TNG 6×14: Face of the Enemy

Segmento arranca o melhor de Deanna Troi e dá nova face aos romulanos

Sinopse

Data estelar: 46519.1

Troi subitamente desperta e descobre que foi alterada cirurgicamente para parecer com uma oficial romulana e que foi levada para uma de suas aves de guerra. Ela é informada por N’Vek, o subcomandante da nave romulana, que, se ela tem esperanças de voltar à Enterprise viva, precisa fingir ser a major Rakal, do Tal Shiar, o serviço de inteligência imperial. Suas instruções: ordenar a comandante da ave de guerra a colocar a nave em curso para o setor Kaleb, com uma misteriosa carga. N’Vek apresenta Troi à comandante Toreth, que tenta, sem sucesso, intimidá-la. Destemida, Troi ordena um curso para o setor Kaleb.

Enquanto isso, na Enterprise, Stefan DeSeve, um alferes da Frota Estelar que desertou e se juntou aos romulanos anos atrás, é trazido a bordo depois de arriscar sua vida para voltar ao espaço da Federação. O comandante Riker imediatamente o prende por traição. DeSeve diz que é urgente que ele fale com o capitão Picard. Riker transmite a mensagem e o capitão se encontra com o desertor. DeSeve então transmite um recado vindo do embaixador Spock – ele quer que a Enterprise encontre um cargueiro e conduza sua carga até o território da Federação. Sem que Picard saiba, o ponto de encontro é no mesmo setor para o qual Troi enviou a ave de guerra romulana.

Enquanto isso, N’Vek revela a Troi o conteúdo da carga secreta. Dentro dos contêineres estão um membro importante do Senado Imperial e seus assistentes, mantidos em estase. Eles estão desertando para a Federação, e N’Vek é parte do movimento. A verdadeira major Rakal foi morta para que Troi, uma oficial da Frota Estelar, pudesse substituí-la. Troi continua fingindo ser Rakal, ciente de que participa de uma missão importante.

Como planejado, a ave de guerra encontra o cargueiro. Troi sente que o capitão mercenário do cargueiro pretende enganá-los, e N’Vek subitamente o destrói, dizendo que foi a major Rakal quem ordenou a fazê-lo. A comandante Toreth fica furiosa e diz a Troi que ela é a responsável pelas mortes. Troi exige que a ave de guerra mantenha posição, ative seu dispositivo de camuflagem e espere.

Ao mesmo tempo, Picard está intrigado com o fato de que a Enterprise não encontrou o cargueiro. Picard então descobre de DeSeve que a mensagem com as instruções não veio diretamente de Spock, mas de um outro membro do movimento de unificação romulano. Picard ordena a Data que inicie uma busca padrão pelo cargueiro desaparecido.

Na ave de guerra, Troi critica N’Vek por destruir o cargueiro tão insensivelmente. Sem remorso, ele diz que Troi deve ordenar curso para uma base da Frota Estelar em Draken IV. Troi segue suas ordens e ordena Toreth a estabelecer o curso. Repentinamente, os sensores da ave de guerra detectam a presença de outra nave – a Enterprise. Ansiosa para retornar a sua nave, Troi ameaça acusar N’Vek de traição se ele não permitir que a Enterprise descubra a posição da ave de guerra, mesmo sob camuflagem.

N’Vek consegue que um de seus colegas na engenharia cause um desbalanceamento leve dos motores, suficiente para a Enterprise detectar a presença da nave. Toreth percebe que a nave da Federação está reagindo como se os estivesse detectando e resolve testar essa suposição marcando um curso de colisão.

Naturalmente, Picard ordena que sua nave troque de curso para evitar o impacto, e Toreth decide que irá atacar. Troi ordena Toreth a não fazê-lo. Quando a comandante se recusa a obedecer, Troi a tira do comando, com a ajuda de N’Vek, e assume ela mesma o posto. Ela abre um canal com Picard, pedindo para ser levada a bordo da Enterprise para uma suposta negociação diplomática para contornar o incidente. Os escudos da Enterprise são baixados, e Troi ordena que N’Vek dispare os disruptores sobre a nave da Federação. Quando os oficiais de Picard reagem ao ataque, três desertores romulanos, ainda em estase, se materializam na ponte.

Percebendo que o tiro de disruptor era apenas um embuste para esconder o raio do transporte, Toreth só observa enquanto um piloto vaporiza o traidor N’Vek. Toreth tenta acabar com Troi, mas Worf trava em seu sinal de transporte e a traz para a Enterprise. Ela está aliviada por voltar para casa e, ao mesmo tempo, chateada pela perda de N’Vek. Picard a consola, dizendo que o esforço dele não foi em vão.

Comentários

“Face of the Enemy” é um episódio brilhante de tantas formas que é difícil escolher qual dos aspectos interessantes do segmento devemos destacar primeiro. Optando pelo mais raro deles na série, ficaríamos com o uso espetacular de Deanna Troi. É a primeira vez em que a conselheira é lançada a um real desafio (e, por consequência, uma real evolução) para a personagem. Aqui finalmente Troi é tirada de seu ambiente seguro, de sua confortável poltrona na ponte da Enterprise, e exposta a uma missão importante e perigosa. Nada de estupros mentais, metáforas de perigo ou coisas semelhantes. Aqui é a mais dura realidade: um passo em falso, você morre. De quebra, há um também desafio interior para a personagem: que diabos estou eu fazendo aqui nesta nave com essas orelhas e essas sobrancelhas?!

O resultado disso é a melhor atuação de Marina Sirtis na série. A transição que é feita da conselheira para a major do Tal Shiar, ao longo dos 45 minutos, é impressionante. No começo, ela estava totalmente intimidada, muito mais a velha Troi que conhecemos. No final, ela poderia muito bem ser revelada como uma romulana de verdade que ninguém ia achar muito absurdo. Nesse caso, o roteiro e a atriz andaram de mãos dadas para fornecer essa transição tão realista e bem colocada.

Aliás, é impressionante como um bom roteiro é capaz de usar até as características de um personagem que antes pareciam absolutamente inconvenientes. Nas primeiras temporadas da série, Troi era sumariamente cortada das histórias porque seus poderes empáticos acabariam com qualquer mistério assim que os alienígenas vilões da semana aparecessem na tela da Enterprise para bater um papo com Picard. Aqui, a empatia da personagem cai como uma luva em toda a situação (quando ela denuncia as más intenções do cargueiro mercenário), favorecendo o andamento da história e soando absolutamente real.

Só esse feito já bastaria para aplaudirmos Naren Shankar e René Echevarria (roteirizador e criador do episódio, respectivamente). Mas a coisa está longe de parar por aí. Além de permitir o bom uso de Troi, o episódio representa uma espécie de ressurreição para os romulanos clássicos. Uma mudança que sem dúvida alguma só vem para melhorar a caracterização dessa espécie.

Durante a Série Clássica, os romulanos foram mostrados como uma espécie honrada e preocupada com o que é certo, embora seu expansionismo nacionalista os conduzisse para os conflitos com a Federação. Em A Nova Geração, de um modo geral, o aspecto positivo dos romulanos foi transferido aos klingons, e os orelhudos ficaram apenas com a superficial caracterização de “traiçoeiros vilões cheios de segredos”. Aqui temos a chance de acompanhar a vida de uma tripulação romulana e especialmente de sua comandante, Toreth. O que vemos é um grupo de militares extremamente conscientes de seu dever para com o Império, mas ainda assim críticos com relação a seu governo. Uma caracterização não só mais realista, como também mais saborosa, em termos dramáticos.

Graças a isso, temos lampejos valorosos na própria organização de governo romulana. Embora não saibamos muito de como o Império é estruturado, sabemos que duas de suas principais forças estão em conflito. De um lado os militares, que, paradoxalmente, parecem defender uma visão mais liberal do Império, e de outro o Tal Shiar, um serviço de inteligência que, sob o pretexto de garantir a “lealdade” dos cidadãos, usurpa toda e qualquer liberdade individual. O choque dos dois conceitos, propiciado pelo conflito entre Toreth e Troi (como Rakal), é dos mais interessantes e estabelece novos padrões para entendermos as relações no Império (ainda que Troi nada soubesse sobre isso).

Para completar, o episódio faz uma bela ponte de continuidade com os eventos mostrados em “Unification, Part II” e com a participação de Spock em um movimento secreto que luta pela reunificação de Romulus e Vulcano. Os elementos desse contexto, somados a uma história intrigante, cheia de deserções, conflitos, reviravoltas, perigos e riscos a serem tomados propiciam a Troi e à audiência um dos melhores episódios da série.

A execução é particularmente feliz do ponto de vista técnico, com efeitos especiais bastante convincentes no que diz respeito às movimentações das naves pela Zona Neutra e com belas tomadas do ambiente interior da nave romulana (trata-se do episódio em que melhor vemos uma nave dessas por dentro). Um destaque especial fica para a abertura do episódio, em que Troi se revela uma romulana, que é simplesmente perfeita.

É o melhor episódio de A Nova Geração com os romulanos? É o melhor episódio de Troi na série? A resposta é sim, nos dois casos. Um clássico absoluto.

Avaliação

Citações

“Are you getting squirmish now, just because things are getting a little more dangerous?”
(Está ficando molenga agora, só porque as coisas estão ficando um pouco mais perigosas?)
Deanna Troi para N’Vek

Trivia

  • Originalmente, a doutora Crusher seria a tripulante sequestrada, mas isso foi mudado quando a equipe de roteiristas percebeu que as habilidades empáticas de Troi seriam mais adequadas para espionagem. Uma premissa anterior ao estilo de Caçada ao Outubro Vermelho havia sido rejeitada antes, mas dessa vez o grupo convenceu Rick Berman a fazer uma tentativa.
  • Robert Hewitt Wolfe havia proposto um episódio com Q em que a entidade enviaria Picard, Data e Troi a uma nave estelar romulana, e eles seriam vistos como romulanos pela tripulação. A premissa foi parcialmente reaproveitada em “Face of the Enemy”.
  • Wolfe revelou por que sua proposta original foi engavetada. “A razão pela qual não decolou foi o modo pelo qual eu o propus; não haveria maquiagem romulana envolvida, eles não estariam ocupando os corpos dos romulanos. O truque visual era o mesmo de Contratempos [Quantum Leap], em que olharíamos para eles e os veríamos como eles mesmos e talvez, em um ângulo reverso, poderíamos vê-los como outras pessoas completamente, mas eles [os produtores] não quiseram pisar nos pés de Contratempos.”
  • Naren Shankar disse: “Escrevi a primeira versão do roteiro em seis dias, porque estávamos realmente pressionados pelo tempo. Fui contratado como freelancer e na metade dele me trouxeram para a equipe. A reescrita ajudou a polir várias coisas e tivemos de mudar o final um par de vezes. A ação no quinto ato inicialmente não funcionava. Foi angustiante, mas tudo acabou bem.”
  • O prêmio a ser entregue à Federação inicialmente seria uma nave romulana, mas rapidamente acabou modificado para os desertores romulanos. Naren Shankar comentou: “Estávamos sentados falando sobre esse episódio e sobre quem seria essa pessoa importante que está desertando, e Michael [Piller] ficou com aquela cara dele e disse: ‘Provavelmente não podemos fazer isso, mas e se a pessoa for Spock? Eles estão escapando e no fim eles abrem e não é Spock. A pessoa que tiramos é descongelada e perguntamos a ele o que aconteceu ao Spock e ele diz que Spock não conseguiu escapar.’ Eu olho para Michael como se ele fosse maluco e ele diz, ‘Nah!’.” Refletindo sobre a ideia, Shankar também disse: “Foi um daqueles momentos doooidos. Você não pode matar alguém assim fora de tela!” Curiosamente, Spock morreu assim, no filme Star Trek Sem Fronteiras (2016), em razão da morte de Leonard Nimoy, em 2015.
  • Originalmente, Toreth seria homem. Shankar comentou que havia escrito o diálogo pensando no personagem de Sean Connery em Caçada ao Outubro Vermelho, e o diálogo permaneceu inalterado quando foi decidido fazer um conflito feminino. Ele comentou: “Foi a escrita definitiva com cegueira para gênero.”
  • Shankar batizou o serviço de inteligência romulano de Tal Shiar como uma homenagem a tal-shaya, uma técnica de artes marciais vulcana mencionada em “Journey to Babel”, da Série Clássica.
  • Worf estreou seu rabo-de-cavalo neste episódio, visual que manteria em Deep Space Nine, nos filmes de A Nova Geração e na terceira temporada de Picard.
  • O designer de sets Richard James ficou responsável por criar os interiores da nave da classe D’deridex vistos no episódio, incluindo a ponte, e citou os desafios de desenvolver algo assim, pensando em itens como paleta de cores, design de cadeiras e até mesmo de utensílios como pratos e talheres.
  • Apesar do esforço de James, Shankar não ficou satisfeito. “Terminamos como Cozinha de Pizza Romulana. Se você lesse minha primeira versão do roteiro, fui muito específico sobre como a ponte romulana deveria ser. Pensei que fôssemos construir um cenário totalmente novo. E a ponte eu descrevi como uma sala alongada, similar ao nariz da nave romulana. Eu queria que parecesse alienígena e ter a comandante num trilho no fundo da sala. Ela sempre ficaria em pé, não há assento para ela e a sala termina com as costas dela para a parede, de modo que ninguém fique atrás dela. A ideia é que eles são tão desconfiados que o comandante não deixa ninguém ficar atrás de si. A cabine inteira fica à frente da posição de comando, e há apenas um piloto e estações em torno dele. Para mim, isso teria sido mais legal.”
  • Em certo momento, Naren Shankar sugeriu escalar Joanne Linville para reprisar seu papel como a comandante romulana de “The Enterprise Incident”, mas a atriz não estava disponível.
  • Carolyn Seymour já havia interpretado outra comandante romulana, a subcomandante Taris, em “Contagion”, da segunda temporada. A produção optou por não reutilizar a personagem por supor que ela tivesse morrido ao fim daquele episódio.
  • Este episódio foi o primeiro a revelar que os romulanos usam uma singularidade quântica artificial como fonte de força para suas naves estelares no século 24.
  • O segmento também toca no assunto do movimento de reunificação iniciado por Spock, algo que voltaria a ser abordado no episódio “Unification III”, de Discovery.
  • Deep Space Nine fez um episódio com enredo similar: em “Second Skin”, Kira Nerys se vê como uma cardassiana.
  • Michael Chabon, showrunner da primeira temporada de Picard, apontou este como seu episódio favorito de Deanna Troi. Ronald D. Moore foi mais longe e disse que era “provavelmente o melhor episódio romulano que já fizemos”. Jeri Taylor apreciou o resultado. “Achei que foi um ótimo papel para Marina. Achei que foi bem escrito para ela. Adorei Carolyn Seymour como a comandante romulana, ela esteve maravilhosa nele. […] Gostei de ver essas duas mulheres poderosas terem a chance de meio que estar à altura da ocasião e enfrentar uma a outra.”

Ficha Técnica

História de René Echevarria
Roteiro de Naren Shankar
Dirigido por Gabrielle Beaumont

Exibido em 8 de fevereiro de 1993

Título em português: “A Face do Inimigo”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Scott MacDonald como N’Vek
Carolyn Seymour como Toreth
Barry Lynch como DeSeve
Robertson Dean como piloto romulano
Dennis Cockrum como capitão do cargueiro corvallen
Pamela Winslow como McKnight
Majel Barrett como voz do computador

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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