Ethan Peck é provavelmente o ator que tem o maior peso sobre os ombros, ao trazer uma nova versão de Spock. Afinal, trata-se do personagem mais venerado da história de Star Trek, que agora terá boa chance de estar sob os holofotes novamente em Strange New Worlds, a mais nova série da franquia, que estreia pelo Paramount+ em 5 de maio. Em particular, veremos um lado romântico do vulcano que antes não havia aparecido.
“Abordar o lado romântico de Spock é algo que eu realmente fiz com muito cuidado e com muito terror, acho, porque nós realmente queríamos fazer direito”, disse o ator em entrevista ao Trek Brasilis. “E isso foi um enorme esforço colaborativo entre mim e Gia Sandhu, que interpreta T’Pring, e as forças por trás das câmeras, diretores, produtores, houve muito diálogo entre nós e muitas manobras cuidadosas sobre como seria um romance vulcano, como eles são na cama. Essas são as coisas que tentamos responder e esperamos ter fornecido algumas soluções.”
O bate-papo foi parte de uma rodada de imprensa promovida pelo Paramount+ para promover a chegada da série. O TB teve a chance de se juntar a jornalistas de várias partes do mundo para trocar ideias com praticamente todo o elenco principal de atores que trarão à vida as aventuras do capitão Christopher Pike e sua tripulação a bordo da nave estelar USS Enterprise. Confira a seguir um trecho do papo em vídeo e, abaixo, a transcrição completa da conversa com Ethan Peck.
Lá atrás, Leonard Nimoy demorou um pouco para encontrar seu personagem, encontrar Spock. Eu fico me perguntando como foi isso com você. Houve um momento durante Discovery que você talvez tenha sentido, “é, é isso, eu saquei esse cara”? Como foi esse processo?
Ethan Peck – Não, eu não diria que houve um momento em que senti que eu tinha sacado esse cara. Acho que teve um momento em que pensei, não acho que eu vá ser demitido a essa altura. Mas em termos da descoberta, não a série Discovery, falo do personagem, isso está em andamento, e acho que será meio que um processo eterno, porque eu, como Ethan Peck, interpretando o papel de Spock, estou indo na direção do Spock de Leonard Nimoy, da série original, e farei isso por uma variedade muito longa de experiências e, para mim, como ator, de episódios. E com cada roteiro que recebo, sou apresentado a novos desafios que me apavoram, que me fazem duvidar de mim mesmo e que deixam muito a ser descoberto a cada dia em que trabalho. Então isso está meio que em andamento e acho que sinto segurança e posso me identificar agora com, eu diria, a proporção de desconhecido. Eu tenho uma certa quantidade de experiência agora e de conhecimento do personagem, há muito espaço que eu mantenho em mim mesmo e deixo reservado para o desconhecido e meio que fico preparado para o inesperado. Estar em um estado de percepção e presença, isso é provavelmente a coisa mais difícil de encontrar para mim.
Você disse antes em uma entrevista que em Discovery você pôde ver novos aspectos, novas qualidades de Spock. Sem dar spoilers, o que você pode dizer sobre os novos aspectos que veremos de Spock agora?
Ethan Peck – Pergunta maravilhosa. Acho que há muito mais espaço para explorar o mundo interno de Spock em Strange New Worlds. Eu não sei se há qualidades em particular sobre as quais nos inclinamos, mas há realmente um realce nele negociando essas duas metades de si mesmo, sua metade humana e sua metade vulcana, seu lado emocional e seu lado lógico. E ele faz isso ao ser confrontado com certas situações e experiências, experimentando com certos comportamentos e respostas a essas situações. Então, muito desse trabalho é feito na sala dos roteiristas e aí é meu trabalho no set ter uma experiência e, com sorte, descobrir algo novo e autêntico sobre o personagem.
Como é se sentir parte de um fenômeno da cultura popular americana e como isso muda sua vida?
Ethan Peck – Eu ainda não sei responder a essa questão. É doido e é a jornada de uma vida, sabe, talvez. Quem sabe se algo mais que eu faça vá ter essa magnitude ou esse nível de relevância para a cultura popular? Eu me sinto enormemente afortunado e também enormemente sobrecarregado com a responsabilidade sobre esse personagem, porque é ele tão importante, não só para o cânone e a mitologia de Star Trek, mas, acho, para a história da televisão. E posso dizer que intelectualmente eu entendo isso, mas a experiência disso ainda é algo que é realmente doido e estranho para mim, e ainda estou tentando dar sentido a ela. Mas apenas me sinto com uma sorte insana de ser parte disso e não posso acreditar que aconteceu comigo e me belisco todo dia e sou tão grato, porque não apenas é um personagem incrível, mas a série em que eu trabalho, com as pessoas com quem trabalho, elas são realmente espetaculares e se importam tanto com o que fazem. E parece como um raio na garrafa, pelo menos da minha perspectiva, e espero que isso seja comunicado ao produto, quando for revelado ao mundo, em breve.
Primeiro gostaria de dizer que acho que você realmente honra Leonard Nimoy com sua performance como Spock. De que modos você está tentando tornar o personagem seu?
Ethan Peck – Obrigado. Oh Deus, eu penso de novo em como tanto disso é feito por mim pelos roteiristas e eles me colocam em cenários em que sou forçado a me comportar no que espero que seja um modo autêntico como Spock. E acho que minha familiaridade com a entidade ou o espírito do que Spock é só aumenta com o tempo e se torna mais detalhada e mais amável e mais rica. Acho que no começo eu estava bem temeroso pela oportunidade e pela responsabilidade, e neste momento é esse desafio maravilhoso. E é tão satisfatório para mim completar cada episódio. De novo, espero que isso seja comunicado no que revelarmos ao mundo em 5 de maio.
Para você pessoalmente, o que você descobriu sobre Spock ao longo do caminho que pode tê-lo surpreendido conforme você estava fazendo do personagem algo seu?
Ethan Peck – Ótima pergunta. No começo do meu processo, houve muita autoexploração, ocorrendo num nível pessoal. Eu queria saber por que eu fui escalado para isso, por que fui escolhido para interpretar esse personagem, o que em mim se oferece mais naturalmente a esse personagem. Quando eu fiz a primeira audição, eu não sabia quem era, então, obviamente, algo que eu fiz que foi resultado de minha experiência pessoal se ofereceu para a interpretação desse personagem. E nesse tipo de introspecção, acho que notei quão ineficiente é o meu pensar, comparado ao personagem, certo? Estamos falando de alguém que está além da minha compreensão do que inteligência pode ser, ele é um ser hiperinteligente, e eu acabo tendo de dizer coisas realmente espertas que eu espero que pareçam ser ditas de um jeito erudito e inteligente. Mas eu comecei a notar o quanto de pensamentos excessivos eu estava tendo que não são úteis. Do momento em que você acorda, você tem a oportunidade de pensar em coisas, não apenas fazer coisas, mas pensar nelas. Acho que algumas pessoas podem se referir a isso como mentalização ou positividade ou otimismo, meio que ver as coisas que você espera trazer à vida, trazer à sua realidade. E acho que ele tem uma mente muito poderosa nesse sentido, de que ele pode manter sua mente mais profunda focada em algo, e aprendi muito com isso.
Você já temeu a comparação entre você e Nimoy e como você lida com ela, já que você vive praticamente o Spock da mesma época que ele viveu em 1966?
Ethan Peck – Bem, acho que é meio que inevitável. Nesse momento, eu pouco penso nisso porque, como eu disse, ao aprender com o personagem eu aprendi a focar muito na minha experiência no momento, em cada cena em que estou, como esse personagem Spock. No começo, eu definitivamente estava apavorado com a comparação e isso é algo que está tão além do meu controle, tudo que posso fazer é meio que ser o conduíte para o espírito de Spock que nasceu de Nimoy e espero que minha própria versão seja minha própria versão e realmente hibridize a interpretação dele e seu Spock com minha própria experiência de vida e minha própria experiência da interpretação dele. A comparação vai acontecer e algumas pessoas, espero, vão gostar da minha versão e vão pensar que foi feita com grande respeito, amor e cuidado pela versão de Nimoy.
Eu queria perguntar sobre Spock e suas emoções, porque, claro, emoções não são a coisa dele, mas vimos o personagem desenvolver alguns interesses românticos desde a série original. Como você abordou esse lado de Spock em Strange New Worlds?
Ethan Peck – Oh Deus, abordar o lado romântico de Spock é algo que eu realmente fiz com muito cuidado e com muito terror, acho, porque nós realmente queríamos fazer direito. E isso foi um enorme esforço colaborativo entre mim e Gia Sandhu, que interpreta T’Pring, e as forças por trás das câmeras, diretores, produtores, houve muito diálogo entre nós e muitas manobras cuidadosas sobre como seria um romance vulcano, como eles são na cama. Essas são as coisas que tentamos responder e esperamos ter fornecido algumas soluções.
Olhando para trás, para Discovery, como você se sentiu se juntando à tripulação?
Ethan Peck – Foi realmente… eu nunca vou esquecer, houve esse dia, o primeiro dia em que caminhei para a ponte do turboelevador, na Discovery, e a câmera começou a rodar. Não sei se você tem familiaridade com como é estar no set, mas havia todas essas partes móveis e eles dizem, “rodando câmeras, rodando marcador de som”, e eles marcam com aquela claquete, e a porta do turboelevador está fechada – temos sets tão bonitos para trabalhar, e as portas são realmente hidráulicas e automáticas – e era eu no fundo, acho, eu estava atrás à direita, Sonequa [Martin-Green], que interpreta Michael Burnham, Doug Jones, que interpreta o Saru, e o capitão Pike, vivido pelo Anson Mount. Foi esse momento logo antes de entrarmos na ponte, e todo mundo no personagem, e eu estava, tipo, “eu faço parte disso, estou em Star Trek agorinha, estou aqui”. E nunca vou esquecer, foi realmente mágico. Há tanta dedicação da parte dos atores, da equipe de produção, nesses projetos, e é fácil ser arrebatado no sonho de Star Trek quando você está lá.
Falamos muito sobre Leonard Nimoy e de como você tenta honrar seu legado com Spock, um personagem que tem enorme integridade e honestidade, mas você também tem outra referência de um ator que costumava fazer papéis com muita integridade e honestidade, que é seu avô, Gregory Peck. Você sente que está honrando o legado dele também com esse personagem?
Ethan Peck – É, essa é realmente uma ótima e óbvia comparação. Eu não penso nisso com muito frequência. Sou mais lembrado do meu avô e do meu pai, a quem conheço muito bem comparado a meu avô. Meu avô morreu quando eu estava no fim da minha adolescência, então não pude conhecê-lo como o homem que sou hoje. Mas meu pai, acho, incorpora muitas das qualidades que meu avô tinha. Então minha relação com ele é sobretudo através do meu pai e eu sinto que honro meu pai e minha mãe e acho que eles são pessoas de maravilhosa integridade, humanistas, que me criaram para acreditar que diversidade é uma força e que curiosidade e percepção são coisas realmente poderosas na experiência da vida.
Colaborou Gustavo Gobbi.
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