Episódio apresenta a “mãe” de Data e traz novas revelações sobre a família Soong
Sinopse
Data estelar: 47410.2
A Enterprise está em Atrea IV para tentar reliquefazer o núcleo do planeta, que está se resfriando. A nave recebe a bordo o geólogo Pran Tainer e sua esposa humana, Juliana Tainer. Ela pergunta a Data se ele se lembra dela e revela que foi esposa de Noonian Soong e, de certo modo, a mãe do androide.
Juliana conta histórias do trabalho de Soong na criação de androides como ele em Omicron Theta, mas Data desconfia que não é verdade. Enquanto eles implementam o plano de salvamento do planeta, que envolve a escavação de um buraco até o manto do planeta com os feisers da Enterprise e a realização de infusões de plasma, ele tenta corroborar o relato de Juliana. As informações parecem ser verdadeiras.
Em conversas posteriores, ela explica por que nunca procurou o androide antes – Juliana fora contra a sua criação, depois que várias tentativas feitas por Noonian fracassaram: três protótipos, que tinham matrizes positrônicas instáveis e não resistiram, e um androide funcional, mas terrivelmente mal, Lore. De início, ela tinha dito que Data havia sido deixado em Omicron Theta por falta de espaço no módulo de fuga; agora ela admite que foi por pressão dela que ele foi abandonado lá.
Em paralelo, os dois continuam trabalhando juntos, e Data se surpreende com a velocidade com que Juliana faz um ajuste nos feisers na engenharia. Mais tarde, ele também nota que ela pisca como um androide e toca violino com grande precisão e repetibilidade perfeita. Data procura Crusher para estudar os registros médicos de Juliana, e nada parece anormal.
Os trabalhos seguem bem, até que um dos bolsões de magma do planeta se torna instável. Pran acabou se ferindo na caverna, durante uma checagem final das unidades de infusão de plasma. A equipe terá apenas 12 horas para terminar o procedimento antes do colapso. Data e Juliana descem para concluí-lo, mas ela acaba ferida, desacordada e com um braço quebrado – Data então descobre que ela é uma androide também.
Ao examinar o cérebro positrônico de Juliana, La Forge encontra uma placa com interface holográfica. Data a ativa no holodeck e descobre que é uma versão interativa de seu criador, Noonian Soong. Ele revela que Juliana O’Donnell existiu como humana e foi casada com ele. Mas, quando ela morreu, Soong criou um androide idêntico e implantou as memórias dela – a nova Juliana jamais soube que era um androide. Soong diz que Data não deve contar a verdade a ela. Após refletir, ele decide manter o segredo, para que Juliana possa seguir vivendo como um ser humano. A Enterprise conclui sua missão e parte, mas Data promete vir visitar a mãe quando estiver de licença.
Comentários
Seguindo o tom de boa parte desta sétima temporada de tentar explorar de forma mais profunda a vida pessoal dos tripulantes da Enterprise, “Inheritance” completa o álbum de figurinhas da família de Data, introduzindo sua mãe – que acaba tendo mais em comum com ele do que se imagina.
A história é toda bem construída e o episódio evolui com um ritmo bom, a despeito de não carregar nenhum brilhantismo criativo. É mais aquele sabor de “missão de rotina a bordo”, com a diferença de que uma das envolvidas nos trabalhos é alguém que guarda forte vínculo com o androide, trazendo novos lampejos sobre a origem do personagem.
Brent Spiner, como de costume, faz um ótimo papel representando essa situação nova para Data, bem como encarnando seu criador, Noonian Soong. Mas o maior destaque vai para a atriz convidada Fionnula Flanagan, que entrega uma atuação poderosa como a emotiva Juliana. É bem verdade que por alguns momentos as coisas ficam um pouco repetitivas, com ela relembrando coisas sobre Data que ele mesmo não pode se recordar, mas aí a culpa é do roteiro (que por sinal é bem arrumadinho).
O dilema imposto a Data, por sua vez, é interessante: deve ele contar à sua mãe que ela é uma androide ou deixá-la viver a ilusão da humanidade? O resto do elenco entra na história praticamente só para expor diferentes visões a esse respeito, mas faltou ir um pouquinho mais fundo. Talvez coubesse a discussão filosófica se há ou não uma diferença entre acreditar ser humano e de fato ser. Se Juliana se sente humana, não é isso que ela é, mesmo que criada artificialmente? O episódio não mergulha nessa questão – como, décadas mais tarde, a série Picard também optaria por não discutir o assunto a fundo, mesmo convertendo Jean-Luc em um androide orgânico ao final da primeira temporada, de forma muito similar, por sinal, ao que aconteceu com Juliana.
Em termos de valores de produção, o episódio exige pouco, com o maior destaque indo para efeitos de maquiagem (quando há partes expostas do interior androide de Juliana) e filmagens em fundo azul para as poucas cenas em que Spiner contracena consigo mesmo no holodeck. A direção de Robert Scheerer faz o possível para tornar esta uma jornada emocional, embora Data em princípio não tenha sentimentos – algo que subverte a lógica dramática esperada para uma história como essa. Normalmente, um reencontro de mãe e filho após longo período afastados produziria cenas explosivas de drama humano. Com Data, há um contraste entre sua objetividade fria e as emoções quentes de Juliana, o que faz do drama algo diferente, embora não necessariamente mais cativante. No fim, temos um episódio que, a despeito de sua temperatura morna, agrega à história da estranha, mas cativante, família Soong.
Avaliação
Citações
“I programmed her to terminate after a long life. Let her live out her days and die believing she was Human. Don’t rob her of that, son… please.”
(Eu a programei para morrer após uma longa vida. Deixe-a viver seus dias e morrer acreditando que era humana. Não a prive disso, filho… por favor.)
Noonian Soong, em forma de holograma, a Data
Trivia
- A primeira versão do roteiro deste episódio data de 14 de setembro de 1993, e a final foi concluída apenas 13 dias depois, em 27 de setembro.
- Fionnula Flanagan apareceu antes em Star Trek como Enina Tandro, no episódio “Dax”, de Deep Space Nine. Ela voltaria à franquia em 2022, como V’Lar, em “Fallen Hero”, de Enterprise.
- O nome “Juliana Tainer” foi escolhido pelo escritor Dan Koeppel em homenagem a uma ciclista, Juli Furtado.
- A superfície do planeta usada neste episódio é o Golfo Pérsico, na Terra, onde se vê Bahrain, Qatar e Arábia Saudita.
- Este episódio contém referências ao passado de Data vistas em outros episódios, entre elas a entidade cristalina de “Datalore”, o conhecimento de Data dos diários dos colonos de “Silicon Avatar”, Lal de “The Offspring” e o encontro de Data com Noonian Soong em Terlina III de “Brothers”.
- Tainer revela que três androides do tipo Soong foram criados antes de Lore. Em Jornada nas Estrelas: Nêmesis conhecemos um desses protótipos, B-4.
- A pintura de Lal foi feita pela artista cênica Wendy Drapanas e pode também ser vista no filme Jornada nas Estrelas: Generations.
Embora não seja mencionado neste episódio, Ira Graves tentou transferir sua mente para o corpo de Data em “The Schizoid Man”. Graves alegou ter sido o mentor de Noonian Soong em cibernética. Isso nunca foi confirmado, mas “Inheritance” mostra que Noonian conseguiu realizar uma transferência mental para um androide ao menos uma vez. Décadas depois, em “Et in Arcadia Ego, Part 1”, de Picard, descobrimos que o irmão orgânico de Data, doutor Altan Soong, levou a ideia mais adiante, com o método Soong de produção de golems (androides orgânicos).
Ficha Técnica
História de Dan Koeppel
Roteiro de Dan Koeppel e René Echevarria
Dirigido por Robert Scheerer
Exibido em 22 de novembro de 1993
Título em português: “Herança”
Elenco
Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Elenco convidado
Fionnula Flanagan como Juliana Tainer
William Lithgow como Pran Tainer
Enquete
Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria