ENT 2×21: The Breach

Ética médica alienígena e escalada disputam pela atenção no episódio

Sinopse

Data: Desconhecida

Phlox está alimentando seus bichinhos e explica a Hoshi o que é um “pingo” (tribble) ao receber uma correspondência de Denobula. O governo denobulano está requisitando à Enterprise o favor de pegar um grupo de geólogos no planeta Xantoras, um mundo recém-tomado por uma facção altamente xenofóbica que está expulsando todos os alienígenas do planeta.

Ao ficar sabendo, o capitão Archer imediatamente concorda em ajudar. Em uma reunião com sua equipe, fica decidido que Mayweather (com sua experiência em escaladas) deve acompanhar Tucker e Reed na procura pelos geólogos. Para cumprir as determinações do novo governo local, o trio precisa estar de volta em três dias.

Phlox e Hoshi na enfermaria

Enquanto os três partem rumo à missão numa cápsula auxiliar, a Enterprise presta socorro a uma nave alienígena seriamente danificada em órbita de Xantoras, que não teve permissão para retornar e aterrissar. Dentre os pacientes está um chamado Hudak. Ele pertence à raça dos antarans, velhos rivais e inimigos dos denobulanos. Sua última guerra ocorreu há 300 anos, mas ainda há muito conflito entre os dois povos.

Ao descobrir que Phlox é o médico, Hudak se recusa a receber tratamento, muito embora isso vá levá-lo à morte. Archer ordena Phlox a ministrar o tratamento de qualquer modo, à revelia da vontade do paciente, mas o médico informa-o de que não poderá seguir as ordens, pois é contra o código de ética denobulano desrespeitar a vontade do paciente. Diante disso, Archer pede que ao menos Phlox tente convencer Hudak a aceitar o tratamento e superar o preconceito.

Denobulano Hudak ferido na Enterprise

No planeta, Travis, Trip e Reed continuam sua perigosa jornada pelas cavernas. Em certo momento, o trio quase despenca de um penhasco, salvo apenas pela perna de Mayweather, que no último momento se prendeu a uma parede e evitou que os três despencassem. Com o incidente, entretanto, o alferes quebrou a perna, obrigando Trip e Reed a seguirem sozinhos.

A bordo da Enterprise, Phlox começa a tentar se aproximar do antaran, mas é recebido com extrema hostilidade. De tanto ser agredido, e visivelmente perturbado, o médico acaba desistindo. Mais tarde, ele é interpelado por T’Pol, no refeitório, mas se mostra emocionalmente abalado com o conflito.

Trip e Reed com Mayweather ferido

Archer também tenta argumentar com Hudak, mas os esforços são em vão: o alienígena parece irredutível. No planeta, dois dias já se passaram e os tripulantes da Enterprise finalmente encontraram os geólogos que procuravam. Ao comunicá-los do que está acontecendo lá fora e da necessidade de partir, o trio de denobulanos se recusa a abandonar o local. Perdendo a paciência, Trip ordena que os três deixem as cavernas e partam com eles, por bem ou por mal. Relutantemente, os cientistas concordam, pedindo apenas ajuda para transportar as amostras que coletaram – segundo eles, isso pode ajudar muito a combater problemas de instabilidade geológica em Denobula.

De volta à enfermaria, Phlox volta a conversar com Hudak e explica o porquê de seu abalo emocional. Embora tenha sido criado no mesmo ambiente preconceituoso em que o antaran estava imerso, Phlox decidiu que não propagaria essa mentalidade para seus filhos. Sua postura acabou fazendo com que um de seus cinco filhos, Mettus, cortasse relações com ele. Verdadeiramente sensibilizado, Hudak decide que vai aceitar o tratamento.

Hudak e Phlox

No planeta, Trip comanda o grupo no retorno à Enterprise, mas eles são surpreendidos por fortes tremores de terra causados por disparos na região das cavernas. Archer monitora a situação da órbita e questiona o governador de Xantoras a respeito do ataque. A autoridade garante que não está atacando a tripulação da Enterprise, mas um grupo de rebeldes. Apesar disso, Archer ameaça disparar contra Xantoras caso eles não interrompam os disparos. Sob risco de iniciar outro front de guerra, o governo de Xantoras concorda com o cessar fogo.

Com isso, Trip tem tempo suficiente para chegar à cápsula auxiliar e voltar à Enterprise. A bordo, Hudak parece ter mudado seu ponto de vista e se tornado mais tolerante à ideia de que os denobulanos não são o “bicho papão”. Ele até aceita partir na mesma nave de transporte que também levará os recém-resgatados geólogos de Denobula.

Trip e Reed resgatando cientistas denobulanos

A Enterprise retorna à sua missão de exploração, enquanto Phlox, abalado pela recente experiência, decide escrever uma carta a seu filho, na tentativa de reatar laços.

Comentários

“The Breach” é na verdade dois episódios diferentes. Originalmente pensado como um roteiro no estilo clássico das versões modernas de Jornada nas Estrelas, com um enredo principal e outro secundário, o segmento aparece um tanto desconfigurado, com duas histórias que competem pelo enfoque principal.

Muito mais inspirado (e certamente inspirador) foi o lado da trama que se desenvolveu a bordo da Enterprise, com Phlox e seu dilema para tratar um paciente que, segundo seu “juramento hipocrático” denobulano, não deveria receber tratamento. O resgate dos geólogos na superfície, embora bem executado, carece de substância que justifique o tempo de tela que foi gasto com ele.

Title Card Enterprise The Breach

O episódio começa com uma cena literalmente saborosa, em que vemos a primeira aparição de um Pingo na série, seguida pelo primeiro devoramento de Pingo já visto, para o choque de Hoshi. A linguista havia ficado tão encantada quanto Uhura quando primeiro viu os simpáticos bichinhos em forma de bola de pelo, considerados inimigos mortais do Império Klingon.

Apesar desse tom bem-humorado, já se vê na sequência pela expressão de Phlox que as coisas vão ficar mais tensas. Mas essa sensação só se justifica quando os feridos da nave alienígena são trazidos a bordo e descobrimos que o passado denobulano não foi sempre um mar-de-rosas.

Hoshi segurando um pingo

De certa maneira, vemos um paralelo de ódio similar ao que aconteceu entre judeus e alemães durante a II Guerra Mundial, ou mesmo entre palestinos e israelenses, em tempos mais recentes. Assim como no mundo real, na ficção essas cicatrizes também demoram a curar, e vemos todo o seu poder na forte atuação de Henry Stram, como Hudak, e na belíssima interpretação de John Billingsley.

Aliás, mais uma vez, o destaque fica por conta do desempenho de Billingsley, que mostra que nenhum trejeito ou maquiagem pode ficar no caminho de sua comunhão com a verossimilhança de seu personagem. E uma vez mais seu personagem se fortalece ao se colocar em conflito direto com o capitão Archer.

Phlox e Archer

Desde “Dear Doctor”, estava demonstrado que Bakula e Billingsley extraíam o melhor um do outro quando seus personagens eram colocados em lados opostos. Naquela ocasião, ordens superiores fizeram com que os roteiristas aliviassem um pouco o conflito entre Phlox e Archer. Aqui, entretanto, a produção faz a coisa certa e deixa os dois entrarem num confronto direto. Archer dá uma ordem a Phlox, que por sua vez é eticamente obrigado a recusá-la. E ainda dá uma alfinetada no capitão mais tarde, sugerindo que ele “deveria estar ciente da confidencialidade médico-paciente, mas poderia sempre me ordenar a contar o que aconteceu”. Bravo!

Outro sinal de que a história estava no caminho certo foi a baixíssima necessidade de efeitos especiais complexos para contá-la adequadamente. A coisa mais complicada executada aqui foi a demonstração de que denobulanos têm extrema facilidade para escalar paredes e a exibição de alguns penhascos criados por computador. Algum trabalho também foi despendido com um pequeno conflito entre a cápsula auxiliar e uma nave de defesa de Xantoras, assim como na criação da nave alienígena avariada, mas nada que marcasse o episódio como uma “rica coletânea de efeitos visuais”.

Trip, Reed e Mayweather retornando com os cientistas denobulanos

Para manter o “coeficiente de ação”, o segmento que envolveu as escaladas de Trip, Reed e Mayweather. Aliás, Travis novamente recebe alguma atenção aqui, mostrando que aos poucos os roteiristas parecem estar aprendendo a escrever para o piloto. Paradoxalmente, parecem estar começando a se esquecer por completo de Hoshi. Ao que parece, será um verdadeiro desafio para os produtores de Enterprise manter um nível de atenção razoável para esses dois personagens simultaneamente.

A direção razoavelmente conservadora de Robert Duncan McNeill é uma escolha interessante, permitindo que os personagens surjam da tela como os verdadeiros protagonistas da trama, em vez de as estripulias da câmera. Mais uma vez, a escolha favorece fortemente o enredo voltado para Phlox e Hudak, em detrimento da história nas cavernas do planeta, que mereceriam talvez uma batida um pouco mais agitada.

Cientista denobulano

Apesar da falta de equilíbrio entre os dois enredos paralelos e a dificuldade em escolher um deles como a “história principal”, “The Breach” é um episódio interessante em termos dramáticos e enriquecedor para os enciclopedistas de plantão interessados em aprender mais sobre a cultura denobulana.

Avaliação

Citações

“Don’t sacrifice your life based on preconceptions.”
(Não sacrifique sua vida baseado em preconceitos.)
Archer

“I prefer to make my judgments based on first hand experience.”
(Prefiro fazer meus julgamentos baseado em experiência de primeira mão.)
Archer

“We didn’t risk our lives to hear you say ‘thanks, but no thanks’!”
(Não arriscamos nossas vidas para ouvir vocês dizerem ‘obrigado, mas não obrigado’!)
Tucker

“If you don’t start moving in the next 5 seconds I’m going to get out my phase pistol and shoot you in the ass… one… two…”
(Se você não começar a se mover nos próximos 5 segundos eu vou sacar minha pistola de fase e atirar no seu traseiro… um… dois…)
Tucker

Trivia

  • A produção foi de 5 a 14 de fevereiro de 2003. Como seus personagens tinham de fazer rappel em um rochedo para resgatar os geólogos denobulanos, Anthony Montgomery, Connor Trinneer e Dominic Keating receberam treinamento especial pelo coordenador de dublês Vince Deadrick Jr.
  • É o segundo episódio de Enterprise dirigido por Robert Duncan McNeill (Tom Paris). O primeiro foi “Cold Front”. Ele comentou o drama da produção. “John Billingsley tinha uma grande história de médico, e não tínhamos o terceiro ou o quarto ato quando começamos. Pegamos o terceiro ato no segundo dia de filmagem. E então John tinha uma cena um dia onde ele deveria meio que entrar em choque, mas não havíamos visto o quarto ato. Era tudo sobre um grande segredo que Phlox ia revelar no quarto ato – e ele disse a mim, o que é esse segredo? E eu não sabia, ninguém sabia. Então fizemos algumas ligações telefônicas e eles nos deram alguma ideia do que ia ser. Mas literalmente algumas vezes você começar a filmar um episódio e você nem sabe qual é o segredo que você está escondendo o episódio todo.”
  • McNeill também falou da direção das sequências de escalada. “Usamos cada polegada daquele cenário, cada ângulo que podíamos achar para filmar a sequência. Qualquer lugar em que eu podia colocar os atores na parede, eu os colocava. Para manter a ilusão de que eles estavam viajando milhas e milhas, eu nunca podia filmar o set inteiro. Movíamos os atores três ou quatro metros para o lado e mudávamos o ângulo de câmera, e parecia que eles haviam descido outros 30 metros de onde estavam antes. Quando a sequência dos dublês foi concluída, todo mundo que viu olhou para aquilo e disse, ‘uau, parece maravilhoso’. É algo saído de Vertical Limit ou Cliffhanger, um daqueles grandes filmes de escalada de montanhas.”
  • O episódio acabou ganhando cenas adicionais às pressas, quando faltou material para cobrir todos os 43 minutos exigidos.

Ficha Técnica

História de Daniel McCarthy
Roteiro de Chris Black & John Shiban
Dirigido por Robert Duncan McNeill

Exibido em 23 de abril de 2003

Títulos em português: “A Ruptura”

Elenco

Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato

Elenco convidado

Mark Chaet como Yolen
D.C. Douglas como Zepht
Laura Putney como Trevix
Henry Stram como Hudak
Jamison Yang como tripulante

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Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Roberta Manaa

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