TNG 3×16: The Offspring

Data cria para si uma filha androide e descobre o que é ser pai

Sinopse

Data estelar: 43657.0

Data chama Wesley, Geordi e Troi ao laboratório, onde pretende mostrar sua nova criação: Lal, um ser androide que ele considera ser sua cria. Picard diz que Data devia tê-lo consultado, mas o tenente-comandante justifica sua intenção de perpetuar sua espécie.

Enquanto isso, Troi ajuda Lal a se desenvolver, e ela escolhe sua aparência e gêneros finais: uma mulher humana. Data segue instruindo a filha, bem como atualizando sua programação, baseada na própria. Depois de um insucesso enviando-a à escola da nave, ele decide alocá-la no Bar Panorâmico, onde ela poderá ajudar Guinan e aprender mais sobre o comportamento humano.

Informado sobre a situação, o almirante Haftel, da Pesquisa da Frota Estelar, gostaria de transferir a nova androide para as instalações em Galor IV. Data discorda, bem como Picard, mas o almirante insiste e vem a bordo para avaliar pessoalmente o caso.

Lal parece estar superando a capacidade de Data em alguns casos, usando contrações em sua fala que seu pai nunca dominou. Para Haftel, essa é só uma aberração que precisaria ser mais estudada. Ele se revolta com o trabalho de Lal no Bar Panorâmico e quer levá-la a Galor IV. Ao comunicar isso a ela, em uma entrevista, ela diz que gostaria de permanecer na Enterprise. E sai claramente afetada. Lal está desenvolvendo sentimentos e procura Troi para ajudá-la.

Enquanto isso, Haftel ordena Data a entregar Lal. Picard interfere e não permite que isso aconteça, colocando sua carreira em risco. Mas então Troi chama Data ao laboratório. Lal está com problemas. Data e Haftel tentam reparar os danos cerebrais, mas é impossível. A rede neural de Lal está colapsando. Ela dá adeus ao pai e morre. Data então transfere as memórias dela para si mesmo.

Comentários

Há muito pouco de ficção científica em “The Offspring”. É verdade que, por definição, um androide que cria um filho para si é um assunto bem sci-fi. Mas essa é só a base do que é uma trama extremamente orientada aos personagens e focada num drama familiar: querem tirar a guarda de Data sobre sua filha. O resultado é excelente.

Uma das coisas que Star Trek faz de forma incrível é alternar entre aventuras épicas cheias de ação, como o anterior “Yesterday’s Enterprise”, a dramas completamente “pé no chão”, como é este aqui, com a mesma desenvoltura. O conjunto de qualidades deste episódio é bem diferente do anterior, mas ambos têm o mesmo brilhantismo.

A chave do sucesso é, seja qual for a pegada, manter a história ancorada em pessoas. Neste caso, o coração da história está com Data, como sempre muito bem interpretado por Brent Spiner. E, claro, todo esforço cairia por terra, não fosse a fantástica atuação de Hallie Todd como Lal. É graças a ela que a audiência “compra” não só a natureza artificial de Lal, mas suas surpreendentes emoções.

No fim das contas, Lal não consegue lidar com o sofrimento de ficar longe do pai — algo que parece muito real, simples, humano e verdadeiro — e é isso que faz com que ela acabe morrendo. Ao mesmo tempo, sua criação por Data indica o desejo do androide de se perpetuar. Em sua busca por ser mais humano, ele também pretende ter descendentes.

O humor entra na dose certa (com destaque para a cena de Riker com Lal) e as cenas dramáticas são bem executadas e retratadas com simplicidade, nesta que foi a estreia de Jonathan Frakes como diretor. Vale também elogiar a trilha sonora de Ron Jones.

Num episódio totalmente ambientado na Enterprise, “The Offspring” substitui valores de produção por atuações como maneira de manter o espectador interessado. E funciona. A cena final de Data e Lal é de partir o coração, e a história agrega mais uma camada à evolução do androide como um ser vivo com direitos plenamente reconhecidos.

Avaliação

Citações

“There are times, sir, when men of good conscience cannot blindly follow orders. You acknowledge their sentience, but ignore their personal liberties and freedom. Order a man to turn his child over to the state? Not while I am his captain.”
(Há momentos, senhor, em que homens de boa consciência não podem seguir ordens cegamente. Você reconhece a senciência deles, mas ignora seus direitos e liberdades pessoais. Ordenar um homem a entregar seu filho ao estado? Não enquanto eu sou o capitão dele.)
Picard

“I feel.”
“What do you feel, Lal?”
“I love you, father.”
“I wish I could feel it with you.”
“I will feel it for both of us… thank you for my life.”
(Eu sinto.)
(O que você sente, Lal?)
(Eu amo você, pai.)
(Gostaria de poder sentir com você.)
(Eu sentirei por nós dois… obrigado por minha vida.)
Lal e Data

Trivia

  • Este foi o primeiro episódio do roteirista René Echevarria. Originalmente chamado “Bloodlines”, ele foi escrito de forma especulativa. Michael Piller relembrou assim: “‘The Offspring’ era um ótimo roteiro especulativo, exceto pelo fato de que, de início, quase nem era sobre nosso pessoal. Era realmente sobre essa androide mulher empolgante e novinha em folha que Data criara à sua própria imagem, e tudo era sobre ela. E eu disse: ‘Isso é ótimo. Mas não pode ser sobre a atriz convidada. Tem de ser sobre um do nosso pessoal. Tem que ser sobre Data. Não é tanto sobre a filha de Data como é sobre como Data lida com ser pai. Todo mundo será capaz de se identificar com isso e empatizar com os problemas que ele tem como pai de uma nova criança. Especialmente quando essa criança é ameaçada por todo tipo de força exterior.”
  • Segundo Echevarria, a história mudou consideravelmente desde a primeira versão. “Inicialmente, Data era o pai, e o computador da nave era a mãe. Havia alguma comédia — Data discutia com o computador sobre como criar Lal. Tinha algumas ameaças com um ferengi. Mas o que empolgou Michael é que se passava inteiramente na Enterprise. Eles precisavam de um episódio econômico, e foi isso que eu trouxe.”
  • O episódio se desenvolveu como um esforço de grupo. Michael Piller relatou: “Era um conceito que eu queria fazer, então nos sentamos com Gene e ele trouxe várias sugestões e disse o que o faria se encaixar na bíblia de Star Trek. Rick Berman adicionou algumas peças cruciais ao quebra-cabeça. Estávamos muito determinados a proteger a singularidade de Data como personagem, mas, ao mesmo tempo, parecia fazer total sentido que um dos traços humanos que Data teria observado e talvez ambicionasse era o de procriação e criação de filhos. Ele saberia também que seu valor à Frota Estelar seria tão grande que, se ele se envolvesse em um acidente, ele seria muito valioso para acabar consigo mesmo.”
  • Segundo Melinda Snodgrass, o roteiro passou por uma reescrita completa dela e, depois, uma reescrita completa de Michael Piller.
  • Numa das cenas em que Guinan fala sobre sexualidade humana com Lal, o roteiro sofreu uma modificação por exigência de Whoopi Goldberg. Quem contou foi Richard Arnold, assistente de Roddenberry: “De acordo com o roteiro, Guinan deveria começar dizendo a Lal, ‘quando um homem e uma mulher estão apaixonados…’ e, no fundo, haveria homens e mulheres sentados às mesas, de mãos dadas. Mas Whoopi se recusou a dizer isso. Ela disse: ‘Essa série está além disso. Deveria ser ‘quando duas pessoas estão apaixonadas’’.” Também ficou decidido que no fundo da cena haveria um casal do mesmo sexo de mãos dadas, mas, segundo Arnold, alguém correu para o telefone e ligou para o escritório, e isso foi derrubado. “David Livingston desceu e se assegurou de que isso não aconteceria.”
  • Jonathan Frakes precisou estudar bastante antes que Rick Berman o autorizasse a dirigir um episódio. “Eu fui ao Berman e disse que queria dirigir um episódio. Ele disse que eu precisaria ir à escola, e então passei cerca de 300 horas na sala de edição e no estúdio de dublagem para aprender essa parte. Edição era o lado das coisas em que eu me sentia mais fraco. Eu naturalmente observava por sobre os ombros de nossos diretores regulares e vi alguns seminários, li livros e, por fim, não desisti. Rick foi gentil o suficiente de me dar ‘The Offspring’ e fiquei vidrado porque era um episódio do Data e esses sempre funcionavam.”
  • A produção chegou a considerar uma continuação para este episódio na quinta temporada, em que Lore roubava o corpo de Lal e tentaria reativá-la usando o chip de emoções do dr. Soong, mas, por razões desconhecidas, acabou não acontecendo.
  • René Echevarria gostou muito do resultado final. Ele disse: “‘The Offspring’ sempre terá um lugar especial no meu coração, porque foi meu primeiro bebê.”
  • Para Jonathan Frakes, este é o melhor episódio sci-fi já escrito e também é o favorito dele, dentre os que dirigiu. Michael Dorn também o citou como um de seus favoritos, ao lado de “The Drumhead”.
  • Michael Piller também o listou como um de seus favoritos, ao lado de “The Measure of a Man” e “The Inner Light”, destacando seus impactos emocionais notáveis. “E eles genuinamente exploraram a condição humana, o que essa franquia faz melhor que qualquer outra quando faz direito”, disse. Sobre “The Offspring”, ele também falou: “O episódio perfeito para vir depois de ‘Yesterday’s Enterprise’ e um episódio de um tipo totalmente diferente. O roteiro e as atuações foram ótimos, e foi maravilhosamente dirigido por Jonathan. Para o meu gosto, foi um dos melhores episódios que tivemos no ano. Quando você tem bom material de personagem, você tem meu apoio.”
  • Já Melinda Snodgrass, autora de “The Measure of a Man”, pensou diferente. “Parecia bem óbvio e cansado e estúpido e eu não queria fazê-lo. (…) Tinha muito a ver com ‘The Measure of a Man’, que eu acho que não precisávamos fazer de novo tão cedo. Era um bom episódio para Jonathan estrear [como diretor]. Era um bom bottle show e ele não precisou lidar com culturas alienígenas.”

Ficha Técnica

Escrito por René Echevarria
Dirigido por Jonathan Frakes

Exibido em 12 de março de 1990

Título em português: “Descendência”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Whoopi Goldberg como Guinan
Hallie Todd como Lal
Nicolas Coster como Haftel
Judyann Elder como tenente Ballard
Diane Moser como tripulante do Bar Panorâmico
Hayne Bayle como tripulante do Bar Panorâmico
Maria Leone como tripulante do Bar Panorâmico
James G. Becker como tripulante do Bar Panorâmico

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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