida, cena a cena, duas coisas se sobressaem: primeiro, o perfeito encaixe temático entre seus diferentes elementos; e, segundo, a qualidade notável da escrita, com uma história cheia de detalhes, nuances e relações entre os personagens, mas que é extremamente econômica em comunicar, no momento apropriado, cada uma dessas referências. Um exemplo: como o filme estabelece para a audiência a relação entre Kirk e Carol Marcus, meramente com um rápido diálogo entre ela e David em que Kirk é mencionado e com outra troca igualmente rápida entre Kirk e McCoy no turboelevador. Ali, em três ou quatro falas, você tem tudo de que precisa para apreciar plenamente o reencontro dos dois – e como David se encaixa nisso – mais adiante. Exemplos como esse estão em toda parte, como na explicação de quem é Khan (por meio do reconhecimento de Chekov), na apresentação do Projeto Gênesis (feita ao mesmo tempo para a audiência e para Kirk, Spock e McCoy) e na introdução a Saavik. É tudo muito bem pensado.

Não por acaso, o filme é tão festejado. E, diferentemente do primeiro, que teve uma recepção ambígua por parte do público e da crítica, a despeito do sucesso de bilheteria, A Ira de Khan foi universalmente aclamado como o grande retorno à forma que Star Trek merecia. E, claro, ainda deixou aquele enigma do torpedo com o corpo de Spock repousando suavemente sobre o planeta Gênesis, aquele que cria vida a partir da não vida…

Avaliação

Citações

“Ship… out of danger?”
“Yes.”
“Don’t grieve, Admiral.
It is logical. The needs of the many outweigh…”
“…the needs of the few.”
“Or the one. I never took the Kobayashi Maru test until now. What do you think of my solution?”
“Spock…”
“I have been and always shall be your friend. Live long and prosper.”
“No… !”
(Nave… fora de perigo?)
(Sim.)
(Não sofra, almirante. É lógico. As necessidades de muitos sobrepujam…)
(…as de poucos.)
(Ou de um. Eu nunca fiz o teste do Kobayashi Maru até agora. O que você acha da minha solução?)
(Spock…)
(Eu fui e sempre serei seu amigo. Vida longa e próspera.)
(Não… !)
Spock e Kirk, em suas últimas palavras antes da morte do vulcano

“Of my friend, I can only say this: of all the souls I have encountered in my travels, his was the most… human.”
(Do meu amigo, só posso dizer isso: de todas as almas que encontrei em minhas viagens, a dele foi a mais… humana.)
Kirk, no funeral de Spock

“He’s really not dead… as long as we remember him.”
(Ele realmente não morrerá… enquanto nos lembrarmos dele.)
McCoy, sobre Spock

“You OK, Jim? How do you feel?”
“Young. I feel young!”
(Está bem, Jim? Como se sente?)
(Jovem. Eu me sinto jovem!)
McCoy e Kirk, contemplando o planeta Gênesis

Trivia

  • Logo após o primeiro filme, a Paramount decidiu fazer uma continuação, e Gene Roddenberry propôs uma sequência, em que a tripulação da Enterprise voltaria no tempo para impedir os klingons de interromperem o assassinato de John F. Kennedy. A proposta foi recusada, e o estúdio decidiu afastar Roddenberry da produção, retendo-o apenas como consultor executivo, e transferindo o projeto ao departamento de televisão para reduzir os custos, com Harve Bennett como produtor.
  • Bennett não tinha familiaridade com Star Trek, mas de pronto foi assistir a todos os episódios clássicos e decidiu que Khan seria um vilão ideal para ser trazido de volta. Em novembro de 1980 ele escreveu uma sinopse de uma página chamada War of the Generations. Na premissa, Kirk vai investigar uma rebelião em um planeta da Federação e reencontra uma mulher que amara no passado, com quem, sem ele saber, teve um filho, que é o líder dos rebeldes. Kirk é capturado e sentenciado à morte, até descobrir que Khan está por trás de tudo. Então ele e o filho se unem para lutar contra Khan, e o filho de Kirk termina se juntando à tripulação da Enterprise. Spock originalmente não faria parte da história, pois presumia-se que Leonard Nimoy não gostaria de voltar.
  • Após vários rascunhos dessa história, Bennett contratou Jack B. Sowards, roteirista de vários telefilmes de sucesso e fã de Star Trek, para desenvolver o roteiro. Coube a ele reinserir Spock na história, propondo matá-lo no primeiro terço do filme, o que ajudaria persuadir Nimoy a retornar uma última vez. O roteiro de Sowards, chamado The Omega System, girava em torno de uma arma terrível sendo desenvolvida pela Federação, a ser testada em Ceti Alfa V, onde Khan seria encontrado. A Reliant (então sugerida como outra nave da classe Constitution, como a Enterprise) seria capturada e o filme terminaria com uma batalha entre as duas naves em órbita do planeta.
  • Bennett estava desconfortável com a ideia de a Federação desenvolver uma arma de destruição em massa, e coube ao diretor de arte Mike Minor (que já havia trabalhado no filme anterior e na terceira temporada da Série Clássica) sugerir que fosse convertido em um instrumento de terraformação – que, se pervertido, poderia ser usado como uma arma terrível. Em 10 de abril de 1981, Sowards escreveu uma segunda versão de seu roteiro com essa importante inclusão, agora intitulado The Genesis Project. Aqui também aparece a primeira menção à sequência do simulador, em que o dr. Savik (originalmente o sr. Wicks, substituto de Spock na primeira versão de Bennett) tentava salvar o cargueiro Kobayashi Maru. O personagem mudaria de sexo e viraria a tenente Saavik.
  • A pré-produção já estava em andamento, mas ninguém estava satisfeito com nenhuma das versões do roteiro. Bennett e o produtor Robert Sallin então chamaram Samuel A. Peeples, roteirista do segundo piloto da Série Clássica, para sugerir um novo caminho. Peeples excluiu Khan da trama, introduziu uma dupla de alienígenas poderosos. Quando esse roteiro chegou às mãos de Bennett e Sallin, eles sabiam que era muito ruim, infilmável.
  • Nicholas Meyer, então um promissor diretor que havia dirigido o filme Um Século em 43 Minutos (Time After Time), acabou contratado, mas descobriu que os produtores não tinham um roteiro para filmar. E a empresa de efeitos visuais Industrial Light & Magic informou que não poderia entregar as demandas em tempo de cumprir a data de estreia sem um roteiro. Meyer então pediu aos produtores que viessem até a casa dele com todas as versões do roteiro. O trio fez uma lista de todos os elementos nos textos que eles queriam no filme, e Meyer se encarregou de escrever um roteiro costurando-os – em doze dias, e sem contrato para escrever (o que significou não ter crédito no filme por esse trabalho) para cumprir a demanda da IL&M. A primeira versão dele, de 10 de setembro, se chamava The New Frontier. A segunda, após pedidos de revisão de William Shatner, veio em 16 de setembro, com o nome The Undiscovered Country. A terceira em 29 de setembro, e a versão final ficou pronta em 18 de janeiro de 1982, já em meio às filmagens, ainda com este título.
  • Após uma avaliação do departamento de marketing com uma pesquisa de opinião, o estúdio decidiu mudar o título para The Vengeance of Khan. Mas, como George Lucas então trabalhava em seu terceiro filme de Star Wars, a ser chamado de Revenge of the Jedi, a Paramount trocou o dela por The Wrath of Khan. Ironicamente, Lucas também trocou o dele, tornando-se Return of the Jedi. Sem vingança para ambos, ira e retorno ganharam a parada.
  • Gene Roddenberry manifestou diversas objeções ao projeto, a maior delas a decisão de matar Spock. Ele chegou a vazar o roteiro para que a informação chegasse aos fãs, que ficaram revoltados com a morte do personagem. Para manter o suspense, Nicholas Meyer decidiu enfatizar a “morte de mentirinha” de Spock no início do filme, com Kirk perguntando: “Você não está morto?” Era um esforço para despreocupar e despistar os fãs até o clímax do longa.
  • A principal modificação à ponte da Enterprise do primeiro para o segundo filme, promovida pelo designer de produção Joseph R. Jennings, foi na pintura, tornando-a mais escura, menos ascética.
  • Já um dos principais cenários novos, o da baía de torpedos fotônicos da Enterprise, foi construído redecorando fortemente a ponte da nave klingon desenvolvida para o primeiro filme.
  • Meyer queria um visual naval para os uniformes da tripulação. Um primeiro experimento pelo responsável pelo figurino, Robert Fletcher, foi feito tingindo os trajes desenvolvidos para o primeiro filme, e uma das cores que caiu melhor foi a do vermelho escuro. Para os oficiais seniores, foram desenvolvidos novos uniformes nessa mesma cor, mas com um forte aspecto militarista, e uma camisa de gola alta por baixo.
  • Para Khan e seu grupo de renegados, o esforço de Fletcher foi de fazer forte contraste com o visual da Frota Estelar, sugerindo improviso em meio ao ambiente inóspito. Eles usam fios elétricos e pedaços de pano como adereços, e um traje especialmente desenhado para Khan permitia que Ricardo Montalban exibisse seu peitoral desenvolvido.
  • A Reliant foi a primeira nave da Frota Estelar com design diferente da Enterprise a aparecer em um versão live-action de Star Trek. (O cargueiro Antares seria incluído na edição remasterizada da Série Clássica, baseado em um desenho da Série Animada, mas ele não existia na versão original do episódio.)
  • Uma curiosidade: a Reliant foi projetada para ter as naceles para cima, como a Enterprise. Mas o produtor Harve Bennett, ao assinar a aprovação do design, o fez de ponta-cabeça. Para não correr riscos, a equipe que construiu a maquete usou isso como referência.
  • O laboratório Regula I era a estação orbital terrestre vista em O Filme, mas filmada de cabeça para baixo.
  • A escalação de Montalban foi pré-determinada por seu papel na Série Clássica. Mas o ator estava inseguro de voltar a viver Khan, depois de anos como o afável sr. Roarke, de Ilha da Fantasia. Ele pediu que Benett enviasse a ele uma cópia de “Space Seed”, para entrar novamente no papel.
  • Além de Montalban, o filme trouxe de volta John Winston, que viveu o chefe de transporte Kyle, na Série Clássica. Aqui, o personagem aparece como oficial de comunicações da Reliant.
  • Merritt Butrick, que aqui vive David, voltaria a Star Trek no episódio “Symbiosis”, da primeira temporada de A Nova Geração. Já Paul Winfield, escalado como o capitão Terrell, voltaria com o capitão tamariano Dathon, em “Darmok”, da quinta temporada de A Nova Geração.
  • O grande destaque de escalação do filme foi a estreia de Kirstie Alley, para o papel de Saavik. Então uma atriz iniciante, ela viria a fazer muito sucesso na série Cheers.
  • O roteirista Jack B. Sowards voltaria a contribuir com Star Trek ao escrever o roteiro do episódio “Where Silence Has Lease”, da segunda temporada de A Nova Geração.
  • As filmagens de A Ira de Khan começaram em 9 de novembro de 1981 e foram concluídas 12 semanas depois, em 29 de janeiro de 1982.
  • A trilha sonora ficou a cargo de James Horner, outro então promissor (e barato) profissional, mas que se tornaria um dos grandes compositores de Hollywood, fazendo música para filmes de enorme sucesso, como Titanic. Leia mais sobre a música do filme aqui.
  • O lançamento nos cinemas americanos, em 4 de junho de 1982, foi muito bem recebido pelo público e pela crítica. Batendo o recorde de dia de estreia e com um orçamento de US$ 11,2 milhões (cerca de um quarto do que foi gasto no primeiro filme), ele faturou US$ 79,7 milhões nas bilheterias norte-americanas, chegando a US$ 97 milhões globalmente, o que assegurou o desejo do estúdio por uma nova continuação.
  • Em seu lançamento no Reino Unido, o filme foi cortado em dez segundos, para excluir a parte mais pesada da sequência em que a enguia entra no ouvido de Chekov. Por sinal, a cena foi feita com uma maquete gigante de uma orelha sobre um painel.
  • Uma versão para TV do filme, exibida pela rede ABC em 1985, continha cenas extras, inclusive a que revelava que Saavik era meio romulana. Para a sequência da cinessérie, a personagem foi tratada como 100% vulcana.
  • Uma Edição do Diretor, lançada em 2002 em DVD, trazia pequenas modificações e ajustes promovidos por Nicholas Meyer. E a versão final do filme, de novo com sutis alterações, foi o Corte do Diretor, lançado em Blu-ray, em 2016. Mas ambas, em contraste com a Edição do Diretor de O Filme, têm poucas diferenças, apenas cosméticas, com relação ao lançamento original.

Ficha Técnica

História de Harve Bennett & Jack B. Sowards
Roteiro de Jack B. Sowards
Dirigido por Nicholas Meyer
Produzido por Harve Bennett
Música de James Horner

Estreia em 4 de junho de 1982 (EUA), 25 de dezembro de 1982 (Brasil)

Título em inglês: Star Trek II: The Wrath of Khan

Elenco

William Shatner como James T. Kirk
Leonard Nimoy como Spock
DeForest Kelley como Leonard H. McCoy
James Doohan como Montgomery Scott
Walter Koenig como Pavel Chekov
George Takei como Hikaru Sulu
Nichelle Nichols como Nyota Uhura
Bibi Besch como Carol Marcus
Merritt Butrick como David Marcus
Paul Winfield como Terrell
Kirstie Alley como Saavik
Ricardo Montalban como Khan
Ike Eisenmann como Peter Preston
John Vargas como Jedda
John Winston como Kyle
Paul Kent como Beach
Nicholas Guest como cadete
Russell Takaki como Madison
Kevin Sullivan como March
Joel Marstan como chefe de tripulação
Teresa E. Victor como voz da ponte
Dianne Harper como voz de rádio
David Ruprecht como voz de rádio
Marcy Vosburgh como voz do computador

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Edição de Maria Lucia Rácz

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