A tragédia de Soong se desenlaça no desfecho da saga dos aumentados
Sinopse
Data: 27 de maio de 2154
Archer consegue ativar a proteção da sala central da Estação Fria 12, mas estará ele mesmo exposto aos patógenos prestes a serem liberados. Ele ordena que a Enterprise dispare em uma porta de acesso, despressurizando o corredor vertical onde ele está e ejetando-o para o espaço. A nave então o transportaria a bordo. O plano funciona, mas o capitão fica bastante ferido.
Enquanto ele se recupera, os aumentados partem mais uma vez rumo ao espaço klingon. Soong defende que eles se escondam em um planeta habitável da região conhecida como Briar Patch, mas Malik acha que eles devem instigar uma guerra entre humanos e klingons disparando os patógenos que ele trouxe da estação na colônia Qu’vat. Assim, a Frota Estelar e os klingons estariam ocupados demais brigando entre si para procurar os aumentados. Soong rejeita o plano assassino, e o conflito entre os dois se eleva ao máximo. As coisas saem do controle quando Malik descobre que Soong está alterando os embriões para torná-los não violentos. O aumentado então decide depor o cientista e assumir o comando.
Persis ajuda Soong a partir num módulo de fuga (pelo que é morta por Malik), e o cientista é encontrado pela Enterprise. Soong convence Archer de que ele precisa impedir o plano dos aumentados, e a Enterprise consegue detonar o torpedo com os patógenos antes que ele atingisse a atmosfera. Em batalha, a nave klingon é severamente danificada. Malik decide acionar a autodestruição e parece ter morrido na explosão, mas na verdade se transporta para a Enterprise e tenta matar Soong. Archer acaba por matá-lo. Soong volta à prisão na Terra, onde cogita mudar de ramo; em vez de humanos geneticamente modificados, talvez seja mais prático investir em cibernética…
Comentários
“The Augments” fecha o arco dos aumentados de forma bastante divertida, ainda que excessivamente derivativa, concluindo com o inevitável embate entre Malik e Soong. Embora o foco central siga com eles, a tripulação de Archer ganha mais destaque e domínio sobre as ações na parte final.
A começar pela sensacional escapada do capitão após salvar os médicos da Estação Fria 12. A ideia de ejetar-se para o espaço e ser teletransportado é criativa, original e executada de forma competente com os efeitos visuais digitais, embora eles ainda revelem sua natureza artificial, não totalmente fotorrealista. Não é perfeito, mas a combinação entre live-action e CGI funciona para os propósitos da trama.
Temos a chance também de ver um pouco de interação entre Trip e T’Pol, remetendo aos eventos de “Home” e expondo o desconforto do engenheiro com o fato de que a vulcana agora é uma pessoa casada. As cenas ajudam a criar continuidade emocional na série e não parecem intrusivas aqui, embora tenham zero conexão com a trama principal.
Archer também ganha destaque ao despistar uma nave klingon fingindo ter o chanceler a bordo, embora tenhamos aqui uma “versão de pobre” da cena originária de Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida, em que Uhura precisa fazer semelhante despiste, mas ali sem o tradutor universal (e com vários dicionários em papel!). Ambas são exageradas, cada um a seu modo, mas é inegável que a do filme tem mais charme, além do mérito da originalidade.
E por falar em cópias, nada é mais exageradamente referente que a cena final de Malik na ponte da ave de rapina klingon. É uma réplica estética da morte de Khan em Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan, mas mais uma vez ganhamos uma “versão de pobre”. Em vez de uma detonação que envolve sacrifício em nome da vingança, aqui temos só um suicídio mesmo (na verdade um truque, já que Malik não morreu na explosão). Mas todo o charme de Khan em suas últimas palavras não pôde ser capturado aqui, e os diálogos que temos são bem mais pedestres. A coisa toda no fim acaba soando mais como uma paródia do que como uma homenagem, o que acaba por detratar o episódio. Como se não bastassem os trajes maltrapilhos e a menção textual a Khan e à Botany Bay mais cedo no segmento. A brincadeira de reencenar clássicos foi longe demais.
A despeito disso, o episódio no geral é bem divertido. E o drama se sustenta graças às boas atuações e à tensão, primeiro entre Soong e Malik, depois entre Malik e Persis (sempre com muita sensualidade, como se tornou uma marca de Enterprise, para o bem ou para o mal). Brent Spiner consegue vender muito bem o drama do cientista que se descobre tragicamente equivocado, com um personagem movido a ironia. Alec Newman também vai muito bem como Malik, embora em essência seja um exercício de cópia de Ricardo Montalban como Khan. E a Persis de Abby Brammell cumpre sua parte na trama, como a Marla McGivers do episódio.
Como se não bastasse essa tonelada de referências (todas bem pouco sutis), terminamos com uma sugestão mais concreta de que Arik Soong de fato é um ancestral de Noonian Soong, o criador de Data. O que, de novo, parece um pouco exagerado, considerando que já temos a pista de que ambos são a cara de Brent Spiner. Mas não impacta no episódio. Até porque, a essa altura, está claro para quem quiser ver que os roteiristas estão se divertindo demais fazendo menções ao cânone para se incomodarem com o que pode ser exagerado. E é assim que a trilogia dos aumentados deve ser encarada: uma divertida exploração do tema das Guerras Eugênicas, que agrega um pouco mais de textura ao universo ficcional, embora o faça com uso excessivo de “copia e cola”.
Avaliação
Citações
“You could at least let me finish my work before you take it away and destroy it…”
“No one’s destroyed anything. It’s being stored in a secure location – maybe someday, we’ll figure out how to use it to benefit Humanity.”
“I wouldn’t count on it.”
(Vocês poderiam pelo menos deixar eu terminar meu trabalho antes de levá-lo e destruí-lo….)
(Ninguém destruiu nada. Ele está sendo guardado em um local seguro – talvez um dia descubramos como usá-lo para beneficiar a humanidade)
(Eu não contaria com isso.)
Arik Soong e Archer
Trivia
- O Briar Patch foi visto pela primeira vez em Jornada nas Estrelas: Insurreição, e aqui temos a identificação de que se trata de Klach D’kel Brakt, onde uma grande vitória do Império Klingon contra os romulanos teria ocorrido, conforme mencionado por Kor em “Blood Oath”, de Deep Space Nine.
- Este arco em três partes estabeleceu que a engenharia genética foi totalmente proibida após as Guerras Eugênicas e que esse banimento persistia no século 22, mesmo para pesquisas que poderiam curar doenças. No fim da história, Archer destaca que talvez a pesquisa de Soong pudesse um dia ser usada de forma positiva. No século 24, temos uma mudança de atitude, e descobrimos que o uso de engenharia genética como parte da medicina era permitido, mas o banimento para a introdução de características superiores em humanos persistia, conforme descrito em “Doctor Bashir, I Presume”, de Deep Space Nine.
- Tanto Khan Noonien Singh como Noonian Soong foram batizados por Gene Roddenberry em homenagem a um amigo dele, “Kim Noonien Singh”, com quem ele havia perdido contato após a Segunda Guerra Mundial.
- Este episódio foi fortemente editado pelo Channel 4 ao ser exibido no Reino Unido. Foi cortada toda a cena de luta entre Malik e Persis, bem como seu desfecho. Como resultado, Persis simplesmente some do segmento, sem explicação.
- John Billingsley elogiou o arco dos aumentados como um dos melhores trabalhos da temporada.
Ficha Técnica
Escrito por Michael Sussman
Dirigido por LeVar Burton
Exibido em 12 de novembro de 2004
Títulos em português: “Os Aumentados”
Elenco
Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato
Elenco convidado
Brent Spiner como Arik Soong
Alec Newman como Malik
Abby Brammell como Persis
Richard Riehle como Jeremy Lucas
Mark Rolston como Magh
Adam Grimes como Lokesh
Kristen Ariza como aumentada #1
Dayna Devon como engenheira
J.D. Hall como voz klingon
Enquete
Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Roberta Manaa