TNG 6×20: The Chase

Espécies se unem para a maior descoberta arqueológica da galáxia

Sinopse

Data estelar: 46731.5

Picard fica surpreso quando o professor Galen, um velho mestre de arqueologia que ele não vê há 30 anos, lhe faz uma visita a bordo da Enterprise. O capitão fica ainda mais surpreso quando Galen pede a ele que o acompanhe em uma missão.

O renomado arqueólogo fez uma descoberta tão profunda que suas implicações poderiam ressoar por toda a galáxia. Mas ele só a revelará a Picard se ele concordar em acompanhá-lo em uma longa expedição, que terá possivelmente um ano de duração.

A oferta é tentadora para o capitão, que uma vez já quis ser arqueólogo, mas ele opta pelo dever, fazendo com que o professor parta furioso. Alguns instantes depois, a Enterprise recebe um pedido de socorro – a nave de Galen está sob ataque de yridianos.

Após inadvertidamente destruir a nave yridiana com um disparo de feiser, a tripulação consegue trazer Galen a bordo, mas não antes que ele tomasse um tiro de disruptor no peito, à queima-roupa. Picard está ao lado do professor quando ele morre na enfermaria, levando seu segredo consigo para o túmulo.

Tentando descobrir por que Galen foi atacado, a tripulação encontra 19 estranhos blocos de números armazenados na memória do computador. Picard decide que a resposta pode estar em Ruah IV, parte de um sistema solar inexplorado que Galen havia visitado antes de contatar a Enterprise. Ele ordena que a nave vá para lá, mesmo sabendo que isso atrasará a chegada da Enterprise em uma conferência diplomática. Quando a busca não resulta em nada, ele opta por prosseguir investigando em Indri VIII, o próximo destino de Galen.

Ao chegar m Indri VIII, a tripulação descobre que todas as formas de vida do planeta estão sendo destruídas diante de seus olhos, levando Picard a crer que os blocos de números do professor Galen podem ter algo a ver com matéria orgânica. Picard e a doutora Crusher estudam os blocos e descobrem que eles são representações matemáticas de fragmentos de DNA, cada um de uma  forma de vida diferente. Cada uma delas vive em um mundo diferente, espalhado pelo quadrante.

Picard decide marcar curso para Loren III, o único planeta capaz de sustentar vida na área em que o professor estava pretendendo estudar. Lá, eles encontram duas naves de guerra cardassianas e um cruzador de ataque klingon, todos buscando fazer a mesma descoberta.

Após uma tensa confrontação inicial, Picard é capaz de reunir a capitã cardassiana, gul Ocett, e o capitão klingon, Nu’Daq, para que todos compartilhem suas amostras e tentem resolver o mistério juntos. Eles descobrem que ainda falta um fragmento de DNA, mas Picard inicia uma intrincada pesquisa automatizada, que logo revela o local em que o DNA faltante pode ser encontrado. Entretanto, quando a descoberta é anunciada, a capitã cardassiana se desmaterializa e sua nave dispara na Enterprise e na nave klingon.

Picard marca curso para o sistema Vilmoran, acompanhado pelo capitão klingon, cuja nave foi danificada durante o ataque. Graças a Geordi, ele já sabia de antemão da traição cardassiana e habilmente deu falsa informação a eles. Mas isso não os atrasa muito, pois, logo depois de a Enterprise chegar, a capitã cardassiana se materializa no planeta. Quem surpreende mesmo é um grupo de romulanos, que revela ter seguido o avançar das investigações o tempo todo, escondidos por seu dispositivo de camuflagem.

Gul Ocett ameaça destruir as poucas amostras que ainda restam no mundo quase morto, em vez de trabalhar com os romulanos. O klingon também entra na disputa, tornando as negociações ainda mais difíceis. Enquanto eles trocam insultos, Picard e Beverly obtêm uma amostra parcialmente fossilizada. Sem serem notados, eles alimentam a amostra no tricorder.

Um misterioso programa é ativado, e um holograma humanoide gravado há quatro bilhões de anos aparece diante deles. A projeção revela ao grupo surpreso que sua espécie se descobriu sozinha na galáxia durante suas viagens. O quebra-cabeças genético foi criado na esperança de que todas essas raças um dia se unissem em cooperação e amizade para ativar a mensagem. O humanoide diz ao grupo que todos eles vieram de uma origem comum e implora para que eles se lembrem desse elo. A mensagem termina, deixando Nu’Daq e gul Ocett decepcionados, enojados por simplesmente pensarem que podem ter algo em comum. Os grupos retornam para suas respectivas naves, mas o comandante romulano se despede de Picard destacando que podem ter mais em comum do que costumam admitir.

Comentários

“The Chase” foi uma forma maravilhosa de transformar a velha desculpa orçamentária que tornou Star Trek financeiramente viável nos anos 1960 em uma espetacular trama de ficção científica. Além disso, o episódio é recheado de aventura e de temas interessantes, nos fazendo perguntar como foi possível colocar tanto em um único episódio de 45 minutos.

Estamos diante de um dos melhores segmentos da temporada. Aqui temos mais um mergulho sobre o interesse arqueológico de Picard, mostrando quão longe ele vai e nos apresentando Galen, um dos inspiradores do capitão. De quebra, vemos Jean-Luc em um elo muito especial com ele. Há uma cena, em que Picard baixa a cabeça após ser recriminado pelo velho mestre como se fosse um menino levando bronca do pai, que mostra bem o grau de reverência e profundidade que há entre aqueles dois homens.

Além desse profundo laço pessoal, o episódio nos agracia com uma verdadeira “corrida do ouro” arqueológica, envolvendo a Federação, os romulanos, os cardassianos e os klingons, com direito a batalhas espaciais, negociações, traições e a destruição de biosferas completas. E, para concluir, uma explicação satisfatória (ainda que cientificamente capenga) para o fato de a imensa maioria dos alienígenas de Star Trek ser humanoide. Espetáculo.

Claro, a razão real para todos os alienígenas serem humanóides tem uma dupla raiz: de um lado, todos os atores de Hollywood costumam ter uma cabeça (oca ou não), dois braços e duas pernas. De outro, quanto mais esquisito é um alienígena, mais complexo (e caro) é criá-lo na televisão. Gene Roddenberry foi o pai da ideia que garantiu que os alienígenas de Star Trek fossem na sua maioria absoluta humanoides, partindo do princípio de um conceito de “desenvolvimento paralelo dos mundos”, para contornar esse problema orçamentário.

O que ninguém contava é que essa “desculpa televisiva” poderia ser a base para um sólido conceito de ficção científica, explorado de forma tão hábil como foi aqui. O mérito é todo da dupla Joe Menosky & Ronald D. Moore, que se saiu espetacularmente com a espinhosa tarefa.

Do ponto de vista da execução, o episódio vai tão bem quanto seu conceito original. Em “The Chase” é possível dar boas risadas (principalmente com o cômico capitão klingon) e sentir toda a angústia de Picard pela morte de Galen, sem que uma das emoções anule a validade da outra. O trânsito é muito bem feito e o resultado final é excelente.

Tecnicamente, o episódio oferece maravilhosas tomadas externas da Enterprise no espaço, juntamente com as naves cardassianas e klingons. Faltou apenas um pouco de refino no cenário planetário que compôs o clímax do episódio, com a aparição do holograma humanoide.

Aliás, talvez esse seja o único ponto de crítica do episódio: essa versatilidade absurda que às vezes se atribui a certos equipamentos em favor da dramaticidade. Como diabos um tricorder pode não só rodar um programa alienígena escrito com DNA, como também projetar eficientemente um holograma para o deleite de todos? Se os tricorders tivessem de fato essa capacidade, o problema do professor Moriarty já não estaria há tempos resolvido? E o Doutor, de Voyager, não seria capaz de sair da enfermaria desde o primeiro episódio da série? Tudo bem, foi o próprio programa alienígena que alterou o tricorder, mas, ainda assim, convenhamos que é uma conveniência brutal de roteiro.

Felizmente ela é facilmente superada pela bela cena de Salome Jens como a humanoide e pela plasticidade do conceito em si. Não há nada na ciência que diga que a história contada por Jens sobre a preexistência de sua civilização há 4 bilhões de anos não possa ter acontecido. O fato de o DNA originário desses seres ter sobrevivido a ponto de permitir a execução de um programa de computador já é um pouco mais questionável, mas ainda assim, tolerável, se pensarmos no uso de sequências de DNA fortemente conservadas pela evolução (nós temos sequências genéticas tão essenciais para o funcionamento celular que as compartilhamos com todas as outras formas de vida na Terra; qualquer mutação destrói sua funcionalidade, o que faz com que ela seja preservada através das eras e das incontáveis especiações dos últimos 4 bilhões de anos).

Também já temos tecnologia para usar o DNA como estrutura de armazenamento de informação computacional, de forma que seria possível “guardar” um programa nas moléculas que compõem nossa herança genética. E é igualmente concebível que civilizações avançadas decidam semear outros mundos com vida, algo que a ciência chama de panspermia dirigida. A parte realmente capenga da história é, talvez, a mais crucial – não há como embutir no DNA ancestral um mecanismo para direcionar a seleção natural a fim de favorecer formas de vida humanoides. Temos sequências genéticas em comum com bactérias, mas não há nada nelas que diga que, após 4 bilhões de anos, terão originado um processo evolutivo que terminará com primatas e humanos. O que guia esse processo é a interação constante entre ambiente e genética, com a seleção natural e circunstâncias geográficas e cósmicas (como a separação de populações em ilhas e continentes ou mesmo impactos de asteroides e explosões de supernova) “pilotando” as transformações da vida. Mas, se você estiver disposto a conceder essa licença poética, não há como não apreciar totalmente a noção.

A ideia toda, por sinal, já havia sido explorada antes, de forma periférica e sem tanta grandiosidade, no episódio da Série Clássica “Return to Tomorrow”. Mas aqui o trabalho é muito mais refinado, a começar pela reunião das antagônicas espécies alienígenas do universo de Star Trek e a terminar pelos ecos da mensagem nas cabeças dos que a ouviram, representada pela conversa entre Picard e o comandante romulano ao fim do episódio.

De um jeito ou de outro, “The Chase” é um daqueles episódios que lembram por que Star Trek pode ser tão interessante e especial, mesmo quando escorada por princípios científicos à primeira vista tão pouco convincentes. Uma obra-prima da sexta temporada de A Nova Geração.

Avaliação

Citações

“You are wondering who we are. Why we have done this. Time has come that I stand before you, the image of a being from so long ago. Life evolved at my planet before all others in this part of the galaxy. We left our world, explored the stars and found none like ourselves. Our civilization thrived for ages, but what is the life of one race compared to the vast stretches of cosmic time? We knew that one day we would be gone, that nothing of us would survive. So, we left you.”
(Vocês estão imaginando quem nós somos. Por que fizemos isso. Chegou a hora de eu ficar em frente a vocês, a imagem de um ser de tanto tempo atrás. A vida evoluiu em meu planeta antes de todos os outros nessa parte da galáxia. Saímos de nosso mundo, exploramos as estrelas e não encontramos ninguém como nós. Nossa civilização prosperou por eras, mas o que é a vida de uma raça comparada às vastas amplitudes do tempo cósmico? Sabíamos que um dia teríamos ido, que nada de nós iria sobreviver. Então, nós deixamos vocês.)
Holograma de espécie ancestral

Trivia

  • Segundo Ronald D. Moore e Joe Menosky, o episódio foi inspirado pelo romance Contato, de Carl Sagan, em que pistas para a natureza do universo são descobertas num longo cálculo da constante π (pi).
  • Ronald D. Moore relembrou: “Joe Menosky estava intrigado por essa noção de que há uma ancestralidade humanoide comum para todas as espécies bípedes que encontramos em Star Trek. Por que a série estava cheia de pessoas com calombos nas testas? Nós buscamos dar uma resposta a isso. E fiquei fascinado pela noção de algo estar escrito no próprio tecido dos nossos genes, que havia um código lá esperando para ser estabelecido.”
  • Levou um ano para que a premissa de Menosky e Moore fosse convertida em um roteiro aceitável. Nas versões originais, ele tinha um espírito similar a Deu a Louca no Mundo, mas acabou engavetado por ser “muito caricaturesco”. Na história original havia um cientista vulcano não envolvido pessoalmente com qualquer dos personagens. Essa versão também incluía os ferengis, junto com os klingons e os romulanos. Moore relembrou: “Riker se transporta para essa nave auxiliar apertada, onde está todo mundo gritando e tentando achar coisas e o cara está morto. E então eles partem e iniciam uma correria com Deu a Louca no Mundo. Teria sido mais como uma comédia.” Michael Piller e Rick Berman acharam que essa versão não tinha personalidade suficiente – que não havia real motivação para Picard se juntar à busca. Foi só com a adição da morte do mentor de Picard que Piller e Berman toparam a ideia.
  • Menosky e Moore dividiram a tarefa de escrita do roteiro. Menosky comentou: “Eu peguei as cenas entre Picard e seu velho professor. Eu as baseei em minhas lembranças das emoções complicadas que eu havia observado entre estudantes e mentores na faculdade. Acho que essas cenas tiveram algo de ‘verdade emocional’ nelas.”
  • Moore disse que ele considerava, mas intencionalmente não especificou, que os humanoides ancestrais fossem os Preservadores, mencionados no episódio “The Paradise Syndrome”, da Série Clássica. “Poderiam ser eles e seria internamente consistente”, comentou.
  • Em dado momento pareceu que o episódio ficaria curto demais, e então Ronald D. Moore adicionou uma cena em que Mot é testado por Beverly Crusher como um dos 17 membros da tripulação que não são de planetas membros da Federação, mas isso acabou cortado do episódio. A cena, que chegou a ser filmada, teria estabelecido que Bolarus IX não é um membro da Federação.
  • O episódio final não tem uma explicação para a destruição da nave yridiana, mas o roteiro continha uma fala em que Data explicava que a nave estava sobrecarregando seus geradores de força, o que, combinado com o disparo de feiser, a levou a explodir.
  • O diretor Jonathan Frakes ficou desapontado de não poderem ter filmado o final em locação externa. “Eu acho que se parece com o ‘Planeta Inferno’ [apelido dado aos cenários externos falsos, em estúdio, usados pela produção], mas é assim que é. O dinheiro estava sendo gasto do outro lado da rua [em referência a Deep Space Nine]. Não acho que seja um segredo.” Porém, o designer de sets Richard James disse que teria sido impossível filmar em externa, porque a equipe não conseguiu encontrar uma planície de sal sem vegetação, como pedido pelo roteiro.
  • Este foi o sexto episódio dirigido por Frakes. Ao todo, ele comandaria oito em A Nova Geração, além dos filmes Primeiro Contato e Insurreição.
  • Salome Jens, que aqui faz o holograma humanoide, voltaria com um papel recorrente em Deep Space Nine, como uma fundadora do Dominion.
  • Este episódio marca a primeira vez em que humanos, klingons, romulanos e cardassianos aparecem em um mesmo episódio de Star Trek.
  • Picard aqui parece encantado com o artefato presenteado pelo professor Galen, o naiskos kurlano. Porém, em Generations, ele casualmente o descarta em meio aos destroços da Enterprise-D, priorizando seu álbum de família.
  • Em “Gambit”, episódio duplo do sétimo ano, Picard finge ser um arqueólogo de nome Galen, em homenagem ao professor Galen deste episódio.
  • A equipe de produção apelidou este episódio de o mais “roddenberriano” de A Nova Geração. Rick Berman não foi um grande fã do segmento. “Conceitualmente, é muito interessante. Eu sempre tive alguns problemas para lidar com a ideia toda dessas criaturas pré-históricas que são os pais de todos nós. Não é ‘roddenberriano’, é muito ‘roddenberriano dos anos 60’.” Já Jonathan Frakes ficou satisfeito. “O discurso que Salome Jens faz ao final faria Roddenberry muito orgulhoso, eu acho. É um grande elenco e é maravilhoso ter todos esses vilões e alienígenas no mesmo lugar.”
  • Frakes destacou em especial trabalhar com Norman Lloyd, que interpretou o professor Galen. “Ele era um maravilhoso contador de histórias e um brilhante ator. Tivemos muita sorte de ter este cara na nossa série.”

Ficha Técnica

História de Ronald D. Moore & Joe Menosky
Roteiro de Joe Menosky
Dirigido por Jonathan Frakes

Exibido em 26 de abril de 1993

Título em português: “A Busca”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Salome Jens como humanoide antiga
John Cothran, Jr. como Nu’Daq
Maurice Roëves como capitão romulano
Linda Thorson como Ocett
Norman Lloyd como professor Galen
Majel Barrett como voz do computador

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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