TNG 7×06: Phantasms

Pesadelos de Data podem ser fascinantes, mas vêm vazios de significado

Sinopse

Data estelar: 47225.7

Enquanto a Enterprise está na Base Estelar 84 para a instalação de um novo núcleo de dobra, o comandante Data tem um sonho estranho em que três trabalhadores estão destruindo um conduíte de plasma de dobra na nave. Ele os aborda, e o trio o ataca, transformando o sonho em pesadelo conforme eles desmantelam o androide.

Na partida da base, Picard está frustrado por ter de comparecer ao banquete dos almirantes da Frota Estelar na Base Estelar 219. Ele não quer ir, mas já inventou desculpas nos últimos seis anos e agora não pode mais protelar sua participação.

Na engenharia, Data segue perturbado por seu pesadelo — o primeiro desde que ativou seu programa de sonhos, nove meses antes. Geordi enfrenta problemas com o novo núcleo de dobra, que impedem a Enterprise de partir.

Troi conversa com Data e o encoraja a continuar explorando seu programa de sonhos, o que resulta em mais um pesadelo: ele está no bar panorâmico e vê Crusher tomando um líquido por um canudo preso à testa de Riker, e Worf come um bolo de peptídeos celulares que tem a forma de Troi, com a cabeça da conselheira presa a ele. Os trabalhadores também estão lá e exigem que Data fique quieto, enquanto ele emite um som agudo. Um deles entrega uma faca, e o androide sente um impulso irresistível de cortar o bolo na altura do ombro de Troi, que grita em agonia. Então Data acorda, com Troi, Worf e Geordi em seus aposentos, tentando despertá-lo — ele estava atrasado para o serviço.

Intrigado, o androide faz uma consulta com Sigmund Freud, recriado no holodeck, mas ela não é de grande utilidade. Pior: as visões de Data não se restringem mais ao sono e começam a aparecer em meio à realidade, na forma de alucinações. Ele volta a ouvir um telefone, que encontra dentro de si. Ao atender, ele ouve a voz de Freud, ordenando que ele mate a todos, antes que seja tarde.

As coisas ficam ainda piores quando, em outro momento de alucinação, Data vê uma boca surgir na nuca de Geordi. Mais tarde, ele ataca Troi no turboelevador, esfaqueando-a no ombro. Data diz ter visto uma boca surgir nele, depois de ter sido detido por Worf e Riker. Troi é levada à enfermaria, e Crusher descobre que ela tem ferimentos que não têm relação com a facada. Há degradação celular e uma assinatura interfásica. Ao usar um rastreador interfásico, ela encontra organismos presos à pele de quase todos os tripulantes, inclusive Troi.

A tripulação especula que Data de algum modo consegue perceber essas criaturas, manifestando sua existência a partir de seu subconsciente. Para explorar essa possibilidade, decidem acoplar o androide ao holodeck, para que possam ver um de seus pesadelos. Eles encontram Freud, que dizem ser a voz do inconsciente de Data, tentando alertar para o perigo que correm e informar que elas são vulneráveis a um pulso interfásico. Ao reconfigurar o cérebro positrônico de Data, é possível gerar um desses pulsos, que mata todas as criaturas — provenientes de uma contaminação proveniente de Thanatos VII e trazida a bordo de forma acidental com o novo núcleo de dobra.

Comentários

“Phantasms” é um episódio muito bem dirigido por Patrick Stewart. Mas nem toda qualidade do mundo na direção é capaz de salvar uma trama que é pobre e sem sentido, a despeito de um ponto de partida absolutamente fascinante: os sonhos de Data.

O tema já havia sido tocado em “Birthright, Part I”, da sexta temporada, em que essa capacidade então recém-descoberta do androide é tratada como uma ótima trama B para um episódio focado em Worf. “Phantasms” é quase uma sequência direta dessa linha de história, com duas diferenças cruciais: a razão para os sonhos de Data em “Birthright, Part I” era significativa para o personagem, algo que acaba não sendo aqui; em compensação, neste episódio essa trama assume absoluto protagonismo, sem outra a que possamos atribuir valor significativo (convenhamos, Picard atrasado para o banquete dos almirantes é encheção de linguiça e nada mais).

A ideia de explorar os pesadelos de Data é em princípio fantástica, e a primeira metade do episódio faz isso com algum sucesso. A introdução de Sigmund Freud, apesar do uso puramente cômico, é divertida, os sonhos e alucinações são muito bem filmados (com ângulos e lentes de campo aberto escolhidos com cuidado e inteligência pela direção) e Brent Spiner mostra seu talento usual ao retratar essa exótica ideia de um androide que sonha.

O problema é que depois a história toda se desmancha em uma trama de ficção científica abestalhada e simplória, com criaturas bizarras canibalizando a tripulação. É tão bobo, mas tão bobo, que a solução a ser implementada para salvar a todos – o tal pulso interfásico com o cérebro de Data – é feita fora de tela, e sabemos casualmente pelo diário do capitão que as criaturas foram todos mortas. A atitude casual com a destruição desses seres parece fora de sintonia com a filosofia de A Nova Geração. Em compensação, o formato da história lembra muito outro episódio desta sétima temporada, “Interface”, em que a trama começa com uma exploração psicológica do luto de Geordi e termina com uma história sci-fi sem pé nem cabeça, essencialmente esvaziando o conteúdo do episódio.

A execução foi facilitada pelo caráter de bottle show do roteiro escrito por Brannon Braga, totalmente ambientado a bordo da Enterprise. Talvez, aliás, seja essa a principal virtude do episódio: com poucos atores convidados e demandando apenas redecoração na engenharia, ele deve ter sido barato de produzir – reservando recursos para outros segmentos adiante.

Avaliação

Citações

“Sometimes a cake is just a cake.”
(Algumas vezes, um bolo é apenas um bolo.)
Deanna Troi, para Data

Trivia

  • A última versão do roteiro foi finalizada em 17 de agosto de 1993, e o episódio começou a ser filmado no dia seguinte, com as gravações se estendendo até 26 de agosto.
  • Durante a conversa com Freud, Data diz não ter mãe. Mas ele iria conhecer sua “mãe”, Juliana Tainer, esposa de Noonien Soong, apenas quatro episódios depois, em “Inheritance”.
  • O presente que D’Sora deu a Data em “In Theory” pode ser visto numa prateleira no quarto de Data.
  • O núcleo de dobra modificado seria reutilizado para representar uma Enterprise-D alternativa em “Parallels”.
  • A cabeça de Data vista nesse episódio foi criada originalmente para o episódio “Time’s Arrow”.
  • Data se refere a seu gatinho Spot como macho neste episódio. Mas em “Genesis”, ainda nesta temporada, ele “viraria” ela, uma fêmea.
  • Quando Data vai se deitar, seu traje de Sherlock Holmes de “Elementary, Dear Data” pode ser visto pendurado.
  • Este é um dos poucos episódios de Star Trek que sofreu edições para sua exibição no Reino Unido pela BBC. A cena em que Data esfaqueia Troi (e perturbou parte da audiência nos EUA) foi reduzida para cortar o exato momento do esfaqueamento.

Ficha Técnica

Escrito por Brannon Braga
Dirigido por Patrick Stewart

Exibido em 25 de outubro de 1993

Título em português: “Fantasmas”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Gina Ravarra como Tyler
Bernard Kates como Sigmund Freud
Clyde Kusatsu como Nakamura
David L. Crowley como trabalhador

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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