TNG 3×05: The Bonding

Episódio explora luto e orfandade, em história sensível e tocante

Sinopse

Data estelar: 43198.7

A Enterprise explora um planeta aparentemente desabitado, mas um grupo avançado liderado por Worf inadvertidamente dispara uma bomba antiga e a tenente Marla Aster morre. Seu filho Jeremy, de apenas 12 anos, está a bordo. Ele já havia perdido o pai anos antes, e agora só tem os tios, na Terra.

Cabe a Picard e Troi dar a notícia a Jeremy. Ele aparentemente aceita a situação, enquanto a tripulação lida com o luto. Worf em particular sofre e gostaria de fazer o R’uustai, um ritual de apadrinhamento klingon, em que Jeremy se tornaria seu irmão.

As coisas se complicam quando uma forma de energia emana do planeta e recria Marla para o menino. Ela diz a Jeremy que os dois vão viver felizes no mundo abaixo. Picard precisa lidar com a situação e consegue impedir que os dois se teletransportem.

A entidade insiste e recria a casa de Jeremy na Terra nos aposentos dele. Ela está usando fontes da própria Enterprise para produzir as ilusões e não entende por que a tripulação luta contra sua forma de confortar o menino.

Após idas e vindas, Picard promove uma reunião entre a alienígena, Jeremy, Wesley e Worf. Wesley conta como se sentiu ao perder o pai e de sua raiva contra Picard, responsável pela missão. Jeremy também abre seus sentimentos e manifesta a revolta com Worf. O capitão, por sua vez, explica à alienígena que, a despeito das boas intenções dela, a vida de Jeremy no planeta seria uma mentira. Ela compreende e deixa a Enterprise. Jeremy então conclui o ritual do R’uustai com Worf.

Comentários

“The Bonding” talvez seja o mais “pé no chão” de todos os episódios de A Nova Geração até o momento. Ele traz elementos de ficção científica, mas é essencialmente sobre a dura realidade do luto e da orfandade. Introspectivo, inspirado e tocante, ele exige alguma maturidade para ser apropriadamente apreciado. Mas, no que se propõe a fazer com os personagens, é muito bom.

A tripulação da Enterprise ganha vida no roteiro. Vemos Picard lidar com sua responsabilidade, como capitão, ao responder pela morte de uma tripulante, vemos sua posição sobre o fato de a Enterprise-D transportar crianças a bordo e temos mais um vislumbre maravilhoso da sutil sensibilidade e sabedoria de Jean-Luc.

O episódio também é um prato cheio para Deanna Troi, que, se por um lado, sofre com o clássico “alguma coisa me impede de sentir exatamente o que está acontecendo”, traz muita profundidade em seu papel como conselheira da nave, servindo como fio condutor para boa parte do episódio.

Worf também tem um papel importante, bem como Wesley — dois órfãos que ajudam a ecoar o drama de Jeremy Aster e fazem a história ser tanto sobre dois personagens principais quanto sobre o jovem astro convidado (que tem uma atuação apenas razoável, num papel bem difícil para uma criança).

O preço de tanta sensibilidade e introspecção é pago no ritmo. É uma história que se desenrola lentamente e exige que o telespectador esteja de fato investido nos pontos de vista e sentimentos dos tripulantes da Enterprise. Mas consegue fazer uso razoável de todo o elenco principal. Há cenas curtas, mas significativas, para Beverly, Riker, Data e Geordi.

Também merece destaque o trabalho do diretor Winrich Kolbe, que encontrou formas interessantes de fotografar algumas das cenas. Destaque, nesse sentido, para a sequência com Troi e Worf na sala do núcleo do computador, com direito a “tomadas de geladeira” por trás de uma grade.

Há de se valorizar também esforços como o de recriar a casa de Jeremy na Terra, valorizando um episódio que em essência é um bottle show, ambientado totalmente a bordo da Enterprise. Nem vemos o grupo avançado em ação no planeta, o que acaba sendo em benefício da trama — o foco é, desde o início, a perda de Marla Aster, e não as circunstâncias em que isso aconteceu. Ao nos poupar de uma cena gratuita em uma caverna genérica, o segmento rompe com clichês e exerce adequadamente sua liberdade criativa.

No fim das contas, temos um episódio delicado e sensível. Não é daqueles que “têm alguma coisa para todo mundo”, mas sua efetividade como um episódio adulto de Star Trek nunca é colocada em questão.

Avaliação

Citações

“I’m all alone now.”
“Jeremy, on the starship Enterprise, no one is alone… No one.”
(Estou totalmente sozinho agora.)
(Jeremy, na nave estelar Enterprise, ninguém está sozinho… ninguém.)
Jeremy Aster e Picard

Trivia

  • O episódio foi a primeira contribuição de Ronald D. Moore para Star Trek. O então aspirante a roteirista escreveu o segmento de forma especulativa durante a segunda temporada, para levar à Paramount em uma visita aos sets. Ele foi recebido por Richard Arnold, assistente de Roddenberry, que leu o roteiro e o encaminhou ao primeiro agente de Moore. Pela via apropriada, o roteiro foi ressubmetido e ficou numa pilha da produção por sete meses até ser resgatado por Michael Piller, recém-chegado ao comando da sala de roteiristas, mas sem um único roteiro para colocar em produção.
  • Piller relembrou assim a situação: “Eu cheguei sem nenhum episódio para filmar. Não havia histórias e não havia roteiros em preparação, o que é o pior pesadelo que você pode imaginar. Não havia a que recorrer e o apetite de qualquer série semanal é voraz, porque, assim que você termina um roteiro, você tem de ter outro vindo atrás e isso segue desse jeito. Fui olhar todos os pedaços de papel para ver o que havia das administrações anteriores que eu pudesse desenvolver. A primeira coisa que chamou minha atenção, a primeira coisa em que vi algum valor, foi um roteiro especulativo que estava por lá chamado ‘The Bonding’. Teve enorme apelo comigo. Precisava de um trabalhinho e ele não havia conectado a história alienígena com a outra história do jeito certo.”
  • O roteiro passou por uma reescrita significativa por Melinda Snodgrass e Michael Piller. Segundo Moore, as mexidas melhoraram bastante o resultado final. A principal delas é que na premissa original, era Jeremy quem recriava a mãe no holodeck. Gene Roddenberry se opôs à ideia, sugerindo que as crianças no século 24 teriam uma aceitação mais natural da morte. Então, em vez do holodeck, foi introduzida a entidade de energia do planeta, criando a confusão na cabeça do pobre Jeremy.
  • Moore esteve nos sets durante as filmagens e conheceu Patrick Stewart. O ator perguntou se ele estava escrevendo mais algum (ele já estava trabalhando em “The Defector”) e então disse: “Apenas lembre-se de alguma coisa… o capitão não transa ou atira o suficiente nesta série”. “E então ele se virou e saiu andando. Agora, este é o capitão da Enterprise, se você me perguntar”, relembrou Moore.
  • Este episódio mostra pela segunda e última vez a sala de acesso do computador, que estreou em “Evolution”.
  • O elo de Jeremy Aster com Worf nunca mais foi abordado em tela, mas figurou em quadrinhos, em uma das edições da DC Comics, e nos romances Genesis Force e Diplomatic Implausibility.
  • Michael Piller ficou bem satisfeito com o resultado final. “Gostei muito e tenho muito orgulho dele. Acho que acertou o coração de Star Trek, explorando a condição humana. Foi um maravilhoso exemplo disso.”
  • O diretor Winrich Kolbe tambem gostou, mas demonstrou certa insatisfação com o ator do jovem Jeremy. “Sou um pouquinho ambíguo sobre o menino que eu costumava chamar de Clark Gable Jr., por causa das orelhas. De novo, foi um episódio bonitinho e bom para o Michael [Dorn], mas não é algo que tenha me intrigado muito. Não é tão forte quanto alguns dos outros.” Kolbe também destacou a exploração incomum da vulnerabilidade em Worf como um dos pontos fortes.

Ficha Técnica

Escrito por Ronald D. Moore
Dirigido por Winrich Kolbe

Exibido em 23 de outubro de 1989

Título em português: “Laços de Família”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Susan Powell como Marla Aster
Gabriel Damon como Jeremy Aster
Colm Meaney como Miles O’Brien

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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