Romance com tons sobrenaturais dá destaque a Beverly Crusher
Sinopse
Data estelar: desconhecida.
Na colônia de Caldos, que emula a cultura escocesa, Beverly Crusher participa do enterro de sua avó, Felisa Howard, e toma posse de suas propriedades, enquanto lida com o luto. Entre os pertences, há uma peculiar lamparina que está com a família há gerações.
Enquanto isso, a Enterprise investiga uma possível falha no sistema de controle meteorológico da colônia, que está levando ao surgimento de tempestades.
No momento em que Beverly lê o diário de sua avó e descobre que ela teve um amante muito mais jovem, Ronin, um outro homem entra na casa e apaga a vela da lamparina. Ele é Ned Quint, cuidador de Felisa, e insiste que Beverly não fique com a lamparina, que é amaldiçoada e só trará desgraças a ela. Inconformada com o comportamento estranho do homem, ela o expulsa de lá.
De volta à Enterprise, ela vai dormir, e a lamparina se acende. De forma inexplicável, Beverly é descoberta e desperta com a sensação de que alguém estivesse beijando seu pescoço e chamando por seu nome. Ao contar a história para Troi no dia seguinte, as duas concluem que se tratou de um sonho, instigado pela leitura do diário de Felisa.
As tempestades inesperadas seguem aumentando, e La Forge recomenda que a Enterprise estabeleça um feixe de transferência de energia com os sistemas de controle meteorológico da colônia para que eles sejam capazes de interromper a intempérie.
De volta à casa de Felisa, Beverly a encontra cheia de flores. Cada vez mais assustada, ela acaba conversando com alguém que se anuncia como Ronin – o fantasma de um homem nascido em Glasgow em 1647 que tem vivido com as mulheres da família Howard desde então. Ronin diz que vai se juntar a ela e eles serão como um só, e Beverly se sente muito atraída por ele.
Na Enterprise, La Forge e Data descobrem que a grade de controle meteorológico está sofrendo uma falha. Ao investigar, descobrem Ned Quint tentando desligá-la, dizendo que o fantasma quer matar a todos eles. Uma descarga de energia verde avança sobre ele, matando-o. Beverly analisa o caso e descobre que ele foi morto por uma energia residual anômala.
De volta à casa de Felisa, ela tem novo contato com Ronin e pergunta sobre a morte de Quint. Mas o fantasma, que agora aparece materializado, diz que precisa da ajuda dela e pede que acenda a vela. Ele diz que vive na lamparina e fica fraco se afastado dela. Beverly diz que a vela está na nave, e Ronin diz que pode ir até lá por meio do feixe de transferência de energia. E assim ele o faz, materializando-se nos aposentos dela e se transformando em um campo de energia esverdeado que se funde com Beverly.
Em seguida, ela decide pedir baixa da Frota Estelar e residir em Caldos, na antiga casa da avó. Picard tenta dissuadi-la, mas sem sucesso. Depois que ela parte, o capitão conversa com Troi, e ambos chegam à conclusão de que há algo muito estranho com Beverly. Data e La Forge descobrem que há em Caldos um sinal parecido com o deixado no corpo de Quint. Eles descem para investigar e descobrem que ele está concentrado no túmulo de Felisa.
Picard também desce ao planeta para conhecer o misterioso Ronin. Beverly tenta fazê-lo ir embora, mas o “fantasma” se materializa, numa tentativa de convencer o capitão a partir. Os dois têm uma altercação, e Picard fica seriamente ferido. Beverly tenta salvá-lo, enquanto Ronin parte para o cemitério a fim de evitar que investiguem o corpo de Felisa. O capitão, após receber um primeiro tratamento, diz que Beverly deve ir atrás de Ronin. No cemitério, eles têm um confronto. Ele ameaça matar La Forge, e Beverly percebe que o “fantasma” na verdade é uma criatura anafásica que vem explorando sua família há séculos, usando as mulheres como receptáculos para que ele pudesse continuar vivendo e ferindo-as no processo. No confronto, Beverly usa um feiser para destruir a lamparina e, depois, o próprio Ronin, colocando fim ao perigo.
Comentários
“Sub Rosa” é um episódio do tipo “ame ou odeie”. Muitos fãs o acham ridículo, piegas e despropositado; outros percebem uma história sensível que, mesmo com seus exageros, combina terror e romance de forma efetiva. Poucos, contudo, negariam que temos uma das grandes atuações de Gates McFadden na série, em um papel muito difícil. Convencer a audiência da realidade de uma súbita paixão desenfreada por um fantasma que vive numa vela não é trivial, mas a atriz vai muito bem na tarefa.
O segmento se enquadra no formato adotado em muitas ocasiões nesta sétima temporada, no sentido de explorar relações familiares e emoções profundas dos personagens principais. A introdução, ainda que póstuma, da avó de Beverly Crusher, Felisa Howard, e da colônia de Caldos são elementos interessantes trazidos pela história.
Apesar das limitações orçamentárias, a equipe de produção faz um ótimo trabalho ao criar em estúdio o cemitério e a casa de Felisa, com uma charmosa ambientação escocesa que serve bem à trama de terror do episódio. Também se destaca o trabalho de efeitos visuais, sobretudo na criação do fantasma de Ronin, interpretado de forma certeira pelo ator convidado Duncan Regehr. A direção segura e inspirada de Jonathan Frakes dá toques finais ao episódio, que parece ter especial ressonância com o público feminino. Talvez não por acaso.
Embora o faça de forma muito sutil e alegórica, por meio de uma trama que mistura fantasia romântica e histórias de fantasma, o segmento acaba abordando o tema de relacionamentos abusivos. Afinal, Ronin usa de seu charme para envolver as mulheres da família Howard e depois as consome literalmente até a morte, enquanto as convence de que as ama e faz de tudo para torná-las felizes. A coisa só não dá certo mais uma vez com Beverly porque Ronin passa da conta e praticamente tenta matar Picard – cruzando uma linha que nem seu poder hipnótico de controle dela pode contornar. A amizade entre Beverly e Jean-Luc é forte demais para que ela o deixe para morrer a fim de perseguir uma paixão desenfreada.
O episódio também é corajoso (para a época) ao explorar a sexualidade feminina, o que também deve ajudar a explicar por que seu apreço é maior entre as mulheres.
Por fim, a despeito da trama clássica de terror sobrenatural, com direito a corpos levantando de caixões, possessões e doses cavalares de medo e suspense, o episódio respeita a natureza de Star Trek, explicando Ronin como uma criatura alienígena misteriosa, em vez de um fantasma de fato.
Com tudo isso, apesar das críticas, “Sub Rosa” merece algum respeito e possivelmente uma reavaliação por aqueles que o consideram sem valor algum. No mínimo, é um episódio inusual e divertido, com raro protagonismo de Beverly Crusher.
Avaliação
Citações
“You have been using me, Nana, my entire family for centuries!”
“And I loved all of them! And they loved me.”
(Você vem me usando, a vovó, minha família inteira por séculos!)
(E eu as amei todas! E elas me amaram.)
Beverly Crusher e Ronin
Trivia
- A versão final do roteiro ficou pronta em 5 de novembro de 1993 e as filmagens ocorreram entre 9 e 17 de novembro.
- O episódio se originou de uma proposta da escritora freelancer Jeanna F. Gallo. Jeri Taylor relembrou assim: “O roteiro especulativo original indicava que houve alienígenas durante toda a história na Terra que possuíram pessoas e foram responsáveis por muitos do que chamamos de eventos paranormais sobrenaturais. Aquela escritora tinha uma ideia para as origens meio que escocesas de Beverly. Rick [Berman] e Michael [Piller] desconfiavam muito dessa história. Eles a consideravam uma história de romance no espaço e sentiam que a possibilidade para embaraço era monumental, mas eu sabia que iria funcionar. É uma história de tipo diferente para Star Trek. É um romance, mas temos mulheres em nossa audiência, e as mulheres tradicionalmente respondem a histórias românticas.”
- Taylor negou que a história tenha sido inspirada por The Witching Hour, de Anne Rice. Ela disse: “Um dos filmes favoritos meu e do Brannon é Os Inocentes, que vem de Turn of the Screw, de Henry James. Vimos esse episódio como uma homenagem, e empacotamos nele todo tipo de truque de história gótica de fantasma que poderíamos imaginar.”
- Ned Quint e Jessel Howard (a primeira ancestral de Beverly) foram uma homenagem de Brannon Braga a Peter Quint e a srta. Jessel de Os Inocentes.
- Em japonês, ronin significa “pessoa à deriva” e costuma ser usado para designar um guerreiro samurai sem mestre. Braga inventou o nome antes de descobrir seu (apropriado) significado em japonês.
- Felisa ganhou esse nome em homenagem à avó de Braga, que havia morrido pouco antes de esse episódio ser escrito.
- O episódio alude à preservação de tradições religiosas em uma forma secularizada. No enterro de Howard, ouve-se os presentes falando “amém” e se benzendo. Mas, ao citar falas da cerimônia tradicional anglicana, o governador Maturin troca “certa e segura esperança de ressurreição na vida eterna” por “certa e segura esperança de que sua memória será mantida viva em todos nós”.
- O título original do episódio era “Passions”.
- Diz-se no episódio que Felisa tinha pelo menos 100 anos quando morreu, mas sua lápide indica um nascimento em 2291, o que a deixaria com 79 – muito mais perto da idade da atriz Ellen Albertini Dow, que tinha 80 anos nas filmagens. Curiosamente, Dow viveria além dos 100 anos.
- A equipe de arte fez várias piadas nas lápides do cemitério, incluindo personagens como McFly (De Volta para o Futuro) e Vader (Star Wars).
- O responsável pelos objetos de cena, Alam Sims, ficou surpreso ao descobrir que a atriz escolhida para viver Felisa Howard, Ellen Albertini Dow, foi sua professora de teatro em 1972.
- O supervisor de efeitos visuais David Stipes comentou: “O desafio realmente foi acertar o fantasma. Eu achei que todo mundo foi corajoso em acatar essa história. Mas se não fizéssemos funcionar, a história inteira não se venderia: como fazer de propósito algo efêmero e quase erótico que parece estar acariciando e abraçando a Beverly – sem parecer ridículo ou sensual?”
- A primeira menção à avó de Beverly como uma curandeira foi feita na primeira temporada, no episódio “The Arsenal of Freedom”.
- Duncan Regehr depois ganharia um papel recorrente em Star Trek como Shakaar Edon, em Deep Space Nine.
- Michael Keenan também apareceu em Deep Space Nine como Patrick, em “Statistical Probabilities” e “Chrysalis”, além de interpretar o rei Hrothgar em “Heroes and Demons”, de Voyager.
- Este é o quinto e último episódio de A Nova Geração a não ter uma data estelar. Os outros quatro são “Symbiosis”, “First Contact”, “Tapestry” e “Liaisons”.
- Os painéis de controle da subestação meteorológica parecem usar um desenho do século 23 – o que bate com o comentário de Maturin de que os sistemas de controle meteorológico têm quase um século.
- A equipe de produção notou que a resposta dos fãs ao episódio foi dividida entre os gêneros, com os homens odiando e as mulheres adorando. Braga comentou que o episódio não foi popular com os “fãs hardcore”. “Percebi que sempre que preenchemos um episódio com temas sexuais, alguns desses fãs parecem entrar em curto-circuito. Quer dizer, a falha do sistema meteorológico causando tempestades – era divertido!”
- Gates McFadden foi elogiada por seu desempenho. “A coisa de fazer amor sem um parceiro – não é fácil fazer e ela se dedicou completamente”, disse Jeri Taylor. A atriz chegou a dizer que foi um destaque da temporada, mas, anos depois, em 2012, criticou o episódio em uma convenção: “Eu estava basicamente apaixonada por uma lamparina! Essa mulher é uma médica e se apaixona por uma lamparina! Como diabos isso funciona?”
Ficha Técnica
História de Jeri Taylor (baseada em material de Jeanna F. Gallo)
Roteiro de Brannon Braga
Dirigido por Jonathan Frakes
Exibido em 31 de janeiro de 1994
Título em português: “Sigilosamente”
Elenco
Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Elenco convidado
Michael Keenan como Maturin
Shay Duffin como Ned Quint
Duncan Regehr como Ronin
Ellen Albertini Dow como Felisa
Enquete
Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria