Barclay volta com superinteligência, graças a uma sonda alienígena
Sinopse
Data estelar: 44704.2
A Enterprise é enviada ao conjunto Argus, rede de telescópios que parou de enviar dados há dois meses, por razões desconhecidas. Chegando lá, a tripulação descobre uma sonda alienígena. La Forge escala Barclay para ir com ele à sonda, usando uma nave auxiliar. O aparato alienígena subitamente dispara um surto energético que deixa Barclay inconsciente. Ele e La Forge são imediatamente transportados à enfermaria. Enquanto isso, a sonda começa a perseguir a Enterprise, emitindo perigosos níveis de energia. Toda e qualquer tentativa de despistá-la falha, até que Barclay aparece com uma solução e a executa, destruindo a sonda.
Voltando à tarefa de consertar a rede de telescópios, Geordi estima que o trabalho levará três semanas. Barclay mais uma vez surpreende e diz que pode concluir a tarefa em dois dias. Em seguida, coloca-se a discutir física teórica com uma simulação holográfica de Albert Einstein. Geordi está preocupado e leva Barclay à enfermaria.
Beverly Crusher descobre que o tecido cerebral dele sofreu mudanças que lhe deram superinteligência. Embora toda a tripulação esteja temerosa pela mudança de Reg, o fato de que eles precisam dele para consertar o complexo os convence a deixá-lo livre. Conforme os reparos progridem, o computador da nave é incapaz de trabalhar na velocidade requerida, gerando o perigo de uma falha de um dos reatores da rede de telescópios, o que causaria uma explosão catastrófica. Picard ordena retirada imediata, mas é informado de que a ponte perdeu o controle do computador.
Antes que o pânico tome conta, o computador volta a funcionar e a tripulação descobre que o telescópio está a salvo. Quando Picard pede ao computador uma análise de como o desastre foi evitado, ele se choca ao descobrir que a resposta tem a voz de Barclay. O tenente explica que, como o computador era muito lento, ele conectou seu cérebro à máquina para salvar o complexo. Picard exige que o engenheiro se desconecte, mas Barclay responde que isso causaria sua morte. Enquanto a tripulação tenta criar um plano para recuperar o controle da nave, Barclay se propele para um ponto a 30 mil anos-luz de sua posição anterior.
Antes que a tripulação possa impedi-lo, um alienígena subitamente aparece na ponte, dizendo que a sonda transformou Barclay de modo que ele pudesse trazer a nave até ali. O alienígena segue explicando que esse era o método de sua civilização para pesquisar novas espécies. Enquanto eles falam, Barclay chega são e salvo à ponte, graças à ajuda dos alienígenas.
Comentários
Quando vimos “Hollow Pursuits”, da temporada passada, ficou a certeza de que ele voltaria. E os produtores não deixaram passar a oportunidade: o atrapalhado e introvertido Reginald Barclay está de volta, e em nova versão, com direito a interpretação de Cyrano de Bergerac!
“The Nth Degree” tinha tudo para ser mais um daqueles episódios que são totalmente orientados para o enredo e que praticamente ignoram o desenvolvimento dos personagens. Graças à inclusão de Reg, o tenente ganha os holofotes, mudando a natureza da história. E leva consigo toda a tripulação, da dra. Crusher à conselheira Troi.
Descobrimos, por exemplo, um dos hobbies da médica da Enterprise: o teatro. Percebemos também o interesse e a preocupação de Troi para com Barclay. Alguns toques sutis, como o incômodo de Riker em não saber se Troi aceitou a “cantada” de Reg, ou ainda a chateação de Geordi ao se ver totalmente excluído do comando em sua própria engenharia dão sabor a essa história, que em termos de ficção científica já é bastante atraente.
A atuação de Dwight Schultz dá vida a seu personagem. Ele é um pouco exagerado às vezes, arregalando os olhos e falando depressa demais, mas sua interpretação funciona para apontar exatamente o que está errado com ele.
Algumas cenas são especiais. O momento em que La Forge entra no tubo Jefferies com o intuito de reduzir o controle de Barclay sobre a nave e conversa com o condensado “Barclay-computador” lembra muito a sequência clássica de 2001: Uma Odisseia no Espaço, no momento em que o astronauta David Bowman decide desligar o computador amalucado HAL 9000. Clássico.
Também é bem legal a sequência de Barclay no holodeck, discutindo teorias de unificação com ninguém menos que Albert Einstein – mais ainda, dando um banho de cálculo em um dos maiores gênios da humanidade!
Quando o episódio vai avançando e descobrimos que o tenente não mais poderá se desligar do computador, só nos resta pensar que ou é a última aventura de Barclay a bordo da Enterprise ou os roteiristas vão achar uma forma pouco convincente e muito conveniente de salvá-lo. Para surpresa geral, não é o que acontece. A conclusão dá um sentido perfeito à história, esclarecendo o mistério que a iniciou (a presença e o propósito da sonda desconhecida) e dando uma explicação eficiente para a desconexão de Barclay do computador, sem resultar em sua própria morte.
A única ressalva é a presença do cytheriano na ponte da Enterprise. O sujeito parece um bobo alegre, só acenando com a cabeça. Até entendo a intenção dos produtores, mas eles deviam saber que não é preciso agir como um idiota para parecer alienígena.
Embora seja mais um daqueles episódios “mamão-com-açúcar”, ele vale pela cativante presença de Barclay, pelos sensos de exploração pioneira e de busca pelo desconhecido que dão sabor especial às viagens de Jornada nas Estrelas. Isso sem falar nas bonitas tomadas da Enterprise no espaço, incluindo a sequência em que ela é arremessada a 30 mil anos-luz de onde estava. Ah, se a Voyager tivesse essa tecnologia…
Avaliação
Citações
“What’s he done? I mean, we’re talking about locking a man up for being too smart.”
(O que ele fez? Quero dizer, estamos falando em prender um homem por ele ser muito esperto.)
Geordi La Forge
“Has Mr. Barclay done anything that could be considered… potentially threatening?”
(O sr. Barclay fez algo que pudesse ser considerado… ameaçador?)
Well, he did make a pass at me last night… a good one!
(Bem, ele me passou uma cantada ontem à noite… uma das boas!)
Picard e Troi
Trivia
- Após “Hollow Pursuits”, os produtores estavam atrás de uma forma de trazer de volta à série um dos personagens recorrentes mais queridos do público, Reginald Barclay, interpretado por Dwight Schultz. Quando Joe Menosky surgiu com um roteiro que abordava um ser humano superinteligente, rapidamente ele foi reescrito para que Barclay reaparecesse em A Nova Geração.
- “Estávamos com dificuldade de achar algo que fizesse valer a pena trazê-lo de volta”, disse Michael Piller. “Joe tinha esse conceito de alguém que ficou superinteligente e disse, ‘talvez esse seja nosso episódio do Barclay’, e não tínhamos certeza do que fazer com nossa premissa de início, mas finalmente conseguimos compor uma história. Acho que foi Rick [Berman] quem teve a ideia de fazer Cyrano. Foi meio que um truque na audiência.”
- A peça Cyrano de Bergerac foi escrita pelo francês Edmond Rostand e encenada pela primeira vez em 1898, alcançando grande sucesso. O teatro do final do século 19 estava dominado por histórias realistas e personagens sem sentimentos. Com Cyrano, Rostand afastou-se da tradição realista para apresentar um descarado romance histórico, situado nos anos 1640, os anos dourados da França, retratando um herói que parecia ter saído das páginas de Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas. As plateias adoraram a história de amor, a comédia, a ação rápida, o final trágico e o poderoso personagem Cyrano, gênio e herói, com seu nariz ridiculamente grande.
- Existiu um Cyrano de Bergerac de verdade, escritor e dramaturgo que viveu de 1619 a 1655, por volta da mesma época que o Cyrano ficcional. Este Cyrano real provavelmente inspirou Edmond Rostand, mas os eventos da peça, bem como os outros personagens, foram fruto exclusivo de sua imaginação.
- A inspiração de Joe Menosky para a trama, por sua vez, veio do conto de ficção científica, mais tarde transformado em romance, Flores para Algernon, do americano Daniel Keyes. Publicado em 1959 como conto e em 1966 expandido em romance, é sobre um camundongo de laboratório alterado para ter maior inteligência. Menosky comentou sobre a produção do roteiro: “Escrever para Barclay era um pouco como escrever para o Data – não tinha como perder.”
- De acordo com Rob Legato, o roteiro foi revisado intensamente, com a cena final chegando apenas no dia da filmagem. Em versões anteriores, o cytheriano era mais malévolo, mas isso foi evitado para fugir da trama clichê de abdução.
- Originalmente, o cytheriano teria vindo a bordo da nave. A equipe de roteiristas achou que isso, ou uma imagem na tela, seria simplista demais. Legato lembrou assim: “O que, viajamos tudo isso para ver um cara numa tela?” Foi dele a sugestão do que foi ao episódio, com uma cabeça enorme que pareceu ter saído da tela.
- O episódio foi filmado entre janeiro e fevereiro de 1991.
- Depois desse episódio, Barclay retorna apenas em “Realm of Fear”, do sexto ano.
- A nave auxiliar de La Forge e Barclay mostrada neste episódio tem o nome de Feynman em homenagem ao físico Richard P. Feynman, ganhador do prêmio Nobel em 1965.
- Após mostrar que tem afinidades com dança (“Data’s Day”), desta vez a dra. Crusher nos mostra sua afinidade com teatro, na sequência “Cyrano de Bergerac” do episódio. Essas demonstrações de que Beverly tem hobbies e talentos foram ideias da própria Gates McFadden, prontamente aprovada pelos produtores.
- Jim Norton, que aqui interpreta Einstein, volta a interpretar o físico em “Descent”, da sexta temporada. Já Kay E. Kuter, que faz o cytheriano, voltaria como o Sirah, em “The Storyteller”, de Deep Space Nine.
- Robert Legato trabalhava na série como supervisor de efeitos visuais e apenas raramente assumiu a cadeira de diretor. Em A Nova Geração, foram apenas dois episódios, este e “Ménage à Troi”.
- Lasers no próprio cenário foram usados para criar a cena em que Barclay aparece conectado ao computador. É algo que os produtores queriam tentar e Rob Legato ajudou a tornar realidade neste episódio. Com efeitos de pós-produção, o resultado teria sido muito mais difícil, se não impossível, de obter.
- Não é a primeira vez que uma Enterprise viaja à região central da galáxia. Vimos jornadas semelhantes (encontrando criaturas igualmente bizarras) em “The Magicks of Megas-Tu”, da Série Animada, e no filme Jornada nas Estrelas V: A Última Fronteira.
- Michael Piller avaliou positivamente o resultado final. “Fiquei bem satisfeito com o jeito que saiu. Joe Menosky disse que tinha orgulho de ter seu nome no episódio, mais que em qualquer outro. Esse é o segundo episódio de Rob Legato e ele fez um trabalho incrível em termos de interpretar a história.”
Ficha Técnica
História de Joe Menosky
Dirigido por Rob Legato
Exibido em 1º de abril de 1991
Título em português: “Menino Prodígio”
Elenco
Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Elenco convidado
Dwight Schultz como Reginald Barclay
Jim Norton como Einstein
Kay E. Kuter como cytheriano
Saxon Trainor como Larson
Page Leong como Anaya
David Coburn como Brower
Enquete
Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria