TNG 5×08: Unification II

Enredo permite desenvolvimento para Spock e examina sociedade romulana

Sinopse

Data estelar: 45245.8

Picard e Data encontram Spock em Romulus. O vulcano inicialmente é pouco cooperativo quando o capitão o questiona sobre detalhes de sua missão. Entretanto a tensão é reduzida quando Picard partilha a triste notícia da morte de Sarek e tenta cumprir o último pedido do amigo ao revelar seu amor pelo filho. Spock então conta a Picard que o propósito de sua missão é reunificar os romulanos com os vulcanos. A revelação assusta Picard, que não acredita nas intenções do governo romulano. Data volta à nave klingon que os trouxe a Romulus e tenta acessar a rede de computadores romulana.

Na Enterprise, Riker continua a investigar o roubo da nave vulcana. Ele faz contato com Amarie, a ex-mulher do traficante que comandava a nave destruída pela Enterprise no depósito de Galor II. Enquanto isso, o senador Pardek leva Spock para conversar com Neral, o procônsul romulano, que diz apoiar a reunificação.

Porém, depois que Spock deixa o recinto, a comandante Sela aparece no escritório do político. Mais tarde, Picard diz a Spock que não acredita que Neral tenha oferecido seu apoio tão rapidamente, indo contra os tradicionalistas romulanos. Spock também se mostra cético, mas decide que é do melhor interesse da missão que ele continue com seu plano, para descobrir se os romulanos têm ou não uma agenda oculta.

Na nave klingon, o vulcano oferece a Data sua ajuda para acessar o sistema romulano. Longe dali, Amarie revela a Riker o sócio de seu marido morto, um traficante de armas ferengi chamado Omag. Após ser ameaçado pelo comandante, Omag revela que a nave vulcana foi levada para Galorndon Core, perto da Zona Neutra – o que aponta para um possível envolvimento romulano.

Riker imediatamente conta a Picard as notícias, e os dois se perguntam como a nave vulcana roubada se encaixa no cenário. O capitão ordena a Riker que permaneça investigando, indo a Galorndon Core. Enquanto isso, Data finalmente consegue acesso ao sistema romulano, e ele e Picard voltam à superfície para informar Spock de suas descobertas.

Eles são emboscados nas cavernas e Spock conclui que Pardek e Neral os traíram, um fato que fica ainda mais claro quando Sela aparece e leva o grupo como prisioneiro, informando que os planos romulanos não são sobre reunificação, mas sim sobre a conquista de Vulcano.

Na Enterprise, Riker estranha quando não consegue fazer contato com Picard. Em Romulus, Sela revela seu plano de forçar Spock a fazer um discurso, em que ele anunciaria a chegada das naves vulcanas roubadas. As naves, disfarçadas como portadoras de um enviado de paz romulano, estão na verdade ocupadas por tropas de ataque enviadas para dominar Vulcano.

Quando Spock se recusa a cooperar, Sela mostra uma imagem holográfica do vulcano que será usada no lugar dele para o discurso. Quando Sela deixa a sala, Data usa o terminal para recriar no local falsas paredes holográficas, dando a impressão de que eles teriam fugido. Eles também enviam uma mensagem subespacial, narrada por Spock, sobre a real intenção das naves vulcanas. Os três escapam, após renderem Sela e um par de soldados, mas Spock decide permanecer em Romulus para continuar trabalhando pela reunificação. As três naves vulcanas são destruídas por uma ave de guerra romulana, para evitar a captura de seus soldados.

Comentários

A conclusão de “Unification” é tão redonda que parece até ter sido escrita por um frio e calculista romulano. Felizmente, o que não falta é calor humano nessa bonita história que traz à tona tanto um dos mais fascinantes elementos históricos de Star Trek – a cisão entre romulanos e vulcanos – e um dos mais envolventes relacionamentos familiares da série – entre Spock e seu pai, Sarek.

Se na primeira parte, Patrick Stewart fez uma bela dobradinha com Mark Lenard para mostrar o relacionamento entre Picard e Sarek, o mesmo efeito aqui é obtido com o mesmo Stewart e Leonard Nimoy. A interação entre o capitão da Enterprise e Spock é, para parafrasear o vulcano, fascinante.

As discussões que os dois compartilham soam reais e compatíveis com o histórico de ambos. Spock, agora já maduro e em paz com seu lado humano, é obrigado a enfrentar a morte de seu pai, claramente tentando esconder (sem sucesso) sua perturbação com o evento. Picard, por outro lado, tenta convencer o vulcano de que os tempos de “diplomacia de caubói” já foram, e que há métodos melhores para buscar a reunificação do que abandonar a Federação e partir para uma missão secreta no coração de seu inimigo.

Durante esses diálogos, não faltam referências históricas ao passado de Jornada. Mais notável é a menção de um “outro capitão da Enterprise” e do “pequeno papel” que Spock teve nas conversações de paz com os klingons. A referência é ao filme Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida, lançado à mesma época do episódio. A ideia, compartilhada por Leonard Nimoy (produtor executivo do filme) e Rick Berman (produtor executivo de A Nova Geração), era um usar o terreno do outro para fazer uma promoção cruzada dos dois. E ninguém pode dizer que isso não foi feito de forma genial. E genuína.

O diálogo travado por Spock e Data na nave klingon também serve a um propósito muito nobre – mostrar que os dois personagens, apesar de terem função similar em suas respectivas séries, não são a cópia carbono um do outro. Em poucas linhas, fica muito claro que eles na verdade correm em sentidos opostos. Além de ser uma troca interessante, que mais uma vez mostra Spock em paz consigo mesmo e com suas emoções, ela também traz paz (entre os fãs) para o androide, perseguido pelo fantasma do vulcano desde o início de A Nova Geração. (A começar por McCoy, que sente falta de suas orelhas pontudas no piloto “Encounter at Farpoint”.)

A turma da Enterprise cumpre seu papel, sem mais destaques. A ação toda está mesmo em Romulus, e a magia que nasceu do encontro de gerações é inegável. Desde Spock mostrando seu lado humano ao dizer que não tem remorsos, até Data derrubar Sela com uma legítima pinça neural vulcana, tudo funciona perfeitamente.

Além de trazer fechamento para alguns personagens, e refletir uma grande aventura, “Unification” é a primeira boa olhada na sociedade romulana. Percebemos do episódio que se trata de um ambiente completamente autoritário, uma falsa democracia (com um senado pouco afeito às vozes do povo), em que as minorias não têm voz ou livre expressão. Por outro lado, vemos que essas minorias ainda são muito fracas e pouco coordenadas para ganhar algum apoio no cenário político local. Os tradicionalistas ainda estão muito na frente.

A paranoia sobre o poder do Estado e o permanente estado de sítio vigente é clara. Na primeira parte, vemos o medo da dona do bar em que Picard e Data tomam uma sopa, temerosa de que os dois fossem agentes do governo disfarçados.

A história, porém, ainda deixa algumas lacunas a serem preenchidas. Spock permanece na luta pela reunificação. Será que ele vai conseguir? Quando? As perguntas foram finalmente respondidas em “Unification III”, de Discovery, ambientado no século 32, mais de 800 anos depois.

Análises à parte, o que fala mais alto em “Unification” é o coração. A cena final do episódio, em que Spock e Picard compartilham um elo mental, e o vulcano chora ao finalmente poder tocar (ao menos em parte) a mente de seu falecido pai, é simplesmente sensacional. Vale pelo episódio. Um clássico inesquecível, cortesia de Rick Berman, Michael Piller e Leonard Nimoy.

Avaliação

Citações

“As you examine your life, do you find you have missed your Humanity?”
“I have no regrets.”
“‘No regrets.’ That is a Human expression.”
“Yes. Fascinating.”
(Ao examinar sua vida, você sente ter perdido sua humanidade?)
(Não tenho arrependimentos.)
(‘Não tenho arrependimentos.’ É uma expressão humana.)
(Sim. Fascinante.)
Data e Spock

“In your own way, you are as stubborn as another captain of the Enterprise I once knew.”
“Then I am in good company, sir.”
(De seu próprio modo, o senhor é tão teimoso quanto outro capitão da Enterprise que eu conheci.)
(Então estou em boa companhia, senhor.)
Spock e Picard

Trivia

  • Criado para servir como uma promoção cruzada para Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida, este episódio duplo foi produzido depois da fotografia principal do filme, mas lançado um mês antes. Acaba que os comentários de Spock sobre seu papel na paz com os klingons serviram aqui como um teaser para o filme.
  • Michael Piller relembrou assim o trabalho: “Eu quis contar uma história sobre a maturidade de um dos grandes personagens do drama. O que acontece a um Spock nos 85 anos entre então e agora? Como a lógica e a emoção tiveram um papel em sua vida? Qual é o crescimento do homem além da lógica? Como foi o conflito entre ele e seu pai e a morte e passagem de gerações? Achei que eram elementos significativos para explorar o homem. (…) Senti que o episódio seria carregado pelo conflito entre Spock e Picard, com Picard ironicamente representando o pai através do elo mental. De fato, era Picard quem representava a filosofia original de Star Trek e Spock quem se movia para o futuro, então, quando os dois se juntaram, foi meio que uma reversão.”
  • Ronald D. Moore, fã apaixonado da Série Clássica, deu vários pitacos que ajudaram Piller a compreender melhor Spock e os vulcanos durante a sessão de “quebra” dos elementos deste episódio.
  • Assim como nas duas partes de “Redemption”, em “Unification” também não há a palavra “Part” nos títulos.
  • A exemplo do episódio anterior, este também abriu com uma dedicatória a Gene Roddenberry, então recém-falecido.
  • Leonard Nimoy queria que seu filho, Adam, dirigisse o segmento, mas acabou não dando certo, e Cliff Bole foi chamado, fora da rotação usual, para o trabalho. Mas Adam Nimoy acabaria dirigindo mais tarde dois episódios de A Nova Geração: “Rascals” e “Timescape”.
  • O episódio foi filmado entre 9 e 18 de setembro, nos galpões 5, 8, 9 e 16 da Paramount. Isso foi antes da filmagem da primeira parte, para acomodar a agenda de Leonard Nimoy.
  • Por um breve momento, um reflexo do operador de microfone Bill Gocke foi captado pela câmera, como um reflexo na pirâmide de vidro da mesa de Neral. Mas o erro foi apagado digitalmente na versão em alta definição do episódio.
  • A música que Riker começa a tocar no bar é “Freddie Freeloader”, de Miles Davis, lançada originalmente em 1959.
  • Leonard Nimoy classificou a experiência de gravação como “frenética, mas apreciável”, um lembrete de seus tempos de Série Clássica, já que gravação de episódios de TV avança em ritmo muito mais agressivo que um filme de cinema.
  • Neral voltaria a ser mencionado em “In the Pale Moonlight”, de Deep Space Nine, como pretor romulano. Mais tarde, ele seria interpretado por Hal Landon Jr., no episódio “Inter Arma Enim Silent Leges”.
  • Galorndon Core foi visitado em “The Enemy”, da terceira temporada.
  • Esta é a última aparição de Sela, vivida por Denise Crosby.
  • As naves vulcanas que aparecem aqui foram contruídas por Greg Jein, e o design é de Rick Sternbach. É a primeira vez que naves desse tipo aparecem em A Nova Geração.
  • Michael Piller discordou da crítica sobre o plano de Sela de invadir Vulcano com três naves. “Esse é o único modo que poderia ser feito, com um cavalo de Troia. Você não poderia lançar um ataque total.”
  • O showrunner, contudo, admitiu insatisfação com seu próprio roteiro. “Quando olhei para a segunda hora de ‘Unification’, que sempre vou considerar um estudo de personagem de Spock, percebi que era (…) muita falação e nada acontece. Fiquei muito infeliz com isso.” Se pudesse refazer o episódio, Piller o teria levado a uma direção diferente. “Eu teria feito um mistério de ficção científica com coisas estranhas e envolveria Spock de algum modo. Foi triste que escolhemos fazer outra história política tão próxima do material que havíamos acabado de fazer com o Império Klingon.”
  • Cliff Bole também teve algumas reservas. “Devíamos ter saído. Devíamos ter colocado algum ar naquele episódio. Não deveríamos ter ficado numa caverna por tanto tempo, devíamos ter saído e tido mais ação.”
  • Leonard Nimoy imaginou que a trama ensejaria futura continuação. “Por um tempo, por um momento no tempo, pensei que talvez eu recebesse uma ligação dizendo, ‘sabe, queremos pegar aquele fio da história’. Nunca ouvi nada deles e não os procurei.” Mas seus instintos não estavam totalmente incorretos. Quase três décadas depois, uma espécie de continuação seria produzida: “Unification III”, em Discovery.
  • Este episódio recebeu uma indicação ao Emmy por sua direção de arte.

Ficha Técnica

História de Rick Berman & Michael Piller
Roteiro de Michael Piller
Dirigido por Cliff Bole

Exibido em 11 de novembro de 1991

Título em português: “Unificação II”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Leonard Nimoy como Spock
Stephen Root como K’Vada
Malachi Throne como Pardek
Norman Large como Neral
Daniel Roebuck como civil romulano
William Bastiani como Omag
Susan Fallender como mulher romulana
Denise Crosby como Sela
Vidal Peterson como D’Tan
Harriet Leider como Amarie

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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