História incrivelmente elaborada prepara o terreno para a aparição de Spock
Sinopse
Data estelar: 45236.4
O capitão Picard fica preocupado ao saber que o lendário embaixador vulcano Spock partiu em uma missão não autorizada ao planeta Romulus, capital do Império Romulano. Ele imediatamente viaja até Vulcano para conversar com Sarek, o pai de Spock. Sarek e Picard ficaram muito próximos há pouco mais de um ano, quando fizeram um elo mental.
A esposa de Sarek, Perrin, conta a Picard que a condição de seu marido é muito grave e confidencia detalhes da relação conflituosa entre Spock e seu pai. Apesar da doença de Sarek, Picard consegue conversar com ele. O vulcano conta ao capitão que seu filho pode ter ido até Romulus conversar com Pardek, um senador romulano que Spock conheceu durante a conferência de Khitomer.
Picard diz que irá atrás de Spock, e Sarek, em seu leito de morte, pede que o capitão transmita seu amor ao filho. Enquanto isso, na Enterprise, Riker e Geordi inspecionam diversos fragmentos metálicos, identificados como de origem vulcana, recuperados de uma nave ferengi acidentada. Quando os vulcanos revelam não saber nada a respeito, Riker e Geordi presumem que os ferengis tenham roubado os fragmentos.
Voltando à Enterprise, Picard pede a ajuda dos klingons na esperança de obter uma nave equipada com camuflagem para a viagem até Romulus. Após vários dias, Picard finalmente consegue transmitir seu pedido a Gowron, que fornece a nave. Enquanto isso, Picard e Data conseguem confirmar que Spock realmente está em contato com Pardek, um senador que há décadas advoga a paz e supostamente defende a reunificação entre romulanos e vulcanos.
Disfarçados como romulanos, Picard e Data embarcam na nave klingon rumo a Romulus. Simultaneamente, a Enterprise chega a um ferro-velho espacial, em Qualor II, de onde os pedaços da nave vulcana teriam sido roubados.
Durante uma difícil noite a bordo da nave klingon, Picard é informado de que Sarek morreu. Na Enterprise as coisas também não estão fáceis. Durante a investigação no ferro-velho, Riker encontra uma nave responsável pelo contrabando, mas ela se recusa a prestar qualquer esclarecimento e acaba destruída após entrar em confronto com a Enterprise.
Picard e Data descem ao planeta e partem à procura de Pardek, mas, quando estão para encontrá-lo, são levados por guardas romulanos. Os oficiais os conduzem por um conjunto de cavernas, onde é revelado que eles não foram capturados pelo governo romulano, mas por uma facção rebelde liderada por Pardek. Enquanto Picard revela sua missão, Spock aparece diante de seus olhos.
Continua…
Comentários
A primeira parte de “Unification” é brilhante, e só será superada pela segunda parte porque a primeira metade só foi escrita como um enorme “setup” para a segunda metade, a que Spock realmente terá um papel preponderante.
É incrível como o roteiro é trabalhado em todos os níveis, e a história assume grande realismo. Pé no chão mesmo. São encontradas citações a eventos ocorridos em diversos episódios, num relativamente raro (e cada vez mais desejável) uso de continuidade na série. Nessa primeira parte, entram na dança os fatos vistos em “Redemption”, durante a guerra civil klingon, e “Sarek”, duas temporadas atrás, que marcou a primeira aparição do pai de Spock em A Nova Geração.
Todas essas menções deixam o episódio mais complexo, é verdade, mas também fazem dele muito mais saboroso. Definitivamente, é um roteiro para presentear os fãs – e funciona muito bem.
O equilíbrio entre humor e drama é perfeito. Data e Picard na nave klingon e o recadinho do capitão para Gowron são momentos maravilhosos no lado sarcástico. Em termos de drama, a cena entre Picard e Sarek é o ponto alto do episódio, e possivelmente um dos momentos mais tocantes da série. Sarek, prestes a morrer, declara seu amor por Spock, apesar das desavenças entre os dois.
A atuação de Mark Lenard (cuja saúde já estava de fato debilitada pelo câncer que mataria o ator algum tempo depois) é fenomenal. A dificuldade de Sarek para fazer o tradicional cumprimento vulcano e as palavras desconexas misturadas aos momentos de lucidez mostram a incrível capacidade deste ator. Patrick Stewart também consegue se envolver com a sequência, tornando a cena ainda mais bonita.
A trama como um todo também é perfeita. Somos conduzidos ao longo dos primeiros 45 minutos em uma “busca por Spock”. Quando o encontramos, ao final do episódio, já temos a certeza de que a conclusão promete. É incrível como, apesar de Leonard Nimoy aparecer nesta primeira parte apenas em uma imagem congelada no prólogo e na última cena, a história já é toda de Spock. Passamos quase o tempo todo ouvindo falar do célebre vulcano. Não poderia haver preparação mais bem feita para a aparição do personagem em A Nova Geração.
Por enquanto, as cartas estão na mesa, em duas histórias aparentemente desconectadas – uma a bordo da Enterprise e outra em Romulus. Na segunda parte, teremos o fechamento dos dois enredos, e o afunilamento das duas tramas em um contexto mais amplo é muito bem executado.
Sem dúvida, “Unification I” é um dos episódios que melhor exploram as relações políticas entre as diferentes “nações” de Jornada nas Estrelas. Uma obra-prima.
Avaliação
Citações
“The man is dying. And it’s my honor to tell him that his son may have betrayed the Federation.”
(O homem está morrendo. E é minha honra contar a ele que seu filho pode ter traído a Federação.)
Picard, contemplando seu encontro com Sarek para falar de Spock em Romulus
Trivia
- A ideia para “Unification” nasceu com Frank Mancuso, chairman da Paramount Pictures, durante o planejamento inicial de Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida. Notando que 1991 marcaria o 25º aniversário de Star Trek, Mancuso propôs a Leonard Nimoy que o filme e A Nova Geração trabalhassem juntos para promover a data. Então, Rick Berman, produtor executivo de A Nova Geração, se encontrou com Nimoy e Nicholas Meyer. Por conta disso, a dupla incluiu várias referências à série no roteiro do filme. Em contrapartida, Nimoy concordou em aparecer em A Nova Geração. Berman relembrou: “Estruturamos um acordo com ele: ele recebeu muito pouco, um pouco mais do que o piso [salarial do sindicato dos atores]. Mas com Leonard como produtor executivo de Jornada VI, o que você tinha em essência era uma promoção cruzada. Fez todo mundo feliz.”
- Esta não foi a primeira vez que se aventou uma participação de Nimoy na série. Antes da greve que afetou A Nova Geração em sua segunda temporada, em 1988, houve propostas para que ele aparecesse em um episódio, a ser escrito por Tracy Tormé.
- Nimoy explicou assim sua decisão de aparecer na série: “Eu pensei que se pudéssemos fazer um episódio de A Nova Geração que sugerisse o início de um crossover entre a Série Clássica e A Nova Geração através do personagem de Spock e da história pregressa do personagem Spock, seria útil para ambas. Eu pensei que seria interessante os fãs verem a conexão entre as duas histórias. Parecia fazer sentido para mim aparecer naquele momento.”
- Coube a Rick Berman e Michael Piller cozinhar ideias de como trazer Spock à série. De acordo com Berman, Nimoy não gostou da primeira sugestão que foi mostrada a ele. Foi durante as discussões com Nimoy que Berman e Piller tiveram a ideia da reunificação vulcano-romulana. Berman relembrou assim: “Acho que o ajuste tinha a ver com a ideia de que a unificação das sociedades vulcana e romulana era algo que Spock havia percebido que estava acontecendo e vinha acontecendo há séculos, que tinha de ser nutrida — a ideia de ele ficar para trás para continuar esse processo e que os romulanos de fato, sem saber, estavam passando pela mesma metamorfose inicial evolutiva que os vulcanos tiveram muitos séculos atrás. Tornou-se um episódio que lidou mais com elementos de paz do que de guerra, e Leonard tinha opiniões fortes sobre isso. Mexemos aqui e ali baseados nos comentários de Leonard e, principalmente, nos nossos.”
- Se Jornada VI foi inspirado pelo acidente de Chernobyl e o colapso da União Soviética, “Unification” foi baseado na reunificação da Alemanha, outro evento contemporâneo.
- Para Michael Piller, o título tinha significado duplo: “Realmente estávamos contando a história da unificação da Série Clássica com A Nova Geração, simbolicamente fechando o espaço que sempre houve na cabeça dos fãs, ainda que de mais ninguém, entre as duas séries.” Rick Berman pensava o mesmo: “É uma validação da nossa série pela Série Clássica. Houve muita conversa sobre as duas séries num sentido competitivo. Essa é uma união, uma junção das duas. E isso é muito positivo para os fãs.”
- Após fechar a história, os produtores determinaram que seria muito caro produzi-la como um episódio só. Decidiram então quebrar em duas partes, com Spock aparecendo apenas ao final da primeira parte.
- Piller queria escrever as duas partes, mas acabou se tornando impraticável, e ele passou o roteiro da primeira parte a Jeri Taylor. Ela também passou por apuros, pois escreveu simultaneamente a novelização do episódio duplo para a Pocket Books. O livro precisou ser escrito em 30 dias!
- Embora não tenha sido o primeiro episódio a ser exibido após a morte de Gene Roddenberry (foi o segundo), “Unification” foi dedicado ao criador de Star Trek.
- Por conta da agenda de Leonard Nimoy, as filmagens de “Unification I” foram feitas majoritariamente após “Unification II”, embora, claro, várias cenas tenham sido gravadas durante a filmagem da segunda parte. A fotografia principal foi entre 19 e 26 de setembro de 1991, nos galpões 8, 9 e 16 da Paramount. Cenas gravadas antes, junto com a segunda parte, incluíram várias passagens nas cavernas (galpão 16, dias 11 e 13) e na ave de rapina klingon (galpão 5, dia 16).
- O ator Mark Lenard só descobriu que seu personagem, Sarek, havia morrido ao ver o episódio em uma convenção. “Eles haviam me enviado parte do roteiro, eu li e pensei: ‘Bem, estou em apenas uma cena, mas é uma boa cena – um pouco como Rei Lear.’ Então eu topei.” Ele ficou chateado com a morte do personagem fora de tela.
- Além do retorno de Lenard e Nimoy, como Sarek e Spock, este episódio também trouxe outro ator da Série Clássica: Malachi Throne, aqui como o senador Pardek, já foi a voz do líder talosiano em “The Cage” e o comodoro José Mendez, em “The Menagerie”.
- Originalmente, Fran Bennett retornaria como a almirante Shanthi para as cenas de abertura. Por razões desconhecidas, ela foi substituída por Karen Hensel, como a almirante Brackett.
- Picard diz aqui que encontrou Spock apenas uma vez antes, o que bate com o que dissera em “Sarek”, que havia estado presente no casamento do filho de Sarek.
- Este foi o primeiro episódio produzido a visitar Romulus (sem contar a recriação holográfica do vale de Chula, mostrada em “The Defector”).
- As duas partes de “Unification” tiveram a maior audiência de A Nova Geração após a estreia da série, “Encounter at Farpoint”.
- Tanto Rick Berman quanto Michael Piller acabaram achando que a primeira parte do episódio funcionou melhor que a segunda, a despeito da ausência de Spock. Já Jonathan Frakes pensou o contrário, classificando como uma “trapaça” prometer o personagem na primeira parte e praticamente não trazê-lo.
- O episódio foi indicado a um Emmy por sua trilha sonora, cortesia de Dennis McCarthy.
Ficha Técnica
História de Rick Berman & Michael Piller
Roteiro de Jeri Taylor
Dirigido por Les Landau
Exibido em 4 de novembro de 1991
Título em português: “Unificação I”
Elenco
Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Elenco convidado
Leonard Nimoy como Spock
Joanna Miles como Perrin
Stephen Root como K’Vada
Graham Jarvis como Klim Dokachin
Malachi Throne como Pardek
Norman Large como Neral
Daniel Roebuck como civil romulano
Erick Avari como B’iJik
Karen Hensel como Brackett
Mark Lenard como Sarek
Mimi Cozzens como mulher da sopa
Majel Barrett como voz do computador
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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria