Doutor encontra holograma psicopata
Sinopse
Data estelar: 51186.2
Durante a cerimônia em comemoração à promoção de Tuvok a tenente-comandante, a Voyager recebe um chamado de socorro de Dejaren, um holograma alienígena que diz que a tripulação de sua nave está morta. O Doutor, ansioso para conhecê-lo, rastreia a fonte da transmissão e é designado para uma missão de resgate com B’Elanna. Quando chegam na nave Serosian, encontram-no.
Dejaren diz que sua tripulação foi infectada por um vírus mortal. Durante sua interação com o Doutor, fascina-se pela sua liberdade e habilidades. Entre os Serosianos, não havia tratamento semelhante; ele era considerado mera peça de tecnologia e ficava a maior parte do tempo confinado em um compartimento. Mais tarde, enquanto B’Elanna repara os sistemas, Dejaren a agride verbalmente, demonstrando desprezo pelas formas de vida orgânicas. A engenheira divide suas preocupações com o Doutor e informa-lhe que o holograma alienígena mentiu sobre uma contaminação radioativa nos decks inferiores da nave. Ela acredita que há algo lá embaixo sobre o qual ele não quer que saibam. Embora tenha empatia com Dejaren, ele concorda em mantê-lo ocupado enquanto ela investiga o assunto.
À medida que conversa com ele, o Doutor começa a perceber que B’Elanna estava certa. Aquele holograma demonstra uma amargura patológica em relação aos “orgânicos”. No deck inferior, a engenheira encontra os cadáveres da tripulação e conclui que eles não morreram infectados por uma virose. Foram assassinados. Quando tenta desativar o programa de Dejaren, o holograma homicida aparece no local e tenta matá-la.
Enquanto isso, na Voyager, Harry é designado para trabalhar com Seven no novo laboratório de Astrométricas. O alferes fica apreensivo ao lado da ex-Borg, principalmente quando ela interpreta seus comentários como uma tentativa de sedução romântica.
Na nave Serosiana, o Doutor e B’Elanna descobrem que Dejaren cortou o canal de comunicação com a nave auxiliar. Enquanto tentam restabelecê-lo, o holograma psicopata se reativa e a ataca. Ele desconecta o emissor móvel do Doutor, desmaterializando-o. Torres tenta escapar, mas Dejaren a persegue. Por fim, ela consegue desestabilizar sua matriz com um conduíte isomagnético, desativando-o para sempre. Ao trazer o Doutor de volta, eles retornam para a Voyager.
Comentários
“Revulsion” é um episódio inofensivo. Com isso, o que se diz na verdade é que não acrescenta nada à trama maior, mas também não a prejudica — como muitos o fizeram antes dele. Consegue entreter, mas não surpreende. Seria, em termos simples, “água com açúcar”. Atentando a alguns detalhes do roteiro, depreende-se elementos interessantes: tem-se uma trama A, na qual um holograma alienígena aterroriza B’Elanna e o Doutor, e uma trama B, em que Harry é designado para trabalhar com Seven of Nine em um projeto e acaba envolvendo-se em uma série de situações embaraçosas.
O sustentáculo da história são os diálogos engraçados: o ar de predadora sexual de Seven, a inibição de Kim, as provocações recíprocas de Tom e B’Elanna e, é claro, a sátira do Doutor. Eles acabam reduzindo “Revulsion” a um segmento de comédia, apesar das características de suspense. Não há nada errado nisso, principalmente em se tratando de Voyager. Mas, levando-se em conta roteiros anteriores e seu foco em questões psicológicas e emocionais, o episódio da semana quebra a seriedade com que vinha sendo tratada a quarta temporada.
A trama A, que promete ser o centro da história, revela-se o ponto mais fraco. Tem-se Dejaren, um holograma semelhante ao Doutor em aparência e habilidades físicas, mas perigoso por ter sua matriz danificada. Torres e o Doutor aparecem para ajudá-lo, são expostos a algumas colocações interessantes sobre a natureza da vida holográfica e sua coexistência com seres orgânicos. Mas, a partir daí, Dejaren começa a perder a calma e ataca B’Elanna com insultos. O enredo se resume às tentativas do holograma em assassiná-la.
Entende-se, pelo breve histórico do personagem, que Dejaren guarde mágoas justificativas de suas ações. Aliás, a atuação de Leland Orser certamente deu-lhe vida e energia. O telespectador compreende o nervosismo aparente e o tormento do holograma. Mas a forma como o roteiro se resolve deixa a desejar. Opta-se pelo caminho mais simples: já no início da história, há a revelação de que Dejaren é assassino. Isso torna suas atitudes fáceis de prever. Além disso, os clichês dão o ar da graça: com certeza B’Elanna fica cética, afinal não é todo dia que alguém corre atrás das pessoas com martelos.
Essa trama realmente peca com a ausência de qualquer impacto provocado no Doutor pelo fim de Dejaren. Levando-se em conta a forma como o médico aprendia e se interessava por outros seres não-orgânicos, era de se esperar uma reação quanto ao desfecho “necessário” do holograma. Mas “Revulsion” não mostra qualquer informação nesse sentido. Bom, talvez o faça nas entrelinhas: ao final, brinca com Tom e B’Elanna na Enfermaria, de onde se deduz que não sentiu nada com a perda de Dejaren.
Já a trama B é leve, divertida e, até certo ponto, relevante. Seven of Nine começa a desenvolver seus traços próprios de personalidade. Harry passa a se interessar por sua complexidade e inteligência, e se enrola todo ao descobrir que tem uma “quedinha” pela ex-Borg. É engraçada a forma como Tom lembra os amores impossíveis do amigo, fazendo referência à holograma de “Alter Ego”. O piloto só peca ao argumentar que Seven já “assimilou pessoas o suficiente”, esquecendo-se de que, em “Day of Honor”, dizia à mesma Seven que “todos têm um passado”.
Houve cenas engraçadas dignas de nota, como o momento em que Seven interpreta a atenção amigável de Harry como uma tentativa de sedução. “Você deseja copular?”, indaga a ex-zangão, com aquele ar pragmático e direto dos Borgs. Isso mata qualquer tentativa de romantismo e, pior, intimida. Hilária também foi a conversa entre o alferes e Chakotay, o que remete a outro questionamento: o talento de Beltran, que, ao longo de toda a série, foi relegado a poucos instantes memoráveis. É mesmo uma pena. Voyager parece a barca das histórias perdidas.
Apesar do teor cômico, essa trama também enriquece o “arco Seven”. É muito boa a cena em que ela corta a mão e percebe que, agora, precisa de atenção médica. Estava acostumada com a regeneração da Coletividade. Não tem mais esse amparo. Quando murmura “sou fraca”, consegue tocar a todos. Pode-se ver a frustração e vulnerabilidade da personagem. Aqui, Jeri Ryan oferece outra excelente performance.
Quanto às curiosidades do segmento, foi interessante a escolha de Tom como o assistente médico temporário. Não apenas pelo humor que vem com o pacote, mas por fazer sentido, já que isso foi cogitado desde a primeira temporada, em “Parallax”. Também valeu o reconhecimento de que Kes precisava ser substituída na Enfermaria. Quanto à promoção de Tuvok, o que valeu foram os “atentados” promovidos por Tom e Harry ao replicador do Vulcano, e a reação do chefe de segurança às piadas. Apesar de desprovido de emoções, Tuvok certamente é sarcástico e irônico.
Em suma, “Revulsion” diverte, mas não faz jus à sua premissa original. Vale mais pelos momentos isolados do que o sentido maior. Diverte, mas será facilmente esquecido por não trazer elementos que enriqueçam o legado da série.
Avaliação
Citações
“During my three years on Voyager, I’ve grown to respect a great many of you. Others… I’ve learned to tolerate.”
(Durante os meus três anos na Voyager, eu passei a respeitar muitos de vocês. Outros… aprendi a tolerar.)
Tuvok
“What can I do for you, Doc?”
“The Captain has authorized me to recruit someone with advanced medical trainning to help out in Sickbay. Unfortunately, the most qualified crewmember is you.”
(O que posso fazer por você, Doutor?)
(A capitã me autorizou a recrutar alguém com treinamento médico avançado para ajudar na Enfermaria. Infelizmente, você é o tripulante mais bem qualificado.)
Paris e Doutor
“The last time we worked together, I struck you on the base of your skull and attempted to contact the Collective.”
“These things happen.”
(Na última vez em que trabalhamos juntos, eu o atingi na base do crânio e tentei contatar a Coletividade.)
(Essas coisas acontecem.)
Seven e Harry
Trivia
- Dejaren é interpretado por Leland Orser. O ator também fez o Coronel Lovok, em “The Die Is Cast”, e Gai, em “Sanctuary” — ambos episódios de Deep Space Nine.
- O episódio segue “Day of Honor”, com o aguardado beijo de Tom e B’Elanna. Diz-se, na história, que “Revulsion” se passa três dias depois daquele segmento porque, na verdade, foi filmado antes de “Nemesis”.
- Define-se que o sistema de força principal da Voyager funciona com 5 milhões de gigawatts.
- Também é estabalecido que Janeway conhece Tuvok já há 9 anos.
- Tom Paris é oficialmente designado como enfermeiro, já que é o tripulante mais habilitado para tal, desde a saída de Kes em “The Gift”. Em seu primeiro dia na função, trata da mão machucada de Seven of Nine, de dois ossos quebrados por tripulantes e uma dor de estômago comum.
Ficha Técnica
Escrito por Lisa Klink
Dirigido por Kenneth Biller
Exibido em 1 de outubro de 1997
Título em português: “Repulsa”
Elenco
Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B’Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Jeri Ryan como Seven of Nine
Tim Russ como Tuvok
Garret Wang como Harry Kim
Elenco convidado
Leland Orser como Dejaren
Enquete
Edição de Mariana Gamberger