TNG 5×24: The Next Phase

Premissa pouco inspirada para Geordi e Ro se beneficia com intriga romulana

Sinopse

Data estelar: 45892.4

Após receber um sinal de socorro de uma nave científica romulana, Picard surpreende alguns membros da tripulação ao enviar um grupo avançado para ajudar. Os romulanos também ficam surpresos, mas aliviados por serem resgatados. Durante a missão, Geordi descobre que um dos geradores da nave precisa de substituição. Ele e Ro se preparam para voltar à Enterprise para duplicar a peça, mas algo errado acontece durante o transporte. Após se desmaterializarem da nave romulana, os dois não aparecem na Enterprise. Depois de várias tentativas de trazê-los de volta, Picard é obrigado a aceitar o fato de que seus colegas estão mortos.

Mais tarde, Ro misteriosamente aparece em um corredor próximo à enfermaria. Ela se encaminha para lá, onde Beverly Crusher está preparando seu atestado de óbito. Ela tenta dizer que está viva, mas ninguém a ouve. Ela fica em frente a todos, mas ninguém a vê. Na verdade, Picard acaba atravessando-a como se não estivesse lá. Por causa disso, Ro conclui que só pode estar mesmo morta.

A alferes acaba encontrando Geordi, que também está tendo as mesmas experiências estranhas. Embora os dois possam se ouvir, se ver e se tocar, eles parecem estar isolados do resto da nave. Ro diz a Geordi que acredita que estejam mortos e tenham retornado à nave como espíritos. Geordi, entretanto, se recusa a aceitar essa explicação e começa a pensar em como descobrir o que está havendo.

Data fica encarregado da dupla tarefa de planejar o funeral de seus colegas e investigar a causa de suas mortes. Geordi está presente quando o androide especula que o acidente pode ter tido algo a ver com o que ocorreu a bordo da nave romulana. Ele e Worf retornam ao veículo alienígena, usando uma nave auxiliar, para investigar, e os invisíveis Geordi e Ro pegam uma carona com eles.

Uma vez na nave, os romulanos agem de forma muito pouco cooperativa quando Data pede para tirar leituras da engenharia. Entretanto, eles falam livremente uma vez que o androide deixa a sala, não sabendo que Geordi e Ro podem ouvir tudo que dizem. O par invisível logo descobre que os romulanos estão testando uma nova tecnologia de camuflagem que funciona fazendo com que a matéria saia de fase, tornando-a invisível. Assim, eles percebem que não estão mortos – apenas acidentalmente camuflados.

Infelizmente, a dupla precisa conseguir um meio de se descamuflar antes que a Enterprise deixe a área, ou realmente acabarão mortos. Geordi descobre um modo de voltar à Enterprise, e Data nota um alto nível de campos crôniton na nave. Geordi percebe que são ele e Ro quem criam esses campos, ao entrar em contato com objetos pela nave. Eles tentam amplificar esse efeito quando Data ordena a descontaminação com ânions, partículas que agem tornando-os parcialmente visíveis. Eles percebem que precisam criar o maior número possível de campos de crôniton  para que Data ordene uma descontaminação capaz de fazê-los reaparecer.

A dupla conduz o plano durante o funeral, que mais parece uma animada festa. Eles criam um número enorme de campos de crôniton ao causar a sobrecarga de um disruptor romulano que também estava camuflado. Data usa uma grande quantidade de ânions para dissipar os campos, mas, quando faz isso, a imagem dos dois desaparecidos volta a emergir – apenas por um breve momento.

Por sorte, Data e Picard conseguem vê-los e descobrem o que aconteceu. Eles inundam a sala com as partículas de ânions e Geordi e Ro se rematerializam, transformando o funeral em uma verdadeira celebração de suas vidas.

Comentários

O roteirista Ronald D. Moore e high-concepts (premissas que podem ser resumidas em uma frase) realmente não se bicam – a especialidade, nesse caso, é de seu colega de A Nova Geração Brannon Braga. “The Next Phase” representa exatamente isto – um escritor desenvolvendo uma história em uma praia que não é a dele.

O resultado é um episódio que, ainda que capaz de entreter, não pode ser considerado primoroso por nenhum aspecto. A premissa básica, algo como “o que seria da Enterprise se dois de seus tripulantes achassem que haviam morrido e ficassem vagando pela nave?”, está muito mais para uma história de terror do que de ficção científica. Em alguns casos, os gêneros são intercambiáveis. Aqui, força um pouco a amizade com o espectador.

Por mais que haja a tentativa de dar uma roupagem científica ao fenômeno, não funciona. Não acha? Então explique por que Geordi e Ro podem atravessar paredes, mas não afundam no chão, que é feito do mesmo material. Ou ainda diga como eles faziam para respirar, se seu isolamento do mundo material deveria incluir todas as moléculas, inclusive as que compunham o ar. São questões simplesmente insolúveis, e que incomodam o telespectador mais exigente porque não aparecem apenas por um momento, mas permeiam toda a história. Em outras palavras, há uma exigência muito grande de suspensão da descrença. Simplesmente não funciona.

Outro problema é que os personagens não são postos para um grande propósito aqui. Se formos pensar bem, este é um episódio em que os protagonistas estão proibidos de interagir com os outros personagens! Geordi e Ro são utilizados aqui de forma coerente e competente, mas nada profunda. E, por incrível que pareça, a alferes, que é recorrente na série, é posta para melhor uso, ao questionar seus valores religiosos, do que o engenheiro-chefe da nave, que é regular! Pobre Geordi!

Pelo menos há algumas coisas também a elogiar, e esses fatores trazem bom entretenimento e, em certa medida, compensam os defeitos já apontados. Uma delas se resume em uma palavra: romulanos. Os ardilosos alienígenas de orelhas pontudas sempre são uma grata visão em Jornada nas Estrelas, e aqui não é diferente. Do ponto de vista da trama romulana, o enredo é bem desenvolvido – justamente por ser o ponto forte dos roteiros de Ron Moore.

É estranho ver romulanos e federados trabalhando tão bem no início do episódio, e existe uma sensação na audiência de que “algo está muito errado com tudo isso”. Antes que os telespectadores possam pensar que há uma tremenda descaracterização dos vilões, descobrimos suas verdadeiras intenções. É um verdadeiro alívio ouvir o romulano contar que pretende que a Enterprise voe pelos ares ao entrar em dobra.

Também é legal, apesar de trazer à tona todos aqueles problemas técnico-científicos da premissa, a perseguição entre o romulano e Geordi e Ro, concluída com uma gélida morte para o malvadão no frio do espaço.

Por fim, o relacionamento entre Data e Geordi mais uma vez traz uma dose de emoção para os fãs de coração mais mole. Embora eles não troquem um abraço após o engenheiro retornar “à vida”, é como se o fizessem – o que deixa a cena ainda mais tocante.

A “volta” de Geordi e Ro também parece um tipo de homenagem à Série Clássica – o que não seria nada surpreendente, sabendo que o roteirista é Ron Moore. A aparição dos dois diante de Picard e Data lembra as sequências em que Kirk, também supostamente morto, aparece brevemente diante de seus colegas da Enterprise, no clássico “The Tholian Web”.

No fim das contas, “The Next Phase” é um episódio mediano, que compensa com o carisma de seus antagonistas e com momentos isolados as falhas inerentes à premissa. Trocando em miúdos, dá para o gasto.

Avaliação

Citações

“I never knew what a friend was until I met Geordi. He spoke to me as though I were human. He treated me no differently from anyone else. He accepted me for what I am. And that, I have learned, is friendship.”
(Nunca soube o que era um amigo até conhecer Geordi. Ele falava comigo como se eu fosse humano. Ele não me tratava diferentemente de ninguém. Ele me aceitava pelo que eu sou. E isso, eu aprendi, é amizade.)
Data

Trivia

  • A história do episódio emergiu de duas premissas de freelancers que foram compradas pela produção e então combinadas em uma nova. Michael Piller de início hesitou com o uso dos romulanos, por sentir que a série os estava superutilizando.
  • Originalmente, a trama envolveria Troi, em vez de Ro. Brannon Braga lembrou assim: “Troi já tinha bastante para correr e pular neste ano. Sentimos, por que não dar algo a Ro? E fiquei feliz que foi assim, porque ela chuta um romulano no peito e manda um chute digno de Bruce Lee. Ela é algum tipo de acrobata. Aquela cena, na minha opinião, vale o episódio todo.”
  • Ronald D. Moore comentou: “Estávamos sempre procurando meios de incluir Ro em nossos roteiros. Ela era alguém com quem você podia contar para trazer faíscas em qualquer cena e promover conflito com os outros personagens. Esse é o tipo de coisa que um roteirista está sempre procurando.”
  • Originalmente pensado como um bottle show para economizar dinheiro, este acabou sendo um dos mais caros da temporada, em razão dos efeitos visuais exigidos.
  • Um dos que sofreram mais foi o diretor David Carson. “Foi um episódio dificílimo de fazer, porque lidava com efeitos visuais de um tipo com que as pessoas já estavam familiarizadas por Ghost, que Star Trek nunca havia tentado antes. Foi um dos episódios tecnicamente mais difíceis que já fizeram apenas pela natureza de ter pessoas atravessando outras pessoas e um ambiente em que pessoas existem em fases diferentes.”
  • O bom trabalho valeu bem ao diretor, que acabou sendo chamado a comandar a primeira aventura de A Nova Geração nos cinemas, Jornada nas Estrelas: Generations.
  • Rick Berman complementou: “Foi muito difícil filmar em fundo azul com pessoas colocando suas mãos através de consoles e paredes. Parecia relativamente fácil no papel, mas exigiu muito tempo para fazer os efeitos visuais funcionarem.”
  • Michelle Forbes e LeVar Burton passaram dois longos dias filmando só as sequências de fundo azul exigidas, com muitas tomadas.
  • A primeira música de jazz que toca no funeral é “Down by the Riverside”. A segunda é “When the Saints Go Marching In”.
  • O experimento dos romulanos com uma camuflagem de interfase lembra tecnologia similar empregada na USS Pegasus, conforme revelado no episódio “The Pegasus”, da sétima temporada.
  • Não há diário de bordo que dê a data estelar, mas ela é listada no certificado de óbito de Ro.
  • Ron Moore gostou do resultado. “O episódio foi divertido. Realmente curti o aspecto de história de fantasmas dele. Sabe: ir ao seu próprio funeral, andar em meio à Enterprise com as pessoas lamentando sua perda, ver Riker tocar trombone na sua despedida.”
  • Rick Berman também gostou, mas lamentou o título. “Odeio o título, mas fiquei bem satisfeito com o episódio. É uma maravilhosa história de high-concept. A história realmente avança e há grande mística romulana e algumas coisas maravilhosas com pessoas correndo pelas paredes, e a audiência pode ver duas realidades diferentes. É uma grande peça de ficção científica.”
  • David Carson ficou satisfeito. “Achei que a história funcionou bem, e ele acabou se saindo bem legal.”
  • O episódio recebeu uma indicação ao Emmy de melhor mixagem de som para série dramática.
  • Perceba o erro de Picard quando se refere ao incidente envolvendo Ro Laren no planeta Garon IV. Na verdade, o incidente ocorreu em Garon II, como foi dito em “Ensign Ro” e “Conundrum”.
  • Susanna Thompson, que neste episódio interpreta a personagem Varel, ficou mais conhecida entre os fãs por ter interpretado posteriormente a Rainha Borg nos episódios “Dark Frontier” e “Unimatrix Zero”, de Voyager. No filme Primeiro Contato e na conclusão de Voyager, “Endgame”, a vilã foi interpretada por Alice Krige. E uma nova versão da personagem foi vista na segunda temporada de Picard, interpretada por Annie Wersching. SusannaThompson também interpreta Lenara Kahn no episódio “Rejoined”, de Deep Space Nine, em que beija Jadzia Dax.
    Thomas Kopache fez sua primeira aparição em Star Trek neste episódio, como o romulano Mirok. Mais tarde, em “Emergence”, ele faria um engenheiro; no filme Generations, um oficial de comunicações; em “The Thaw”, de Voyager, Viorsa; e em dois episódios de Deep Space Nine ele viveu o pai de Kira Nerys, Kira Taban. A última aparição dele foi no piloto “Broken Bow”, de Enterprise, como o vulcano Tos.

Ficha Técnica

Escrito por Ronald D. Moore
Dirigido por David Carson

Exibido em 18 de maio de 1992

Título em português: “A Próxima Fase”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crushe

Elenco convidado

Michelle Forbes como Ro Laren
Thomas Kopache como Mirok
Susanna Thompson como Varel
Shelby Leverington como Brossmer
Brian Cousins como Parem
Kenneth Meseroll como McDowell

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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