TNG 3×02: The Ensigns of Command

Data encara os desafios da liderança em uma colônia ameaçada

Sinopse

Data estelar: desconhecida

Em meio a um concerto, a Enterprise recebe uma mensagem da Corporação Sheliak, exigindo a retirada imediata de uma colônia humana em Tau Cygna V, em acordo com um tratado assinado há um século com a Federação. Não há qualquer registro de assentamento na região, uma vez que a radiação hiperônica tornaria o sistema inabitável para humanos, mas Picard decide investigar.

A radiação impede o funcionamento dos transportes e dos feisers. Data, no entanto, não seria afetado e desce sozinho ao planeta numa nave auxiliar. Ele constata que de fato há 15 mil colonos, oriundos da missão Artemis, lançada há 92 anos e originalmente destinada a Septimis Minor.

Data tenta convencer os colonos a se preparar para evacuação, com o apoio de Ard’rian McKenzie, que fica fascinada pela sofisticação do androide. O líder da colônia, Gosheven, se recusa a cooperar. Após Data sensibilizar parte dos humanos usando de psicologia reversa durante uma reunião, Gosheven usa uma descarga elétrica para desativá-lo.

Na Enterprise, Geordi e O’Brien trabalham num meio de tornar o transporte operacional, enquanto Picard tenta, sem sucesso, negociar um prazo mais elástico com os sheliaks.

No planeta, Ard’rian consegue reativar Data, que decide que uma demonstração mais efetiva é necessária. Ele tem sucesso em tornar um feiser operacional ao ligá-lo a um de seus subprocessadores e o usa para explodir o aqueduto local. O androide informa que os sheliaks têm armas ainda mais poderosas e podem obliterar a colônia da órbita. A demonstração é efetiva, e os colonos se mostram dispostos a partir.

Picard, contudo, ainda precisa negociar tempo hábil para a evacuação. Após ser rechaçado pelos sheliaks, ele encontra uma brecha no tratado, evocando arbitragem de terceiros e escolhendo os grizzelas, que no momento estão em hibernação e só vão despertar em seis meses. Para evitar um atraso ainda maior, os sheliaks concordam em conceder as três semanas solicitadas para a evacuação da colônia.

Comentários

“The Ensigns of Command” coloca Data pela primeira vez em situação de comando em uma missão avançada complexa, o que permite uma exploração interessante de como o androide lida com a “teoria da mente”, ou seja, a projeção que todos nós fazemos do que outros devem estar pensando, por supormos que seus processos mentais sejam similares aos nossos.

No caso, o androide precisa convencer um grupo de humanos, liderados por um orgulhoso patriota, Gosheven, a abandonar suas casas, sob risco de extermínio caso não o façam. Não sendo humano, ele se força a tentar pensar como um, projetando o uso de psicologia reversa (sugerir a alguém o contrário do que se quer, para obter uma reação adversativa e, portanto, desejável) e o de ações em vez de palavras para sensibilizar os colonos.

Melinda Snodgrass sempre foi uma das roteiristas mais sensíveis a Data, tendo escrito o clássico “The Measure of a Man”, e aqui mais uma vez ela consegue bons resultados, embora numa ambientação de aventura, em vez de um drama de tribunal.

O episódio se arrasta um pouco com a “piada” do teletransporte, com cenas que se intercalam com as de Data no planeta apenas para mostrar fracassos sucessivos de Geordi e O’Brien na adaptação do equipamento. É de se perguntar se são alívio cômico ou meramente inserções para dar tempo de tela aos personagens e, ao mesmo tempo, cobrir o tempo requerido ao episódio.

Em compensação, a sacada de Picard com o tratado, bem como sua execução, é extremamente divertida. A cena do capitão enrolando para atender aos sheliaks, enquanto tira pó da placa dedicatória da Enterprise, é muito legal.

Ainda assim, o coração do episódio está no planeta, com Data e Ard’rian, a aspirante a ciberneticista local que se apaixona pelo androide. É a primeira vez que Data tem de lidar com uma pessoa apaixonada por ele (convenhamos, isso não aconteceu com Tasha Yar em “The Naked Now”) e ele se mostra inábil para ler os sentimentos humanos. E, no entanto, descobre como reagir a eles.

É parte da intrigante jornada do personagem ao longo da série: como ser mais humano sem de fato sê-lo. A relação dele com os colonos e com Ard’rian tem um paralelo, ao mostrar Data observando e aprendendo como formular uma “teoria da mente”, mesmo sem ser humano. Da mesma forma que ele conclui pela psicologia reversa e por uma ação dramática, ele identifica o momento certo de dar um beijo na moça — sem em qualquer momento se ver emocionalmente envolvido em cada uma dessas decisões. (O tema do amor romântico para Data seria mais explorado em “In Theory”, da quarta temporada.)

Abrindo e fechando o episódio com a história do concerto, Snodgrass encapsula o foco deste episódio: Data é capaz de decisões criativas, mesmo sem ter emoções? Ele próprio se questiona, mas Picard atenta para as escolhas musicais dele e como, embora ele estivesse emulando músicos conhecidos, a combinação é única. A mensagem é a de que tanto faz como o androide chega a desenvolver seus padrões comportamentais; a mera complexidade de suas ações já suscita o respeito que ele deve ter como ente criativo, independentemente de haver substrato emocional por trás delas.

Visualmente, o episódio é interessante, com a pintura que estende o cenário do planeta até o topo da montanha e o uso inteligente (e discreto) do planet hell (como era chamado o estúdio que abrigava o cenário externo de planetas, com o ciclorama como céu, à moda da Série Clássica), além de bons cenários interiores da colônia. Faltou grana para os sheliaks e o interior da nave deles, verdade, mas o visual é suficientemente alienígena para sustentar a suspensão da descrença. Tudo isso, claro, com a ajuda da boa direção de Cliff Bole.

Enfim, não estamos diante de uma obra de arte, mas trata-se de mais um segmento competente, bem pensado e estruturado da terceira temporada de A Nova Geração.

Avaliação

Citações

“Data, telling us you’re going to fail before you make the attempt is never wise.”
(Data, nos dizer que vai fracassar antes de tentar nunca é sábio.)
Beverly Crusher

Trivia

  • Este foi o primeiro episódio da temporada a ser filmado, embora tenha sido exibido como o segundo. Durante as filmagens, o estúdio recebeu a visita do grupo que acompanhava o 14º dalai lama em visita aos Estados Unidos. A agenda do líder tibetano, contudo, impediu que ele estivesse nos sets.
  • A roteirista Melinda Snodgrass descreveu de forma bastante peculiar seu objetivo com o segmento: “Eu queria levar Data um passo adiante em seu desenvolvimento como um ser humano. Eu queria estressá-lo e fazê-lo enfrentar uma situação em que a lógica não é suficiente, para mostrar que para comandar você tem de ter carisma. Você precisa aprender a balançar seu pau e torcer para seu pau ser maior que o do outro cara.” De fato, a versão original era mais focada em uma disputa de intimidação entre Gosheven e Data. O roteiro se voltou para ação criativa nas reescritas.
  • Segundo o assistente Richard Arnold, Gene Roddenberry fez comentários pouco lisonjeiros sobre a versão inicial do roteiro, protestando que não gostaria de ver “seu personagem sendo usado como um consolo”, em referência a Data. No texto original, era sugerido que Gosheven e Ard’rian estavam num relacionamento, o que colocaria o androide em uma situação bem mais competitiva com o líder da colônia. E, nessa versão inicial, Data faria sexo com Ard’rian para confortá-la, o que levou ao comentário de Roddenberry.
  • Talvez por esses conflitos internos, Snodgrass chegou a assinar a versão final do roteiro com o pseudônimo de H. B. Savage. Mas a decisão foi revertida na hora de formular os créditos em tela, e o episódio é atribuído a ela.
  • O título do episódio foi extraído do poema “The Wants of Man”, de John Quincy Adams.
  • Wil Wheaton teve problemas com a produção neste episódio. Ele havia sido escalado para fazer um filme chamado Valmont, em Paris, e não poderia comparecer à primeira semana de filmagens da temporada. Um dos produtores disse a ele que não seria possível, pois o episódio teria uma cena importantíssima entre Wesley e Beverly Crusher. O ator então não fez o filme, e a produção excluiu Wheaton do roteiro, salvo por uma única fala. “A mensagem era muito clara — nós somos seus donos — e foi um movimento para sabotar minha carreira”, disse Wheaton, que ficou desgostoso e teve vontade de deixar a série.
  • Gosheven é interpretado por Grainger Hines, mas suas falas foram todas redubladas por outro ator. Após as filmagens, os produtores decidiram que a voz de Hines não tinha a presença que os produtores queriam — eles achavam que ele soava muito como John Wayne. Em razão disso, Hines pediu para não ser creditado no episódio.
  • Colm Meaney aparece no episódio, mas não tem uma única fala em tela (embora tivesse algumas no roteiro).
  • A nave sheliak é uma reciclagem, em outra cor, do modelo da nave cargueira de Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock.
  • Este episódio marca a primeira de três aparições da nave auxiliar Onizuka, batizada em homenagem a Ellison Onizuka, um dos sete astronautas vitimados pelo acidente do ônibus espacial Challenger, em 1986.
  • O diretor Cliff Bole indica que houve um corte súbito de orçamento que prejudicou a realização deste episódio. “Esse foi um daqueles em que começamos com ilusões de grandeza e, no último minuto, tivemos de cortar US$ 200 mil dele. É o massacre do orçamento. O que acontece é: você bola um episódio, todos os departamentos apresentam seus orçamentos, a gente responde, ‘não tem como’, e as coisas são cortadas de acordo. Os cenários são os primeiros a cair, porque são muito caros. Um episódio interessante, mas não foi nosso melhor esforço.”
  • Oficialmente, o episódio não tem data estelar, mas várias fontes listam 43133.3.

Ficha Técnica

Escrito por Melinda D. Snodgrass
Dirigido por Cliff Bole

Exibido em 2 de outubro de 1989

Título em português: “Os Imperativos do Comando”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Colm Meaney como Miles O’Brien
Eileen Seeley como Ard’rian McKenzie
Mark L. Taylor como Haritath
Richard Allen como Kentor
Mart McChesney como sheliak
Grainger Hines como Gosheven (não creditado)

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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