De todas as críticas com que Jornada nas Estrelas: Voyager é atacada, talvez uma das mais aptas seja a falta de desenvolvimento consistente de seus personagens. Com isto, não estou falando dos papéis principais, que obviamente sofrem desse mal. A referência aqui é aos tripulantes menores da Voyager, personagens interpretados por atores recorrentes e que aparecem com menos freqüência.
Por que em uma nave com apenas 150 tripulantes – e este número sempre variou misteriosamente – vemos rostos diferentes toda semana, salvo raras exceções? Nem mesmo em Deep Space Nine, série ambientada em uma grande estação espacial, isso acontece. Personagens aparentemente dispensáveis, com o Ferengi Rom, seu filho Nog ou a Bajoriana Leeta são extraordinariamente aproveitados em roteiros pertinentes à trama maior. Por que, então, isso não acontece em Voyager?
Talvez o principal motivo tenha sido a política dos produtores da série – notadamente Brannon Braga – quanto à forma de se contar histórias. Em mais de uma ocasião eles deixaram claro que não queriam estabelecer um senso de continuidade entre os episódios, como acontecia nas sagas anteriores. Braga quis com Voyager levar Jornada a um novo patamar; difundir um franchise cult na cultura popular americana. Para tanto, os episódios teriam que ser independentes. O telespectador não deveria ter que conhecer A Nova Geração, Deep Space Nine ou mesmo o restante de Voyager para acompanhar as histórias. Cada episódio deveria ser fechado em si próprio, de modo que o público sempre entendesse o que estava se passando. Vantagens ou desvantagens à parte, essa política impediu a construção sólida dos personagens em geral.
Mas o problema a que me refiro aqui não é a ausência de um encadeamento entre as histórias. Isto seria temática para outro texto. Acho que a série peca por se livrar rápida e inexplicavelmente dos raros personagens que cria. Alguns exemplos clássicos são o tenente Carey e os alferes Hogan, Wildman, Jonas e Vorik. De onde eles vêm e para onde vão? Nem mesmo a maléfica Seska teve todo o seu potencial aproveitado. O mais engraçado é que há episódios construídos totalmente em torno deles. O telespectador deve, no mínimo, achar que está fazendo papel de tolo. Voyager acaba caindo em descrédito por distanciar-se totalmente do senso de realismo que os seriados anteriores construíam com tanto cuidado.
É difícil compreender por que há tantos figurantes diferentes na série e como isso nunca incomodou produtores e roteiristas. Em termos de orçamento, não faria diferença alguma chamar os mesmos “extras” para as filmagens. Às vezes, eles até o fazem. O tripulante Ayala, por exemplo, esteve presente do piloto ao último episódio. O mesmo vai para o alferes Nozawa. “Quem”?, alguns devem estar se perguntando. Pois é, poucos sabem de quem estou falando, pois seus nomes mal foram citados. Aliás, Ayala, um ex-Maquis, só disse sua primeira frase no quarto ano. Quanto a Nozawa, o operador de transporte, este sequer abriu a boca. Da forma que vejo, os dois atores têm apenas uma vantagem sobre os demais recorrentes: eles permaneceram no emprego. Sim, porque com certeza se tivessem tido algumas linhas de diálogo a mais seus personagens teriam sido mortos, como aconteceu com todos os outros – com a exceção particularíssima de Wildman e Vorik. O caso mais grotesco foi o do tenente Joe Carey, que brilhou nos primeiros episódios da série, desapareceu por sete temporadas e morreu estupidamente quatro episódios antes de a nave retornar à Terra. Os fãs ficaram indignados.
Vale a pena questionar mais a fundo outros dois aspectos sobre a perda de tripulantes em Voyager. O primeiro, mais gritante: os oficiais parecem sair quentinhos do forno, assim como as incontáveis naves auxiliares, algo evidente não apenas nos novos rostos de cada semana, mas nos próprios fatos apresentados pela série. Um exemplo é o número estabelecido de tripulantes, que no segundo ano é 152, passa a 143 no quinto e sobe novamente para 146 no sexto.
O outro ponto tem a ver com a postura do resto da tripulação diante da morte de um colega. Francamente, se estivesse entre os únicos 150 seres humanos num raio de 70.000 anos-luz você seria sempre tão objetivo e formal? Se a Voyager vai ser a casa daquelas pessoas pelos próximos 75 anos, ela não deveria ser um lugar mais agradável e humano de se viver? Por que ninguém se importa quando um deles morre? Convenhamos, eles supostamente estão enfrentando uma viagem sem volta, em uma nave com recursos e tripulação restritos. Deveriam, assim, preocupar-se não apenas com a sobrevivência de cada um a bordo mas também com a questão da procriação. Em sete décadas não será Janeway que estará no comando. Os tripulantes deveriam pensar em ter filhos, transformar a Voyager em uma nave de gerações. Caímos, porém, novamente na questão do realismo na série…
Mas devo dar crédito a uma curiosidade do seriado. Dos cerca de 150 indivíduos que formam a tripulação da USS Voyager, foram citados 119. O número total ao menos não foi extrapolado. Ufa… Colocado isso, segue agora uma lista atualizada da tripulação. Os nomes estão divididos por ordem de citação nos episódios. Foram identificados também os personagens que morreram.
Temporada 1
001 – Caretaker | Ayala, Carey (morto), Kes, Nozawa, Rollins |
003 – Parallax | Jarvin, Seska |
004 – Time and Again | irmãs Delaney |
005 – Phage | Parsons |
007 – Eye of the Needle | Baxter, Hargrove, Kyoto |
010 – Prime Factors | Murphy |
011 – State of Flux | Hennard, Jackson, Nicoletti |
012 – Heroes and Demons | Durst (morto) |
016 – Learning Curve | Ashmore, Chell, Dalby, Gerron, Henley |
Temporada 2
019 – Projections | Jarvis |
020 – Elogium | Samantha e Naomi Wildman |
023 – Parturition | Baytart |
030 – Alliances | Bendera (morto), Hogan (morto), Jonas (morto) |
032 – Meld | Darwin (morto), Jones, Lewis, Rogers, Suder (morto) |
034 – Death Wish | Quinn (morto) |
035 – Lifesigns | Foster, Grimes |
036 – Investigations | Hamilton |
038 – Innocence | Bennet (morto), McCormick |
040 – Tuvix | Swinn |
041 – Resolutions | Powell |
Temporada 3
044 – Flashback | Gowat |
046 – The Swarm | Bristow |
050 – Future’s End, Part I | Kaplan (I) (morta) |
052 – Warlord | Martin (morto) |
054 – Macrocosm | Gallagher |
055 – Fair Trade | Vorik |
058 – Blood Fever | Lang (mulher) |
059 – Unity | McKenzie |
060 – Darkling | Brooks |
066 – Worst Case Scenario | Carlson, O’Donnel |
067 – Displaced | Gennaro, Larson, Molina |
068 – Scorpion, Part I | Hickman |
Temporada 4
072 – Revulsion | Culhane |
075 – Year of Hell | Emmanuel, Strickler |
080 – Waking Moments | Blain, Swift |
082 – Hunters | Dorado, Fitzpatrick |
087 – Vis à Vis | Kaplan (II) |
Temporada 5
095 – Drone | Mulchaey, One (morto) |
101 – Infinite Regress | Boylan, Ryson |
102 – Nothing Human | Tabor |
104 – Counterpoint | Jurot |
105 – Latent Image | Jetal (morta), Sharr |
108 – Bliss | White |
112 – Course: Oblivion | Harper |
113 – The Fight | MacAlister, Thompson |
117 – Someone to Watch Over Me | Bronowski, Chapman, Robertson |
118 – Relativity | Lang (homem), Mannus |
119 – Warhead | Jenkins |
120 – Equinox, Part I | Gilmore, Lessing, Morrow |
Temporada 6
121 – Equinox, Part II | Sofin, Tessoni |
128 – One Small Step | Arkinson |
134 – Memorial | Farley |
136 – Collective | Azan, Icheb, Mezoti, Rebi |
138 – Ashes to Ashes | Ballard |
140 – Good Sheperd | Harren, Mitchell, Tal, Telfer |
145 – The Haunting of Deck Twelve | Gibson, McMinn, Trumari, U’Lanai, Weiss |
Temporada 7
148 – Imperfection | Bartlett, Crag, Ewing, McLaren, Ming, Seaman, Zielen (todos mortos) |
150 – Repression | Doyle, Jor, Yosa |
154 – Nightingale | Mendez |
159 – Lineage | Miral Paris |
164 – Workforce | Anderson |
166 – Q2 | Biddle |
Os dados sobre os tripulantes foram baseados no conteúdo do site Roll Call: The Minor Crewmembers of Voyager.
Artigo originalmente publicado no conteúdo clássico do Trek Brasilis.