Episódio explora um mistério profundo (ou simples) da história klingon
Sinopse
Data: 27 de novembro de 2154
A Enterprise volta à Terra para acompanhar o lançamento de sua nave irmã, a Columbia NX-02. Trip assume o posto de engenheiro-chefe da capitão Hernandez, e parte da tripulação recebe uma licença. Após saírem de um restaurante, Phlox e Sato são atacados e o médico é sequestrado. Com a ajuda de Archer, T’Pol faz um elo mental com Sato e descobre que foram rigelianos.
Archer cancela as licenças e pretende partir atrás dos sequestradores de Phlox, mas antes disso Reed é contatado por um agente da Seção 31 com uma missão para ele. A Enterprise alcança a nave rigeliana, mas ela está em pedaços, após sofrer um ataque. Há vários cádaveres, mas Phlox não está entre eles. O ataque foi feito por klingons, mas Reed esconde isso de Archer.
Phlox foi levado à colônia klingon Qu’Vat, para ajudar a desenvolver uma cura para um vírus de gripe levodiana. A investigação revela que os klingons estavam trabalhando com engenharia genética para criar supersoldados, à moda dos aumentados humanos que abduziram uma nave klingon meses antes. Phlox se recusa a cooperar na pesquisa.
A Enterprise é abordada por klingons alterados, com testas lisas, e um vírus é introduzido no computador da nave. Dos quatro invasores, um é capturado. Archer manda tanto o klingon quanto Reed para a detenção, após descobrir a traição do tenente. Enquanto isso, o vírus atua no sistema de dobra, e a nave precisa ir a dobra máxima para não explodir. Mas é impossível manter a velocidade atual por muito tempo…
Comentários
Ao longo de várias décadas de séries e produção, Star Trek colecionou várias discrepâncias e incongruências em seu cânone. Para a maior parte desses desalinhamentos, os fãs precisam elaborar conjecturas e teorias a fim de manter a consistência do universo ficcional. Mas o que acontece quando um desses fãs se torna o showrunner de uma das séries e tem a oportunidade de tentar realinhar o cânone?
A resposta é “Affliction”, bem como sua continuação “Divergence”. A missão: explicar por que os klingons na Série Clássica foram vistos com testas lisas e aparência muito mais humana do que suas contrapartes tanto no século 22, em Enterprise, quanto nos século 23 e 24, com os filmes de cinema e as séries A Nova Geração, Deep Space Nine e Voyager.
Há controvérsia entre os entusiastas da saga se realmente havia necessidade de tocar nesse tema, uma vez que se trata meramente de uma questão de bastidores: a Série Clássica não tinha recursos para maquiagens mais sofisticadas, mas assim que houve orçamento suficiente os klingons foram modificados para parecerem mais alienígenas (recebendo diversos “banhos de loja” ao longo dos anos, entre os filmes, A Nova Geração e, mais recentemente, Discovery). Em Deep Space Nine, o clássico “Trials and Tribble-ations” se desvencilhou da questão com elegância e uma pitada de humor, ao deixar Worf dizer simplesmente que os klingons “não discutem isso com forasteiros”. Mas Manny Coto viu nisso um ganho para contar a história por trás da frase. Ei-la.
A despeito de sua motivação questionável, “Affliction” funciona, conectando-se ao arco dos aumentados visto no começo da quarta temporada e trazendo méritos próprios, numa trama que envolve conspirações e até mesmo uma aparição da famigerada Seção 31, com a revelação de que Reed fazia parte dela. Essa entidade vista pela primeira vez em Deep Space Nine como uma organização ultrassecreta de operações especiais (vulgo o “trabalho sujo”) aparece aqui no mesmo tom, com a mesma aura de mistério, dois séculos antes.
A história com os klingons proporciona boas cenas entre Phlox e o médico klingon Antaak, interpretado pelo carismático John Schuck (que já havia vivido o embaixador klingon nos filmes Jornada nas Estrelas IV e VI). Em paralelo, temos, entre a Enterprise e a Columbia, a continuação do drama pessoal de T’Pol e Trip, mantendo o engenheiro-chefe na série, embora fora da nave que lhe dá título. Vemos aqui todos os lances de modernização da série, abraçando maior serialização com os personagens e conexão entre arcos, a despeito da presença também de uma história autocontida (no episódio duplo do qual este é a primeira parte).
Também agradam os cenários construídos para o segmento klingon do episódio, com direito a um targ de estimação em CGI interagindo com os atores! Em termos de valores de produção, ele tem tudo de que precisa para que a história seja adequadamente contada. Mas também não é muito mais que isso. Em resumo, temos aqui uma caixa de bombons sabor cânone. Para quem gosta, é uma delícia. Para quem não gosta, pode parecer um segmento desnecessário. Mas nada disso muda o fato de que ele termina num ótimo cliffhanger, a ser resolvido apenas no episódio seguinte.
Avaliação
Citações
“I’ve seen these sequences before – six months ago, to be precise. This is Augment DNA!”
(Eu já vi essas sequências antes — seis meses atrás, para ser preciso. Isto é DNA de aumentados!)
Phlox
Trivia
- Feito para explicar a mudança no visual dos klingons entre a Série Clássica e Jornada nas Estrelas: O Filme, o roteiro também buscou explicar algumas mudanças culturais na espécie vistas nos episódios clássicos. De acordo com Mike Sussman, roteirista, o plano foi contar uma história que satisfizesse os dois lados do fandom, tanto os que dispensavam uma explicação quanto os que ansiavam por uma, contando uma história interessante.
- A citação à Invasão Hur’q é uma referência ao episódio “The Sword of Kahless”, de Deep Space Nine.
- Embora a organização secreta jamais seja mencionada em tela aqui como a Seção 31, o agente Harris cita, no episódio seguinte, o “Artigo 14, Seção 31” da Carta da Frota Estelar. E a equipe de produção também confirmou que se trata da mesma entidade vista em Deep Space Nine.
- A febre levodiana, mencionada aqui, foi o que o Doutor usou, em Voyager, para simular uma doença em si mesmo, instigado por Kes de que a experiência o ajudaria a desenvolver empatia pelos pacientes, no episódio “Tattoo”.
- O cenário da ponte da Columbia é obviamente um reaproveitamento da construída originalmente para a Enterprise, com algumas modificações. Essas mudanças, por sinal, já foram vistas antes, exatamente desse jeito, na NX-01 alternativa mostrada no episódio “E2”.
- Marc Worden, que faz o prisioneiro klingon na abertura deste episódio, antes interpretou o filho de Worf, Alexander, em dois episódios de Deep Space Nine.
- Seth MacFarlane, criador de Family Guy e, mais tarde, da série The Orville, inspirada em Star Trek, atua aqui como o engenheiro Rivers, depois de já ter feito uma aparição rápida em “The Forgotten”, da terceira temporada. Trekker desde criança, ele pediu a Brannon Braga para aparecer em algum episódio.
- O diálogo em klingon que aparece nesse episódio foi traduzido por Marc Okrand, o criador do idioma, por um pedido de Mike Sussman, que queria que as falas fossem autênticas.
- A Enterprise bate um novo recorde de velocidade neste episódio, dobra 5,2.
- O modelo em CGI da colônia Qu’Vat é uma versão ligeiramente modificada do que foi usado para representar o acampamento de Zobral no episódio “Desert Crossing”, da primeira temporada.
- O showrunner Manny Coto ficou muito satisfeito com o resultado final, dizendo à revista Cinefantastique que o episódio “acabou ficando ótimo”.
Ficha Técnica
História de Manny Coto
Roteiro de Michael Sussman
Dirigido por Michael Grossman
Exibido em 18 de fevereiro de 2005
Títulos em português: “Praga”
Elenco
Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato
Elenco convidado
John Schuck como Antaak
James Avery como K’Vagh
Ada Maris como Hernandez
Eric Pierpoint como Harris
Terrell Tilford como Marab
Kate McNeil como Collins
Brad Greenquist como sequestrador rigeliano
Derek Magyar como Kelby
Marc Worden como prisioneiro klingon
Seth MacFarlane como Rivers
Enquete
Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Susana Alexandria