James Darren foi um cantor e ator, mas foi muito mais que isso. Percebemos o impacto de alguém quando atravessa gerações. James Darren foi o ídolo da juventude da minha avó, e depois foi o meu. Ele foi um grande ator de ficção científica nos anos 60, participando de O Túnel do Tempo e Viagem ao Fundo do Mar, mas sua introdução em Star Trek viria décadas depois.
Nos anos 90, durante a produção de Deep Space Nine, Ira Behr queria criar um personagem para Frank Sinatra Jr, que era trekker. Um personagem que fosse um cantor de Las Vegas dos anos 60, que desse conselhos sobre a vida e o amor. Mas ele não queria interpretar um cantor, queria interpretar um alienígena, então não rolou. A ideia ficou pairando no ar, o papel chegou a passar para a mão de Steve Lawrence, que não pode fazer. Até o dia em que Ira Behr encontrou Darren um dia num evento e imediatamente viu que era o cara para o papel.
Na sua primeira reunião com a produção, Darren já mostrou por que era o Vic Fontaine que DS9 precisava. Ele chegou comentando sobre as melhores lojas de smoking e compartilhando histórias sobre suas experiências com Frank Sinatra e James Dean. Antes mesmo de entrar oficialmente em cena, ele já estava interpretando Vic Fontaine e conquistando o coração dos produtores, prenunciando a conquista do nosso.
Olhando para trás, a introdução de Vic em Deep Space Nine foi um movimento brilhante, embora seja difícil imaginar que alguém, ao assistir à sexta temporada no conforto de casa, sentisse que o que faltava na série era um cantor de jazz. Mas era exatamente isso que faltava.
Vic Fontaine não é um holograma. Vic é o coração de um seriado que fala sobre guerra, morte e muitas vezes o pior lado do ser humano. Numa galáxia fria, cheia de ódio e ressentimento, Vic era a dose certa de música, alegria e amor para uma tripulação sofrida. Em tempos de guerra, quando tudo parecia incerto, quando tudo parecia dor, Vic era a única pessoa que estava sempre lá, pronta para ouvir, para fazer as pessoas rirem, para cantar ou para lhes dar aquele pequeno empurrão que faltava para dar sentido às suas vidas.
Para Odo, foi Vic quem o fez encarar de frente sentimentos que ele escondeu durante anos, juntando-o a Kira, um amor predestinado a acontecer. Odo era um metamorfo em meio a sólidos e foi Vic que ajudou Odo a ver que amar era uma coisa para ele. Ele deu o empurrão para Odo dar o maior salto da sua vida, ensinando-lhe que o amor valia o risco. Amar vale todo o risco dessa vida.
Para Nog, depois que o horror da guerra o deixou sem uma perna, o lindo mundo de Vic o curou, onde ele poderia redescobrir sua força e sua vontade de viver. Vic não é médico, mas administrou um remédio muito eficaz: a música. Nog não conseguia encontrar paz no mundo real. Encontrou no mundo de Vic, de música, filmes antigos e muita diversão. Há quem diga que Nog estava fugindo, que aquilo só acontecia na cabeça dele. E só porque acontece só na cabeça que não é real?
Numa série que falava das complexidades da guerra, da política e da sobrevivência, Vic representa a sofisticação da simplicidade. Ele não lutava nas batalhas ou comandava naves da frota, mas estava lutando, do seu jeito, pelos corações daqueles cansados e fatigados do universo. Por essas e outras que Deep Space Nine é a série melhor escrita de Jornada. Ela explora todas as facetas da experiência humana, muitas vezes contraditórias, mas sempre humanas.
As lições de Vic são atemporais, e talvez essa seja a maior contribuição de seu personagem. Vic Fontaine nos lembrou que, não importa o quão avançada se torne nossa tecnologia ou o quão distantes cheguemos no espaço, o que realmente importa, o que dá sentido à vida, é o amor. Aqui, enquanto escrevo esse texto em 2024, nos anos 60 em Las Vegas, ou numa estação no espaço profundo no século 24, nada importa, nada faz mais sentido que amar. Vic é a eterna lembrança de que, quando as coisas ficam escuras, não podemos esquecer de acender a luz, porque até nos momentos mais sombrios, sempre há uma luz esperando para entrar, se permitirmos.