DS9 1×13: The Storyteller

O’Brien, o enviado dos Profetas?

Sinopse

Data estelar: 46729.1

Sisko se prepara para receber duas delegações bajorianas, representantes dos paqu e dos navot, para mediar uma disputa territorial. Enquanto isso, O’Brien é designado para levar Bashir a Bajor em um explorador para atender a uma emergência médica em uma vila isolada.

A primeira surpresa surge quando a tetrarca dos paqu chega à Estação 9: Varis Sul tem apenas 15 anos. Ela e o líder navot, Woban, se reúnem com Sisko e Kira, mas parecem irredutíveis em seu conflito: os cardassianos desviaram o curso de um rio que servia de divisa entre os dois territórios. Woban deseja que a marcação antiga seja preservada, e Varis acredita que o que vale é a posição atual do rio. Ao sair da reunião, Varis passa por Nog e Jake no Promenade, e o ferengi fica encantado pela garota.

No planeta, Bashir precisa atender ao líder religioso da aldeia, designado Sirah. O ancião acamado chama por seu aprendiz e manifesta sua preocupação com algo chamado Dal’Rok, uma terrível criatura que ameaça a aldeia à noite. Bashir diz que o Sirah está à beira da morte e não há nada que ele possa fazer.

Mesmo assim, ele insiste em enfrentar o Dal’Rok – uma sinistra nuvem – quando a noite cai. Ele conta uma história para o povo da aldeia, que passa a emitir um raio luminoso que afasta a criatura. Mas o Sirah cai, e os aldeões entram em pânico. O Dal’Rok dispara raios e fere vários deles. O ancião, então, pede por seu sucessor, mas não Hovath, e sim O’Brien. Ele convence o chefe a repetir suas palavras, e a vila volta a espantar a criatura, até ela desaparecer. Com isso, O’Brien é proclamado o novo Sirah – o que não o deixa nada feliz.

Na estação, Nog convence Jake a visitar Varis em seus aposentos. Eles oferecerem a ela um tour, e ela aceita de bom grado. Mais tarde, em seu escritório, Sisko confronta Varis e tenta fazê-la ceder, mas ela segue determinada e sai furiosa para o Promenade, onde volta a encontrar Nog e Jake. Ela se abre com eles, e os dois sugerem que ela ouça os pais dela, mas Varis revela que eles foram mortos durante a ocupação cardassiana. Conversando de forma velada sobre a disputa de terras, Varis pergunta aos dois sobre oportunidade e risco, e Nog cita a 9ª Regra de Aquisição: “Oportunidade mais instinto igual a lucro”. Ela se inspira por isso, e o ferengi decide celebrar fazendo um trote. Levando os dois ao escritório de Odo, ele finge tropeçar e derrubar o conteúdo do balde do transmorfo sobre Jake. Mas não se trata de Odo, e, sim, de mingau de aveia. O comissário chega e detém os brincalhões.

No planeta, O’Brien é paparicado como o novo Sirah, e os aldeões querem que ele vá morar lá. Quem não está feliz é Hovath, destituído da sucessão. Ele tenta assassinar o chefe, que consegue escapar por pouco de uma facada, até Bashir apartar os dois. Hovath está arrasado, alegando que O’Brien não é o verdadeiro Sirah. Ele conta a história do Dal’Rok e mostra um bracelete que parece ter um fragmento de um orbe. Bashir e O’Brien não têm ideia do que seja a tal criatura, nem de como detê-la.

Em seu escritório, Sisko fala com Varis, que assume a responsabilidade pelas ações de Jake e Nog no escritório de segurança. Ela conversa sobre seu pai com Sisko, e o comandante a lembra de que grandes líderes como ele sabiam quando arriscar dizendo “sim” a uma proposição corajosa. Isso leva Varis a dizer que pode ter uma “oportunidade” que permita a ambos os lados dizerem “sim”.

À noite, na vila, O’Brien se vê obrigado a contar a história e a tentar espantar o Dal’Rok. Ele não vai muito bem, e o efeito repulsor não surge. A criatura ataca com violência, Bashir convence Hovath de assumir o lugar de O’Brien. Ele consegue recuperar a confiança da vila contando a história, e o Dal’Rok é mais uma vez expulso. Bashir e O’Brien saem de fininho, enquanto os aldeões comemoram a ascensão de seu novo Sirah.

Na estação, Varis caminha com Sisko e diz que pretende propor a cessão do território ao povo navot, mas mantendo acesso livre ao rio para os cidadãos paqu. Eles encontram Jake e Nog, e ela os agradece, dando um beijo na bochecha do ferengi, enquanto Odo os leva para arrumar a bagunça no escritório da segurança.

Comentários

“The Storyteller” apresenta duas histórias, mostrando realidades diferentes de Bajor. A história principal, com o Bashir e o O’Brien num vilarejo em Bajor, e a história secundária, acontecendo na Estação com Nog, Jake e a tetrarca Varis Sul, tendo como pano de fundo uma negociação entre os paqu (vila da Varis) e os navot. Claramente a história secundária acaba se sobressaindo em relação à história que dá nome ao episódio.

Os paqu e os navot estão à beira de uma guerra, e Sisko acaba sendo apontado como mediador para tentar evitar um conflito armado entre as vilas. O ponto interessante da história, é que eles viviam em paz e sob um acordo há 90 anos, o qual determinava o limite das duas vilas como sendo o rio Glyrhond. Até que durante a Ocupação, os cardassianos alteraram o curso do rio para fins de mineração e fizeram com que 20 quilômetros de terra mudassem para o lado dos paqu. Ou seja, podemos ver, ainda que de forma discreta, uma das consequências da Ocupação cardassiana.

Não só isso, mas Varis Sul, uma garota com aproximadamente 15 anos, se torna tetrarca da sua vila no lugar de seu pai, dado que ele e sua esposa foram mortos pelos cardassianos. Varis se apresenta como uma típica adolescente que muito cedo teve que crescer. Ela tem a necessidade de se provar, e tem o receio de não fazer a coisa certa para a sua vila. Não ajuda o fato de as pessoas se espantarem quando a encontram, como vemos na chegada de Varis na Estação. Ao Sisko e Kira verem que ela é uma menina, a cara de ambos entrega que ela não era o que esperavam.

Varis não quer devolver o pedaço de terra que ficou para o seu lado do rio, e parece decidida em não ceder de forma alguma. Sisko ainda tenta convencê-la, mas ela não parece confiar em ninguém. É nesse ponto em que entram Nog e Jake. Em sua primeira cena, ambos estão sentados no chão, no segundo nível do Promenade, local esse que ficou marcado na vida dos dois e é revisitado com frequência. Quando eles são obrigados por Odo a se levantarem, Nog nota Varis passando no nível inferior.

Os dois vão atrás de Varis, e é interessante ver Nog interessado na menina, mas completamente sem jeito para puxar conversa, o que acaba sobrando para Jake, que parece mais desenvolto nesse quesito do que o amigo. Vale destacar a conversa que os três têm sobre suas figuras paternas. Varis descobre que Jake é filho do comandante da Estação, e futuramente descobrimos que ela se aproveita da oportunidade para saber mais sobre ele, procurando uma perspectiva diferente. Jake, claro, só tem coisas boas para falar sobre o pai. Não é segredo para ninguém, o quanto a relação entre eles é valiosa e extremamente bem desenvolvida na série. Por outro lado, é interessante ver Nog dizendo que seu pai também é um cara esperto e bacana, quando no fundo ele ressente o fato de Rom não ser um ferengi ordinário. Para ele, se afirmar como ferengi é fundamental, e percebe-se que no fundo, ele tem uma certa vergonha do pai.

Por isso, quando Varis os encontra em uma outra ocasião, e ela está preocupada com a não resolução do problema entre as vilas, Nog acaba brilhando ao oferecer a tetrarca a solução. E o melhor, isso vem como uma das regras de aquisição, oferecendo a ela uma opção em forma de oportunidade. Se os navot querem tanto o que ela possui, ele a questiona o que ela gostaria deles, o que poderia servir de moeda de troca. Essa forma de pensar de Nog acaba fazendo toda a diferença ao final. E é um bom modo de valorizar o personagem em si. Além disso, Varis acaba se sentindo mais à vontade de confiar em Sisko.

Podemos nos perguntar por que Varis não confia no comandante, afinal ele é o Emissário do Profetas. Quase nada é dito em tela, mas é possível extrapolar e fazer uma pequena análise antropológica da situação. Kira fala que os paqu são muito fechados e isolados, o que nos leva a pensar o quanto a Kai tem de influência sobre eles, ou até, pode-se pensar que existem vertentes dentro da religião bajoriana que não aceitam um forasteiro como Emissário (como, inclusive, veremos em episódios futuros). Ou ainda, não se sabe sequer se eles seguem os Profetas. Sisko como Emissário é muito longe da realidade dela, pensando que ele é um cara numa estação e ela está numa vila isolada lá em Bajor. Dessa forma é possível entender quando Varis não faz qualquer menção de Sisko ser o Emissário, nem tampouco isso tenha qualquer influência sobre as decisões dela. Isso demonstra que a sociedade bajoriana não é monolítica em sua cultura e crenças religiosas, deixando-a mais tridimensional e interessante.

Ainda sobre essa parte da história, vale destacar a interação de Sisko com Kira. Ela oferece informações para Sisko antes do início das negociações, e fica uma promessa de mais, durante a conversa no elevador. Infelizmente, fica apenas na promessa. Teria sido interessante ver mais cenas dos dois trabalhando juntos.

Agora sobre a história principal, temos uma grande oportunidade perdida. Raramente vemos episódios passados em Bajor, e aqui temos uma vila, que ao contrário dos paqu, se mostram extremamente religiosos. É interessante a figura do Sirah, quase como o vedek do vilarejo, o líder espiritual, que os salva anos atrás ao inventar a figura do Dal’Rok. Em certo momento, a população se tornou dividida pelo ódio e desconfiança, e o Sirah da época criou a figura do Dal’Rok através de um fragmento de orb; o primeiro problema do episódio começa aí. Não é possível ao final entender absolutamente nada de como o Dal’Rok aparece, como é possível isso acontecer uma vez ao ano e sempre no mesmo período, e como ele é derrotado. Se o pensamento das pessoas tem alguma influência ou se é apenas controlado pelo Sirah através de um dispositivo. E nem é preciso dizer que isso não será retomado novamente.

Mas o grande problema dessa parte vem da sua concepção. Ela é uma história genérica, reciclada de TNG que não tinha sido usada e foi resgatada pelo Michael Piller, e que basicamente poderia acontecer em qualquer planeta. E pior, as pessoas da vila são retratadas de forma vergonhosa, tendo como ápice a cena em que o magistrado oferece três mulheres (virgens?!) ao O’Brien, por ter sido nomeado o novo Sirah.

Para não dizer que alguma coisa não se salva, pode-se destacar a interação entre Bashir e O’Brien. Esse é o primeiro episódio em que eles têm mais cenas. Ainda que bem longe do que veremos da amizade entre os dois, é engraçado ver o O’Brien tentando escapar de ter que levar o Bashir até Bajor, e, depois, o desconforto dele no runabout. A cereja do bolo é o doutor pedindo que O’Brien o chame de Julian, apesar dos protestos dele, dado que Bashir é seu superior. E, por fim, um diálogo um pouco mais inspirado entre os dois, quando Bashir diz que pelo que eles sabem, O’Brien pode ter sido mesmo enviado pelos Profetas; e o chefe retruca que ele foi enviado pelo comandante Sisko. O que não deixa de ser engraçado se pensarmos que Sisko é o Emissário dos Profetas.

Apesar desses pontos interessantes levantados, infelizmente “The Storyteller” ainda sofre desse início de temporada, com histórias compradas de escritores fora da sala de roteiristas e, muitas vezes, reescritos a exaustão. A série ainda não tinha achado o seu caminho, e procurava se aproximar de TNG, e digamos que, quase todas as vezes que fez isso, Deep Space Nine falhou. Isso se reflete nesse episódio com caracterizações muito ruins e oportunidades perdidas.

Avaliação

Citações

“Don’t worry, chief. I have faith in you.
(Não se preocupe, chefe. Eu tenho fé em você.)
Bashir

“I believe in people working together to find reasonable solutions to their problems. I hope you do as well.”
(Eu acredito em pessoas trabalhando juntas para encontrar soluções razoáveis ​​para seus problemas. Espero que você também acredite.)
Sisko

Trivia

  • A premissa desse episódio foi originalmente proposta para a primeira temporada de A Nova Geração, e ficou na gaveta desde então, até Michael Piller trazê-la à tona para Deep Space Nine.
  • Este foi o episódio que introduziu a relação entre Julian Bashir e Miles O’Brien, que teria desdobramentos até o fim da série.
  • Foi um episódio extremamente caro de produzir. Segundo Rick Berman: “Foi muito difícil de filmar, e estávamos muito acima do orçamento nas ópticas daquele programa por causa da complexidade dessa coisa que aparece no céu”.
  • Este episódio marca a primeira aparição do célebre balde do Odo.
  • Neste episódio, é a segunda vez que vemos Odo sorrir, desta vez para os três adolescentes, Nog, Jake e Varis.

Ficha Técnica

História de Kurt Michael Bensmiller
Roteiro de Kurt Michael Bensmiller e Ira Steven Behr
Direção de David Livingston

Exibido em 02 de maio de 1993

Título em português: “O Contador de Histórias”

Elenco

Avery Brooks como Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O’Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko

Elenco convidado

Lawrence Monoson como Hovath
Kay E. Kuter como “o Sirah”
Gina Philips como Varis
Jim Jansen como Faren
Aron Eisenberg como Nog
Jordan Lund como Woban

Balde do Odo

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Sinopse de Salvador Nogueira
Edição de Muryllo Von Grol
Revisão de Rafaela Sieves

 

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