Episódio com inspiração trill fala de forma sensível sobre conexão e compreensão
Sinopse
Data estelar: desconhecida.
Book revela a Michael a história de Moll e assegura que a ligação que tem com ela não afetará seu comportamento, pedindo para participar da missão a Trill. Sobre L’ak, diz Culber, nada se sabe.
Analisando o artefato recuperado, Tilly e Adira encontram um padrão de pintas de um trill, indicando um indivíduo específico: Jinaal Bix, que viveu há 800 anos, e ele hospedava um simbionte. Se ele ainda estiver vivo, seu hospedeiro atual poderá responder perguntas.
Em seguida, Michael e Rayner têm uma conversa, e ela ordena que ele faça entrevistas pessoais com a tripulação, para se entrosar. Rayner resiste, mas acaba acatando. Em seguida ele é apresentado oficialmente à equipe da ponte, e a nave salta para Trill.
Adira está aflita pelo iminente reencontro com Gray, e Jett Reno percebe que há algo errado no relacionamento dos dois, depois de seis meses de afastamento. Stamets não nota nada. Ela diz que “tudo tem uma meia-vida”.
Em órbita de Trill, o guardião Xi recebe uma comunicação da Discovery, mas ele proíbe que alguém desça ao planeta até que Michael responda uma charada, provando que está pronta para receber a informação ligada aos Progenitores. “Para onde o quarto aponta?” Michael percebe que se trata do quarto verso do poema lido na estátua de Lyrek, e responde: “Betazed”. A resposta correta garante a permissão para que um grupo avançado vá à superfície, para se encontrar com Kalzara Bix, atual hospedeira do simbionte que já foi de Jinaal.
Michael desce às cavernas sagradas da Mak’ala com Book, Culber e Adira, que tem a chance de reencontrar Gray. Kalzara os espera, mas diz que a resposta que eles procuram só pode ser dada pelo próprio Jinaal, por meio de um ritual conhecido como zhian’tara, em que um voluntário incorpora temporariamente a consciência de um antigo hospedeiro. Culber se voluntaria para ser o receptáculo para Jinaal.
Enquanto isso, no Quartel-General da Federação, T’Rina visita Saru, trazendo flores de presente. Ele fala de sua insegurança nessa nova função como embaixador. Eles discutem o anúncio de seu casamento, quando são abordados por Duvin, auxiliar de T’Rina, que é instruído a distribuir o anúncio naquele mesmo dia. Em seguida, Saru e T’Rina participam de uma reunião com mundos aliados. Ao final, Duvin chama o kelpiano e diz que o casamento dele com T’Rina poderia prejudicá-la politicamente.
Na Discovery, Tilly procura Rayner dizendo ter sido designada pela capitão para ajudá-lo a marcar as entrevistas com a tripulação. Ele é hostil, seco, e ordena que ela marque cinco minutos com cada um no laboratório, onde ele investiga o paradeiro de Moll e L’ak. Rayner em seguida entrevista Rhys e pede que conte algo sobre ele que não está em arquivo. Ele diz que gostava das naves da classe Constitution, e Rayner o dispensa. Outros tripulantes se seguem, com entrevistas igualmente lacônicas.
No planeta, Adira e Gray finalmente têm um tempo a sós e se abraçam, mas ele diz querer falar sobre algo específico. A conversa é interrompida pelo começo do zhian’tara. Culber passa a falar por Jinaal, que está entusiasmado de ter um corpo novamente. Ele diz que não tem a pista que eles buscam, mas sabe onde encontrá-la, em cânions próximos.
Ele guia Michael e Book pelo deserto. O trio chega a um desfiladeiro cheio de itronoks, criaturas carnívoras perigosíssimas. É um teste para verificar se eles são dignos da informação. Michael diz que já arriscou a vida por ela antes, e não vai parar agora. Então Jinaal conta que ele foi um dos seis cientistas que o presidente da Federação reuniu em segredo 800 anos atrás – dentre eles o romulano Vellek –, com a missão de estudar os Progenitores e sua mensagem, encontrada originalmente por Jean-Luc Picard em 2369. Ele prossegue revelando que, após anos, a pesquisa levou a uma parte da galáxia onde eles encontraram uma tecnologia além de tudo que havia sido visto. Um dos tripulantes tentou ativá-la e foi morto. Depois disso, o presidente encerrou a pesquisa e bloqueou o acesso dos cientistas aos dados. Os pesquisadores tinham ainda a localização do que haviam encontrado, mas decidiram escondê-la em meio à Guerra do Dominion, para evitar que ela caísse em mãos erradas, com seu poder devastador.
Nas cavernas, Adira e Gray voltam a conversar e ele volta ao assunto que queria tratar: os dois estão diferentes e talvez o melhor fosse que rompessem sua relação amorosa. Adira concorda, e ambos decidem continuar como amigos.
No deserto, Michael pressiona Jinaal para revelar o local onde seria encontrada a tal tecnologia, poupando-os de ir pulando de pista em pista. Ele se recusa a colaborar, dizendo que seus colegas e ele consideravam importante que o caminho todo fosse perseguido, e que a tecnologia só pudesse ser usada em tempos de paz. Book fala que eles vivem agora um momento pacífico. Michael ressalta que é impossível garantir quanto vai durar, mas que a Federação tem boas intenções.
Eles encontram uma das presas das criaturas, destroçada, e percebem que o perigo está cada vez maior. A noite chega, e Jinaal entrega o local da pista, numa rocha com uma marcação. Só que as criaturas a protegem, e elas têm capacidade de camuflagem e de disparar projéteis contra seus inimigos. Book tenta se comunicar telepaticamente com elas, mas fracassa. Então decidem que Book vai atraí-las enquanto Michael vai buscar a pista. Ele é perseguido, e ela não consegue achar o artefato procurado. As criaturas aladas atacam, Book salva Michael, mas é atingido na perna. Os dois fogem e se abrigam em meio às rochas. Michael tira o projétil da perna de Book e cauteriza o ferimento com um feiser. Então ele percebe que as criaturas estão protegendo seus ovos. Michael decide tentar se aproximar das criaturas com uma atitude pacífica, instruindo Book a tentar contato telepático com elas novamente e dizendo que estão de partida. As criaturas aquiescem.
A bordo da Discovery, é a vez de Stamets ser entrevistado por Rayner, e ele fala do que descobriu sobre a tecnologia dos Progenitores. Rayner acaba o maltratando, e Tilly perde a paciência e o critica.
No Quartel-General da Federação, Saru reencontra T’Rina e sugere o adiamento do casamento, para proteger a carreira política da presidente. T’Rina não aprecia que seu parceiro kelpiano ache que ela precisa da proteção dele, e a conversa acaba abruptamente.
Em Trill, Michael e Book voltam a encontrar Jinaal e percebem que ele os atraiu para uma armadilha, para ver como reagiam a criaturas vastamente diferentes. Ele então entrega o artefato procurado a Michael, e todos retornam às cavernas sagradas. Culber volta a si, e Kalzara o agradece. Michael e Book partem, deixando Adira ficar um pouco mais no planeta.
No QG da Federação, Saru volta a falar com T’Rina, pede desculpas e diz que quer continuar com o casamento. Ela aceita e diz que está tudo superado, surpreendendo o kelpiano, que diz nunca ter enfrentado conflito com alguém que amasse dessa maneira. T’Rina diz que conflito faz parte de qualquer relacionamento – e também da carreira política.
De volta à Discovery, Rayner e Tilly se reencontram no bar panorâmico da nave. Ele mostra tudo que sabe dos tripulantes, e ela lembra que estudá-los não é o mesmo que se conectar com eles e respeitá-los. Culber reflete sobre o que aconteceu e conversa com Michael, que diz que estão prontos para saltar para o local da próxima pista, marcado no artefato.
Em Trill, Adira participa de uma cerimônia antes de partir, sem saber que um rastreador foi colocado nela – por Moll, disfarçada.
Comentários
“Jinaal” explora de forma inteligente a dualidade compreensão/conexão, para a qual a natureza dos trills, como seres simbióticos, oferece fartas e competentes alegorias. Temos aqui uma jornada psicológica amparada por quatro tramas bem definidas e separadas. Não é tarefa fácil manter o público ligado em todas elas, mas a missão acaba muito bem executada, justamente pela clareza de estabelecer para cada uma um arco bem definido, sem misturar muito os canais, além de hierarquizá-las com convicção.
Só para efeito de enumeração, aqui vão as quatro: Saru e T’Rina lidando com o conflito entre suas carreiras e seu relacionamento; Rayner e Tilly preparando a aclimatação do novo primeiro oficial à tripulação da Discovery; Adira e Gray reavaliando seu relacionamento após longo tempo afastados; e Michael, Book e Culber enfrentando um grande desafio para obter a próxima pista no quebra-cabeça dos Progenitores.
Dessas, não há dúvida de que a predominante é a que está enredada na trama mais ampla da temporada – e ela oferece uma oportunidade de ouro para Wilson Cruz demonstrar seu prodigioso talento. O ator está simplesmente incrível como Jinaal, fazendo um papel muito diferente do pacato e empático Hugh Culber. Jinaal parece egocêntrico, manipulador, hedonista e, ao mesmo tempo, algo sábio, o que é uma combinação bem interessante. Cruz faz jus a ela, auxiliado pelo uso providencial de um artifício de roteiro concebido em Deep Space Nine: o ritual trill zhian’tara, introduzido em “Facets”, da terceira temporada daquela série.
Esse elemento da cultura trill que permite o contato do atual hospedeiro de um simbionte com seus antecessores já havia sido usado de forma inteligente (e inovadora) no episódio da quarta temporada de Discovery “Choose to Live” para dar a Gray um novo corpo sintético, ao estilo do que ocorrera com Jean-Luc Picard na primeira temporada de Picard. Aqui, ele volta em sua forma mais tradicional, permitindo dar voz a alguém que viveu 800 anos atrás e teve papel fundamental na revelação e posterior ocultação da tecnologia dos Progenitores.
Por meio dele, aprendemos mais sobre o que teria acontecido após “The Chase”, de A Nova Geração, em cenas que suavizam seu grau de diálogo expositivo por meio das circunstâncias peculiares em que os personagens se encontram, com Jinaal guiando Michael e Book pelo deserto à procura de mais um artefato.
Nessa busca está o coração do episódio, e o tema a ser explorado: não só Michael e Book, ainda meio desconfortáveis um com o outro, precisam se conectar para superar a “armadilha” preparada por Jinaal – um teste de caráter –, como também precisam se conectar com os itronoks, bizarras criaturas carnívoras que ali habitam. Para isso, precisam naturalmente, compreender um ao outro e às próprias criaturas. Trata-se de uma clássica reviravolta usada em Star Trek, a começar por “The Devil in the Dark”, da primeira temporada da Série Clássica, em que a mortífera Horta é revelada como apenas uma mãe tentando proteger sua prole.
De forma inteligente e bem resolvida, as demais tramas abordam temas similares. O retorno a Trill é uma oportunidade de dar algum desfecho ao “namoro à distância” entre Adira e Gray, com a percepção de ambos de que as coisas mudaram entre eles e que, apesar de permanecerem muito íntimos, seu relacionamento amoroso não se encaixa mais na vida de cada um. É o lembrete de que nem sempre o nosso esforço de conexão funciona, e aí cabe à compreensão fazer seu papel de aparar arestas e permitir que sigamos em frente.
Em contraponto, Saru e T’Rina estão cada vez mais firmes em sua conexão, com o anúncio de seu casamento, mas há um temor de que a união possa prejudicar a carreira política da presidente. Induzido por Duvin a tentar adiar a declaração pública de T’Rina, Saru mostra certa dificuldade em compreender as convicções de sua noiva. Nada que um pouco de lógica ni’variana não resolva, com T’Rina mostrando que não precisa de alguém para proteger sua carreira e que seria mais seguro e altivo revelar o relacionamento do que deixá-lo nas sombras como potencial arma política de seus rivais.
Por fim, temos Rayner, agora rebaixado a comandante (como aconteceu temporariamente com Will Decker quando o almirante Kirk assumiu o comando da Enterprise em Jornada nas Estrelas: O Filme), tendo de se conectar com a tripulação. Ele mostra que tem grande capacidade para compreendê-los, mas Tilly mostra que isso não basta – conexão e respeito precisam ser conquistados mutuamente, o que faz o ex-capitão pensar sobre como se relacionar com seus novos subordinados.
As quatro tramas são entrelaçadas ao longo do episódio de forma sensível, e o desfecho, com um discurso de Gray, dá fechamento a todas elas, unificando-as e deixando claras as intenções do roteiro.
Visualmente, a série continua agradando muito, embora as criaturas carnívoras de Trill pareçam ser um exagero, com capacidade natural de camuflagem (à moda de naves espaciais, não de camaleões, o que seria mais adequado) e até de disparar torpedos contra suas presas. A despeito da espetacularização excessiva, é mais uma boa aventura para Michael e Book, com Sonequa Martin-Green e David Ajala expondo sua química usual.
Também foi bem-vinda a quebra de ritmo, evitando que o desafio do episódio fosse mais uma vez um enfrentamento com L’ak e Moll. Dessa vez, a Discovery caminhou bem à frente dos vilões, mas não de todo – a cena final já oferece um gancho intrigante para o próximo episódio, com um “bug” plantado em Adira por Moll antes que ela retornasse à nave. A aventura continua…
Avaliação
Citações
The life of a symbiont is a journey that spans centuries. Each host it passes through changes it, and it changes each in return. The lesson this teaches us is that every life is a journey. A series of changes. We must work to understand those we encounter on our journey. We must choose to connect. Not just with others… but also, with ourselves. Sometimes we fail. Sometimes we succeed. Either way, we must keep trying. Because we have to. Because we’re all looking for meaning in our lives. And in the end, the connections we make will lead us there.”
(A vida de um simbionte é uma jornada que perdura por séculos. Cada hospedeiro pelos quais ele passa se modifica, e ele também muda. A lição que isso nos ensina é que toda vida é uma jornada. Uma série de mudanças. Precisamos trabalhar para entender os que encontramos em nossa jornada. Precisamos escolher nos conectar. Não apenas com os outros… mas também, com nós mesmos. Algumas vezes falhamos. Algumas temos sucesso. De todo modo, temos de continuar tentando. Porque precisamos. Porque todos estamos procurando significado em nossas vidas. E no fim, as conexões que fazemos vão nos levar lá.)
Gray
Trivia
- Kyle Jarrow é um escritor e músico americano que se juntou à equipe de Discovery na quarta temporada, escrevendo dois episódios: “The Examples” e “Species Ten-C”. “Jinaal” é seu terceiro roteiro para a série. Sua colega de escrita, Lauren Wilkinson, juntou-se à equipe para a quinta temporada, e este é seu primeiro episódio.
- A diretora Andi Armaganian faz deste seu segundo episódio de Discovery, depois de “Rubicon”, da quarta temporada. Antes, ela também dirigiu um segmento da primeira temporada de Strange New Worlds, “Lift Us Where Suffering Cannot Reach”.
- No Quartel-General da Frota Estelar, é possível ver uma nave USS Locherer, em homenagem ao operador de câmera J.P. Locherer, morto em 2022.
- O bar panorâmico da Discovery ganhou um nome neste episódio: “Red’s”, provavelmente uma referência ao nome do barman ferengi, que teve em “Jinaal” sua primeira fala.
- O tripulante osnullus da ponte também ganhou seu nome neste episódio: é o tenente Arav, interpretado por Avaah Blackwell.
- Descobrimos aqui que a tenente-comandante Nilsson foi redesignada para a Voyager-J. Quem revela é o tenente Christopher, que aparentemente é o dono do pingo visto caminhando pela Discovery em “Red Directive” – ele assegura que o animal foi castrado.
- O episódio revela que as pintas dos trills são tão distintivas quanto impressões digitais humanas e cristas dorsais saurianas.
- Na reunião de Saru, um dos alienígenas é um selay, espécie vista pela primeira em “Lonely Among Us”, da primeira temporada de A Nova Geração. Outro dos alienígenas é um faciano, espécie criada para Discovery.
- Segundo Tilly, Trill tem um dia de 26,5 horas e um ano de 483 dias.
- Cada trill tem seu próprio padrão de pintas, e o governo do planeta aparentemente mantém registros dos padrões, mesmo depois de 800 anos.
- O escritório de Saru no Quartel-General da Frota Estelar é cheio de plantas alienígenas, como eram seus aposentos na Discovery.
- Se a descoberta da tecnologia dos Progenitores foi descoberta durante a Guerra Dominion, como dito por Jinaal, ela só pode ter ocorrido entre 2369 (quando se passa “The Chase”, de A Nova Geração) e 2375 (quando a guerra acaba, em “What You Leave Behind”, de Deep Space Nine).
- Tilly bebe no Red’s um copo de Slug-O Cola, refrigerante ferengi introduzido em Deep Space Nine e visto na terceira temporada de Picard. A marca, portanto, se manteve ativa por quase mil anos.
- A última pista para a tecnologia dos Progenitores aponta para coordenadas no espaço Tzenkethi, uma espécie perigosa mencionada duas vezes em Deep Space Nine, mas nunca vista em tela.
- Michael adota uma posição de meditação vulcana igual à de Spock em Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan.
Ficha Técnica
Escrito por Kyle Jarrow & Lauren Wilkinson
Dirigido por Andi Armaganian
Exibido em 11 de abril de 2024
Título em português: “Jinaal”
Elenco
Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Doug Jones como Saru
Anthony Rapp como Paul Stamets
Mary Wiseman como Sylvia Tilly
Blu del Barrio como Adira Tal
Callum Keith Rennie como Rayner
Tig Notaro como Jett Reno
David Ajala como Cleveland “Book” Booker
Elenco convidado
Annabelle Wallis como Zora
Tara Rosling como T’Rina
Eve Harlow como Moll
Ian Alexander como Gray
Patrick Kwok-Choon como Gen Rhys
Orville Cummings como Christopher
David Benjamin Tomlinson como Linus
Victoria Sawal como Naya
Natalie Liconti como Gallo
Christina Dixon como Asha
Raven Dauda como Tracy Pollard
Andreas Apergis como guardião Xi
Clare Coulter como Kalzara Bix
Ingrid Rae Doucet como moderadora
Glen Michael Grant como representante
Victor Andrés Trelles Turgeon como Duvin
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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria