Velha conhecida estreia em grande estilo com direito a aula de “essência”
Sinopse
Data estelar: Desconhecida
A holograma Janeway se apresenta, mencionando ser baseada numa condecorada capitão da Frota Estelar e que sua função é auxiliar a tripulação da Protostar a retornar ao espaço da Federação. Rok-Tahk pergunta o que é essa tal de Federação, o que faz com que Janeway questione como uma tripulação da Frota pode não saber o que é a Federação. Dal se atrapalha ao tentar responder, mas a própria Janeway dá uma saída para eles, dizendo que só podem ser cadetes, o que Dal confirma. Ele pede que ela os relembre sobre a Federação, para benefício de sua tripulação.
Janeway prontamente explica o que é a Federação e algumas questões chamam a atenção de praticamente todos. Valores de liberdade e explorar a galáxia audaciosamente são os pontos que se destacam. Mas quando ela pergunta se pode ajudá-los a traçar um curso, Dal descarta a possibilidade. Ele é o único que não está comprando o discurso da Janeway e decide que ele mesmo irá determinar o curso, apesar das tentativas do holograma de alertá-lo sobre os perigos de sua escolha.
Todos seguem juntos para explorar a nave e levar Gwyn para uma cela. Nesse momento, Rok-Tahk questiona Dal do porquê de eles terem mentido para Janeway quanto a eles serem cadetes. E observa, ainda, que a Federação pode protegê-los contra o Adivinho. Dal justifica que a Federação é nada mais do que outra figura de poder que quer vender uma vida boa, mais para si do que para um bando de fugitivos. Ele acredita que, quando se parece bom demais para ser verdade, é porque é. A trupe ainda parece não estar satisfeita com a resposta de Dal e retruca que ele está no comando. Estaria ele também mentindo? Na hora, Zero diz que Dal mente o tempo todo, mas Dal rapidamente justifica que mente por eles, e não para eles.
Finalmente Murf encontra o caminho para as celas, e Dal e Zero levam Gwyn. Ela parece incomodada com a situação, mas diz que basta a ela esperar, porque seu pai irá resgatá-la. Dal procura não aparentar preocupação, desdenhando da situação de Gwyn, mas Zero pode ler seus pensamentos e diz que ele está morrendo de medo.
Enquanto isso, em Tars Lamora, Drednok informa o Adivinho de que o motim foi controlado com perdas mínimas de indesejados. Solum fica furioso, porque a perda da Protostar e o rapto de sua filha não são coisas mínimas. Ele ainda ordena que sejam mais duros com os indesejados, de modo que, quanto mais cansados, menores as chances de eles tentarem qualquer motim novamente. Além disso, eles precisam de uma enorme quantidade de quimério. E, por fim, ordena Drednok que prepare o REV-12.
De volta à Protostar, Jankom Pog e Rok-Tahk entram no refeitório. Logo Janeway aparece e os assegura que eles podem pedir qualquer alimento que desejarem para comer. Pog fica extremamente animado e pede sua comida favorita. Rok, que nunca comeu outra coisa a não ser a gosma nutritiva que serviam em Tars Lamora, acaba pedindo exatamente isso. Já Murf, Zero e Dal exploram os dormitórios coletivos. E, embora Zero esteja contente em dividir o seu beliche com Dal, este logo desaparece. Ele encontra o quarto do capitão e fica maravilhado com o espaço.
Rok-Tahk leva comida para Gwyn, que acha que a intenção da brikar é de zombar dela. Rok acusa Gwyn de nunca os ter ajudado, mesmo vendo toda a atrocidade sendo cometida. Gwyn tenta justificar-se dizendo que seu pai lhe contou que eles eram criminosos. Rok refuta na hora, dizendo que o único crime que cometeram foi terem sido pegos. Gwyn olha para o prato de gosma nutritiva com espanto. Enquanto isso, Jankom Pog e Zero estão na engenharia admirando a nave ter dois núcleos de dobra e algo mais que eles não conseguem identificar. Nisso, o alerta vermelho começa a soar em toda a nave.
Quando todos finalmente chegam à ponte, Janeway explica que o curso traçado os levou a um sistema binário onde a atração gravitacional de uma anã branca em órbita está nos momentos finais de dilacerar uma gigante vermelha. E eles estão sendo puxados por essa gravidade. Janeway ainda tenta oferecer ajuda, o que Dal recusa mais uma vez. Ele ordena que Zero os tire dali, mas nada do que Zero faça parece ter efeito. Janeway mais uma vez tenta interferir, dizendo que acionar o motor de dobra dentro de um poço de gravidade poderia ter grandes consequências. Dal, então, ordena que eles transfiram toda a energia da nave para os motores de impulso. Isso faz com que o holograma seja desligado, bem como os escudos e as barreiras de confinamento das celas.
Gwyn imediatamente vê a oportunidade e corre para o local das cápsulas de escape, mas não chega a tempo, pois estas estão sendo ejetadas por ordem de Dal, que pretendia deixar a nave mais leve. Mesmo com toda a energia direcionada aos motores de impulso, eles não estão sendo suficientes. Gwyn, então, ordena ao computador que replique uma nave auxiliar. Dal envia Rok para prender Gwyn novamente ao descobrir que as celas foram abertas.
Gwyn desativa a gravidade artificial, o que não permite que Rok a capture e complica ainda mais a situação na ponte. Até que Dal dá o braço a torcer e pede ajuda a Janeway. Finalmente, tudo começa a dar certo. Rok prende Gwyn novamente e Zero encontra a solução para tirarem a Protostar do perigo. Eles agradecem Janeway, mas ela diz que apenas os colocou na direção certa e eles é que fizeram tudo. Dal ainda tenta concertar seus erros, dizendo que é um bom capitão porque soube pedir ajuda quando foi necessário, ficando com a glória de ter resolvido o problema. O resto da tripulação fica revoltada e acha que eles estão perdidos.
Janeway interfere, dizendo que a formação da Federação também não foi fácil. Espécies totalmente diferentes, com línguas e culturas diferentes, mas com uma aspiração em comum, a de serem melhores. E ainda eleva a moral deles, dizendo que teve a sua cota de comando de muitas tripulações rebeldes em seu tempo e que eles têm potencial. Finalmente, Dal pede que Janeway os ensine tudo o que precisam saber e todos ficam animados diante dessa perspectiva.
De volta a Tars Lamora, Drednok informa à Solum que rastreou a assinatura de dobra da Protostar. Solum, então, ativa a camuflagem da colônia penal e lança a sua nave em direção à Protostar para salvar sua filha.
Comentários
Conforme era de se esperar, o segundo episódio de Prodigy é quase um novo piloto e isso tem sua razão de ser justificável pela presença (ainda que holográfica) de uma personagem tão proeminente dentro do universo de Jornada nas Estrelas como Kathryn Janeway, que se junta ao time em grande estilo. Colocar todas as questões necessárias a um episódio de estreia para uma série conceitualmente nova, mesmo para os padrões de Jornada, exigiria mesmo muito espaço e colocar Janeway nesse contexto talvez fosse demais para um único episódio, mesmo este sendo duplo.
“Starstruck” insere a “uma das capitães mais condecoradas da Frota Estelar” e contextualiza bem como será a interação dela com os demais personagens da série. Desde que fomos apresentados à premissa, sabia-se — ou pelo menos se esperava — que, dado o perfil dessa “tripulação” da Protostar, deveria existir algum nível de conflito entre os personagens e o que vimos até aqui parecer confirmar isso até o momento.
Começando com o belo overview sobre a Federação e o papel da Frota Estelar, que parece não só querer educar os jovens tripulantes da nave como ao próprio espectador. É claro que todo fã de Jornada nas Estrelas conhece muito bem (ou acha que conhece) os princípios básicos do que são essas instituições, mas, pensando que Prodigy pretende atingir um novo público, essa apresentação é necessária e bem-vinda para que alguém que chegue agora entenda do que estamos falando quando falamos sobre a Federação dos Planetas Unidos.
Mas talvez seja a primeira vez que tenhamos essa definição realizada de forma tão estruturada e didática e, sem dúvida, até mesmo os já iniciados deveriam ouvir com atenção e refletir sobre as palavras de Janeway. Mas, além das palavras, a apresentação holográfica que passa por diversas épocas e momentos da história da franquia é um momento magistralmente executado que homenageia todas as áreas de Jornada, desde sua gênese. É muito divertido repassar essa cena procurando essas referências, reconhecendo personagens simbólicos e naves que se tornaram objeto do carinho dos fãs, numa linda homenagem capaz de amolecer o mais duro dos trekkers.
Contudo, para além das homenagens, uma fala de Janeway causa certa curiosidade. A sentença “ I’m Kathryn Janeway, your training advisor. I’m a hologram based on one of the most decorated captains in Starfleet history, programmed to assist the “Protostar’s” crew on their journey back to Federation space” parece implicar que, de alguma forma, a missão da nave realmente se originava no Quadrante Delta ou, pelo menos, bem distante de casa, o que mantém altas a expectativa a respeito de como a nave foi parar ali onde está e que tripulação ela deveria levar de volta para casa dessa vez.
É possível que esse mistério tenha algo a ver com o equipamento desconhecido encontrado na engenharia e que deve estar conectado com algum tipo de sistema de propulsão que vemos na nave durante o tema de abertura. Um slip stream talvez ? Algo que parece ter importância e que não deve demorar muito a ser revelado.
De toda forma, temos algumas informações interessantes que ajudarão a definir a dinâmica da relação entre os fugitivos e Holo Janeway. Fica subtendido, aqui, que o holograma tem limites em relação a sua autonomia e não tem controle total sobre as operações. Ou seja, quem precisa mesmo fazer a coisa acontecer são as crianças e isso tem importância, uma vez que não seria crível que eles conseguissem operar a nave sozinhos e seria monótono se ela, da mesma forma, pudesse tomar ações de forma independente.
A sequência em que eles precisam salvar a nave demonstra de forma didática como essa dinâmica deverá funcionar, além, é claro, de criar um dos momentos mais eletrizantes e, ao mesmo tempo, angustiantes do segmento, angústia que vem da vaidade de Dal, provavelmente alimentada por sua desconfiança.
Voltando aos demais personagens, temos dois desenvolvimentos significativos aqui. O primeiro diz respeito a Dal. Se, no primeiro episódio, o personagem facilmente angariou simpatia, aqui ele começa a desgastar um pouco o capital acumulado em forma de empatia, ao demonstrar atitudes arrogantes e egoístas em relação não só a Janeway, mas também a seus colegas de fuga ao se autodeclarar o capitão da nave, passando a tomar decisões por todos, sem que ele mesmo tenha certeza do que está fazendo.
É claro que ele age assim por ter alguma questão anterior mal resolvida e isso fica claro no roteiro quando ele diz que a “Federação é só mais um nome de quem está no comando”, mas o fato é que Dal não age muito diferente disso até aqui, colocando a vida de todos em risco para proteger sua vaidade e demostrando certo sentimento de vingança ao colocar Gwyn na prisão.
A questão é: até quando os demais companheiros irão aceitar esse tipo de situação? Mas é lógico presumir que a caminhada de Dal em sua jornada de cura e redenção será um dos elementos-chave da série e muito provavelmente veremos o jovem confrontando as consequências de suas decisões, como vimos aqui neste episódio.
Rok-Tahk também tem um desenvolvimento que merece atenção. O roteiro deste segmento despeja sobre o telespectador através da personagem uma miríade de sentimentos tocantes e amargos. Se Dal, Jankom Pog e Zero parecem personagens mais alegres, Rok-Tahk demonstra toda a angústia e tristeza de quem esteve presa injustamente e escravizada. O momento em que ela pede a mesma ração que comia no cativeiro simplesmente por não conhecer outra comida além disso é comovente e triste e nos conecta com sua profunda solidão.
Mesmo assim, apesar de todo ressentimento que vemos na personagem, é exatamente ela quem se lembra de levar comida para Gwyn, a quem cobra responsabilidade em sua omissão quanto ao que acontecia na colônia penal. Rok-Tahk talvez seja, nesse momento, a mais frágil e, ao mesmo tempo, a mais forte (sem se referir à óbvia força física) personagem desse grupo de fugitivos.
Gwyn, ao se esconder atrás da conveniência de acreditar em seu pai, esteve em condição privilegiada por anos, mas sua clara oposição a Drednok e seus métodos pelo menos a colocam em um caminho ético diferente, oferecendo possiblidade de redenção à personagem. Veremos como será o desenvolvimento dessa relação e como ela se posicionará no futuro em um eventual e provável confronto da tripulação da Protostar e seu algoz, o Adivinho.
Quanto aos demais, por ora podemos apenas comentar como a inocência de Zero, muitas vezes, lembra a inocência de Data em seus primeiros anos na TNG, mas a sua capacidade de ficar maravilhado com os eventos que presencia é quase docemente infantil. Mas, até o momento, tanto ele como Jankom Pog não receberam um tratamento mais profundo, embora este seja satisfatório.
Não poderíamos chamar de ressalva, mas é preciso comentar que parece estranhamente conveniente que o tal replicador de naves espaciais, que drena tanta energia da nave, seja considerado um equipamento essencial, mais essencial que os escudos. E deve ser fácil programar os sistemas da nave para só desativar as celas vazias. Contudo, nada que deponha contra o episódio. Provavelmente teremos desdobramentos relacionados ao Adivinho no próximo episódio, mas, por ora, já tivemos uma boa dose de aventura até aqui.
E, se o segmento começa com uma ode a Federação enquanto intuição e seus princípios, termina com um convite para que todos nós possamos aprender na prática como esses princípios podem moldar um grupo de pessoas não só a aceitar suas diferenças, mas a abraçá-las e, juntos, criar algo melhor, forjado no espírito de compreensão e esforço conjunto, algo pelo qual realmente valha a pena trabalhar.
Avaliação
Citações
“Equality? That sounds nice.”
(Igualdade? Isso soa bem.)
Rok-Tahk
“I like to boldly go! Or at least I think I do.”
(Eu gosto de ir audaciosamente! Ou pelo menos eu acho que sim.)
Rok-Tahk
“Take it from me, if it sounds too good to be true, it is.”
“You’re in charge. Do you lie to us?”
“Yes. He lies all the time.”
(Acredite em mim, se parece bom demais pra ser verdade, é.)
(Você está no comando. Você mente pra nós?)
(Sim. Ele mente o tempo todo.)
Dal, Rok-Tahk e Zero
“Murf, got any fantastic last-minute heroics?”
“I believe Murf is eating a chair.”
(Murf, consegue algum heroísmo fantástico de última hora?)
(Eu acredito que Murf está comendo uma cadeira.)
Dal e Zero
“Janeway! I need your help.”
“You know how to keep a lady waiting.”
“How do I get my feet on the ground?”
“All you had to do was ask.”
(Janeway! Eu preciso da sua ajuda.)
(Você sabe como deixar uma senhora esperando.)
(Como eu faço para colocar meus pés no chão?)
(Tudo que você precisava fazer era pedir.)
Dal e Janeway
“I must say, when the Federation first formed, it wasn’t pretty. A collection of species, entirely unfamiliar to each other, different languages, different cultures, but with one shared aspiration: to be better. I’ve seen my share of wayward crews, and I can tell you this– you’ve got potential.”
(Eu devo dizer que, quando a Federação foi formada, não foi fácil. Várias espécies, totalmente não familiarizadas umas com as outras, línguas diferentes, culturas diferentes, mas com uma aspiração em comum: ser melhor. Eu já tive a minha cota de tripulações rebeldes, mas eu posso dizer o seguinte — vocês têm potencial.)
Janeway
Trivia
- Um dos raros episódios de toda a franquia sem elenco convidado.
- Pela primeira vez, vemos a tecnologia para se replicar uma nave auxiliar.
- A apresentação da Janeway sobre a Federação, além de imagens dos membros fundadores, mostrou as naves principais de todas as séries live action antes de Prodigy: USS Enterprise (Série Clássica), USS Enterprise-D (A Nova Geração), USS Defiant (Deep Space Nine), USS Voyager (Voyager), Enterprise NX-01 (Enterprise), e USS Discovery (Discovery).
Ficha Técnica
Escrito por Chad Quandt
Dirigido por Alan Wan
Exibido em 4 de novembro de 2021
Título em português: “Vendo Estrelas”
Elenco
Brett Gray como Dal
Ella Purnell como Gwyn
Jason Mantzoukas como Jankom Pog
Angus Imrie como Zero
Rylee Alazraqui como Rok-Tahk
Dee Bradley Baker como Murf
Jimmi Simpson como Drednok
John Noble como Solum (o Adivinho)
Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
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Edição de Mariana Gamberger e Carlos Henrique B Santos
Revisão de Nívea Doria