Jornada nas Estrelas: O Filme

Aventura épica e transcendente promove volta triunfal da Enterprise nos cinemas

Sinopse

Data estelar: 7410.2

Três cruzadores de batalha klingons encontram uma gigantesca nuvem no espaço. São atacados e destruídos. O evento é detectado pelos sensores de longa distância da estação federada Epsilon 9, que calcula que a nuvem passará próximo a ela e está numa rota de interceptação com a Terra.

Em Vulcano, Spock está para concluir o Kolinahr, ritual que terminaria de expurgar suas emoções. Mas um estranho chamado do espaço o toca, e ele interrompe a cerimônia. Após um elo mental, a sacerdotiza conclui que ele não atingiu sua meta, e as respostas que procura estão em outro lugar.

No Comando da Frota Estelar, em São Francisco, o almirante Kirk encontra o comandante Sonak e diz que se encontrará com ele na Enterprise em uma hora, após uma reunião com o almirante Nogura. A nave está na doca seca em órbita terrestre, sendo preparada às pressas para o lançamento, após uma longa reforma de 18 meses, sob a supervisão do engenheiro-chefe Scott.

Kirk é conduzido à Enterprise numa nave auxiliar e, uma vez a bordo, comunica ao capitão Willard Decker que o está substituindo temporariamente no comando, para conduzir a missão de interceptação com a misteriosa nuvem que ameaça a Terra. Rebaixado temporariamente a comandante, Decker permanece a bordo, como primeiro oficial. Contrariado, ele aponta que Kirk não conhece bem essa “nova” Enterprise.

A nave de fato ainda tem muitos problemas técnicos. Um deles se manifesta quando o comandante Sonak e um outro oficial tentam se teletransportar a bordo. Uma falha faz com que eles sejam mortos, o que obriga Kirk a indicar Decker também para ocupar a posição de oficial de ciências.

Em reunião com toda a tripulação na sala de recreação, Kirk apresenta a missão e indica que a nuvem está a 53,4 horas da Terra. Em meio à apresentação, a Enterprise recebe um sinal de prioridade da estação Epsilon 9, que acaba sendo destruída pela nuvem. Diante dos tripulantes atônitos, Kirk conclui dizendo que a contagem pré-lançamento ocorre em 40 minutos.

Uma das últimas tripulantes a embarcar é a tenente Ilia, deltana que servirá como navegadora. Ela é uma velha conhecida de Decker, que serviu em Delta IV no passado – os dois tiveram um relacionamento amoroso. Por fim, o oficial médico-chefe estava se recusando a subir no teletransporte: McCoy, que havia deixado a Frota Estelar, mas foi reconvocado por motivo de força maior, a pedido de Kirk.

A Enterprise está pronta para a partida, e Kirk deseja entrar em dobra sem demora, ainda no Sistema Solar, mas um desbalanceamento no motor impede a manobra. O almirante insiste, a contragosto de Scotty, e o problema cria um buraco de minhoca. Um asteroide é capturado para dentro dele e ameaça destruir a nave. Kirk ordena o uso de feisers, mas Decker intervém e comanda o uso de torpedos fotônicos. O asteroide é destruído, e o buraco de minhoca se dissipa. Enquanto Scott trabalha nos reparos causados pela partida desastrada, Kirk convoca Decker em seus aposentos, acompanhado por McCoy.

O almirante questiona o primeiro oficial pelo desafio a sua ordem. Decker explica que a nova Enterprise liga os feisers aos motores, e eles não funcionariam naquelas circunstâncias. Kirk admite que a intervenção salvou a nave e pede que Decker siga atento a situações do tipo. Depois que dispensa o primeiro oficial, Decker se encontra com Ilia no corredor e falam sobre sua relação interrompida abruptamente em Delta IV. Nos aposentos do capitão, McCoy tem uma conversa franca com Kirk, apontando que é o almirante quem está competindo com Decker, obcecado por retomar o comando da Enterprise.

Uhura chama Kirk e diz que uma nave da Federação pede para acoplar-se à Enterprise. O capitão autoriza e Chekov se encarrega do desembarque. A nave traz a bordo Spock, que vai à ponte, diante do olhar embasbacado de seus antigos colegas, e oferece seus serviços como oficial de ciências, se dizendo ciente das dificuldades da nave. Kirk aprova e Decker não se opõe. Com a ajuda de Spock, Scott consegue recondicionar o motor para voo de dobra, e a Enterprise parte para interceptar a nuvem misteriosa pouco mais de um dia antes de sua iminente chegada à Terra.

Durante o trajeto, Kirk e McCoy então se reúnem com Spock para saber o que ele faz lá, e ele conta do contato telepático poderoso que sentiu em Vulcano, que parecem vir do intruso. McCoy ironiza, festejando que estejam todos indo na mesma direção, mas Kirk enfatiza que precisa de Spock.

A Enterprise faz contato visual com a nuvem, que tem duas unidades astronômicas de diâmetro. Tentativas de comunicação fracassam, e uma sondagem emanada do interior atinge a nave. Spock diz que deve haver um objeto no centro da nuvem. Kirk ordena um curso para dentro dela. Telepaticamente, o vulcano percebe uma sensação de curiosidade, de que foram contatados e optam por não responder. Um disparo é feito contra a Enterprise, danificando os sistemas. Uma sobrecarga fere Chekov na ponte, mas os escudos resistem.

Ilia usa seus poderes empáticos para tirar a dor de Chekov, enquanto Chapel oferece primeiros socorros. Spock constata que uma mensagem de fato foi mandada à Enterprise, mas ultrarrápida. Ele decide adaptar o transmissor para mandar uma resposta apropriadamente rápida. Enquanto isso, um segundo disparo vem na direção da nave, que não resistirá a ele. Spock transmite o sinal e o ataque é interrompido.

Kirk decide prosseguir na penetração da nuvem, contra a recomendação de Decker, que julga um risco desnecessário no momento. Após percorrer o trajeto, a Enterprise chega a uma imensa espaçonave, localizada no centro da nuvem. Kirk ordena que Sulu plote um curso paralelo chegando a 500 metros da nave, para depois se afastar a 100 km, mantendo um curso paralelo. A Enterprise então faz um sobrevoo completo da longa estrutura, encontrando um orifício, uma possível abertura, na outra extremidade.

Um novo objeto luminoso é disparado na direção da Enterprise, que se manifesta como uma coluna de luz na ponte. Chekov especula que seja um tripulante, mas Spock indica que é uma sonda. A coluna de luz se move até o computador e tenta acessar dados do banco de dados, inclusive sobre as defesas da Terra. Decker tenta desligá-lo, sem sucesso. Spock parte para uma ação mais agressiva e destrói o console. Em seguida, ele é atacado pela sonda com choques elétricos. A coluna de luz então se aproxima de Ilia e a faz desaparecer, sumindo em seguida. Decker diz a Kirk que era algo assim que ele definiria como “risco desnecessário”.

O orifício então se abre na espaçonave gigante e a Enterprise é puxada por um raio trator. Decker sugere uma tentativa de resistência com feisers, mas Spock recomenda contra, alegando ser inútil. Na câmara no interior do objeto para onde a Enterprise foi puxada, há um novo orifício. No lado oposto, o caminho se fecha, aprisionando-a. Kirk ordena o uso de sensores para estudar o objeto, mas Spock diz que os resultados são negativos. Ele sugere que deve ser importante entrar na outra câmara, mas subitamente é interrompido por um contato telepático. Em seguida, Kirk é chamado aos aposentos de um tripulante, onde, no chuveiro sônico, uma sonda robótica com a forma exata de Ilia se materializou. Ela diz ser uma sonda enviada por V’ger para investigar as unidades baseadas em carbono – os tripulantes – infestando a Enterprise.

A sonda Ilia diz que V’ger está em busca de seu criador, para se unir com ele. Mas está claro que ela não sabe quem seria esse criador. McCoy deseja levá-la à enfermaria, e Kirk a convence a cooperar dizendo que um exame médico é uma atividade normal das unidades baseadas em carbono.

Decker vai à enfermaria e encontra o que pensa ser Ilia. Os dois formam uma conexão. Privadamente, Kirk sugere que Decker tente evocar lembranças da verdadeira Ilia no robô para obter sua cooperação. A sonda interrompe a conversa rompendo a porta e Kirk diz que Decker vai acompanhá-la. Ele a leva à sala de recreação e mostra um jogo que ela gostava de praticar. A sonda revela que o plano de V’ger é converter as unidades de carbono em padrões de dados. Decker então sugere que dentro dela há padrões de dados de uma unidade de carbono, e que reavivá-los pode ajudar. Com a ajuda de Chapel e McCoy, a sonda parece se lembrar de Ilia e da relação com Decker, que precisa ser lembrado de que está lidando com um robô.

Em paralelo, Spock decide agir por conta própria. Ele rende com uma pinça vulcana um segurança e coloca um traje de atividade extraveicular para deixar a Enterprise e tentar penetrar a câmara mais interna. Ele adentra uma unidade que parece ser a memória de todos os registros colhidos em sua longa viagem por V’ger, incluindo a estação Epsilon 9. Spock acredita que estejam lidando com uma máquina viva. Ao final da caminhada espacial, ele encontra uma representação da sonda Ilia, com seu sensor no pescoço. Decide tentar um elo mental com ela, mas uma sobrecarga o atinge e ele é lançado para longe, de volta para fora da câmara. Lá ele é resgatado, inconsciente, por Kirk, que saiu para ir atrás dele.

De volta à enfermaria, Spock parece catatônico. Ao voltar à consciência, ele revela a Kirk sua experiência com V’ger, uma forma de vida única. Ele diz ter visto o planeta dela, povoado por máquinas vivas. Apesar de seu vasto conhecimento, ela é feita de pura lógica, vazia, sem qualquer sentimento – como a amizade que ele sente por Kirk. Eles estariam além da compreensão de V’ger.

A Enterprise recebe um sinal da Frota Estelar, que indica que a nuvem está se dissipando e o objeto central está se aproximando da Terra. V’ger está transmitindo um sinal. A sonda Ilia diz que é uma tentativa de comunicação com o criador, em um simples sinal de rádio em código binário. Sem resposta do criador, vários dispositivos de ataque são lançados à órbita terrestre – V’ger se prepara para atacar o planeta. A sonda Ilia diz que as unidades de carbono estão interferindo com o criador.

De volta à ponte, Spock sugere a Kirk que V’ger é uma criança e deve ser tratada como tal. Kirk então diz à sonda Ilia que as unidades de carbono sabem porque o criador não está respondendo. V’ger “dá um chilique”, agredindo a Enterprise pela resposta. Kirk diz que só pode fornecer a informação diretamente a V’ger, e não à sonda. Um raio trator então conduz a Enterprise à uma câmara interna, até o complexo central. Uma atmosfera de oxigênio-nitrogênio se forma no entorno da nave, e Kirk, Spock, McCoy, Decker e a sonda Ilia vão ao casco da nave para caminhar até V’ger.

Ao inspecionar o objeto, Kirk descobre que se trata de Voyager 6, antiga sonda da NASA lançada no século 20 e perdida em um buraco negro. Aparentemente ela foi encontrada pelo planeta de máquinas e “reformada” para cumprir sua missão original: colher o máximo de informações possível e trazê-las de volta ao criador.

Kirk então solicita a Uhura que levante o código usado pela NASA para ordenar a Voyager a retransmitir seus dados. Durante a transmissão, contudo, um cabo de conexão é queimado – por V’ger. Ela quer se unir ao criador. Decker decide reconectar o cabo e transmitir a sequência final. McCoy alerta que não sabemos o que pode acontecer a ele, mas Decker insiste que é o que ele quer – se juntar a V’ger, representada por Ilia. Enquanto Kirk, Spock e McCoy rapidamente retornam à Enterprise, V’ger desaparece, numa explosão de luz – o que McCoy interpretou como o nascimento de uma nova forma de vida. Com isso, a Terra está a salvo.

Após reportar o desaparecimento de Decker e Ilia à Frota Estelar, Kirk pergunta a Scott se a Enterprise está pronta para uma viagem de teste, agora que a emergência passou. Tanto Spock como McCoy decidem permanecer a bordo, e a nave parte em dobra, sinalizando que a aventura humana está apenas começando…

Comentários

Com a missão de levar pela primeira vez Star Trek aos cinemas, Jornada nas Estrelas: O Filme entrega uma história épica, ambiciosa e transcendente, com sabor muito diferente dos episódios clássicos, mas sem se desapegar dos personagens principais já consagrados e oferecendo a eles importantes arcos de desenvolvimento.

A história sucede a missão de cinco anos da Enterprise retratada na Série Clássica e na Série Animada, com um hiato temporal que ajuda na suspensão da descrença para acreditar que a nova Enterprise é meramente uma versão reformada, embora muito modificada, da antiga. Óbvio que cenários e maquetes se beneficiaram não só dos avanços significativos em valores de produção no fim dos anos 1970 como também da perspectiva de um orçamento cinematográfico de respeito, entregando um visual esplendoroso jamais visto antes na saga.

Uma das críticas mais recorrentes ao filme é o de ter se rendido ao desejo de entregar um espetáculo, versus o intuito de contar uma história. Contudo, essa percepção é muito mais fruto de uma produção atribulada e corrida (que obrigou o corte original do filme a ser finalizado a toque de caixa, por vezes meramente deixando pedaços em branco para o encaixe das tomadas de efeitos visuais entregues de última hora) do que pela falta de um fio narrativo claro.

Em sua versão finalizada, contudo, esses problemas de ritmo e parte do exagero com as tomadas de efeitos visuais desaparecem, legando uma obra-prima do cinema de ficção científica, digna de seu celebrado diretor. Só se pode considerar a versão definitiva do longa a que foi concluída depois que a Paramount permitiu que Robert Wise voltasse ao ele em 2001 para reeditá-lo apropriadamente, incluindo, além de importantes momentos de personagens que haviam ficado de fora no corte original, novos efeitos visuais planejados na época do lançamento original, mas então não concluídos por falta de tempo. Essa edição, trazida a seu máximo esplendor em ultra alta definição (4K) apenas em abril de 2022, representa todo o potencial do único filme de Star Trek a ter o criador Gene Roddenberry como seu produtor.

A trama básica em si é reminiscente do episódio “The Changeling”, da segunda temporada da Série Clássica, envolvendo uma sonda terrestre transformada e obcecada com seu criador. Mas enquanto essa versão modesta da trama se concentrava apenas na ameaça que a sonda, Nomad, poderia trazer à tripulação da Enterprise, em Jornada nas Estrelas: O Filme o escopo é muito maior, com uma enorme nuvem que viaja pelo espaço causando grande destruição e ameaçando a existência da própria Terra.

É, por sinal, a primeira vez em Star Trek que vemos a Terra do futuro, já que os poucos episódios clássicos que ousaram mostrar nosso planeta natal o fizeram apenas em contexto de viagens no tempo, onde cenários, locações e adereços contemporâneos pudessem tornar a produção viável. Com o salto para as telonas, pudemos ver de forma deslumbrante o Comando da Frota Estelar, tráfego espacial intenso nas imediações da Terra e uma sequência espetacular de apresentação da “nova” Enterprise.

Sem economizar no tempo, damos ao lado de Kirk e Scott uma boa volta ao redor da nave estelar, numa introdução que faz jus à ideia roddenberriana de que a Enterprise era um personagem muito importante no contexto de Star Trek. É uma das críticas recorrentes ao filme a lentidão da sequência, mas é preciso colocá-la no contexto correto, tanto dentro do universo ficcional como fora dele. No primeiro caso, é a reintrodução de Kirk ao seu maior amor – a Enterprise –, e no segundo caso o retorno glorioso da nave que protagonizou uma série cancelada prematuramente e teimosamente sustentada na memória pelos fãs a ponto de ser ressuscitada nos cinemas. Seja qual for o ponto de vista, trata-se de uma escolha apropriada e acertada.

A relação de Kirk, por sinal, é um dos fios condutores da trama. Visto agora quase três anos após ter deixado o comando da Enterprise, tendo se transformado um almirante com trabalho de gabinete no Comando da Frota Estelar, Kirk está obcecado em assumir de novo a cadeira do capitão, diante da emergência que ameaça a segurança da Terra. O roteiro nos mostra que parte dele, desde o início, a iniciativa de voltar à nave para enfrentar pessoalmente a ameaça, e sua determinação se reflete na dificuldade de adaptação aos novos sistemas da Enterprise e nos embates com Willard Decker, promovido a capitão por indicação de Kirk, mas então rebaixado temporariamente a comandante para esta missão.

McCoy também aparece em um novo momento em sua carreira, tendo sido forçosamente recrutado para a missão por indicação de Kirk, e continua sendo o mesmo amável rabugento de sempre. Grande companheiro de Kirk, jamais o deixaria na mão – inclusive na hora de dizer algumas verdades, confrontando a obsessão de seu amigo por assumir o comando da nave a qualquer custo. Os dois ajudariam um ao outro ao longo da história a se encontrarem como oficiais que pertencem ao lugar onde estão.

Por fim, temos Spock com seu próprio arco de história, possivelmente o mais elaborado deles. O vulcano espelha o drama de V’ger – enquanto ele quer se livrar de suas emoções e precisa confrontar o fato de que elas sempre farão parte dele, ao fracassar no ritual do Kolinahr, a misteriosa V’ger é uma máquina que atingiu consciência e, por mais conhecimento que adquira, se ressente da falta de sentimentos e qualidades humanas.

O laço telepático intrigante criados entre os dois, além de ajudar a impulsionar a trama, permite uma decifração mais clara do aspecto mais etéreo do filme – a busca de V’ger por seu criador, como uma maneira de superar sua existência enquanto máquina. É uma saga à procura de transcendência, que se materializa por meio do uso inteligente e simbólico de dois personagens adicionados à saga especialmente para o filme: o primeiro oficial Decker e a tenente Ilia.

As origens de ambos remontam à época em que Star Trek seria ressuscitada como uma nova série de TV, antes de virar este filme, mas seu encaixe para esta trama em particular é perfeito, porque permitem criar o vínculo prévio de amor que fará com que Decker se entregue ao risco de se fundir com V’ger e, de certa maneira, se reencontrar com Ilia. A união de homem e mulher, e ao mesmo tempo ente biológico e ente tecnológico, dando à luz uma nova forma de vida é especialmente intrigante, dando ao filme uma aura condizente com algumas das obras mais etéreas de ficção científica no cinema, como 2001: Uma Odisseia no Espaço e Solaris.

De certa maneira, o filme antecipa de forma poética uma discussão sobre trans-humanismo e fusão entre humano e máquina que só entraria realmente em voga nos círculos da ciência no século 21.

E tudo isso é realizado ao mesmo tempo em que o público é agraciado com sequências visuais espetaculares, como a destruição das naves klingons e de Epsilon 9, a longa viagem da Enterprise por dentro de V’ger e a jornada de Spock com traje de atividade extraveicular pelos bancos de memória da entidade.

As imagens são reforçadas pela trilha sonora inesquecível produzida por Jerry Goldsmith, com temas maravilhosos para os klingons, Ilia e a própria saga de Star Trek, que acabaria muito bem representada com uma versão do tema principal do filme adaptada mais tarde para a sequência de abertura de A Nova Geração.

Para além de seu sucesso como uma produção individual, Jornada nas Estrelas: O Filme merece ser festejado pelo legado que deixou para a franquia, revivendo-a de maneira definitiva, preservando suas origens ao mesmo tempo atualizando-a para o futuro. É o exercício que, ao ser executado de novo e de novo, tem mantido acesa a chama de Star Trek nos últimos 60 anos.

Avaliação

Citações

“I weep for V’ger as I would for a brother. As I was when I came aboard, so is V’ger now. Empty. Incomplete. Searching. Logic and knowledge are not enough.”
(Eu choro por V’ger como eu choraria por um irmão. Como eu estava quando vim a bordo, V’ger está agora. Vazia. Incompleta. Procurando. Lógica e conhecimento não são suficientes.)
Spock, com lágrimas nos olhos

“We witnessed a birth. Possibly a next step in our evolution.”
“Well, it’s been a long time since I delivered a baby and I hope we got this one off to a good start.”
(Nós testemunhamos um nascimento. Possivelmente um próximo passo em nossa evolução.)
(Bem, faz um tempão que eu não faço um parto de bebê, espero que tenhamos dado a esse um bom começo.)
Spock e McCoy, sobre a fusão de Decker com V’ger

Trivia

  • A ideia para um filme de cinema de Star Trek pairou sobre a Paramount Pictures por boa parte da década de 1970. Gene Roddenberry sugeriu, em 1973, uma história chamada “The Cattlemen” (“os homens-gado”, em tradução livre), baseada em uma premissa desenvolvida originalmente como possível piloto para a Série Clássica e recusada pelo estúdio.
  • Uma segunda tentativa veio em 1975, quando Roddenberry voltou ao seu velho escritório na Paramount para escrever “The God Thing” (“a coisa de Deus”), uma trama em que uma misteriosa entidade que se autodeclara Deus está a caminho da Terra. A sequência inicial de O Filme, com os três cruzadores klingons destruídos por V’ger, saiu desta proposta, mas o tema em si foi considerado controverso demais e o estúdio mais uma vez recusou o roteiro.
  • Em 1976, um novo projeto seria iniciado, chamado “Planet of the Titans” (“planeta dos titãs”). A produção seria tocada no Reino Unido, com Roddenberry na produção, mas ele acabaria afastado do projeto. Dois roteiristas britânicos, Chris Bryant e Allan Scott, foram contratados para escrever o roteiro, e a direção ficaria a cargo de Philip Kaufman. Esse filme teria uma Enterprise totalmente remodelada, e os artistas Ken Adam e Ralph McQuarrie foram trazidos para projetá-la. Suas ilustrações serviriam de inspiração, décadas depois, para a nave-título da série Star Trek: Discovery. Mas o estúdio mais uma vez recusaria pelo menos duas versões do roteiro, antes de cancelar o projeto.
  • Em maio de 1977, a Paramount decide que o conceito de Star Trek se encaixa mais como uma série de TV do que como um filme de cinema. O estúdio então cria planos para lançar uma nova rede televisiva própria, tendo uma nova versão de Star Trek, que ficaria conhecida como Phase II, como carro-chefe.
  • Diversas histórias e roteiros foram desenvolvidos para Phase II, dentre eles uma proposta formulada por Alan Dean Foster, escritor que havia se destacado escrevendo livros com romantizações dos episódios da Série Animada. A trama de “In Thy Image” (“à tua imagem”), criada com base em uma premissa chamada “Robot’s Return” (“retorno do robô”), formulada por Gene Roddenberry para uma série jamais produzida (Genesis II), acabaria sendo a base para O Filme.
  • Ao fim de 1977, após ver o sucesso extraordinário de Star Wars nos cinemas, a Paramount desiste de levar Star Trek de volta à TV (bem como lançar sua rede de televisão) e converte o projeto Phase II em um filme para cinema, usando o roteiro escolhido para piloto da série, “In Thy Image”.
  • Phase II contaria com toda a tripulação clássica (Kirk, McCoy, Scott, Sulu, Chekov, Uhura e Chapel), menos Spock, em razão de um litígio entre o ator Leonard Nimoy e a Paramount. Além desses, três novos personagens foram criados: o primeiro oficial Decker, a navegadora Ilia (Persis Khambatta) e o oficial de ciências vulcano Xon (David Gatreaux). Com a conversão do projeto em filme de cinema e a contratação do diretor Robert Wise, tornou-se prioridade trazer Nimoy de volta, o que levou à exclusão de Xon do filme.
  • A versão televisiva do roteiro de “In Thy Image”, finalizada por Harold Livingston (contratado para ser produtor na série), tinha algumas diferenças do que seria o roteiro de O Filme, principalmente no terceiro ato. A Enterprise seria visitada por várias sondas diferentes de V’ger, dentre as quais a versão de Ilia que, na série, teria um enlace romântico não com Decker, mas com Kirk. O desfecho também era muito menos dramático, com a tripulação simplesmente levando a sonda Ilia para conhecer a NASA a fim de explicar quem era “o criador”, e nesse processo tanto Decker como Ilia sobreviveriam. Com a transformação em filme, um novo final foi formulado, com as filmagens já em andamento, promovendo a fusão de Decker com V’ger.
  • A escalação do ator Stephen Collins para o papel de Decker ocorreu somente depois que o projeto foi convertido em filme.
  • Cenários da Enterprise e maquetes produzidos originalmente para Phase II foram reformados e adaptados para O Filme, baseados em decisões do diretor Robert Wise, que também optou pela criação de novos uniformes para a tripulação, criados por Robert Fletcher. Originalmente, o novo programa usaria modelos similares aos da Série Clássica.
  • O exterior da Enterprise também foi bastante modificado; a versão “reformada” da Phase II, desenhada por Matt Jefferies (o mesmo criador da original), deu lugar a uma nova, mais detalhada, criada por Andrew Probert (mesmo responsável pelo design do DeLorean usado como máquina do tempo em De Volta para o Futuro). Um novo modelo, maior que o da Phase II, foi criado para dar conta dos efeitos visuais, agora mirando um público de cinema.
  • As filmagens da unidade principal se deram entre 7 de agosto de 1978 e 26 de janeiro de 1979, com uma dinâmica muito atribulada. Em muitos dias, os atores não tinham páginas de roteiro para filmar, enquanto o produtor Gene Roddenberry e o roteirista Harold Livingston travavam uma guerra particular, um reescrevendo o outro. Livingston chegou a se demitir do projeto algumas vezes, até o estúdio dar a ele autoridade final sobre o roteiro. Roddenberry ficou com os direitos para escrever a romantização do filme em livro.
  • Outra crise envolveu os efeitos visuais. A Paramount havia contratado uma empresa, Robert Abel & Associates, para produzi-los, mas se tratava de uma companhia pequena, com experiência apenas em comerciais de TV. Ela não deu conta de produzir as complexas tomadas exigidas, o que ameaçava toda a produção. De última hora, o estúdio teve de trocar de fornecedor, apelando aos mestres de efeitos visuais Douglas Trumbull e John Dykstra, veteranos respectivamente de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) e Star Wars (1977). Os efeitos acabaram saindo a contento, mas em cima da hora, o que prejudicou muito o processo de edição e acabamento do filme.
  • Por ocasião de seu lançamento, o filme foi beneficiado por uma grande campanha de marketing, que envolveu lançamento de tiras de quadrinhos em jornais, revistas, brinquedos e até mesmo o primeiro McLanche Feliz com personagens licenciados da história!
  • Os trailers do filme foram narrados pelo lendário cineasta Orson Welles; Wise havia trabalhado com ele como editor nos dois primeiros filmes de Welles, Cidadão Kane (1941) e Soberba (1942).
  • O custo total de produção ficou entre US$ 44 milhões e US$ 46 milhões – uma fábula para a época. Para efeito de comparação, o primeiro Star Wars, lançado dois anos antes, saiu por US$ 13 milhões. Mas o preço total de O Filme inclui todos os gastos com projetos não realizados de Star Trek na década de 1970, dentre eles a série abortada Phase II.
  • Na bilheteria americana, o filme faturou US$ 82,3 milhões. Incluindo a arrecadação em outros países, o total subiu a US$ 139 milhões, isso sem contar licenciamentos adicionais de produtos e de exibição do filme na TV. O resultado fez do filme um grande sucesso e levou a Paramount a planejar quase de imediato uma continuação –mas desta vez, depois de todos os atropelos, sem Roddenberry na produção.
  • A montagem do filme foi concluída no dia 5 de dezembro de 1979, e a pré-estreia aconteceu no dia seguinte, em Washington, D.C.. O diretor Robert Wise levou a primeira cópia consigo e dormiu com ela embaixo da cama antes da exibição. A estreia nos cinemas se deu no dia 7 de dezembro, com 2.000 cópias, transportadas por uma frota de aviões fretados pelo estúdio.
  • A cena com a tripulação toda reunida contou com cerca de 300 pessoas, das quais 125 eram fãs notórios de Star Trek. Entre os presentes estavam Bjo Trimble e Denise Tathwell. Susan Sackett e Richard Arnold, assistentes de Roddenberry, também estavam lá.
  • O filme foi o primeiro a retratar os klingons com protuberâncias na testa, desviando-se do estilo usado na Série Clássica. Mas aqui todos os klingons tinham o mesmo design de testa, algo que mudaria a partir de Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock (1984).
  • O comandante klingon visto no filme é interpretado por Mark Lenard, mais conhecido como Sarek (o pai vulcano de Spock) e o comandante romulano de “Balance of Terror”. Com esse papel, ele se tornou o primeiro ator a viver personagens das três principais espécies alienígenas estabelecidas na Série Clássica.
  • Além do elenco fixo da Série Clássica, o filme contou com uma ponta de Grace Lee Whitney, como Janice Rand, desta vez como oficial de transporte.
  • As cenas em Vulcano originalmente foram filmadas em inglês, mas palavras diferentes com o mesmo sincronismo labial foram inventadas para substituir o diálogo pelo idioma alienígena. Já as palavras em klingon foram mesmo ditas pelos atores, mas inventadas por James Doohan (Scott), a pedido de Roddenberry, depois que o especialista contratado para tal entregou uma proposta que não agradou o criador de Star Trek.
  • A sequência em Vulcano talvez seja a mais marcante mudança entre a versão original do filme e a Edição do Diretor, lançada em 2001. Na versão original, mesmo Spock protegendo os olhos do sol, a ambientação é de um céu noturno, com um planeta vizinho agigantado no céu. Para a Edição do Diretor, uma nova tomada em CGI foi preparada, mostrando o céu diurno mais em linha com as concepções artísticas originais do filme e da forma como o planeta seria retratado adiante na franquia.
  • Outras alterações marcantes na Edição do Diretor estão no desembarque de Kirk, Spock, McCoy, Decker e Ilia até o complexo central onde a tripulação encontraria a Voyager 6. Há uma nova pintura digital da Enterprise ao fundo, corrigindo a versão grotesca original, e também uma sequência de efeitos com a construção de uma ponte para a caminhada da tripulação, algo que havia sido projetado, mas não realizado, na versão do filme lançada em 1979.
  • A NASA (agência espacial americana) lançou apenas duas sondas Voyager, 1 e 2, em 1977, mas não havia razão para acreditar que não haveria outras. Daí a escolha pela (jamais lançada) Voyager 6.
  • Para recriar a sonda no cenário, a produção contou com o empréstimo, por parte do JPL (Laboratório de Propulsão a Jato da NASA), de uma maquete em tamanho natural das sondas gêmeas Voyager. Após as filmagens, o objeto de cena foi devolvido.
  • Em compensação, um modelo que se perdeu nesse processo todo que levou à criação de O Filme foi o da Enterprise original, em sua versão menor. Emprestado por Roddenberry para a equipe responsável pelas novas maquetes, ele desapareceu – e só foi encontrado novamente em 2023, quando quase foi a leilão no eBay, antes de ser restituído ao filho de Gene, Rod Roddenberry.
  • Jornada nas Estrelas: O Filme foi indicado a três Oscars: direção de arte, música e efeitos visuais. Não ganhou nenhum. Para ler mais sobre a trilha sonora de Jerry Goldsmith, clique aqui.

Ficha Técnica

História de Alan Dean Foster
Roteiro de Harold Livingston
Dirigido por Robert Wise
Produzido por Gene Roddenberry
Música de Jerry Goldsmith

Estreia em 7 de dezembro de 1979 (EUA), 31 de janeiro de 1980 (Brasil)

Título em inglês: Star Trek: The Motion Picture

Elenco

William Shatner como James T. Kirk
Leonard Nimoy como Spock
DeForest Kelley como Leonard H. McCoy
James Doohan como Montgomery Scott
George Takei como Hikaru Sulu
Majel Barrett como Christine Chapel
Walter Koenig como Pavel Chekov
Nichelle Nichols como Nyota Uhura
Persis Khambatta como Ilia
Stephen Collins como Willard Decker
Grace Lee Whitney como Janice Rand
Mark Lenard como capitão klingon
Billy Van Zandt como menino alienígena
Roger Aaron Brown como técnico da Epsilon
Gary Faga como técnico da comporta de ar
David Gautreaux como comandante Branch
John D. Gowans como assistente de Rand
Howard Itzkowitz como alferes do deck de carga
Jon Rashad Kamal como Sonak
Marcy Lafferty como chefe DiFalco
Michele Ameen Billy como tenente
Jeri McBride como técnica
Terrence O’Connor como chefe Ross
Michael Rougas como tenente Cleary
Susan J. Sullivan como mulher
Ralph Brannen, Ralph Byers, Paula Crist, Iva Lane, Franklyn Seales e Momo Yashima como tripulantes
Jimmie Booth, Joel Kramer, Bill McTosh, David Moordigian, Tom Morga, Tony Rocco, Joel Schultz e Craig Thomas como klingons
Edna Glover, Norman Stuart e Paul Weber como mestres vulcanos
Joshua Gallegos como oficial de segurança
Lisa Chess e Leslie C. Howard como ordenanças
Sayra Hummel e Junero Jennings como assistentes técnicos
Robert Bralver, William Couch, Keith L. Jensen e John Hugh McKnight como dublês

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Edição de Maria Lucia Racz

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