Com um pé no passado e de olho no futuro, estreia de Prodigy é brilhante
Sinopse
Data estelar: desconhecida
O prisioneiro Dal R’El está em Tars Lamora, uma colônia penal localizada no Quadrante Delta. Ele está analisando uma possibilidade de fuga através de uma máquina de mineração que se eleva até a superfície quando vê uma figura ao longe, mas que logo desaparece. Nesse momento chega Drednok, uma forma de vida artificial que comanda a segurança da prisão. Ele pergunta a Dal se viu um prisioneiro chamado fugitivo Zero. Dal nega, mas ao ver o holograma mostrado por Drednok percebe que se trata da figura vista momentos antes. Drednok nota que ele está mentindo e parte para cima dele. No mesmo momento ocorre uma explosão, causada pelo fugitivo Zero, dando a oportunidade de Dal fugir.
Correndo pela mina, Dal tenta se comunicar com os outros prisioneiros, mas ninguém o entende. O tradutor universal não funciona, exatamente para evitar que prisioneiros possam organizar qualquer tipo de levante. Dal acaba esbarrando em um grande brikar enquanto tenta evitar os chamados observadores, que nada mais são a força bruta comandada por Drednok para impor ordem à prisão. Eventualmente ele chega a um local sem saída, mas consegue pular para uma das máquinas de mineração que estava observando antes de ver o fugitivo Zero. Seu aparente sucesso vem por água abaixo quando os observadores atiram na corrente que prende a máquina, fazendo com que Dal despenque. Mas nem tudo está perdido. Ele acaba caindo ao lado de um carregador classe D, onde um telarita de nome Jankom Pog está trabalhando. Dal rouba o carregador e outra perseguição se inicia, com os observadores na cola dele. Quando Dal consegue finalmente chegar a uma rampa que pode levá-lo à superfície, o sistema de levitação é desligado e ele despenca, pondo fim a uma fuga quase perfeita.
Enquanto isso, uma nave kazon chega à colônia, e uma Vau N’Akat chamada Gwyn recepciona o piloto. Ele está trazendo uma criança caitiana, se desculpando por não ter conseguido trazer mais criminosos ou órfãos, pois aparentemente já recolheu todos que encontrou nessa parte do quadrante. Gwyn completa a negociação, pagando o kazon, mas o ameaça jogá-lo para trabalhar na mina se trouxer uma criança tão nova da próxima vez. Drednok adverte Gwyn que, apesar de seu valor em falar muitas línguas, ela não deve falar pelo seu pai, o Adivinho, responsável pela colônia penal. Ele tem um plano para ela, o que a deixa ainda mais frustrada pelo fato de o Adivinho nunca lhe contar nenhum detalhe desse plano.
Na sequência, Gwyn vai ao encontro de seu pai, conversando com ele telepaticamente. Ele quer saber o que ela pensa de Dal e ordena que ela descubra o que ele sabe sobre o fugitivo Zero. Do contrário Dal sofrerá um terrível interrogatório nas mãos de Drednok. Solum, como é chamado o Adivinho, alerta que, enquanto o fugitivo Zero estiver à solta, eles arriscam que a esperança seja difundida entre os prisioneiros, chamados de indesejáveis. Após a partida de Gwyn, Solum ordena que Drednok se assegure de que os planos de Gwyn deem certo, ou então que ele faça do seu jeito. Ele não quer que Gwyn saiba o que estão procurando, com medo de que ela seja influenciada pela Federação, o que poderia impedir os seus planos.
Enquanto isso, Dal, na prisão, começa a ouvir uma voz, mas não sabe de onde. Os observadores chegam e o levam até Gwyn, deixando o mistério para trás. Ela suspeita que Dal esteja agindo em conjunto com o fugitivo Zero, mas propõe que o Adivinho poderia libertá-lo caso ele ajudasse a encontrá-lo. Na conversa, Gwyn diz que Zero é um medusiano e, portanto, um telepata. Imediatamente Dal entende de onde estava vindo a voz na sua cela. Gwyn envia Dal para a fenda noroeste, local onde o fugitivo Zero foi visto pela última vez, com um prazo de um dia para encontrá-lo.
Por se tratar de um local de perigo constante para os mineradores, Dal acaba pareado com o brikar que ele encontrou mais cedo. O mesmo parece continuar bravo com Dal, e a impossibilidade de comunicação leva Dal a disparar sem querer o equipamento de mineração. Com o desmoronamento, uma nova área da fenda aparece, e por sorte o brikar conseguiu proteger Dal a tempo, fazendo com que nenhum dos dois se machucassem.
Para surpresa de ambos, eles encontram uma nave, chamada USS Protostar. Imediatamente eles começam a explorá-la, chegando até a ponte. O brikar toca em uma insígnia da Federação que faz com que os painéis se iluminem e o tradutor universal seja ligado. Para espanto dos dois, eles passam a se entender. E para o espanto ainda maior de Dal, o brikar na realidade é uma menina, chamada Rok-Tahk. Nesse momento, Zero, que estava os observando o tempo todo, aparece na ponte. Ele explica que é na realidade uma entidade corpórea e não um robô, como Rok-Tahk achou que fosse. Ele precisa da proteção do traje porque qualquer pessoa que o veja em sua verdadeira forma enlouquece. E Solum tem usado o medusiano para esse fim, por isso ele escapou. Ele confirma que estava seguindo Dal, pois sente que ele ainda tem uma esperança que Zero parece não ter mais. E, embora ele consiga ler a mente de todos, a do Adivinho parece estar fechada para ele, mas ele sente que Solum está à procura de algo. Dal imediatamente percebe que Solum está à procura da nave, e eles precisam dar um jeito de fugir dali com ela.
Zero acredita que eles não sejam capazes de operá-la sozinhos e sugere que um engenheiro seria necessário. Dal sabe exatamente a quem recorrer, e ele e Rok-Tahk vão atrás de Jankom Pog. A princípio Pog se faz de desinteressado, mas acaba concordando com eles. Já de volta à nave, Pog começa a colocá-la em operação, mas pede uma semana para que esteja tudo pronto. Dal diz que eles têm até o final do dia, antes que Gwyn vá atrás dele.
Rok-Tahk traz para a nave uma criatura com aspecto gelatinoso que ela chama de Murf. Enquanto isso, Zero sente que há observadores por perto, e Dal sai da nave para impedir que eles a descubram. Ele vai ao encontro de Gwyn, levando um balde cheio de cristais de quimério, dizendo que, ao achá-los, poderia comprar sua liberdade, e acabou se esquecendo de procurar o Zero. Drednok acredita que a abordagem de Gwyn não está dando certo e manda Dal para a superfície. O local é extremamente perigoso e as chances de sobrevivência são pequenas.
Na superfície, Dal recebe uma ligação de Gwyn, que não está feliz com o andamento dos acontecimentos e sente muito pelo acontecido. Ela pergunta a Dal sobre um aglomerado de estrelas, chamado de Janela dos Sonhos, e Dal não está seguro em como descrever algo que seja a coisa mais bonita que ele já viu. Nesse momento acontecem alguns explosões, e Dal consegue fugir. Descobre-se na sequência que esse tinha sido o plano de Drednok para que eles pudessem segui-lo com a expectativa de que Dal os levaria até o fugitivo Zero.
De volta à nave, Dal é enviado por Pog ao casco externo para consertar os escudos, pois sem eles seria impossível conseguir fugir. Como já esperado, Drednok, Gwyn e os observadores chegam ao local, e Gwyn se surpreende com a nave, descobrindo que era isso que o pai estava procurando desde o início. Com o grupo todo à mercê dos observadores, Gwyn entra na nave para assegurar que não tem mais ninguém. Dal envia telepaticamente uma mensagem para Zero com um plano com que o medusiano não concorda, mas que Pog acha que pode dar certo. Eles começam a lutar e conseguem escapar para dentro da nave, aprisionando Gwyn. Os observadores, ao atirarem, fazem com que o chão onde a nave estava se torne instável. Com medo de danificá-la, Drednok ordena que eles parem de atirar, mas já é tarde demais, e a nave desliza em uma fenda.
Com muita sorte, Zero, que está tentando pilotar a nave na base da tentativa e erro consegue controlá-la antes que ela se arrebente no chão. Dá-se então início a uma perseguição por diversos túneis dentro da mina, com os observadores atrás da Protostar, e Drednok no casco, tentando evitar que Dal consiga consertar os escudos. O esforço dos fugitivos é recompensado quando Dal finalmente consegue ligar os escudos, deixando Drednok de fora. O malvado robô ainda tenta impedir a fuga da Protostar atirando em um maquinário que ao desmoronar impede a passagem da nave. Embora ainda não totalmente fora de perigo, a nova tripulação da Protostar consegue acionar os feisers, impedindo mais uma vez que Drednok prevaleça.
Já fora de perigo, todos olham maravilhados para a imensidão de estrelas. Até mesmo Dal, que parecia tão seguro de si e do que fazer, não sabe para onde ir. Rok-Tahk então diz que ele não precisa se preocupar, porque agora não está sozinho e tem ajuda. No momento em que a palavra ajuda é proferida, para a surpresa de todos, aparece um holograma perguntando se alguém pediu ajuda. O holograma se apresenta como sendo Janeway, um holograma de treinamento de emergência, e dá as boas-vindas a bordo.
De volta a Tars Lamora, Solum está fora de si e demanda que Drednok recupere sua nave.
Comentários
Espetacular.
Em uma palavra é assim que poderíamos descrever a estreia da série teen Star Trek Prodigy, que desde seu anúncio despertou muita curiosidade justamente por ser um projeto para um público mais jovem que, se muitas vezes foi atingido pelas várias edições da franquia, nunca teve uma série especificamente apontada em sua direção. Isso agora mudou, e mudou em grande estilo.
Prodigy traz algumas marcas muito importantes e uma identidade própria e, para isso, o conceito gráfico idealizado para a série é determinante. A escolha de posicioná-la fora do terreno conhecido dos mundos da Federação e de trazer personagens tão diferentes garantiu a liberdade para ousar nesse item, como falaremos mais adiante.
A produção opta por uma paleta de cores inédita, um visual deslumbrante, colorido, moderno e que consegue lançar literalmente um novo olhar para uma produção da franquia. Não há como não comparar esse com o também excelente trabalho realizado em Lower Decks, mas essa inevitável comparação entre as duas séries de animação denuncia o quanto o modelo convencional de Star Trek ficou estereotipado, e Prodigy nos traz um frescor muito bem-vindo.
Pela primeira vez temos uma série que não está tão fortemente conectada ao que podemos chamar de visual standard da franquia, e isso permite que ela caminhe por estradas diferentes e nos apresente um conceito visual inédito que, embora seja novo, carrega uma identidade capaz de trazer algumas lembranças a fãs de outras franquias.
Prodigy tem um “quê” de animações mais modernas, mas também remete suavemente ao visual de Star Wars, como Rebels, mas muito mais atual, e a sensação de familiaridade que traz, combinada ao desconhecido do universo ficcional (afinal, a série tem um formato voltado para neófitos em Star Trek), é muito bem-vinda, pois pode facilitar a conexão com o público-alvo que pretende atingir. O nível de qualidade das produções animadas atualmente está num patamar muito alto, e o que vimos aqui nos entrega um material graficamente atraente para esse público cada vez mais exigente.
Não há como entregar um resultado em alto nível sem uma grande trilha sonora, e nisso o piloto brilha mais uma vez. Uma trilha é sempre algo de extrema importância numa obra audiovisual, seja no cinema ou na TV. Se for competente ela modula nossas sensações e nos transporta para onde devemos estar. Essa tarefa, a música de Prodigy cumpre de forma estupenda.
Embora o trabalho aqui seja original, é possível perceber que o tema principal composto por Michael Giacchino encontra consonância com seu trabalho em Star Trek (2009), e é natural que assim seja. Giacchino já se consolidou como um dos grandes compositores do cinema, com trabalhos que já renderam vários prêmios, entre eles um Oscar, um Emmy, e três Grammys.
Mas em Star Trek (2009) o compositor participou do início de uma nova era da franquia, que ressurgiu com os filmes do universo Kelvin, dando início a essa fase que culminaria agora com o lançamento de Prodigy. É muito representativo que a trilha de Giacchino para a série tenha um pé no passado, mas nesse passado recente da franquia, e que nos faça olhar para o futuro da mesma forma como Gwyn olha para as estrelas pela primeira vez. As demais composições do piloto, de autoria da pupila de Giacchino, a israelense Nami Melumad, seguem a mesma estética.
Embora possamos perceber também frescor nas músicas, em vários momentos elas flertam com o trabalho anterior de Giacchino, trazendo ao mesmo tempo uma sensação de familiaridade e uma afirmação na capacidade que essa nova era tem de ser tão importante quanto as anteriores. Prodigy não nega suas origens, mas tem um pé fincado no futuro, e podemos ouvir isso em sua música.
O principal objetivo de um piloto, contudo, é apresentar sua premissa e seus personagens. Aqui, pela primeira vez temos um grupo de pessoas que não são membros da Frota estelar, nem sequer cidadãos da Federação, o que abre um universo de possibilidades. Ver como alguém “de fora” se comportará quando confrontado com os valores que conhecemos tão bem será por si só uma jornada interessante e, embora essa seja uma série a princípio com essa identidade teen, existe aqui um terreno rico a ser explorado na direção de debates promissores, como, por exemplo, a lendária Primeira Diretriz, da qual nosso grupo de tripulantes fugitivos não tem o menor conhecimento, muito menos compromisso.
E sobre esses personagens, já temos uma boa amostra aqui nesse episódio do papel de cada um deles, embora Dal R’El e Gwyn tenham sido mais explorados aqui, seguidos de Zero e Drednok, Rok-Tahk, Jankom Pog e até Murf (sorriso) – todos tiveram seus momentos introdutórios interessantes. Mas já é possível nos deter sobre o que foi visto de mais importante até aqui, começando, é claro, por Dal R’El.
Sobre ele entendemos desde o início o personagem como um espírito livre, um sobrevivente que guarda uma esperança jovial e ingênua dentro de si, que representa a verdadeira fé. Dal R’El, acredita, e acreditar é algo poderoso. Mas ele também tem outra marca. Não conhecemos sua raça, ele mesmo não sabe de onde vem, e essa procura é um dos elementos que o motiva. Aqui ele nos lembra de outro icônico personagem, Odo, que da mesma forma que o menino não sabe sua origem quando do início de Deep Space Nine.
Embora ambos os personagens sejam radicalmente diferentes em seu espírito devido às características dramáticas únicas de cada produção, não há como deixar de fazer esse paralelo. Em DS9 Odo também começa a série como único da sua espécie, sem conhecer sua origem e com uma profunda curiosidade a esse respeito. Resta saber se essa questão será tão determinante em Prodigy como foi em DS9, mas não deixa de ser mais um referência sutil ao legado da franquia.
Astuto, impetuoso, decidido, bem-humorado, ele é quem brilha nesse primeiro segmento, não só por ser o protagonista desse episódio, mas por sua atitude, e é perfeito que seja assim, uma vez que seria difícil capturar a atenção do público jovem caso sua atitude fosse algo cínica e sombria.
Gwyn também mostra muito potencial. Aqui entendemos que ela faz parte do status quo dominante como herdeira de Solum, mas a personagem, apesar da obediência ao pai, demonstra sua personalidade e traz um certo sentimento de empatia pelos prisioneiros de Tars Lamora. O fato de Gwyn dominar várias línguas merece atenção especial, principalmente pela forma como o segmento mostra a importância da comunicação, e, para além disso, por abordar como podemos conhecer uma cultura pela sua língua. A cena em que ela fala à jovem caitiana sobre a importância da língua é de uma sensibilidade belíssima.
E esse subtema, da comunicação, é recorrente aqui. Vemos isso quando descobrimos que os prisioneiros não conseguem entender um ao outro, por ordem de Drednok, que sabe que dessa forma se torna muito mais fácil manter todos sob controle; como contraponto, o primeiro “milagre” a acontecer com descoberta da Protostar é a capacidade de comunicação e, consequentemente, do entendimento, algo que faz parte do cerne do que seria a tão proclamada essência de Star Trek. “Darmok” nos mostra a importância da comunicação, mas aqui Prodigy faz o mesmo, de forma lúdica, simplesmente mostrando o óbvio.
Em dado momento percebemos que Dal R’El e Gwyn demonstram manter algum nível de relacionamento, algo que tem consequências aqui, mas isso só é possível devido à capacidade de Gwyn, e essa capacidade deverá se converter em uma característica fundamental da personagem no futuro, algo que certamente tem a ver com o plano traçado para ela por seu pai.
Um elemento fundamental da trama é o fugitivo Zero, uma bela homenagem à Série Clássica, pois foi no episódio “Is There in Truth No Beauty?” que ouvimos falar dos medusianos pela primeira vez (e última, até aqui). E mais do que o fato de ser uma das várias criaturas de pura energia já vistas em Jornada, a raça se mostrou naquele segmento ser bastante evoluída, mas muito curiosa. Vale muito a pena revisitar esse interessante episódio da terceira temporada da Série Clássica, pois ele dá pistas interessantes do que podemos esperar desse personagem. Aqui Zero já se revela curioso e cheio de recursos, vejamos o que mais ele pode nos apresentar adiante.
Drednok, o braço direito do Adivinho, será provavelmente um dos elementos importantes da série. Seu tom sombrio remete em um nível subliminar à persona célebre e assustadora do icônico Darth Vader, mas com diferenças significativas que dão singularidade ao personagem. A escolha de Jimmi Simpson para interpretá-lo foi extremamente acertada. A voz calma, compassada e firme transmite um sentimento constante de tensão e contribui demais para tornar Drednok realmente ameaçador.
Sua voz combinada à expressão formada pelos intensos olhos vermelhos e a boca em forma de garras transmitem tensão todo o tempo. Curiosamente a faceta “transformer” do personagem, que talvez seja a que mais vá agradar aos mais jovens, parece ser a mais desinteressante dramaticamente – porém, mais uma vez, é preciso entender isso como uma concessão para um novo público que aprecia esse tipo de abordagem.
Rok-Tahk é uma personagem que ainda precisamos ver mais, mas, de toda forma, a ideia de colocar tamanha força e resistência com uma mente tão jovem tem potencial. Ainda temos pouco para saber onde ela estará posicionada, mas também deixa uma boa primeira impressão. Jankom Pog é mais outra homenagem à Série Clássica e um personagem no mínimo divertido. Telaritas já foram vistos em vários lugares, mas no Quadrante Delta é a primeira vez. Pelo menos aqui o roteiro usa bem o jeito brigão dele que, como vimos, é cheio de recursos. Outro personagem bastante divertido.
Por último e não menos importante, Solum (o Adivinho) , o pai de Gwyn, um dos últimos de sua raça. Boa parte dos elementos da trama passa por ele. Por hora o personagem traz alguns dos principais mistérios da trama e, provavelmente, da série. Qual a origem dos Vau N’Akat e qual o motivo de sua extinção? Como ele conheceu a Federação e soube da existência da Protostar, e qual a importância dessas questões para o seu plano envolvendo Gwyn? Nota para a escolha de John Noble para dar voz ao personagem, que se mostra também muito acertada.
Sobre trama, a abordagem inicial é bem clara: Um grupo de fugitivos que não compartilham nada entre si além do desejo de liberdade encontram uma nave da Frota Estelar abandonada e conseguem usá-la para fugir, iniciando um grande circuito de aventuras. Parece pouco, mas juntando tudo que foi dito até aqui, essa é uma premissa que demonstra todo o seu potencial já na apresentação.
A afirmação “não há lugar para esperança aqui” se conecta com a essência de Jornada em outro nível, uma vez que a alma de Jornada nas Estrelas é formada dessa esperança. “The City on the Edge of Forever” nos ensina que mesmo nos momentos mais sombrios devemos ter fé no futuro, acreditar e trabalhar na construção desse futuro. Por outro lado, Dal R’El é exatamente o símbolo dessa esperança. Como diz Zero, “todos querem escapar, mas você é o único que acredita que pode”, e isso parece ser um dos grandes combustíveis do que podemos esperar da série.
Algumas observações são necessárias. Por exemplo, embora a busca da Protostar já tenha se revelado umas grandes questões, o tamanho dessa operação de mineração montada parece um pouco excessivo. Junto com o fato de que a raça deles está em extinção, de onde vem o poder necessário para estabelecer o controle sobre essa operação? Parece um contrassenso que um moribundo e sua filha consigam sozinhos tal empreitada, mas é provável que isso se justifique ao longo da série.
Embora os kazons tenham uma participação limitada aqui, eles servem como lembrança que a serie se passa no Quadrante Delta, mas não se descarta a possibilidade de que eles tenham mais alguma relevância nos episódios seguintes.
O vídeo de medidas de segurança, embora engraçadinho, parece meio deslocado, primeiro porque destoa do tom high tech e do design gráfico do restante do segmento. Parece alguma coisa que veio em um equipamento comprado de fora. Segundo, porque não parece que alguém esteja muito preocupado com a segurança dos trabalhadores daquele local. Mas é um momento divertido, e diversão também conta, afinal.
A cena de partida da Protostar merece destaque, primeiro porque toda nave que se preza tem que ter um batismo decente, e a visão da nave atravessando a cortina d’água é bela. Mas esse batismo também carrega um simbolismo ao colocar Dal R’El em posição de destaque. A fuga do menino é sem dúvida um sopro de esperança para aqueles que acreditam que podem ser livres e um dos pontos altos do episódio.
Mas, para além desse momento fundamental de “sacralização” da Protostar, toda a sequência de “lançamento” da nave tem uma alta dose de ação e aventura condensadas em poucos minutos, mas que despertam um grande “Whoooooooooooo”. Não há como não sorrir com a aparição repentina e salvadora de Murf e vibrar com toda a “quebração” durante a fuga dos jovens que a partir de agora levarão a bandeira de Jornada nas Estrelas audaciosamente.
“Lost and Found” funciona em tantas camadas diferentes que não tem como concluir um texto sobre ele, pois a cada revisita encontramos um detalhe, um cuidado, um carinho, e Prodigy começa a fazer seu caminho com uma identidade própria, um frescor, uma alma rejuvenescida, mas sem deixar em momento algum de referenciar e reverenciar suas origens. Opera em tantos níveis diferentes que certamente fascinará não somente os jovens fãs, mas a muitos dos antigos. E o futuro? O futuro pertence aos jovens de coração que acreditam ser possível construir novas e melhores versões de nós mesmos e novas Jornadas.
E é claro, ainda temos ainda a volta de uma certa capitão da Frota Estelar, mas isso é assunto para outra hora.
Que venham os próximos.
Avaliação
Citações
“Yeah, I know. I’m big, not dumb.”
(Sim, eu sei. Eu sou grande, não burra.)
Rok-Tahk
“Oh, whoa! You understand Jankom Pog? Wait, Jankom Pog understands you??? How?”
“Magic!”
“It’s a translator.”
“A magic translator.”
(Oh, uau! Você entende Jankom Pog? Espere, Jankom Pog entende você??? Como?)
(Magia!)
(É um tradutor)
(Um tradutor mágico)
Pog, Rok-Tahk e Dal
“Remember last time in detention? You told me about that cluster of stars. What were they called?”
“The Window of Dreams. How do you describe the most beautiful thing you’ve ever seen?”
(Lembra a última vez na detenção? Você me falou sobre aquele aglomerado de estrelas. Como eles foram chamados?)
(A janela dos sonhos. Como você descreve a coisa mais linda que já viu?)
Gwyn e Dal
“Found the right button. We should probably make a note of it.”
(Achei o botão certo. Provavelmente deveríamos tomar nota disso.)
Zero
“Have you ever even flown a ship before?!”
“No! Does it show?”
(Você já pilotou uma nave antes?)
(Não! Parece?)
Pog e Zero
“We just gotta fire the torpedoes.”
“Do we have torpedoes?!”
“Then the pew-pew-pew button!”
“I don’t see a pew-pew-pew button!”
“Just hit ‘em all, until it goes ‘pew pew!'”
(Nós só temos que disparar os torpedos.)
(Nós temos torpedos?!)
(O botão pew-pew-pew então!)
(Eu não vejo um botão pew-pew-pew!)
(Apenas aperte todos até fazer pew pew!)
Dal, Pog e Rok-Tahk
“Did someone ask for help? I am Hologram Janeway, your training advisor for exploring the greater galaxy. On behalf of Starfleet, welcome aboard. How can I be of assistance?”
(Alguém pediu juda? Eu sou o holograma Janeway, sua orientadora de treinamento para explorar a grande galáxia. Em nome da Frota Estelar, sejam bem-vindos a bordo. Como posso ajudar?)
Holograma Janeway
Trivia
- Apesar de nenhuma data estelar ter sido indicada, os produtores revelaram que o seriado se passa no ano de 2383, cinco anos após a Voyager ter voltado para a Terra.
- Zero foi trazido para Tars Lamora no mesmo tipo de contêiner hexagonal que o embaixador medusiano Kollos no episódio da Série Clássica, “Is There in Truth no Beauty”.
- Adversários recorrentes em Voyager, os kazons, tiveram sua última aparição em “Shattered”, da sétima temporada. Eles retornam agora em “Lost and Found”, e é a primeira vez que sua língua foi ouvida.
- O aglomerado estelar conhecido como Janela dos Sonhos, citado por Gwyn e Dal, apareceu pela primeira vez em “Body and Soul” (Voyager).
- Esse episódio traz diversas espécies normalmente vistas no Quadrante Alfa, incluindo uma caitiana, um telarita, um medusiano e os lurianos.
- Brikar, a espécie de Rok-Tahk, apareceu originalmente no livro não canônico, Worf’s First Adventure.
- Jimmi Simpson, o ator que empresta a voz a Drednok, participou do epidodio em “USS Callister” da série Black Mirror. Esse aclamado episodio tem grandes referências ao conceito de Star Trek.
Ficha Técnica
Escrito por Kevin & Dan Hageman
Dirigido por Ben Hibon
Exibido em 28 de outubro de 2021
Título em português: “Achado & Perdido”
Elenco
Brett Gray como Dal
Ella Purnell como Gwyn
Jason Mantzoukas como Jankom Pog
Angus Imrie como Zero
Rylee Alazraqui como Rok-Tahk
Dee Bradley Baker como Murf
Jimmi Simpson como Drednok
John Noble como Solum (o Adivinho)
Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
TB ao Vivo
Enquete
Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Salvador Nogueira