Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida

Thriller político recupera paralelo da Guerra Fria para dar adeus à tripulação clássica 

Sinopse

Data estelar: 9521.6

A lua klingon Praxis explode, e a USS Excelsior, sob o comando do capitão Sulu, é atingida pela onda de choque da detonação. Os klingons citam um “incidente” e recusam qualquer ajuda, Sulu reporta a situação ao Comando da Frota Estelar. A lua parece ter sido destruída.

Dois meses depois, na Terra, Kirk e seus comandados se reúnem no Quartel-General da Frota Estelar, e um enviado especial da Federação – Spock – apresentará o drama vivido pelos klingons. A destruição de Praxis é uma catástrofe com que eles não podem lidar sozinhos. A pedido do embaixador vulcano, Spock então iniciou uma negociação com o chanceler Gorkon para o encerramento das hostilidades entre a Federação e o Império Klingon, com o fim da Zona Neutra. O almirante Cartwright discorda, considerando a situação uma oportunidade para subjugar os klingons. Kirk concorda. Mas a decisão do Comando é seguir com uma missão de paz, em que a Enterprise, comandada por Kirk, irá trazer Gorkon à Terra para uma conferência diplomática.

A tripulação sênior volta à Enterprise-A para a missão. A bordo, eles encontram a tenente Valeris, que se voluntariou para o leme. Vulcana, ela é uma protegida de Spock. A nave parte rumo ao encontro com a Kronos Um, cruzador klingon transportando Gorkon. Durante a viagem, Kirk registra em seu diário pessoal como jamais poderá confiar nos klingons ou perdoá-los pela morte do filho. Valeris o interrompe em seus aposentos para manifestar sua satisfação de servir com o capitão. Mais tarde, ela visita Spock em seus aposentos, perguntando se ele não se preocupa com o futuro da Federação. O vulcano diz que ela deve ter fé, mesmo que não seja lógico.

O encontro acontece e Kirk convida Gorkon e sua comitiva para um jantar a bordo da Enterprise. Dentre eles estão a filha do chanceler, Azetbur, o chefe de gabinete, general Chang, e o consultor militar, brigadeiro Kerla. Uma animosidade surge entre Kirk e Chang, que se estende pelo jantar. Ambos os lados estão desconfortáveis com a reunião, mesmo com o alívio propiciado por citações a Shakespeare e pela cerveja romulana.

Os klingons se despedem e voltam à Kronos Um, enquanto a tripulação federada lida com o início de uma ressaca. Spock detecta uma estranha fonte de energia sob a nave, e a Enterprise parece disparar dois torpedos fotônicos contra a Kronos Um, desarmada. A gravidade artificial pifa a bordo da nave klingon, e dois oficiais da Frota Estelar trajados com botas magnéticas se transportam para lá e usam feisers para promover um massacre, que inclui um atentado a Gorkon. Para evitar o colapso das negociações de paz, Kirk oferece a rendição, enquanto a tripulação tenta confirmar se foi a Enterprise a disparar os torpedos.

Kirk e McCoy se transportam para a Kronos Um e o médico tenta salvar Gorkon, mortalmente ferido. Ele fracassa, e o chanceler morre pouco depois de pedir a Kirk que não deixe tudo terminar daquele jeito. Chang decide prender Kirk e McCoy pelo assassinato de Gorkon e levá-los a julgamento.

Spock assume o comando da Enterprise e ordena Uhura a notificar a Frota Estelar do que aconteceu. O vulcano pretende investigar quem disparou os torpedos e diz que seguirá acompanhando os passos de Kirk e McCoy.

Na Terra, o embaixador klingon se reúne com o presidente da Federação e está revoltado, defendendo que Kirk e McCoy sejam levados a julgamento, de acordo com as leis interestelares. Em seguida, o presidente se reúne com o estado-maior da Frota Estelar, e o coronel West apresenta um plano de resgate dos prisioneiros. O presidente teme que a ação possa levar à guerra aberta e reluta em agir. Em seguida, Azetbur, como sucessora de Gorkon, decide manter a conferência de paz, mas trocar seu local, por uma questão de segurança. Do lado klingon, os conselheiros de Azetbur tentam convencê-la a atacar, mas ela pretende seguir os desejos de seu pai. Chang a lembra de que ele morrera por seus desejos.

Enquanto isso, a Frota Estelar ordena à Enterprise que retorne à Terra, mas Valeris sugere que simulem problemas técnicos para retardar o retorno. Scott diz que o computador de bordo indica que os disparos partiram da Enterprise, mas Spock quer uma contagem manual de todos os torpedos embarcados.

Em território klingon, Kirk e McCoy são levados a julgamento. Chang atua como promotor, e o coronel Worf é o advogado de defesa. Mas as coisas vão mal para os oficiais da Frota Estelar quando Chang usa um trecho obtido do diário pessoal de Kirk indicando que ele nunca confiará nos klingons ou os perdoará pela morte do filho. Com isso, os dois são condenados, mas o juiz decide comutar a pena: em vez de morte, prisão perpétua e trabalhos forçados no asteroide Rura Penthe, colônia penal conhecida como o cemitério dos alienígenas.

Ao acompanhar o julgamento, Sulu envia uma mensagem à Enterprise, dizendo que a Excelsior está pronta para ajudar. Spock prossegue investigando o caso e confirma com Scott que não foi a Enterprise a disparar contra a Kronos Um. O vulcano então lembra a estranha leitura de energia sob a nave pouco antes do ataque. Ele supõe que havia uma nave camuflada sob a Enterprise, uma ave-de-rapina capaz de disparar sob camuflagem. Spock ainda ordena uma busca para identificar os oficiais da Frota Estelar que abordaram a Kronos Um com botas magnéticas. Teriam eles saído da Enterprise? Spock acredita que sim, já que a base de dados da Enterprise foi alterada para parecer que os torpedos haviam saído dela, indicando que ao menos alguns dos responsáveis estão a bordo.

Kirk e McCoy são levados a Rura Penthe e integrados à população carcerária no subsolo. Kirk tem uma briga com um alienígena, mas é ajudado por outra, Martia. Ele ainda tem uma segunda briga, que consegue vencer por pouco. Ela se revela uma camaleoide, capaz de mudar de forma, e, em meio a um exercício de sedução de Kirk, sugere conhecer um meio de escaparem de lá, caso o capitão possa trazer uma nave para resgatá-los na superfície.

A bordo da Enterprise, uma busca cuidadosa é feita. Chekov encontra sangue klingon na plataforma de transporte, indicando que os assassinos saíram mesmo da Enterprise. A busca culmina com a localização de um par de botas magnéticas. Chekov confronta o tripulante Dax, dono do armário, mas seus pés alienígenas não caberiam nas botas, o que evidencia sua inocência. Foi uma tentativa desastrada de incriminá-lo.

Em Rura Penthe, Kirk e McCoy concordam e executam o plano, que os leva às planícies geladas do asteroide, para fora do campo inibidor de teletransporte. Kirk enfim acha que foi tudo fácil demais, um plano para matá-los “em uma tentativa de fuga”. Martia confirma fazer parte do embuste e acaba enfrentando Kirk com a aparência dele, em um combate corpo a corpo. Spock detecta a posição de Kirk e McCoy graças a um sinalizador de virídio que colocou no capitão antes que ele deixasse a Enterprise, e ordena que a nave parta em máxima velocidade para Rura Penthe. No caminho, Uhura precisa iludir patrulhas klingons, sem usar o tradutor universal, e a Enterprise chega a tempo de transportar os dois a bordo, instantes antes de serem mortos pelo chefe dos carcereiros.

Enquanto isso, no refeitório, Scott ouve um barulho vindo do sistema de ventilação e descobre escondidos dois trajes espaciais, do tipo usado no assassinato de Gorkon. Eles pertencem aos tripulantes Burke e Samno. Ele corre para apresentá-los a Kirk e Spock, e os dois encontram os ditos tripulantes mortos no turboelevador, por tiros de feiser à queima-roupa. Isso faz a dupla ter uma ideia. Nos corredores da nave, anunciam que haverá um interrogatório na enfermaria dos tripulantes Burke e Samno. Um misterioso assassino chega para matá-los, mas descobre em vez disso Spock e Kirk na enfermaria. É Valeris, mancomunada com os conspiradores na morte de Gorkon.

Fora de si, Spock faz um elo mental forçado com a vulcana para revelar os envolvidos na conspiração: há klingons, como Chang, e federados, como Cartwright e West. Imaginando que eles poderão voltar a atacar a conferência de paz, Kirk contata Sulu, que revela o local onde o evento está se dando, em Khitomer, e diz que partirá para lá com a Excelsior a fim de dar apoio à Enterprise.

As duas naves têm dificuldade para lidar com a ave-de-rapina que pode disparar camuflada, mas Spock tem uma ideia: inserir sensores de gás ionizado em um torpedo fotônico para detectar as emissões da nave como forma de identificar sua posição. Ele e McCoy procedem com a “cirurgia” no torpedo, e a estratégia dá certo. Com isso, a Excelsior e a Enterprise destroem a ave-de-rapina, com Chang a bordo. Kirk e sua tripulação então descem a Khitomer e interrompem a conferência, a tempo de salvar o presidente da Federação de uma tentativa de assassinato. Kirk revela a conspiração para impedir a paz e restaura a fé de Azetbur na visão do pai. Kirk diz que ela restaurou a fé de seu filho.

De volta à órbita, Kirk recebe ordens de levar a Enterprise de volta à Doca Espacial para ser descomissionada. Diante da insensibilidade, Spock sugere que os mandaria para o inferno – se fosse humano. Kirk então ordena um novo curso: segunda estrela à direita, e direto até o amanhecer. E assim terminam as viagens dessa intrépida tripulação, audaciosamente indo aonde nenhum homem – aonde ninguém – jamais esteve.

Comentários

Uma das maiores virtudes de Star Trek, já demonstrada na Série Clássica e tornada ainda mais evidente nos filmes, é a versatilidade. Para além da ficção científica, virtualmente qualquer gênero narrativo se torna viável por meio de seu formato. Para o sexto e último filme com o elenco original, Leonard Nimoy e Nicholas Meyer decidiram levar a franquia a um terreno até então pouco explorado, o dos thrillers políticos. Esse é em essência Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida.

Partiu de Nimoy, inspirado pelos eventos do final dos anos 1980 e início dos anos 1990 que levaram ao colapso da União Soviética, a ideia de ressuscitar os klingons como uma alegoria dos russos durante a Guerra Fria, com a Federação no papel dos Estados Unidos, e então imaginar uma versão do que seria o colapso do império soviético numa repaginação para Star Trek. Os paralelos são muito óbvios: a explosão de Praxis lembra o acidente nuclear de Chernobyl (em ambos os casos fruto de falhas sistêmicas de um regime decadente e incapaz de lidar com o próprio peso do poder que arregimentaram em décadas anteriores) e a presença de um Mikhail Gorbachev, ou um Gorkon, como queira, um líder idealista e mais afeito à ideia de paz, com políticas de abertura social e econômica como a Glasnost e a Perestroika, num momento de turbulência. Por fim, o caos político que esses momentos de transição, de fim de era, trazem consigo. Em 1991, com a fragmentação soviética em várias repúblicas independentes e a conversão da Rússia de inimiga a aliada dos Estados Unidos. Em 2293, com a assinatura de um tratado de paz entre o Império Klingon e a Federação, encerrando décadas de hostilidades e desmantelando o aparato militar de ambos os lados na Zona Neutra.

Apenas isso já seria um prato cheio para o escritor e diretor Nicholas Meyer, mas um bom filme não se sustenta sem bons arcos para seus protagonistas. E aqui, a exemplo do que ele fizera em Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan e Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa, mais uma vez Kirk e Spock ganham um excelente tratamento. Kirk talvez reflita o principal tema do filme – o medo natural que mudanças estruturais importantes podem trazer a uma sociedade, diante do desconhecido. Aqui, “a terra desconhecida”, que para Shakespeare era a morte, figura como “o futuro incerto”. E a equalização de ambas é especialmente sofisticada. Kirk considera mesmo o fim das hostilidades com os klingons algo como a morte – a morte do mundo como ele o conhecia.

Com efeito, para além das décadas de tensão entre as duas potências, e a constante propaganda de ambos os lados para retratarem-se um ao outro como inimigos selvagens e intratáveis, Kirk tem motivos pessoais para preservar seu rancor e preconceito contra aqueles que julga responsáveis pela morte de seu filho, David. Meyer conhece bem o personagem, tendo-o desenvolvido tão bem desde A Ira de Khan, e torna viscerais e poderosas as cenas de Kirk ao rejeitar a ideia de paz com os klingons, em mais uma atuação brilhante de William Shatner. Em outra transição importante e característica de Meyer, reencontramos aqui nossos heróis alguns anos após a última aventura nas telonas (seis, pela cronologia oficial), o que de novo respeita o fato de que os atores não estavam ficando mais novos. Lembra o mesmo movimento feito por Meyer ao reconhecer o envelhecimento dos personagens em Jornada II, agora já os aproximando da aposentadoria, no que seria sua gloriosa missão final.

A jornada de Kirk é perceber a irracionalidade de seu sentimento – entender que o medo do futuro é algo natural, mas que precisa ser questionado e domado pela racionalidade. É algo que ele faz, de novo, de forma muito contundente, ao notar a que ponto chegaram alguns dos que acreditavam nas mesmas coisas que ele, capazes de conspirar juntos, federados e klingons, para assassinar Gorkon e, depois, o próprio presidente da Federação. Tudo para manter o status quo, o mundo como eles conheciam, em que cada um se definia pelo sinal oposto do outro.

Spock, em compensação, faz uma trajetória diferente. Amparado desde o começo na lógica, que ele descreve como “o princípio da sabedoria, mas não o fim”, e mantendo a fé de que o Universo vai se encarregar de se desenvolver como deveria, ele abraça o novo com naturalidade. E pressupõe, erroneamente, que todos poderão dar esse mesmo passo corajoso na direção do futuro. Mal sabia ele que sua presunção quase levaria à morte de seus melhores amigos, para não falar no gosto amargo da traição de Valeris, sua protegida, vivida com energia e charme por Kim Cattrall. Ao se acomodar em suas próprias convicções, ele se descolou da observação atenta do seu entorno, do seu contexto, o que quase custou caro, em vidas e na própria missão, enfim atingida da forma heroica que um filme de Star Trek exige.

Leonard Nimoy mais uma vez brilha como o personagem, trazendo essa nuance de um vulcano que aprendeu a conviver com seu lado emocional, sem perder sua própria identidade – um processo que, na verdade, permeara toda sua vida até então, antes e mesmo depois de sua ressurreição. É sentida a cena em que ele é consolado por Kirk, ao especular que talvez ambos tenham sobrevivido à sua própria utilidade. De novo, Meyer não tem medo algum de expor a fragilidade de nossos heróis, como pessoas com virtudes e falhas, em busca de algo a mais.

O filme também demandava um antagonista, e temos aqui um dos mais brilhantes a passar pelos palcos de Star Trek: o shakespeariano general Chang, interpretado de forma maestral por Christopher Plummer. A inteligência e a malícia discreta do klingon, em contraste com seu desempenho teatral, recheado de citações literárias, o torna um personagem muito interessante, capaz de bater de frente com Shatner em todas as ocasiões – algo essencial para mobilizar emocionalmente a audiência para a trama.

Embora ambientado majoritariamente a bordo da Enterprise, o longa conta com sequências que ajudam a dar sabor especial à aventura. Destacam-se o assassinato de Gorkon, na Kronos Um, com um espetáculo visual macabro dos klingons indefesos, em gravidade zero, sendo massacrados pelos dois misteriosos tripulantes federados; o julgamento de Kirk e McCoy, introduzindo novas camadas e construção de mundo ao Império Klingon; a chegada e partida de Rura Penthe, possivelmente a sequência que dá mais margem para humor durante todo o filme; e a ação em Camp Khitomer, durante a conferência de paz, que termina com aquele sabor gostoso de final feliz de filme.

Em geral, o roteiro consegue equilibrar bem seu espírito mais sombrio e taciturno, aquele jeitão de calmaria antes da tormenta, com alguns momentos mais leves, mas, também, há lances em que ele exagera demais, para os dois lados. No campo do humor, talvez seja questionável a ação de Uhura tentando falar com os klingons sem tradutor universal. É divertido, ok, e até intencionalmente retrô, com o pessoal todo cercado por dicionários impressos, mas é difícil ignorar o fato de que a única oportunidade para a oficial de comunicações brilhar envolve algum lance de incompetência ou inaptidão dela. O sabor é mais ou menos o mesmo também com Chekov, na cena sobre do “sapatinho da Cinderela”. É rir às custas do personagem, não com ele.

No outro extremo, beirando o demasiado sinistro, temos Spock efetivamente violando a mente de Valeris. Não cabe disfarçar; é o equivalente telepático de um estupro. A cena é filmada de tal maneira a ser intencionalmente desconfortável para o espectador – um dos momentos em que o diretor Meyer tentou forçar as fronteiras do usualmente aceitável entre respeitáveis tripulantes da Enterprise. Ele mesmo, posteriormente, colocaria em dúvida sua própria escolha, achando-a inapropriada. Mas está lá, faz parte do filme, e é parte integrante da história. Certamente mostra o quanto Spock ficou perturbado pela traição de Valeris e disposto a tudo para impedir o fracasso da missão de paz.

Do elenco secundário, o único ator que realmente teve projeção relevante foi Sulu – uma justa recompensa a George Takei por ter sido o menos exigido dos atores nos filmes anteriores. A capitania de Sulu, que originalmente seria concretizada em Jornada II (só não o foi por uma cena cortada), aqui se manifesta, e ele aparece comandando a Excelsior com a imponência que o papel exige. Todas as sequências com Sulu são bacanas, e o envolvimento dele com o desfecho, dando suporte à Enterprise na batalha sobre Camp Khitomer, é a cereja no bolo. O momento, por sinal, fecha com chave de ouro o trabalho de efeitos visuais do filme. Com a Industrial Light & Magic de volta ao trabalho, temos cenas memoráveis da explosão de Praxis e da batalha com a ave-de-rapina de Chang.

Até mesmo onde o dinheiro faltou, Nicholas Meyer conseguiu disfarçar bem, usando estratégias de escurecer o fundo dos cenários para torná-los mais simples e baratos (muitas das ambientações da Enterprise são redecorações mal-disfarçadas de cenários de A Nova Geração, então em hiato de produção entre a quarta e quinta temporadas). O diretor faz mais uma vez um trabalho excepcional, mostrando sua vocação para conduzir uma aventura de Star Trek. Há de se notar que ele conseguiu conduzir um clássico filme de batalha naval no espaço (A Ira de Khan) e outro de intriga política e mistério (A Terra Desconhecida) com grande desenvoltura, além de ter ajudado a roteirizar um de aventura e comédia (A Volta para Casa), obtendo sucesso em todos os três. Ao final deste filme, é difícil não reconhecer em Nicholas Meyer uma das grandes vozes na interpretação das melhores e mais versáteis qualidades da franquia. Mais que isso, cabe reconhecer que este longa representa uma despedida tocante e digna do elenco clássico, sinalizando a passagem do bastão para a turma de A Nova Geração, e uma brilhante celebração dos 25 anos da saga. Impossível não se emocionar.

Avaliação

Citações

“You’ve restored my father’s faith.”
“And you’ve restored my son’s.”
(Você restaurou a fé do meu pai.)
(E você restaurou a do meu filho.)
Azetbur e James Kirk, na conferência de paz

“Once again we’ve saved civilization as we know it.”
“And the good news is, they’re not going to prosecute.”
(Mais uma vez salvamos a civilização como a conhecemos.)
(E a boa notícia é que eles não vão nos processar.)
James T. Kirk e Leonard McCoy

 “Captain, I have orders from Starfleet Command. We’re to be put back into Spacedock immediately. To be decommissioned.”
“If I were Human, I believe my response would be, ‘Go to hell!’. If I were Human.”
(Capitão, tenho ordens do Comando da Frota Estelar. Devemos voltar à Doca Espacial imediatamente. Para descomissionamento.)
(Se eu fosse humano, acredito que minha resposta seria, “vão para o inferno!”. Se eu fosse humano.)
Nyota Uhura e Spock

“Course heading, Captain?”
“Second star to the right. And straight on ‘til morning.”
(Direção do curso, capitão?)
(Segunda estrela à direita. E direto até o amanhecer.)
Pavel Chekov e James T. Kirk, citando Peter Pan

Trivia

  • Após o fracasso de público e crítica de Jornada nas Estrelas V: A Última Fronteira, o produtor Harve Bennett foi procurado pela Paramount para pensar em um próximo filme, mais barato que os anteriores. Ele então revisitou a ideia proposta originalmente para o quarto filme por Ralph Winter, a de uma prequela que mostrasse a primeira aventura de Kirk e Spock juntos, ainda na Academia da Frota Estelar. Descrita como “Top Gun no espaço”, ela chegou a ser desenvolvida como um roteiro, The Academy Years, escrito por Bennett e David Loughery (roteirista de Jornada V). Na trama, McCoy contava como conheceu Kirk e Spock quando foi falar a um grupo de formandos da Academia. O roteiro explorava a juventude de Kirk e Spock e seu encontro com McCoy e Scotty na Academia, numa aventura contra algum vilão. O texto também falava do pai de Kirk, George, um piloto que havia desaparecido – e foi presumido morto – durante um experimento de dobra envolvendo Scott.
  • O estúdio, contudo, queria um filme com o elenco clássico, e não atores mais jovens, para celebrar os 25 anos de Star Trek. Bennett ainda tentou reescrever o roteiro para incluir pontas de William Shatner e Leonard Nimoy, mas a solução não agradou. Com isso, Bennett se afastou da franquia, e o projeto foi engavetado.
  • Walter Koenig (Chekov), que também era escritor, chegou a submeter uma proposta de história, In Flanders Fields, que envolvia os romulanos se unindo à Federação e travando guerra com os klingons. A tripulação da Enterprise, menos Spock, seria forçada a se aposentar, mas teria de voltar à ação para resgatar o vulcano e sua equipe depois que ela foi capturada por alienígenas monstruosos similares a vermes. No fim, morreriam todos os personagens, menos Spock e McCoy. Não é preciso ser gênio para imaginar que a proposta não ganharia tração.
  • O chefe do estúdio, Frank Mancuso, então, procurou Leonard Nimoy, em meados de 1990, atribuindo-lhe a tarefa de pensar em uma história que pudesse servir de canto do cisne para o elenco original. O ator/diretor/escritor procurou Nicholas Meyer e sugeriu que talvez pudessem refletir eventos correntes na geopolítica, como a queda do Muro de Berlim. Meyer, inspirado por isso, foi emendando ideias, como a de uma versão espacial de Chernobyl e uma crise no Império Klingon. Os dois conceberam juntos a trama.
  • Os escritores Lawrence Konner e Mark Rosenthal foram contratados pelo estúdio para escrever o roteiro, sem a anuência de Meyer, que tinha a expectativa de poder redigi-lo. O material que a dupla entregou, no entanto, foi reputado como muito ruim, e Meyer se pôs a escrever o roteiro do zero, em colaboração com seu amigo Denny Martin Flinn, então acometido por um câncer. Em arbitragem feita pelo sindicato dos roteiristas, Konner e Rosenthal receberam crédito no filme, embora Nimoy e Meyer digam que eles não tiveram contribuição efetiva.
  • Foi a esposa de Meyer que sugeriu que, além de escrever, ele poderia dirigir o longa, o que foi de bom grado aceito por Nimoy – o ator não queria assumir mais uma vez a direção e causar atritos com Shatner. Ralph Winter e Steven-Charles Jaffe foram contratados como produtores. Nimoy ainda assinaria a produção executiva.
  • Flinn e Meyer trabalharam por email, algo então incomum para a época. O primeiro escrevia de Los Angeles, e o segundo da Europa, alternando-se em horários e revisando material um do outro.
  • A versão original do roteiro continha um prólogo que abraçava a passagem do tempo, mostrando cada membro do elenco original lidando com sua aposentadoria, de forma frustrante, e então sendo reunidos para uma última missão. Spock vivia uma versão vulcana de Hamlet, Sulu dirigia um táxi numa metrópole superpopulosa, Kirk teria se casado com Carol Marcus, McCoy aparecia bêbado num jantar de médicos, Scotty estaria ensinando engenharia e supervisionando o resgate da ave-de-rapina de A Volta para Casa, tirada do fundo do mar. Por fim, Uhura seria apresentadora de um programa de rádio e Chekov estaria jogando xadrez em um clube. Numa reescrita, Sulu passou à capitania e seria o responsável por reunir a velha tripulação.
  • Esse segmento foi inteiramente descartado pelo estúdio em razão do custo. Flinn chegou a dizer que as locações exóticas para as sequências elevariam o orçamento a US$ 50 milhões. Já a Paramount não estava disposta a gastar mais que US$ 30 milhões, tendo em vista o desempenho fraco do filme anterior.
  • Para fazer o filme caber no orçamento, Shatner, Nimoy e Kelley aceitaram uma redução no seu cachê, complementada por eventuais lucros obtidos com a bilheteria. Segundo Meyer, foram dois meses de disputas com o estúdio para alinhar orçamento e roteiro.
  • Originalmente, a pupila de Spock que se revelaria uma traidora seria Saavik, não Valeris.
  • Gene Roddenberry, então, já muito doente, odiou o roteiro. Repudiou o tom militarista, a agressividade de seus personagens em seus preconceitos com os klingons e o uso de Saavik. Na maior parte das disputas, ele não foi ouvido.
  • As filmagens foram iniciadas em 16 de abril e encerradas em 27 de setembro de 1991, e o plano era lançá-lo até o fim do ano, a tempo de comemorar os 25 anos da franquia – como de fato aconteceu.
  • Uma das pequenas extravagâncias do filme foi a gravação, com uma segunda unidade, de cenas aéreas em geleiras do Alasca, para retratar o cenário desolador de Rura Penthe. As imagens próximas dos atores, contudo, foram todas feitas em estúdio. Já a prisão foi filmada em cavernas reais deixadas pela mineração em Griffith Park, no Bronson Canyon, próximo a Los Angeles, ambientação popularizada por ser usada como a batcaverna na série Batman dos anos 1960. Já a conferência de Khitomer foi filmada no Brandeis-Bardin Institute, em Simi Valley, Califórnia.
  • Muitos cenários oriundos da produção de A Nova Geração foram usados para o filme: os aposentos de Data viraram os de Spock e Kirk; a sala de transporte era a mesma da Enterprise-D, redecorada; a engenharia, vista brevemente, também; a cozinha era o escritório de Deanna Troi; a sala de jantar era a sala de observação da Enterprise-D; e o gabinete do presidente da Federação era o bar panorâmico. Já a ponte da Excelsior era a mesma da Enterprise-A, mas com consoles tirados da ponte de batalha da Enterprise-D para dar uma aparência mais moderna a ela.
  • A imensa maioria dos efeitos visuais foram produzidos pela Industrial Light & Magic, mas alguns foram passados a outras companhias, como parte das cenas em gravidade zero (feitas pela Pacific Data Images) e as tomadas com feisers e teletransporte, que foram geradas pela Visual Concept Engineering, uma derivada da ILM. Tudo isso para economizar no orçamento e mantê-lo sob controle.
  • A presença de computação gráfica se mostrou bastante nesta produção, com a explosão de Praxis, o sangue klingon flutuando em gravidade zero e as transformações de Martia.
  • Depois que James Horner e Jerry Goldsmith se revelaram além do alcance do orçamento do filme, Nicholas Meyer recrutou o jovem Cliff EIdelman, então com 26 anos, para compor a sombria trilha do filme.
  • Originalmente programado para ser lançado em 13 de dezembro de 1991 nos EUA, ele acabou chegando uma semana antes, em 6 de dezembro. Gene Roddenberry pôde assistir a uma prévia do filme quase pronto dois dias antes de morrer, em 24 de outubro de 1991. O filme acabou dedicado a ele.
  • Como elementos de promoção cruzada para A Nova Geração e A Terra Desconhecida, Michael Dorn (Worf) foi incluído no elenco do filme para uma ponta como o advogado klingon de Kirk; já Leonard Nimoy fechou contrato para aparecer como Spock no episódio duplo “Unification”, da série de TV.
  • Em contraste com seu predecessor, Jornada VI foi bem nas bilheterias, arrecadando quase US$ 75 milhões em solo americano e um total de cerca de US$ 97 milhões globalmente. O filme também foi recebido pela crítica, indicado a dois Oscars, por maquiagem e edição de efeitos sonoros, além de uma indicação ao Hugo e a cinco prêmios Saturn, conquistando o de “melhor filme de ficção científica”, honraria que só ele obteve, dentre os filmes da Série Clássica.
  • O filme é o primeiro a canonizar o primeiro nome de Sulu, Hikaru, e a confirmar o nome do meio de Kirk, Tiberius, conforme mostrado originalmente em “Bem”, da Série Animada.
  • Rene Auberjonois, antes de se tornar conhecido dos fãs pelo papel de Odo, faz uma pequena ponta no filme, como o coronel West. Na versão lançada originalmente nos cinemas, suas cenas foram cortadas. Para a versão do diretor, que chegou ao público em home video, Nicholas Meyer restituiu suas cenas.

Ficha Técnica

História de Leonard Nimoy e Lawrence Konner & Mark Rosenthal
Roteiro de Nicholas Meyer & Danny Martin Flinn
Dirigido por Nicholas Meyer
Produzido por Steven-Charles Jaffe & Ralph Winter
Música de Cliff Eidelman

Estreia em 6 de dezembro de 1991 (EUA), 4 de março de 1992 (Brasil)

Título em inglês: Star Trek VI: The Undiscovered Country

Elenco

William Shatner como James T. Kirk
Leonard Nimoy como Spock
DeForest Kelley como Leonard H. McCoy
James Doohan como Montgomery Scott
Walter Koenig como Pavel Chekov
Nichelle Nichols como Nyota Uhura
George Takei como Hikaru Sulu
Kim Cattrall como Valeris
Mark Lenard como Sarek
Grace Lee Whitney como Janice Rand
Brock Peters como Cartwright
Leon Russom como comandante em chefe
Kurtwood Smith como presidente da Federação
Christopher Plummer como Chang
Rosana DeSoto como Assetur
David Warner como Gorkon
Michael Dorn como coronel Worf
Paul Rossilli como Kerla
Robert Easton como juiz klingon
Clifford Shegog como oficial klingon
W. Morgan Sheppard como comandante klingon
Brett Porter como general Stex
Jeremy Roberts como oficial da Excelsior
Michael Bofshever como engenheiro da Excelsior
Angelo Tiffe como navegador da Excelsior
Boris Lee Krutonog como piloto Lojur
Christian Slater como oficial de comunicações da Excelsior
Iman como Martia
Tom Morga como o bruto
Todd Bryant como tradutor klingon
John Bloom como alienígena gigante
Jim Boeke como primeiro general klingon
Carlos Cestero como armeiro
Edward Clements como jovem tripulante
Katie Jane Johnson como Martia como criança
Douglas Engalla como prisioneiro em Rura Penthe
Matthias Hues como segundo general klingon
Darryl Henriques como Nanclus
David Orange como klingon sonolento
Judy Levitt como adido militar
Shakti como adido de campo
Michael Snyder como tripulante Dax

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Rafaela Sieves

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