VOY 4×25: One

Seven em "One" da quarta temporada de Voyager

Seven sente os efeitos do isolamento

Sinopse

Data estelar: 51929.3

À medida que a Voyager se aproxima de uma vasta nebulosa, a tripulação começa a ser severamente afetada por uma radiação. Todos, exceto Seven e o Doutor. A nuvem é tão grande que levaria um ano para contorná-la e um mês para atravessá-la. Seguindo a sugestão do médico, Janeway decide que a melhor opção é colocar os tripulantes em câmaras de estase e cortar caminho. Seven e o Doutor permanecerão conscientes e ficarão responsáveis por manter os sistemas da nave e checar os sinais vitais dos colegas durante a travessia.

Depois de alguns dias, a falta de interação social e atividade a bordo começa a mexer com a dupla. Ambos ficam cada vez mais tensos e irritadiços. Para piorar a situação, no meio do percurso o computador alerta que os tanques de anti-matéria estão falhando e o plasma está vazando. Seven corre para a Engenharia para ejetar os tanques, mas, ao chegar, vê que foi alarme falso. O computador começa a funcionar mal e os sensores passam a captar leituras falsas. Aparentemente, a nebulosa agride também tecnologia.

Nebulosa descoberta pela Voyager em sua jornada para casa

Enquanto Seven e o Doutor conduzem os reparos, o programa dele começa a desestabilizar. A dupla consegue correr para a Enfermaria, porém o emissor móvel do médico pifa. Agora, Seven terá que percorrer a nave sozinha. Ainda mais isolada, ela começa a ter sonhos e visões perturbadoras. Quando um alienígena abre contato com a Voyager, Seven o transporta a bordo e concorda em negociar suprimentos. Mas os comentários impróprios do visitante a fazem se sentir ameaçada. Ela decide escoltá-lo fora, mas, ao virar o rosto por um instante, o alienígena corre pelo corredor e desaparece.

Embora os sensores não acusem a presença de intrusos ou mesmo de uma nave nas proximidades, Seven inicia uma busca pela Voyager. Ouve vozes de tripulantes a chamando e a do alienígena, que parece controlar os sistemas da nave. Quando o Doutor finalmente conserta seu emissor móvel, corre para ver a colega e descobre que ela está alucinando. Conclui que a radiação passou a afetar também seus implantes Borgs, mas, antes que possa fazer algo a respeito, os conduítes EPS sobrecarregam e o programa do médico é desativado. Seven agora está realmente sozinha. Com o destino de toda a tripulação em suas mãos, entra em pânico.

Seven sozinha na engenharia

Faltando apenas 17 horas até que a Voyager deixe a nebulosa, os sistemas de propulsão começam a falhar. Seven enfrenta seus medos, luta contra as alucinações e procura desviar energia para os motores da nave. A cada passo pelos corredores, depara-se com seus medos. Em certo momento, um Borg a persegue, dizendo que ela nunca sobreviverá como indivíduo. Depois, vê os colegas provocando-a e fazendo insinuações desanimadoras. Nos últimos minutos, Seven desliga o suporte de vida para dar potência à propulsão. Em seguida, cai desacordada. Ao abrir os olhos, está na Enfermaria. Janeway lhe diz que a Voyager saiu da nebulosa e que todos estão bem.

Comentários

“One” é um bom episódio pela mensagem que pretende passar, mas sofre de problemas na sua execução. Novamente, a estrela da vez é Seven. Não que isso seja ruim (para ela), pois o desenvolvimento tem sido consistente. Contudo, esse excesso de atenções na sexy Borg – em detrimento dos demais personagens – levou muita gente a rebatizar a série como “Jornada nas Estrelas: Seven of Nine” – e com razão. Debate-se no segmento da semana a dificuldade da ex-zangão em lidar com sua individualidade em situação de isolamento.

Titloe Card Voyager "One"

À medida que a Voyager se aproxima de uma nebulosa gigante, a tripulação começa a sentir efeitos letais. É uma premissa simplista? Sim, mas válida, pois não se recorre à tecnobaboseira. Às vezes é preciso criar uma certa aura de mistério. Aqui, o mecanismo funciona bem. Só não dá para entender por que Janeway não mandou escanear a nuvem antes de jogar a nave nela, o que custou a vida de um tripulante. Sobre este ponto, é preciso fazer uma importante consideração. Até agora, tem sido muito difícil entender a forma como a tripulação da Voyager encara a morte de um colega. Eles não demonstram qualquer reação. Imagine se você estivesse a 60.000 anos-luz de casa, confinado em uma pequena nave com 150 tripulantes. Em quatro anos, não teria ligações outras que não profissionais com eles? Não seriam eles seus amigos? E, mesmo que não fossem, não ficaria preocupado com a escassez de mão-de-obra? Tudo isso parece crítica barata. Mas não é. Nessas ocasiões, a série trai os aspectos mais fundamentais de sua premissa. E se tem algo de que Jornada pode se orgulhar, é da sua fidelidade e atenção aos detalhes, que tornam tudo mais crível.

Enfim, o problema dos oficiais com a nebulosa é que ela se expande a centenas de anos-luz. Contorná-la seria inviável, pois o comprimento é ainda maior. Quem são os dois únicos a bordo imunes aos efeitos? O Doutor e Seven of Nine, protegida pela tecnologia Borg de seu corpo. Janeway decide colocar todo mundo em estase e deixar a responsabilidade de controlar a nave com a dupla. Aqui, vem à tona uma questão levantada no jurássico “The 37’s”, da segunda temporada: Chakotay não deixara claro que a Voyager não pode ser operada com menos de 75 tripulantes? Pois é…

Tripulação da Voyager sendo colocada em estase

A cena em que o comandante expressa sua preocupação a Janeway na sala de conferências merece destaque. A capitã diz que não sabe explicar a natureza de sua confiança na ex-Borg – que um dia ameaçou a todos de assimilação e ainda comporta-se de modo insolente e imprevisível. Ao telespectador já está claro desde “The Gift” que há um elo muito forte entre as duas. Ela própria enfrenta dúvidas, mas baseia sua decisão no palpite de que Seven lhes quer o bem. A conversa convence a Chakotay e ao fã. Muito boa a seqüência.

A partir do momento em que a tripulação fica inconsciente, a história se restringe a Seven e o Doutor. Logo surge a questão: a ex-Borg, que mostrava dificuldades em lidar com apenas 150 humanos, conseguirá sobreviver tendo apenas o Doutor como companhia? E quando os sistemas da nave – inclusive o médico holográfico – começarem a falhar? Como será? Por natureza, o ser humano é social. Para os Borgs, a solidão é um conceito alienígena. Agora, Seven tem de lidar com a realidade de ser o único indivíduo na nave e descobre que não está preparada para isso.

Doutor e Seven sozinhos na Voyager

O isolamento amedronta, incapacita. E Ryan consegue transmitir bem o pânico de sua personagem. No quesito atuação, o telespectador está bem servido. Os problemas com “One”, na verdade, são as alucinações de Seven. Elas não funcionam. Talvez, apenas o Borg assustador nos corredores da nave. Mas as cenas com a tripulação são risíveis. Parece roteiro de história infantil. E o alienígena é dispensável. Embora os roteiristas quisessem provocar um twist, eles irritaram o fã, que achou se tratar de um visitante real.

O mérito do episódio é o confronto entre o passado e o presente de Seven. A personagem nota que a coletividade dos Borgs não mais lhe conforta e que tornou-se socialmente dependente dos colegas, muito embora esteja em pleno processo de reivindicação de sua individualidade humana. Com a experiência traumática, finalmente compreende a necessidade e os benefícios da vida em comunidade. Não se trata de reter informações relevantes, mas de expressar sentimentos e pensamentos, outrora descartados como triviais. Nesse sentido, é significativa a decisão de sacrificar a própria vida para salvar a todos os outros. Seven dá vazão a seu lado emocional.

Seven tendo visões de borgs na nave

O furo no roteiro da semana é a insistência de Tom Paris em deixar a câmara de estase. Em primeiro lugar, porque a súbita claustrofobia do tenente contrasta com todas as características de sua personalidade estabelecidas desde a primeira temporada. Paris é piloto – inclusive das confinadas naves auxiliares -, gosta de aventura, esportes radicais e já até foi visto preso em cavernas (“Parturitions”, “Blood Fever”). Sem contar as diversas vezes em que usou o traje espacial. Inconsistente. Depois, há de se questionar como é que ele não foi afetado pela nebulosa ao sair de sua câmara, sobretudo porque no próprio episódio foi dito que, se ela fosse desligada, o ocupante morreria.

Relevando esses detalhes e focando a premissa maior, “One” continua a tarefa de estabelecer Seven como personagem legítima de Voyager e contribui para torná-la mais interessante. Ótimo. O problema, novamente, é que tudo se restrige a essa busca pela individualidade dela. O resto do elenco fica a ver navios. Faltam ao seriado mais desafios, mais arcos de histórias que integrem todos, falta que se criem conflitos. Toda essa potencialidade terá de ser trabalhada na temporada seguinte.

Avaliação

Citações

“I believe I am overdue for my weekly medical maintenance. We should go.”
“Seven, you’ve never volunteered for a check-up before.”
“It is preferable to remaining here.”
(Acredito que estou atrasada para a minha manutenção médica semanal.)
(Seven, você nunca foi voluntariamente para um check-up antes.)
(É preferível a permanecer aqui.)
Seven e Doutor

“We’ve come fifteen thousand light years. We haven’t been stopped by temporal anomalies, warp core breeches, or hostile aliens, and I am damned if I’m going to be stopped by a nebula.”
(Já percorremos quinze mil anos-luz. Não fomos impedidos por anomalias temporais, rupturas no núcleo do reator, ou alienígenas hostis. Vou ficar furiosa se for impedida por uma nebulosa.)
Janeway

“I want you to understand the seriousness of this responsibility. The lives of the entire crew will be on your shoulders.”
“You doubt my ability to fulfil this task?”
“Ordinarily not at all. But this is an unusual situation. After being in the Collective, it wasn’t easy for you to adjust to a ship with only a 150 people on it, was it, Seven? How would you feel with only the Doctor for company?”
“I will adapt.”
(Quero que entenda a seriedade dessa responsabilidade. As vidas de toda a tripulação estarão nas suas mãos.)
(A senhora duvida da minha habilidade em cumprir com essa tarefa?)
(Normalmente, de jeito nenhum. Mas esta é uma situação incomum. Depois de estar na Coletividade, não foi fácil para você se ajustar a uma nave com apenas 150 pessoas, foi, Seven? Como se sentiria apenas com o Doutor como companhia?)
(Vou me adaptar.)
Janeway e Seven

“I want you to tell me that this isn’t a mistake.”
“Your turn to get reassurance?”
“Maybe. But my concern isn’t about going into stasis. It’s about who you’re leaving in charge.”
“You’re worried about Seven.”
“Maybe you need to step outside yourself for a minute. Look at the fact that here’s someone who’s butted horns with you from the moment she came on board, who disregards authority and actively disobeys orders when she doesn’t agree with them.”
“And this is the person I’m giving responsibility for the lives of this entire crew. I suppose you want me to tell you I’m not crazy.”
“In a nutshell… I know your bond with Seven is unique, different from everyone else’s. From the beginning, you’ve seen things in her that no one else could. But maybe you could help me understand some of those things.”
“I don’t know if I can. It’s just instinct. There’s something inside me that says she can be redeemed. In spite of her insolent attitude, I honestly believe she wants to do well by us.”
“That’s good enough for me.”
(Quero que me diga que isso não é um erro.)
(Sua vez de receber uma reafirmação?)
(Talvez. Mas a minha preocupação não é entrar em estasse. É sobre quem deixaremos no comando.)
(Está preocupado com a Seven.)
(Talvez deva olhar por outra perspectiva por um minuto. Ver o fato de que ela é alguém que discute com você desde que veio a bordo, desrespeita autoridade e ativamente desobedece ordens quando não concorda com elas.)
(E é essa pessoa a quem estou deixando a responsabilidade pelas vidas de toda a tripulação. Suponho que queira que eu diga que não sou louca.)
(Resumidamente… Eu sei que sua ligação com Seven é única, diferente da de todos os outros. Desde o começo, você viu coisas nela que ninguém mais conseguia. Mas pode me ajudar a entender algumas dessas coisas.)
(Não sei se posso. É apenas instinto. Há algo dentro de mim que diz que ela pode ser redimida. Apesar da atitude insolente, eu honestamente acredito que ela nos quer bem.)
(Isso é o bastante para mim.)
Chakotay e Janeway

“What if we had to get out in a hurry?”
“You can unlock the unit from inside, Tom.”
“Do I detect a hint of claustrophobia, Lieutenant?”
“Why do they have to design these things like coffins?”
“Should we replicate you a teddy bear?”
(E se tivermos que sair na pressa?)
(Você pode destrancar a unidade por dentro, Tom.)
(Estou detectando um traço de claustrofobia, tenente?)
(Por que têm que projetar essas coisas como caixões?)
(Acha bom replicarmos um ursinho de pelúcia?)
Paris, Janeway, Doutor e Kim

“Holodecks are a pointless endeavour, fulfilling some human need to fantasise. I have no such need.”
(Os holodecks são um esforço inútil, que preenche uma necessidade humana de fantasiar. Não tenho tal necessidade.)
Seven

“If the mobile emitter goes offline while I’m out of Sickbay, my program may be irretrievable!”
“Don’t panic. It’s counterproductive.”
“That’s easy for you to say. You’re not facing cybernetic oblivion.”
“Doctor?”
“If that happens again, I’m a goner. Ah! Home sweet Sickbay! I never thought I’d be so glad to see these walls.”
(Se o emissor móvel desativar enquanto eu estiver fora da Enfermaria, meu programa pode ser irrecuperável!)
(Não entre em pânico. É contraproducente.)
(É fácil para você falar. Não é você que está enfrentando o esquecimento cibernético.)
(Doutor?)
(Se isso acontecer de novo, eu já era. Ah! Lar doce Enfermaria! Nunca achei que ficaria tão feliz em ver estas paredes.)
Doutor e Seven

“Once, when I was a drone, I was separated from the Collective for two hours. I experienced panic and apprehension. I am feeling that way now.”
(Uma vez, quando eu era um zangão, fui separada da Coletividade por duas horas. Experimentei pânico e apreensão. Estou sentindo aquilo agora.)
Seven

Trivia

  • Wade Andrew Williams foi Garos em “Civilization”, de Enterprise.
  • No final do episódio, quando Seven está no laboratório de Astrométricas, faltam 17 horas e 11 minutos para a Voyager deixar a nebulosa. A personagem caminha, interage com suas alucinações, vê um cubo Borg e, quando chega na Ponte, faltam apenas 41 minutos.

Ficha Técnica

Escrito por Jeri Taylor
Dirigido por Kenneth Biller

Exibido em 13 de maio de 1998

Título em português: “Um”

Elenco

Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B’Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Jeri Ryan como Seven of Nine
Tim Russ como Tuvok
Garret Wang como Harry Kim

Elenco convidado

Wade Andrew Williams como Trajis Lo-Tarik

Enquete

TS Poll - Loading poll ...

Edição de Mariana Gamberger

Episódio anterior | Próximo episódio