Jornada nas Estrelas V: A Última Fronteira

Filme estabelece Kirk, Spock e McCoy como família em busca infrutífera por Deus

Sinopse

Data estelar: 8454.1

Em Nimbus III, o Planeta da Paz Galáctica, um pobre coitado perfura um poço no meio do deserto. Ele vê ao longe um homem a cavalo e pega uma arma caseira para se proteger. Ao se aproximar, o misterioso cavaleiro diz que ele não tem nada a temer e diz poder sentir sua dor. O pobre coitado parece entrar em um tipo de transe e, livre de seu sofrimento, é convidado a seguir o cavaleiro em sua busca, pelo conhecimento definitivo. Para isso, eles precisarão de uma nave estelar. O homem então revela ser vulcano e diz que eles são mais numerosos do que se imagina.

Enquanto isso, na Terra, Kirk, Spock e McCoy passam juntos seu período de licença. Kirk decide escalar a montanha El Capitán, no Parque Yosemite, e McCoy acompanha, de longe e com muito nervosismo, seu progresso. Spock usa botas propulsoras para se aproximar do capitão, que leva um susto. A conversa dos dois acaba distraindo Kirk, que cai do alto da montanha. Spock usa as botas propulsoras para salvá-lo pouco antes de Kirk chegar ao chão.

Em Nimbus III, o cavaleiro e seus seguidores promovem um ataque à Cidade Paraíso, e fazem reféns os representantes da Federação (St. John Talbot) e dos impérios Klingon (general Korrd) e Romulano (Caithlin Dar), membros dos governos que concordaram em desenvolver aquele mundo conjuntamente, 20 anos atrás.

Na Doca Espacial, em órbita da Terra, Scotty trabalha duro para colocar a Enterprise-A em ordem para sua missão. A nave está cheia de problemas técnicos. Sensível ao esforço dele, Uhura traz rações para que eles possam jantar juntos na ponte da nave. Eis que vem uma mensagem de emergência da Frota Estelar, convocando a tripulação. Sulu e Chekov, em licença, estão perdidos numa floresta, mas Uhura os ajuda despachando uma nave auxiliar para buscá-los.

Na encosta de El Capitán, também estão jantando Kirk, Spock e McCoy. Em seu acampamento, em volta da fogueira, McCoy preparou uma receita de família de feijões. O médico ainda está furioso com a atitude inconsequente de Jim, mas o capitão diz saber que, mesmo que caísse, ele não morreria, porque estava com seus amigos, e ele sempre soube que morreria sozinho. Os três terminam a noite se arriscando em uma sessão de cantoria, interrompida pela incompreensão de Spock com a letra da música, dizendo que a vida é um sonho. O trio vai dormir e é despertado pela chegada surpreendente de Uhura em uma nave auxiliar. Com isso, eles voltam à Enterprise-A.

Quase nada funciona a bordo. Mas Kirk recebe um chamado do almirantado, reportando a situação crítica em Nimbus III e ordenando que a nave parta imediatamente para resgatar os reféns. McCoy acha uma má ideia, considerando a animosidade dos klingons para com o capitão e a quase certeza de que eles despachariam uma nave para lá. Mas Kirk lembra que o sentimento é mútuo e coloca a Enterprise a caminho.

No espaço profundo, uma ave-de-rapina klingon comandada por Klaa pratica tiro ao alvo com uma antiga sonda Pioneer, da NASA. Ele quer um desafio maior, e a nave intercepta um comunicado klingon sobre a situação em Nimbus III. Klaa conclui que a Federação despachará uma nave e decide ir para lá. O capitão klingon se anima ainda mais quando sabe que a Enterprise, de Kirk, será enviada para o resgate.

Na ponte da Enterprise-A, a tripulação analisa a ficha dos reféns e um vídeo gravado por eles com a participação do misterioso cavaleiro, que diz estar desesperado e ameaça matar os reféns se uma nave não for até lá para atender as demandas do grupo. Spock fica especialmente intrigado pelo cavaleiro. Kirk acha que ele reagiu como se tivesse visto um fantasma. Mais tarde, no deck de observação, o capitão conversa com Spock, que revela ter conhecido o cavaleiro em sua juventude em Vulcano. Era um rapaz muito inteligente, mas revolucionário, em busca de conhecimento proibido e rejeitando a lógica vulcana. Por isso, ele foi banido do planeta.

A Enterprise-A entra em órbita de Nimbus III, mas os teletransportes não estão funcionando. Kirk decide liderar um grupo de resgate numa nave auxiliar. Sensores de longo alcance detectam uma ave-de-rapina klingon se aproximando. Será preciso lutar contra o tempo para efetuar o resgate.

O pouso se dá nos arredores da Cidade Paraíso. Em comunicação com o cavaleiro, Chekov finge ser o capitão da Enterprise para distraí-lo enquanto Kirk pode se infiltrar para o resgate. O grupo invade a cidade a cavalo, depois de distrair os maltrapilhos de guarda com uma dança sensual de Uhura. A invasão tem sucesso, mas o grupo acaba detido quando Kirk chega aos reféns e é, surpreendentemente, rendido por eles.

Os oficiais são confrontados pelo cavaleiro, Sybok, que diz a Spock que agora ele tem uma segunda chance de se juntar a si. O vulcano, contudo, se recusa e apenas dá voz de prisão ao agressor por violações do tratado da Zona Neutra. Sybok diz que mal começou suas violações e pretende roubar uma nave estelar. Ele então comanda o grupo a levá-lo à Enterprise, com alguns de seus seguidores, na nave auxiliar.

A volta coincide com a chegada dos klingons ao sistema, o que exige um plano ousado de pouso de emergência para o embarque na Enterprise. Com o choque da descida forçada, seguida pela entrada rápida em dobra, todos a bordo desmaiam. Kirk e o cavaleiro são os primeiros a acordar. Os dois iniciam um combate corpo a corpo, e uma arma voa para longe no hangar das naves auxiliares. Durante a luta, Spock acorda e a arma vai parar aos seus pés. Kirk ordena que ele dispare contra o cavaleiro, mas ele incompreensivelmente se recusa. Com isso, Kirk, Spock e McCoy são colocados na detenção, enquanto o cavaleiro procede fazendo lavagem cerebral na tripulação para assumir o comando. Uhura, Sulu e Chekov são afetados, e a nave é colocada em um novo curso.

Na detenção, Kirk está furioso com Spock. O vulcano se desculpa, mas diz que não poderia atirar no próprio irmão. O capitão acha que é conversa fiada, mas o vulcano explica que Sybok de fato é irmão dele – ou melhor, meio irmão, filho de Sarek com uma princesa vulcana, nascido antes que o pai se casasse com Amanda, a mãe de Spock.

Com a nave a caminho, Sybok anuncia a missão em que estão: ele levará a Enterprise à descoberta de Sha-Ka-Ree, planeta que teria dado origem à criação do universo inteiro e que supostamente existiria além da Grande Barreira, no centro da galáxia. Kirk fica ainda mais preocupado, acreditando que a nave jamais sobreviverá à travessia. O trio tenta fugir da cela, mas fracassa – até Scotty detonar um explosivo numa das paredes e providenciar uma rota de escape. Kirk decide que precisam enviar uma mensagem de socorro, com um terminal no deck de observação. Enquanto isso, Scotty tem ordens de dar prioridade ao reparo do teletransporte.

Para chegar ao deck de observação, Kirk, Spock e McCoy precisam escalar o poço do turboelevador, processo que acaba facilitado quando Spock lança mão de suas botas a jato. Isso impede, num primeiro momento, que o trio seja recapturado. Chegando a seu destino, o capitão grava uma mensagem subespacial, sem saber que quem a está recebendo, fingindo ser o Comando da Frota Estelar, é a nave de Klaa. Em seguida, Sybok confronta os três. Kirk o considera maluco, mas o vulcano está convencido de que Sha-Ka-Ree o espera, graças a uma visão dada a ele por Deus. Para convencer Spock e McCoy, ele tenta usar seu método de alívio da dor. Nisso, o médico é exposto ao dia em que teve de fazer a eutanásia do próprio pai, muito doente. Já Spock precisa confrontar seu próprio nascimento e a rejeição do pai. Kirk se recusa a passar por experiência semelhante, alegando precisar da sua própria dor. Para ele, não há como curar traumas com um passe de mágica.

Spock e McCoy, apesar de terem passado pela experiência, decidem permanecer ao lado de Kirk, enquanto a nave se aproxima da Grande Barreira. O capitão tenta fazer um último apelo a Sybok, mas em vão. Enfim, após uma tensa travessia, a Enterprise-A emerge do outro lado da barreira, diante de um misterioso planeta azulado.

Sybok então devolve o comando da nave a Kirk, apostando que o capitão não será capaz de dar as costas para a exploração daquele mundo. Com isso, Kirk, Spock, McCoy e Sybok descem ao planeta numa nave auxiliar. A missão é acompanhada pela tripulação da ponte, que não percebe a aproximação de uma nave klingon nos sensores de longa distância.

Após vagar pelo deserto, o quarteto vê uma estrutura surgir do solo, como se fosse um templo. Em seu interior, emerge uma criatura de luz, que diz ser Deus, com “uma voz e muitas faces”. Ele quer saber como o grupo chegou lá e pergunta a Sybok se a Enterprise poderia servir como seu veículo. É quando Kirk começa a ficar intrigado e pergunta porque Deus precisaria de uma nave estelar. Ele é punido com raios por isso. McCoy, Spock e até mesmo Sybok começam a desconfiar que aquele não é mesmo o Deus de Sha-Ka-Ree. A criatura diz que foi aprisionada lá há muito tempo e precisa de uma nave para escapar.

Arrependido, Sybok decide tentar distrair a criatura, fundindo-se com ela, enquanto Kirk ordena o disparo de torpedos fotônicos no templo. A criatura ainda resiste e tenta perseguir o trio, que volta à nave auxiliar. Àquela altura, Scotty conseguiu recuperar parcialmente o teletransporte e leva Spock e McCoy a bordo. Em seguida a nave klingon se descamufla e ataca a Enterprise. O teletransporte volta a falhar, e Kirk fica preso no planeta.

O capitão Klaa contata a Enterprise solicitando a rendição e a apreensão de Kirk. Spock convence o general Korrd, que veio a bordo com Sybok, de tentar ordenar Klaa e interromper o ataque. No planeta, a criatura está para destruir Kirk quando a ave-de-rapina klingon surge por detrás dele para disparar contra o falso deus. Kirk então é transportado para a ave-de-rapina. Para sua surpresa, ele ouve Klaa pedir desculpas pelo ataque não autorizado e descobre que Spock estava a bordo como atirador, o que deixa o capitão visivelmente emocionado.

Enquanto os klingons confraternizam com os humanos a bordo da Enterprise, Kirk especula com seus amigos Spock e McCoy sobre o significado da estranha jornada. McCoy se pergunta se Deus existe mesmo lá fora. O capitão conclui que talvez exista, mas no coração humano. De volta à Terra, o trio pode terminar suas férias no Parque Yosemite, cantando, com Spock puxando a canção que diz que a vida é um sonho…

Comentários

Jornada nas Estrelas V: A Última Fronteira é um dos segmentos mais filosóficos já produzidos de Star Trek – o que poderia até soar elogioso à primeira vista. Infelizmente, as pretensões do diretor William Shatner, em muitas circunstâncias, se elevam muito acima do alcance do material. O resultado é o menos apreciado dos filmes com o elenco clássico.

Nele, uma busca messiânica por Deus, na verdade melhor traduzida como uma busca por significado, se mistura a uma jornada de identidade e autorreconhecimento, enquanto um líder religioso maluco arrasta a Enterprise para o centro da galáxia, em busca do local de onde teria emergido toda a Criação.

É uma premissa fascinante, mas que, nos termos em que é apresentada, acaba barateada, tratada de forma pedestre. É até estranho pensar que a busca por Deus possa ser traduzida em uma viagem física. Não pode, como Kirk atesta no final, ao dizer que Deus provavelmente mora no coração humano. Mas, convenhamos, a maior parte da audiência, em algum nível, já sabia disso, tornando logo de cara essa viagem da Enterprise estranha, pouco convincente e fadada ao fracasso.

Com isso, para muitos, a trama se assemelha mais a uma sequência de piadas e ações sem sentido do que propriamente a gloriosa exploração que o filme se propõe a fazer.

No núcleo dessa história estão dois polos: Sybok, o meio-irmão perdido de Spock, introduzido aqui ao universo de Star Trek, e o próprio grande trio da Série Clássica, composto por Kirk, Spock e McCoy. Até então os filmes com esse elenco haviam primado pela construção de arcos para os personagens principais, levando-os de um ponto A a um ponto B, de forma a se transformarem como indivíduos.

Aqui, isso não se manifesta dessa mesma maneira. Os personagens têm, de fato, um arco, mas que se apresenta como algo conjunto – é o próprio trio, como unidade, que passa por essa transformação, começando o filme como um grupo de pessoas que, por algum motivo, optam por passar seu tempo livre juntos, até que essa relação é testada e provada pela presença de Sybok, e termina com a percepção de quem eles são, como se colocam diante da vida, e como na verdade formam uma família.

Não por acaso, uma das qualidades redentoras de A Última Fronteira é o trabalho feito com esse trio de personagens, tornado uno pela história, embora cada um tenha seu momento para brilhar: McCoy, naquela que talvez seja a cena mais poderosa vivida por DeForest Kelley na história de Star Trek, tendo de reviver o doloroso momento em que ajudou na eutanásia de seu pai, sem saber que pouco tempo depois surgiria uma cura para a doença que o acometia. Spock, por sua vez, precisa confrontar a rejeição de Sarek, seu pai vulcano, ao constatar que o filho havia nascido demasiadamente humano.

É só nessa sequência, para além da primeira metade do filme, que entendemos de que maneira Sybok promove a lavagem cerebral que arrasta até mesmo oficiais treinados da Frota Estelar para suas fileiras. Num esforço que leva em conta certa dose de telepatia, o vulcano basicamente anestesia seus seguidores, dando a impressão de apagar a dor que sentem por arrependimentos e momentos traumáticos de suas vidas.

Não é muito diferente do foco de muitas religiões no perdão (seja para si próprio ou para terceiros) na busca por paz de espírito. E, como muitas religiões, tem o condão de permitir a manipulação inadvertida dos fieis, caso eles não tenham convicções muito firmes sobre quem são e no que acreditam.

Aqui, o senso de pertencimento de Spock e McCoy como eternos amigos de Kirk fala mais alto e impede que Sybok os converta, enquanto o próprio Kirk nem permite que o rebelde vulcano se infiltre em seus remorsos passados, alegando precisar deles para saber quem é e por que está ali. É verdade, ele precisa. A mensagem é boa, e Kirk é um bom veículo para elas. Mas talvez tenhamos perdido uma oportunidade de ouro para explorar, por exemplo, o trauma dele com o afastamento e a perda de David, seu filho. Parece uma escolha feita por Shatner para diferenciar seu personagem e retratar Kirk como uma figura maior que a vida, que abraça seus próprios traumas sem arrependimentos. A humanização do personagem, a exemplo do que foi feito em A Ira de Khan, poderia oferecer mais.

Em contrapartida, temos em Sybok um personagem muito interessante. Interpretado de forma brilhante por Laurence Luckinbill, ele não é exatamente mau. É em essência bem-intencionado, mas equivocado e inescrupuloso, lançando de quaisquer meios à sua disposição para atingir seu objetivo. Sua fé e seu poder de convencimento o fazem enxergar no mundo uma realidade só dele. Não por acaso, ele tem uma reação completamente crédula ao deus de Sha Ka Ree, ao passo que o grande trio, em particular Kirk, faz o papel da voz da razão, perguntando: “Por que Deus precisa de uma nave?” É uma das cenas mais inspiradas do filme, e é bem sacado que a criatura, ao ser desmascarada, assuma a imagem do próprio Sybok – o que o vulcano via naquela situação era uma projeção de si mesmo, de suas próprias crenças. De algum modo, o deus de Sha Ka Ree explorou a fé dele para seu próprio benefício.

Essas são ótimas reflexões, presentes no roteiro de David Loughery de forma às vezes mais sutil, às vezes menos, mas sem exagerar na dose. Em compensação, em outros momentos, parecemos ver um filme inteiramente diferente, que incorpora humor de maneira muito diversa da feita de forma bem-sucedida em seu predecessor, Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa. Enquanto lá, a graça emergia de forma orgânica, sem causar danos aos personagens, aqui eles muitas vezes são satirizados e colocados em situação vexatória.

As maiores vítimas são a tripulação secundária da Enterprise. Uhura se resume à protagonista de uma dança sensual para atrair os guardas maltrapilhos da Cidade Paraíso, Chekov e Sulu se perdem em uma floresta em plena Terra, e Scotty bate a cabeça em uma tubulação segundos depois de dizer que conhece a nave como a palma da mão. Também há algumas escolhas estranhas para Uhura e Scotty no que parece ser um relacionamento amoroso latente entre os dois, e até para Spock e McCoy sobra alguma ridicularização, quando Kirk diz querer dar uns tapas na bunda de Spock, e o vulcano se voluntaria, caso fosse ajudar, e o médico ainda se oferece para segurá-lo. Engraçadinho, mas fora de lugar.

Também não são muito inspiradas as falsas encrencas colocadas no caminho da viagem. A Enterprise-A em frangalhos, que força o uso constante de naves auxiliares (e convenientemente nega o transporte no clímax do filme), e o capitão klingon Klaa, talvez o mais estereotípico de todos os klingons de Star Trek, que normalmente já são estereotipados.

Soma-se a isso a grande ambição de Shatner em produzir cenas épicas e planos amplos, como na escalada do El Capitán, e nas cavalgadas por Nimbus III, fazendo forte contraste à deficiência nos efeitos visuais, com alguns problemas grotescos, como a mudança na cor do traje de Kirk durante a queda da montanha para lidar com a filmagem em fundo azul e a falha composição de elementos espaciais com a Enterprise nos arredores de Sha Ka Ree. A ausência da Industrial Light & Magic, sobrecarregada e preterida em favor da inexperiente Associates & Ferren, acabou sendo o barato que sai caro para a produção, já estressada pelo orçamento apertado. Para a estreia de Shatner na direção faltou a modéstia de Nimoy, que arriscou pouco na condução de Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock.

Ainda assim, com todos os defeitos, o filme se sustenta como razoável diversão, conduzido de forma magistral pela trilha sonora. A volta de Jerry Goldsmith a Star Trek foi uma das decisões mais acertadas de Shatner para o filme. O compositor é especialista em criar uma atmosfera épica, como já havia demonstrado em Jornada nas Estrelas: O Filme, e o encaixe aqui se deu de forma perfeita com a visão do diretor.

No final das contas, terminamos onde começamos, com nossos três grandes amigos, e dessa vez todos estamos de acordo que, por vezes, a vida pode mesmo ser um sonho… A Última Fronteira, com seus problemas e um fraco desempenho na bilheteria diante de uma concorrência pesada, quase representou um penoso despertar.

Avaliação

Citações

“Are we dreaming?”
“If we are, then life is a dream.”
(Estamos sonhando?)
(Se estamos, então a vida é um sonho.)
Leonard McCoy e James T. Kirk, conforme a Enterprise cruza a Grande Barreira

“What does God need with a starship?”
(Para que Deus precisa de uma nave?)
James T. Kirk, desafiando “Deus”

Trivia

  • William Shatner ganhou o direito de dirigir o quinto filme da franquia graças a uma cláusula estabelecida no contrato dele e de Leonard Nimoy a partir do segundo ano da Série Clássica, segundo a qual tudo que um tivesse direito o outro poderia pleitear. Nimoy dirigiu (mas não estrelou) Jornada III, e dirigiu e estrelou Jornada IV. Agora era a vez de o colega dirigir e estrelar um filme.
  • Shatner de início queria que o roteiro fosse escrito pelo escritor bestseller de fantasia e suspense Eric Van Lustbader. Ele era autor de vários romances sobre um americano no Japão e quão deslocado ele se sentia. Shatner imaginava que isso se encaixava à situação de Spock e descobriu que Lustbader era fã de Star Trek. A negociação, contudo, emperrou numa discussão sobre os direitos de romantização do possível filme.
  • O ator e diretor teve a ideia para a história da busca por Deus ao ver o polêmico casal de televangelistas americanos Jim e Tammy Faye Bakker. Ele ficou perturbado pela ideia de como essas figuras vulgares tinham a audácia de dizer que eram emissários de Deus e com isso enriquecer às custas de seus seguidores.
  • Embora o então presidente da Paramount Pictures, Frank Mancuso, fosse religioso, ele gostou da proposta de Shatner, apresentada pessoalmente, e deu sinal verde para a produção.
  • Quem não gostou foi Gene Roddenberry, que àquela altura era mero consutor e não tinha poder de decisão sobre os filmes. Ainda assim, ele chegou a pedir que seu advogado, Leonard Maizlish, preparasse uma possível ação contra Shatner.
  • Segundo Richard Arnold e Susan Sackett, respectivamente assistente e secretária Roddenberry, o criador de Star Trek achava que Shatner estava meramente plagiando as ideias presentes em sua proposta original para um filme da saga, The God Thing, de 1975. Mais ainda, ele estava incomodado por Shatner ter conseguido aprovar uma história com a polêmica temática religiosa que, anos antes, o estúdio havia recusado, vindo dele.
  • Gene não chegou a processar Shatner, mas proclamou certos elementos do filme “apócrifos”, especialmente a existência de Sybok, como meio-irmão de Spock.
  • Harve Bennett não queria retornar à produção, depois de suas desavenças com Nimoy durante as filmagens do quarto filme. Shatner teve de se esforçar, inclusive visitando-o na casa dele, para convencê-lo a voltar. Em deferência ao produtor, Shatner deu a ele uma ponta no filme, como o almirante que passa as ordens a Kirk. Era uma forma de dizer que Bennett, àquela altura, fazia parte da família.
  • Lançado em 9 de junho de 1989, A Última Fronteira foi o último longa-metragem de Star Trek a estrear durante o verão americano, época de maior concorrência, até a retomada da cinessérie com Star Trek (2009), filme de J.J. Abrams. Ele também foi o primeiro filme a se sobrepor a outra produção da saga – na mesma época, estava em andamento a segunda temporada de A Nova Geração.
  • A greve dos roteiristas que aconteceu em 1988 atrapalhou a pré-produção do filme, o que exigiu uma redução do período de filmagens. Isso não ajudou. A exigência da Paramount de que o filme tivesse um tom de comédia similar ao anterior também não.
  • A proposta original de Shatner para o filme, intitulada An Act of Love, trazia uma versão muito mais sombria da história, com real conflito entre Kirk, Spock e McCoy. Os dois se juntariam a Sybok e deixariam Kirk isolado. Leonard Nimoy recusou-se a interpretar isso, alegando que Spock jamais trairia Kirk, não importando as circunstâncias. DeForest Kelley também não topou.
  • A competição por bilheteria naquele verão americano foi especialmente ferrenha. Jornada V teve de brigar com filmes como Batman, Máquina Mortífera 2, Os Caça-Fantasmas 2 e Indiana Jones e a Última Cruzada.
  • O nome Sha Ka Ree é uma derivação de Sean Connery, ator que Shatner queria para viver Sybok. O escocês, contudo, estava ocupado vivendo o pai de Indy e não pôde participar. Para o seu lugar, foi escolhido Laurence Luckinbill.
  • As filmagens começaram em 11 de outubro de 1988 e terminaram em 28 de dezembro. A primeira cena gravada foi a ponta com Harve Bennett como o vice-almirante “Bob”. Em seguida a produção foi para locação, primeiro no Parque Nacional Yosemite, depois no deserto de Mojave. De volta ao estúdio, filmaram as cenas internas, lado a lado com a produção de A Nova Geração. As últimas cenas filmadas foram as de Kirk, Spock e McCoy em volta da fogueira.
  • No último dia da produção, uma coletiva foi realizada para a imprensa no set de filmagens.
  • Alguns elementos da trama causam estranhamento nos fãs, em particular como a Enterprise conseguiu viajar tão depressa até o centro da galáxia. Isso foi resolvido na romantização do filme, em que é dito que Sybok teria desenvolvido uma técnica para encurtar o tempo de viagem. Ele também teria reajustado radicalmente os defletores da nave para superar a Grande Barreira. A ave-de-rapina, ao monitorar a Enterprise, replicaria as mudanças para obter o mesmo resultado.
  • A empresa ILM estava ocupada com Indiana Jones e Os Caça-Fantasmas e, por isso, acabou não sendo contratada para produzir os efeitos visuais. Em lugar dela, Shatner escolheu a Associates & Ferren, que deixou muito a desejar.
  • A sequência em que o falso deus persegue Kirk em Sha Ka Ree originalmente seria muito mais longa, mas teve de ser cortada por conta dos terríveis efeitos especiais. O capitão seria perseguido por dez temíveis monstros de pedra. No final, construíram apenas um monstro, que ficou nada convincente, e com isso foi cortado.
  • Em outra cena cortada, veríamos que Sulu e Chekov se perderam na floresta perto do monte Rushmore, que no século 23 contaria com um quinto presidente americano esculpido na rocha – uma mulher afro-americana.
  • As filmagens da escalada do El Capitán foram feitas em locação, mas sobre uma parede falsa de fibra de vidro, com o cenário montanhoso ao fundo.
  • A ordenança que entrega a jaqueta a Kirk quando ele chega à ponte da nave é vivida pela filha mais nova de Shatner, Melanie.
  • Como em Jornada IV, este filme também teve alguns lances de merchandising: Kirk e McCoy usam calças jeans Levi’s. E o dispensador de marshmallow chegou a ser fabricado pela Kraft Co. para vendas pelo correio.
  • A cena da escalada pelo poço do turboelevador tem um erro incômodo: a numeração dos decks cresce de baixo para cima, em contradição com o usual nas naves estelares deStar Trek. Além disso, eles passam duas vezes pelo deck 52, e terminam no deck 78, embora a Enterprise-A só tenha 23 decks. O designer de produção Herman Zimmerman alertou Shatner do erro, mas ele quis manter a cena assim.
  • Apesar de ter estreado no topo das bilheterias com uma arrecadação de US$ 17 milhões no primeiro fim de semana, o filme acabou fracassando nas semanas seguintes, e terminou com uma bilheteria doméstica de US$ 52,2 milhões, além de outros US$ 18 milhões em mercados estrangeiros. O total de US$ 70,2 milhões ficou aquém da expectativa da Paramount, que esperava arrecadar US$ 200 milhões. O orçamento do filme foi de cerca de US$ 30 milhões.

Ficha Técnica

História de William Shatner & Harve Bennett & David Loughery
Roteiro de David Loughery
Dirigido por William Shatner
Produzido por Harve Bennett
Música de Jerry Goldsmith

Estreia em 9 de junho de 1989 (EUA), 6 de outubro de 1989 (Brasil)

Título em inglês: Star Trek V: The Final Frontier

Elenco

William Shatner como James T. Kirk
Leonard Nimoy como Spock
DeForest Kelley como Leonard H. McCoy
James Doohan como Montgomery Scott
Walter Koenig como Pavel Chekov
Nichelle Nichols como Nyota Uhura
George Takei como Hikaru Sulu
David Warner como St. John Talbot
Laurence Luckinbill como Sybok
Charles Cooper como Korrd
Cynthia Gouw como Caithlin Dar
Todd Bryant como Klaa
Spice Williams como Vixis
Rex Holman como J’onn
George Murdock como “Deus”
Jonathan Simpson como jovem Sarek
Beverly Hart como alta sacerdotisa
Steve Susskind como apresentador
Harve Bennett como chefe de estafe da Frota Estelar
Cynthia Blaise como Amanda
Bill Quinn como pai de McCoy
Melanie Shatner como ordenança

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Edição de Maria Lucia Rácz

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