DS9 1×10: The Nagus

História ferengi realiza com sucesso uma sátira do crime organizado

Sinopse

Data estelar: Desconhecida

O grande nagus Zek, líder da Aliança Ferengi, chega à estação para supervisionar a introdução da presença comercial ferengi no Quadrante Gama.

Aproveitando a visita, Zek anuncia Quark como seu sucessor.

Durante o desenrolar da trama, ocorre também uma história secundária sobre amizades entre pessoas de culturas distintas, enfocando a relação de Jake e Nog.

Comentários

É curioso lembrarmos neste ano de São Roddenberry de 2022 que, um dia, os ferengis foram pensados como vilões para a A Nova Geração com o requinte de crueldade retrospectivo de termos um arqui-inimigo ferengi para Picard (algo bizarramente retomado durante a última temporada daquela atração). Em The Nagus, Ira Behr refunda os ferengis como alegóricos capitalistas degenerados em um ou mais sentido (resgatando a máxima de que os alienígenas de Jornada somos nós). Com isso, o episódio transborda de “primeiras vezes” e mesmo algum valor intrínseco. Um importante capítulo histórico para a marca. Mais importante do que, de fato, bom.

É extraordinário pensarmos no todo da era Berman de Star Trek (1987-2005) e percebermos que até The Nagus não havia: a mencionada metáfora anarcocapitalista, as Regras de Aquisição, o grande nagus, a literal venda de partes (biologicamente neutralizadas) de falecidos dignatários (em seus respectivos velórios) e tantos outros detalhes da cultura ferengi que hoje aceitamos sem pestanejar.

O segmento também introduz o fabuloso diretor David Livingston em Deep Space Nine (o mais prolífico da era Berman), que inclusive fez a sugestão original de história aqui (largamente modificada pela sala de roteiristas).

(Os episódios ferengis ao longo da série são, em uma maioria esmagadora, comédias por projeto. Certas bolhas de fãs durante a produção da série viam os episódios ferengis com maus olhos, mas Ira Behr sempre disse que eles, em sua maioria, eram bem vistos pelos fãs da atração como um todo.)

“The Nagus” traz diversas referências ao filme O Poderoso Chefão. Em particular, a famosa cena de abertura com Bonasera. A cena é aproximada no episódio, incluindo temas correlatos e maneirismos do (então líder ferengi) Quark (existe até uma “criatura alienígena” presente em vez do gato do filme). Shimerman abusa em trejeitos inspirados em Marlon Brando (inclusive tocando com gestos similares as gigantescas orelhas do seu personagem).

(Shimerman parodiou outro personagem de Brando, o Coronel Kurtz de Apocalypse Now, no episódio “Restless”, último da quarta temporada da série Buffy.)

Na trama secundária, tivemos mais um grande passo no desenvolvimento da amizade entre Jake e Nog, apesar dos preconceitos de ambos os seus pais.

A aceitação de Ben Sisko dessa amizade é particularmente tocante uma vez que ele se tornou uma espécie de padrinho para o jovem ferengi ao longo da série. Nog talvez seja o personagem que mais se desenvolveu em todas as Jornadas.

(Achamos mais provável que Nog tivesse uma dificuldade na aprendizagem da leitura em geral, algo análoga a uma dislexia, por exemplo.)

E mais algumas castanhadas:

– Temos aqui a primeira menção na série das Cavernas de Fogo (lar dos seres quadridimensionais arqui-inimigos dos Profetas de Bajor) e do Festival de Gratidão (um análogo bajoriano para a Ação de Graças);

– Zek se apresenta interessado em explorar as possíveis oportunidades de negócios do Quadrante Gama advindas da presença da Fenda Espacial. E justo num episódio ferengi da segunda temporada que é mencionado o nome Dominion pela primeira vez;

– Rom tenta continuamente herdar o bar do irmão até que decide ejetá-lo (!) pela escotilha de ar. E, como ocorrem com as “travessuras” de Quark neste início de DS9, sem consequências;

– Livingston foi produtor em todos os episódios da era Berman. Partiu do nível básico chegando ao nível de supervisor já antes do final de A Nova Geração. Em DS9, dirigiu alguns dos clássicos da atração, sempre mostrando um estilo próprio para composição de planos incomuns, como aquele célebre em que termina o episódio “The Die Is Cast”, da terceira temporada. Livingston abriu caminho para talvez os principais diretores da atração (além dele, é claro): James L. Conway, Kim Friedman, Mike Vejar e Alan Kroeker;

– O falecido Gordon Willis (o diretor de fotografia de Poderoso Chefão e de muitos outros filmes clássicos dos anos de 1970) era considerado o “Mestre da Escuridão” por muitas vezes filmar com uma severa subexposição da película. Em “The Nagus” tivemos cenas muito escuras, que esperamos ver um dia com muito mais constraste em uma versão remasterizada em alta definição de DS9;

– Os instrumentos de limpeza dentária dos ferengis são incrivelmente bizarros (meio que explicando os seus bizarros dentes). Mas Morn rindo, com o seu ator utilizando uma máscara não articulada no maxilar, é ainda mais surreal.

Avaliação

Citações

“You failed, miserably!”
(Você falhou miseravelmente!)
Zek

Trivia

  • A história marcou a estréia do ator Wallace Shawn como o grande nagus Zek e do ator Tiny Ron como o criado particular de Zek, Maihar’du.
  • Este é o primeiro episódio a apresentar uma “Regra de Aquisição”.
  • Neste episódio são citados pela primeira vez o “Festival da Gratidão” bajoriano e suas “Cavernas de Fogo”.

Ficha Técnica

História de David Livingston
Roteiro de Ira Steven Behr
Dirigido por David Livingston

Exibido em 22 de março de 1993

Título em português: “O Grande Nagus”

Elenco

Avery Brooks como Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O’Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko

Elenco convidado

Max Grodénchik como Rom
Lou Wagner como Krax
Barry Gordon como Nava
Lee Arenberg como Gral
Aron Eisenberg como Nog
Tiny Ron como Maihar’du
Wallace Shawn como grande nagus Zek

Balde do Odo

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Edição de Muryllo Von Grol
Revisão de Nívea Doria

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