DS9 1×12: Battle Lines

Kira e Kai Opaka

Kira precisa confrontar seu passado violento

Sinopse

Data estelar: Desconhecida

Kai Opaka, a líder religiosa de Bajor, faz uma visita surpresa à Estação 9. Ela fica encantada com a vista do buraco de minhoca de uma das janelas do Promenade, e Sisko decide levá-la para uma volta até o Quadrante Gama com o explorador Yangtzee Kiang.

A líder religiosa fica ainda mais impressionada ao entrar no que ela pensa ser o Templo Celestial dos Profetas. Do outro lado da fenda espacial, o explorador recebe um sinal de socorro, e Opaka insiste que Sisko o investigue. A fonte é uma rede de satélites artificiais em um planeta inexplorado. Ao se aproximar de uma lua habitável com possíveis sinais de vida, o explorador é atacado por um dos satélites e acaba fazendo um pouso de emergência. Quando eles desembarcam da nave acidentada, Opaka está morta. E, então, eles descobrem que não estão sozinhos.

Sisko, Bashir e Kira encontram os ennis, uma espécie humanoide. Seu líder, Golin Shel-la, revela que seu povo está em uma batalha contra os nol-ennis naquela lua, feita de colônia penal para os dois grupos, banidos de seu mundo por serem incapazes de negociar a paz. Os nol-ennis atacam e vários soldados morrem, até Kira interromper a luta usando um phaser para provocar um desabamento nas cavernas. Em seguida, para a surpresa de todos, Kai Opaka ressurge, viva.

Ela parece bem, segundo Bashir, mas tem uma estranha presença biomecânica em suas células. O mesmo sucede com os soldados mortos na batalha, que agora começam a ressuscitar e a se levantar. Shel-la revela que os ennis e os nol-ennis estão numa luta eterna, e eles nunca morrem de fato.

Na estação, estranhando o desaparecimento do explorador, O’Brien e Dax decidem pegar outro explorador e ir atrás do Yangtzee Kiang. Na lua isolada, Sisko tenta promover a paz entre os ennis e os nol-ennis, mas os dois grupos não levam a sério a tentativa e retomam a luta. Opaka percebe que Kira se sensibiliza com esses grupos, por causa do seu passado violento durante a ocupação de Bajor, Opaka insiste que Kira precisa se perdoar e encontrar paz.

Bashir investiga os nanites responsáveis pela ressurreição dos prisioneiros da lua e descobre que nenhum deles pode morrer lá. Uma vez infectados e ressurrectos, eles só poderão continuar vivendo naquele lugar.

Sisko e Bashir conversando sobre os innis e nol-innis

Enquanto isso, O’Brien e Dax chegam à lua e encontram sinais do Yangtzee Kiang. Eles conseguem evitar o sistema de satélites de defesa e se comunicam com Sisko, sinalizando que estão preparando um plano para teletransportá-los. Antes mesmo que o comandante conte a Opaka que ela não poderá partir, ela comunica que está cumprindo uma profecia e ficará na lua para tentar fomentar a paz entre os ennis e os nol-ennis. Para Kira, Opaka diz que está respondendo ao chamado dos Profetas.

Bashir sugere a Sisko a possibilidade de reprogramar os nanites para que eles parem de funcionar após a morte, permitindo que os habitantes morram de forma definitiva. Mas quando Shel-la sugere que a técnica poderia ser usada para um massacre final dos nol-ennis, o médico desiste da ideia. O grupo avançado se prepara para partir, e Opaka diz a Sisko que o pagh dos dois se encontrará novamente.

Kira, Sisko e Bashir indo embora e deixando Opaka para trás

 

Comentários

Em “Battle Lines” temos a volta de Kai Opaka, a líder religiosa de Bajor vista anteriormente em “Emissary”. Aqui, infelizmente, temos a sua última aparição como a Kai Opaka verdadeira (ela ainda voltará em mais dois episódios, mas em visões dos Profetas). A figura de uma Kai benevolente, agregadora e que teve papel fundamental para manter a religiosidade e a unidade dos bajorianos durante a Ocupação funcionou bem no episódio piloto, e sua relação com Sisko e a revelação de que ele seria o Emissário dos Profetas foi muito importante. Porém, para uma história ser interessante é preciso ter drama, e a figura mais importante de Bajor sendo uma aliada de Sisko não proporciona o drama necessário. Por isso não é de se espantar, que aqui Kai Opaka acaba numa colônia penal em uma lua desconhecida sem poder voltar para o Quadrante Alfa. O grande problema do episódio acaba girando em torno do destino de Opaka e do que acontece, ou melhor dizendo, o que não acontece depois. Ela definitivamente era uma personagem importante para a série. Mas, pensando na história como um todo, fica clara a intenção dos roteiristas em tirar Opaka de cena quando conhecemos Winn Adami, aí, sim, uma antagonista a altura de Sisko.

Title Card Deep Space Nine Battle Lines

Agora, já que a intenção era de sumir com Opaka, pensando em “Battle Lines”, a história deixa a desejar no que se refere ao destino dela. Os acontecimentos aqui não serão comentados em nenhum episódio até o final da primeira temporada, quando se mencionará o vazio deixado por Opaka e a necessidade de uma eleição para eleger o(a) novo(a) Kai. Pela personagem que era, ela merecia uma resolução melhor do que ser abandonada numa lua com prisioneiros no Quadrante Gama, longe do seu povo. Sem contar, o potencial de história desperdiçado que poderia ter sido contado em episódios futuros sobre a falta dela para a política e religião bajoriana. Ou, até mesmo, uma revisita ao planeta para sabermos o impacto de Opaka no conflito entre os ennis e os nol-ennis.

Por outro lado, a história de Opaka não deixa de ser interessante. Ela vai para o Quadrante Gama sabendo que não retornará, pois seu destino lhe foi revelado através de profecias. Por isso que na lua, até mesmo antes de ela descobrir que não poderia sair dali porque já tinha morrido/ressuscitado uma vez, Opaka diz querer ficar. Ela enxerga que a sua missão de vida agora é ajudar as duas facções a conviverem em paz, começando o seu processo de cura. E ela ainda faz um paralelo com a própria experiência da Kira, a qual ela julga ter começado ali o seu próprio processo de cura.

Kira e Sisko mostrando para Kai Opaka onde fica o Templo Celestial

A Major Kira, inclusive, é o coração desse episódio. Começando com o susto inicial de ver Opaka morrer, só para depois descobrir que ela ressuscitou. Com exceção dessa cena, em que Nana Visitor parece um pouco fora de tom ao chorar a morte de Opaka, no resto do episódio, a atriz destrói em todas as suas cenas. Kira não quer que Opaka pense mal dela, que a violência que existe dentro dela seja o que a define. Essa Kira que vemos aqui, ainda tem muito enraizado o instinto de sobrevivência que a impulsiona a começar a dar dicas de estratégias para os ennis, e é preciso que Sisko fortemente a ordene que pare. “Essa não é a sua luta”, diz Opaka. E Kira ainda terá um árduo caminho até encontrar a sua paz interior. O conselho mais importante que Opaka dá à Kira é que ela precisa se perdoar pelas coisas que fez durante a Ocupação, para que então seja perdoada pelos Profetas. E se tem uma coisa que Deep Space Nine faz com primor é o desenvolvimento de vários dos seus personagens. Kira sendo talvez a personagem com o melhor desenvolvimento da história de Jornada nas Estrelas entre todos os personagens. Aqui mesmo, nessa primeira temporada podemos enumerar seis episódios que demostram bem isso: “Emissary”, “Past Prologue”, “Battle Lines”, “Progress”, “Duet” e “In The Hands Of The Prophets”. Claro que uns sendo mais significativos do que outros.

Ainda sobre Kira, a cena inicial do episódio tem Sisko, Dax e O’Brien conversando sobre os arquivos pessoais do prefeito de Terok Nor, que tinham sido encontrados nos computadores da Estação. Lembrando que Dukat foi o último prefeito antes do fim da Ocupação. Kira, apesar de inicialmente dizer ter a capacidade para lidar com o que quer que seja que Dukat tenha escrito ao seu respeito, fica extremamente indignada com a pouca importância dada para ela em seu papel na resistência. Pensando em episódios futuros, pode-se extrapolar que Dukat, no fundo, não estava querendo chamar a atenção para Kira, mas isso é conversa para “Wrongs Darker Than Death Or Night”, episódio da sexta temporada.

Kira e Opaka em Battle Lines

Ainda que passe desapercebido, e nem tão pouco possa ser chamado de desenvolvimento, o fato de Bashir ser bom com computadores faz parte de um conjunto de informações que mais para frente irão fazer muito sentido. Falando no Bashir, a interação dele com Sisko é um ponto interessante do episódio. Ele sugere que Sisko estaria quebrando a Primeira Diretriz ao interferir no conflito entre as duas facções. Já não é de hoje que capitães da Frota quebram a Primeira Diretriz, e não é nenhum pouco estranha a reação de Sisko ao ouvir essa “acusação”, ainda mais de um insubordinado seu. Mas nesse contexto podemos interpretar que mesmo que Sisko considere que os ennis e os nol-ennis já tenham pagado pelos seus crimes há muito tempo, a sua motivação em ajudá-los a sair da colônia penal não seria tão somente por esse motivo. Sisko precisava criar uma ligação com Golin Shel-la, o líder dos ennis por uma pura questão de sobrevivência.

A história se complica quando Sisko diz que irá retirar todos dali, inclusive os nol-ennis, criando um grande problema com o líder dos ennis. Um pouco depois, quando Bashir sugere ser possível desligar os micróbios que permitem que eles ressuscitem, Shel-la sugere a Sisko que eles usem nos nol-ennis, dessa forma os ennis poderiam acabar com seus inimigos de uma vez por todas. A partir desse ponto, Sisko sabe que a única opção é sair dali o mais rápido possível. O episódio se propõe a discutir questões interessantes, como por exemplo, a futilidade da guerra, ou, então, o fato de eles não conseguirem se perdoar e se unir para melhorarem as condições de vida. Aliás, eles foram mandados para essa colônia penal exatamente pelo ódio mútuo, e, mesmo assim, não conseguiram quebrar o ciclo vicioso. O que fica muito claro na cena em que os ennis e os nol-ennis se encontram para escutar o que Sisko tem a dizer. No fim, nada importa para eles a não ser a destruição do outro, ainda que signifique a sua própria destruição. Mas, infelizmente, acaba que o episódio não explora nenhuma delas. Cabe à audiência refletir sobre o que é colocado em tela. O que, de certa forma, não é necessariamente algo ruim.

Sisko intermediando os innis e os nol-innis

É preciso comentar que esse é o último episódio dirigido por Paul Lynch, um dos piores, se não o pior diretor que a franquia já teve. Em Deep Space Nine, além desse, ele dirigiu outros 4 episódios anteriormente. Sua atitude ao deixar o supervisor de dublês, Dennis Madalone, dirigir dois dias da primeira unidade, enquanto ficava sentado lendo uma revista, não caiu bem com Rick Berman, e sacramentou o fim de sua participação em Jornada nas Estrelas.

No fim das contas, “Battle Lines” é mais um episódio acima da média da temporada, que traz um desenvolvimento importante para Kira e abre espaço para novas histórias sobre quem será o(a) novo(a) líder religioso(a) de Bajor, ainda que demore um pouco para acontecer.

Avaliação

Citações

“When you cease to fear death the rules of war change.”
(Quando você deixa de temer a morte, as regras da guerra mudam.)
Golin Shel-la

“Do you recognise yourself in these people?”
“Me? Not at all. I… They’re content to die. I’ve always fought to stay alive. I don’t want you to have the wrong impression of me, Opaka.”
“What impression do you think I have?”
“That I enjoy any of this. I… I don’t enjoy fighting. Yes, I’ve… I’ve fought my entire life, but for our freedom, our independence. It was brutal and ugly, and… But that’s over for me now. That’s not who I am. I don’t want you to think that I am this… violent person without a soul, without a conscience. That is not who I am.”
“Don’t deny the violence inside of you, Kira. Only when you accept it, can you move beyond it.”
“I’ve known nothing but violence since I was a child.”
“In the eyes of the Prophets, we are all children. Bajor has much to learn from peace.”
“I’m afraid the Prophets won’t forgive me.”
“They’re waiting for you to forgive yourself.”
(Você se vê nessas pessoas?)
(Eu? De forma alguma. Eu… Eles estão conformados em morrer. Eu sempre lutei para me manter viva. Eu não quero que você tenha a impressão errada sobre mim, Opaka.)
(Qual impressão você acha que eu tenho?)
(Que eu me divirto com isso. Eu… Eu não me divirto lutando. Sim, eu… eu lutei minha vida toda, mas pela nossa liberdade, nossa independência. Foi brutal e feio, e… Mas isso acabou para mim agora. Isso não é o que sou. Eu não quero que você pense que eu sou essa… pessoa violenta sem alma, sem consciência. Isso não é quem eu sou.)
(Não negue a violência que há dentro de você, Kira. Apenas quando você aceitá-la, você poderá ir além dela.)
(Eu não conheço nada além da violência desde que era criança.)
(Aos olhos dos Profetas, somos todos crianças. Bajor tem muito o que aprender com a paz.)
(Tenho receio de que os Profetas não vão me perdoar.)
(Eles estão esperando que você se perdoe.)
Opaka e Kira

“I’ve discovered we can’t afford to die here. Not even once.”
(Descobri que não podemos nos dar ao luxo de morrer aqui. Nem mesmo uma vez.)
Bashir

Trivia

  • Hilary J. Bader, uma das roteristas, inspirou-se no episódio The Day of the Dove, da Série Clássica para a construção desse episódio, ambos episódios abordam a futilidade da guerra.
  • Michael Piller avaliou esse episódio como um dos pontos altos da primeira temporada.
  • Este foi o último episódio de Star Trek a ser dirigido por Paul Lynch.
  • Duas coisas ficaram pendentes neste episódio. A primeira, o presente que Opaka oferece a Miles para sua filha Molly antes de embarcar no explorador. A segunda, é a promessa feita por Opaka a Ben de que “seus caminhos iriam se cruzar novamente”. Ambas nunca foram efetivamente retomadas durante a série.

Ficha Técnica

História de Hilary J. Bader
Roteiro de Richard Danus e Evan Carlos Somers
Dirigido por Paul Lynch

Exibido em 25 de abril de 1993

Título em português: “Frentes de Batalha”

Elenco

Avery Brooks como Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O’Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko

Elenco convidado

Camille Saviola as Kai Opaka
Paul Collins as Zlangco

Balde do Odo

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Sinopse de Salvador Nogueira
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Revisão de Rafaela Sieves

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