Melhor segmento da temporada alinha Odo e Garak em trama espetacular
Sinopse
Data estelar: Desconhecida
Garak e Bashir estão almoçando e falando sobre Julius Caesar, de Shakespeare. O Cardassiano falha em ver qualquer relevância na obra, que conta a história de um brilhante estrategista que não consegue enxergar o traidor bem debaixo do próprio nariz. O doutor retruca dizendo que este é justamente o âmago desta tragédia do “Bardo” Inglês. Bashir se levanta apressado, pois Garak se atrasou para o compromisso e o doutor tem trabalho a fazer. Os dois deixam o replimat, Bashir se encontra com Kira no caminho e Garak continua rumo a sua loja. Pouco depois a loja de Garak explode, Bashir corre em socorro. O Cardassiano se salva, mas a sua loja fica completamente destruída.
A investigação — de Sisko, O’Brien e Odo — descobre evidência de que um microexplosivo foi responsável pela ruptura de um conduíte de força atrás da loja e causou a sua destruição. Houve uma tentativa de assassinato ao “alfaiate”. Na enfermaria Sisko e Odo não conseguem tirar nenhuma informação de Garak (descaradamente evasivo) e o comandante (já perdendo a paciência) o deixa sob a guarda de um destacamento de segurança e parte junto com o comissário, que promete continuar a investigação. Bashir conta então a fábula do “menino pastor de ovelhas” sobre a falta de credibilidade de uma pessoa causada por suas constantes mentiras. Garak rejeita que a fábula de fato queira dizer isto. “Nunca diga uma mentira duas vezes!” Seria uma interpretação mais apropriada da história de Esopo, segundo ele.
Um pouco mais tarde, Garak chega ao escritório de Odo junto com os oficiais de segurança. O comissário quer que ele olhe as listas de entradas e saídas mais recentes em DS9 para ver se ele descobre algum nome que possa estar envolvido no atentado. Garak não acha nada. O’Brien chega com a informação que aponta para a utilização de um sensor feromônico que se ativa na presença de uma espécie específica. Eles são bastante usados por assassinos Flaxianos. E um Flaxiano chegou à estação nesta manhã.
O tal Flaxiano, de nome Retaya, é um mercador de fragrâncias. Odo faz perguntas sobre os assuntos dele na estação e do seu álibi para o atentado contra Garak. O comissário também vai misturando fragrâncias, “consultando” o mercador sobre um “presente para uma amiga”. Retaya se opõe a uma mistura específica sem explicar o porquê. Odo diz que tal mistura produz um gás que causa ataques cardíacos se inalado. O Flaxiano nega ter tal conhecimento. Odo não tem evidências para retê-lo e pede que O’Brien coloque um rastreador na nave do mercador para poder segui-lo. Odo embarca em um explorador onde Garak já estava esperando com as malas prontas. Depois de uma discussão inicial, Odo acaba concordando em levar Garak com ele. Pouco depois a nave de Retaya é destruída, logo que tenta entrar em dobra.
Examinando as evidências obtidas por O’Brien e Dax, Odo conjura a teoria de que os Romulanos contrataram Retaya para matar Garak e que o mataram após ele falhar em sua missão. Garak diz não ter a menor idéia do porquê de os Romulanos estarem envolvidos. Odo agora acredita nele, mas não consegue tirar nada a mais do Cardassiano, que sugere que o comissário pergunte aos próprios Romulanos. Para surpresa de Sisko, uma oficial da Tal Shiar confirma que a agência mandou matar Retaya — ele era alegadamente um criminoso procurado por crimes contra o Império Romulano. Sisko e Odo tentam obter mais informação, mas a Romulana nega qualquer fato adicional. Os dois não acreditam nas explicações dela e continuam na estaca zero tanto sobre Retaya quanto sobre os Romulanos.
Odo diz a Sisko que ainda possui certos contatos em Cardássia e sem querer explicar muito pede o uso de um explorador. Sisko concorda. No dia seguinte, em uma caverna escura em algum corpo celeste deserto em algum lugar no espaço Cardassiano, Odo se encontra com um informante Cardassiano, que se mantém nas sombras e diz que fez uma operação de mudança facial. O Cardassiano cumprimenta Odo por ter seguido as pistas até os Romulanos, mas diz que ele só investigou até agora a ponta do iceberg de um problema muito maior. Atividade de naves Romulanas camufladas tem sido seguidamente reportada na fronteira Cardassiana. Ele joga para Odo um padd com os nomes de outros cinco ex-operativos da Ordem que foram mortos no dia anterior, todos por “causas naturais”, e sugere que o comissário o mostre para Garak. Que aparentemente foi o único sortudo até agora.
De volta à estação, Garak fica radiante por saber que todos aqueles Cardassianos estão mortos, mas quando continua negando que também era um ex-agente da Ordem, Odo perde a paciência e diz que Garak explodiu a própria loja. O Cardassiano fica sem palavras. Odo diz que Retaya fora contratado para matá-lo (provavelmente pelos Romulanos e utilizando veneno) e que quando Garak percebeu a sua presença na estação temeu pela própria vida e explodiu a alfaiataria para que Odo iniciasse a investigação. Ele não poderia pedir diretamente: ou não seria levado a sério ou se veria obrigado a revelar seus segredos pessoais. Garak se vê em uma posição em que começa a cooperar.
Garak diz que os cinco mortos e ele foram um dia os homens de confiança de Enabran Tain, ex-diretor da Ordem Obisidiana. Ele nem sabe se o seu antigo chefe está vivo em vista das circunstâncias, muito menos o porquê de os Romulanos estarem fazendo isso tudo. Garak usa então o sistema de comunicações de Odo para contatar a residência de Tain, através de uma conexão segura. Uma mulher de nome Mila, governanta e confidente de Tain, atende. É fácil reconhecer que existe uma conexão muito profunda entre estes dois Cardassianos. Mila pede que Garak ajude Tain, que está desaparecido desde o dia anterior. Garak promete fazer o possível. Bashir se despede de Garak e o Cardassiano parte com Odo (no dia seguinte) para o sistema Unefra, perto da Fronteira Cardassiana, onde Tain tem uma casa secreta para emergências.
Durante a viagem, Odo tenta descobrir mais sobre a relação de Garak com Mila e principalmente com Tain. Ele chega muito perto quando conjectura com propriedade que Tain foi o mentor de Garak e que foi o velho Cardassiano que foi responsável pelo exílio de Garak. E que apesar disto o “alfaiate” estaria disposto a arriscar a própria vida por seu antigo superior, mostrando uma grande conexão entre os dois. Garak diz que presume que Odo aja simplesmente sob um código pessoal de justiça, sem envolver sentimento algum e que ele acha “interessante” que ele associe a ele sentimentos e motivações que o comissário desconhece em primeira mão. Garak pergunta se existe alguém em todo o universo que Odo considera mais do que um simples “quebra-cabeça a ser montado”. Odo diz que se existisse tal pessoa, ele nunca diria a Garak. E Garak diz que ele faz muito bem em não fazê-lo.
Ao chegar ao sistema Unefra, eles são capturados por uma Ave de Guerra Romulana, que se descamufla em pleno espaço Cardassiano. Eles são levados a uma espécie de escritório em que eles encontram, para total surpresa, o próprio Tain, dizendo que a chegada de Garak poupou o seu esforço de mandar outra pessoa para matá-lo. Após o choque inicial, Tain explica que ele está no comando de uma frota combinada da Tal Shiar Romulana e da Ordem Obsidiana Cardassiana (construída por meses no sistema Orias), rumando para o quadrante Gama com o objetivo de destruir o planeta natal dos Fundadores (informação que a Frota Estelar partilhou com os Romulanos e que os Romulanos partilharam com ele), com o objetivo de levar o Dominion ao colapso.
Odo se sente desconfortável com o prospecto do genocídio de sua raça, apesar de ter dado as costas para ela. Tain explica também que tencionava matar todos os seus mais próximos colaboradores do passado, pois ele tenciona voltar para sua antiga posição após a conclusão da atual missão. Ele não podia deixar ninguém vivo com informações que pudessem comprometê-lo. O antigo mentor de Garak também fica surpreso ao saber que fora o próprio quem explodiu a alfaiataria.
Garak diz que veio por que achava genuinamente que Tain corria perigo de vida e que nunca o traiu de verdade em seu coração. Para surpresa geral, Tain acredita e oferece uma escolha a Garak. Ele pode partir com o explorador ou ficar para servir Cardássia uma vez mais, sendo o passado esquecido. Odo ficaria na nave de qualquer forma. Apesar dos protestos do comissário de que Tain não é confiável, Garak diz que nada importa e que ele está de volta ao lado do seu mentor. E a frota continua rumo à fenda espacial.
Comentários
Este episódio é um vencedor tão completo e absoluto que fica até difícil destacar os seus pontos principais. Tudo impressiona: o fenomenal uso de continuidade, a trama (em complexidade, densidade e sofisticação), os diálogos, as caracterizações dos personagens (muito mais complexas do que usualmente se encontra em Jornada), a direção, as atuações etc. Literalmente tudo! Mas ainda assim ele é maior que a soma de suas partes, pois todos esses elementos se mesclam de uma maneira extremamente coerente e mesmo impiedosamente lógica. Mais detalhes, sem precisar explodir o próprio lugar de trabalho no processo, nas linhas abaixo.
Este episódio é um exemplo de como se utilizar continuidade em um drama serial. Temas recorrentes e acontecimentos passados da série são reexaminados e unidos em uma frente lógica e coesa que eleva a série a um novo patamar. Tal processo oferece novos possíveis desdobramentos, que posteriormente levarão a outros novos caminhos na série e assim sucessivamente. (Em outras palavras, tudo que foi feito em “Life Support”, só que ao contrário.)
De fato tivemos inúmeros aspectos de continuidade tratados aqui. Há referências a “The Wire” (onde o passado de Garak começa a ganhar algum foco com a introdução de Tain e da Ordem Obsidiana — incluindo aí a analogia entre a Ordem e a Tal-Shiar) e “The Search” (que vira a vida de Odo do avesso com a descoberta dos Fundadores como o seu povo — além de outras inúmeras informações sobre o Dominion) em primeiro lugar, mas não pára por aí.
Vejamos: “Second Skin” (onde Ghemor avisa a Kira sobre o quanto Garak pode ser perigoso e em uma nota de retrocontinuidade o episódio desta semana explica as costas quentes de Garak, através do seu mentor: ele está exilado, mas não pode ser tocado), “Defiant” (a frota da Ordem Obsidiana sendo construída no sistema Orias), “Destiny” (um ponto claramente menor, mas mostra que a Ordem não queria nenhum indício de invasão ou missão ao quadrante Gama de qualquer parte envolvida — também denota a sua preocupação com a ameaça do Dominion e que Cardássia estava perdendo tempo e se complicando politicamente ao intensificar suas relações com a Federação e com Bajor), “Visionary” (mostrando a paranóia dos Romulanos com relação ao Dominion) e mesmo “Necessary Evil” (pois voltamos a ter nesta semana mais um vislumbre do passado sombrio de Odo, com direito até a uma menção do infame “truque do pescoço Cardassiano”).
Tais temas são incorporados de uma forma transparente e sem chamar a atenção para si. Além disto o roteiro do episódio aparenta ser tão multifacetado quanto o próprio Garak, trazendo reviravoltas altamente inspiradas que parecem sair de uma linha de montagem sem fim. Normalmente os “fins de ato” (em episódios de séries de TV em geral) sempre trazem alguma espécie de “gancho” para fazer o espectador não mudar de canal no intervalo, algo que muitas vezes parece mecânico e artificial, uma restrição de formato como usar uma determinada fonte ou tabulação no manuscrito de um roteiro. Nesta semana cada “fim de ato” teve vida e foi um evento em si próprio.
A maior surpresa da trama, de que foi o próprio Garak que explodiu a própria loja e a explicação do “porquê” embutida na fábula que Bashir conta a Garak muito antes (e, em uma primeira assistida, aparentemente de forma totalmente dissociada da investigação em curso naquele momento) de tal revelação é brilhante.
Em termos de complexidade interna, tal roteiro encara pelo menos de igual para igual qualquer outro de Jornada, mas se formos levar em conta o seu tratamento de material passado, ele ocupa uma classe por si só. Este roteiro é o mais ambicioso de Jornada até aquele momento (em que o episódio fora exibido originalmente) e consegue concretizar tal ambição de uma forma admirável.
Não precisamos ir muito longe para exemplificar a qualidade do roteiro. Basta tomarmos a primeira cena. Bashir e Garak almoçando e falando sobre literatura, algo absolutamente rotineiro. Garak se atrasou para o almoço (estava preparando o explosivo e deixando as pistas para Odo seguir, após ver o Flaxiano na estação), estava ainda mais falastrão do que de costume e não tocou na comida (estava claramente nervoso com toda a situação) e partiu junto com Bashir (para garantir um perfeito álibi). Visto uma primeira vez, um encontro divertido. Visto uma segunda vez, um brilhante setup.
Por falar em setup, tal cena inicial com a discussão a respeito de Julius Caesar (a princípio completa rotina) terá o seu payoff na semana que vem. Shakespeare só foi usado de forma tão efetiva e tão sofisticada anteriormente em Jornada em “The Defector”, da terceira temporada de A Nova Geração. Não é coincidência que Ronald D. Moore, que escreveu tal episódio de Picard e cia., também esteve envolvido (de forma não-creditada) no segmento de DS9 desta semana e escreveu a sua conclusão.
(Na realidade, a conclusão “The Die Is Cast” provavelmente utiliza o velho “Bardo” — através de um eco — de uma forma ainda mais forte e muito mais pessoal do que em “The Defector”.)
Com cenas tão longas como as que temos aqui, bons diálogos são necessários para segurar as cenas e para produzir um fechamento em cada uma delas. Nós tivemos esta semana provavelmente o melhor episódio em termos de diálogos de toda a história do franchise. A variedade, sofisticação e riqueza dos diálogos… É desconcertante. Parece mais uma antologia.
A formação da dupla Garak e Odo faz tanto sentido dramático que fica a pergunta de por que ela demorou tanto a acontecer. Eles são os dois únicos de suas respectivas espécies vivendo em DS9. Ambos são olhados com desprezo pelos moradores da estação (Garak mais claramente do que Odo neste ponto — apesar de “A Man Alone” apontar que certas pessoas também mantêm o seu ressentimento com relação a Odo). Sem falar que eventos futuros na série vão trazer ainda mais ódio e desconfiança para cima deles. Ambos pessoas extremamente privadas. Garak, um agente de elite do maior serviço de inteligência do quadrante (e o herdeiro natural do comando de tal agência). Odo, o melhor chefe de segurança do quadrante (e o filho pródigo do mais poderoso império intergaláctico da história do franchise). E ambos vivem no exílio. As coincidências são tantas que chega a assustar.
Outro fato importante é que Garak e Odo não são exatamente escoteiros. Garak, com certeza, fez coisas terríveis no seu passado (e nunca olhou para trás, porque não poderia fazê-lo se quisesse continuar vivendo) e é um homem prático sob todos os aspectos. Odo foi responsável por trazer ordem e justiça a uma escravatura e condenou direta ou indiretamente muitos inocentes (em um outro possível estado de direito) à morte. Quando tal passado é de fato respeitado, o material associado a esses personagens é intenso como muito pouca coisa produzida em Jornada. Este foi o caso aqui.
Posto isto, não existe muito que falar sobre as cenas dos dois juntos. Eles “quebram tudo” seguidamente e sem descanso. É um verdadeiro massacre. A viagem dos dois para o sistema Unefra em que é trazido pela primeira vez à tona o tema da solidão compartilhada dos dois é um estupendo material. Reparem que o Dominion só é referido no último ato do episódio. E quando o futuro genocídio dos Fundadores é anunciado, Odo está lá para produzir a ressonância emocional adequada. Porque ele era o responsável natural pela investigação em primeiro lugar. Esta simples noção de coerência permeia todo o segmento.
Tain exibe aqui a mesma dualidade com relação a Garak que em “The Wire”, mandando matar o ex-pupilo e pouco tempo depois aceitando esquecer a traição dele e o convidando para a sua missão. Mila é definitivamente mais um elemento importante na vida de Garak, mas cabe salientar que não aprendemos nada sobre Garak que já não fosse sabido ou que já não fosse uma suposição confiável. O que de forma alguma é um problema — trazer toda a caracterização de Garak à vida através de subtexto é extremamente sofisticado. Tornar sentimentos (notadamente entre Garak, Tain e Mila) tão claros desta maneira é tarefa para poucos.
A direção de Brooks é absolutamente matadora, uma das melhores de toda a série. Não somente por arrancar atuações memoráveis de todos os envolvidos, mas também por pontuar cada recorrência do roteiro, tornando a versão filmada ainda mais coesa do que a escrita (que já era estupenda). A cena em que Odo encontra o seu informante é uma das mais bem construídas e originais de toda a história do franchise. O ato final, que contém apenas uma única cena, é outra pérola em que todos as “feras de teatro” envolvidas “quebram tudo” em uma demonstração brutal de talento. A imagem final (de Tain e Garak se cumprimentando com Odo ao fundo) é antológica. Outro tributo ao diretor (e aos atores envolvidos) vai pela cena em que Garak contata Mila. Normalmente tais cenas são muito frias, uma vez que os atores normalmente filmam separados e muitas vezes nem se encontram durante as filmagens. A aura, traduzida em tal seqüência, de ternura e mágoa que circunda os dois Cardassianos é tão espessa que dá para enfiar uma colher. Brilhante!
É claro que nenhum ator regular fez nada de errado aqui, mas o destaque vai obviamente para o magistral René Auberjonois. Falar da sua incrível técnica com máscaras é essencialmente lugar comum. Mas quem consegue fazer tanto emoção atravessar uma máscara tão rígida e disforme com a de Odo merece todo o elogio. A forma como ele alterna caracterizações, quando Odo interroga Retaya, é mágica. Ele tem total controle dos diálogos, da voz e da sensibilidade do comissário.
O arsenal de inflexões e entonações de Robinson parece ilimitado. Basta contrastar as cenas em que Garak mente descaradamente com um semblante completamente opaco e as cenas do personagem com Mila e finalmente no final com Tain. O domínio de Robinson sobre o personagem é incrível e os olhos do ator têm uma vida própria. Sua face quando Odo o encurrala é digna de uma placa na Paramount. Dooley projeta uma incrível aura de poder apesar do seu físico não ajudar em nada. LaCamara foi genial, só faltava escrever culpado na sua testa, mas ainda assim ele não perdeu a pose em momento algum. O vozeirão de Ruskin foi de arrepiar e McCarthy foi absolutamente brilhante. Carson foi talvez o único elo fraco entre os atores convidados, mas ainda assim ela não comprometeu.
Garak havia entrado em território Cardassiano anteriormente em “Second Skin”, porque foi chantageado por Sisko. Não por vontade própria.
Infelizmente o informante de Odo não seria sequer mencionado no curso da série. Ainda que gul Russol (referido no início de “Treachery, Faith and the Great River”, da sétima temporada) possa ou não ser o mesmo Cardassiano.
A informação dos sensores da Defiant não chegou, com certeza, nas mãos do Comando Central, após “Defiant”. E se chegou, chegou adulterada. Sem problemas quanto a isso.
“Improbable Cause” é um clássico de DS9 e o melhor episódio desta terceira temporada. Como os dois “cabeças de temporada” antes dele (“Duet” e “Necessary Evil”), ele traduz perfeitamente a quinta-essência de DS9 enquanto série: complexas caracterizações de personagens, que são arrastados por uma torrente de eventos sobre a qual eles não possuem controle algum. A sofisticação, o escopo e mesmo a coragem do segmento são dignas de nota e a execução de tais idéias é simplesmente de cair o queixo. Todos os envolvidos merecem os maiores elogios, mas o trabalho de quatro nomes ganha uma menção especial: as inesquecíveis atuações do trio Auberjonois, Robinson e Dooley (todos os três indicados ao prêmio Emmy em suas vidas de ator) e a antológica direção de Brooks. O episódio é verdadeiramente “à prova de balas”, uma obra-prima!
Avaliação
Citações
“I’m afraid your pants won’t be ready tomorrow after all.”
(Temo que suas calças não estarão prontas amanhã afinal.)
Garak
“The truth is usually just an excuse for lack of imagination.”
(A verdade é normalmente apenas uma desculpa por falta de imaginação.)
Garak
“Considering those uniforms of theirs [Romulans], you’d think they’d appreciate a decent tailor.”
(Considerando os uniformes deles [Romulanos], você poderia pensar que eles gostariam de um alfaiate decente.)
Odo
“Always burn your bridges behind you; you never know who might be trying to follow.”
(Sempre destrua as pontes atrás de você; você nunca sabe quem pode estar tentando te seguir.)
Tain
“I can’t forgive what you did, but I can try to forget — put it aside as if it never happened. So, do you want to go back to your shop and hem pants, or shall we pick up where we left off?”
(Não posso perdoá-lo pelo que fez, mas posso tentar esquecer — colocar de lado como se nunca tivesse acontecido. Então, você quer voltar à sua loja e ajustar calças, ou devemos continuar de onde paramos?)
Tain
“Garak, this is the man who sent you into exile. This is the man who two days ago tried to have you killed.”
“Yes, he is. But it doesn’t matter. I’m back.”
(Garak, esse é o homem que o mandou para o exílio. Esse é o homem que há dois dias tentou matá-lo.)
(Sim, ele é. Mas não importa. Eu estou de volta.)
Odo e Garak
Trivia
- A história inicial do episódio brotou da mente do editor de episódios Robert Lederman. Enquanto montava “Second Skin”, ele observou Garak matando Entek e imaginou que a Ordem não poderia deixar barato tal ato. Não poderia simplesmente deixá-lo no exílio em paz. Ele (e o seu parceiro de escrita David R. Long) bolaram uma história em que, sentindo que sofreria um atentado, Garak explode a sua própria loja. A idéia da dupla não envolvia o personagem de Enabran Tain. René Echevarria, que escreveu o roteiro, logo perguntou a toda a equipe da série: “Por que Garak faria uma coisa assim?” Durante tal discussão, a construção de naves da Ordem Obsidiana no sistema Orias (de “Defiant”) foi também trazida à mesa.
- Uma nova história foi concebida e Echevarria escreveu uma versão do roteiro em que no começo do “Ato 4”, Garak entregava a Bashir uma barra isolinear, dizendo: “valiosas informações – para se o pior vier a acontecer comigo”. Ao final do “Ato 5”, Garak então fazia que Tain deixasse que Odo e ele partissem graças a este ardil e o velho Cardassiano assim o fazia. Ninguém da equipe ficou satisfeito com a história.
- Aí que Michael Piller, em um dos seus últimos atos oficiais como manda-chuva da série, disse para manter Odo na Ave de Guerra Romulana e partir para combater o Dominion no quadrante Gama. “Façam uma segunda parte”, disse o produtor. Além dos problemas em modificar a história para ir para uma segunda parte, “Through The Looking Glass” estava para entrar em produção, logo após “Improbable Cause” e não havia como mudar. Daí “The Die is Cast” teve de ser produzido depois. Felizmente a agenda de Paul Dooley permitiu que ele voltasse quase três semanas depois para fechar o episódio agora duplo.
- Daí Echevarria e Moore rescreveram a primeira parte e Moore partiu para escrever a segunda. Agora a história da tal “barra isolinear” virou uma brincadeira que Garak prega em Bashir. Eles também tornaram implícito o motivo para Garak explodir a própria alfaiataria quando Bashir conta a fábula sobre o menino pastor de ovelhas. Os novos uniformes da Tal Shiar foram fruto de um esforço de Moore, que simplesmente odiava os uniformes Romulanos originais feitos para a primeira temporada de A Nova Geração.
- Gary Monak usou a experiência adquirida para explodir a escola de Keiko em “In the Hands of the Prophets” para explodir a alfataria de Garak esta semana. Jonathan West não pôde usar chamas reais para iluminar as cenas de Garak em meio aos escombros da sua loja, mas utilizou uma iluminação especial para simular tal efeito.
- Mila (Julianna McCarthy) voltaria a aparecer nos episódios finais da série: “The Dogs of War” e “What You Leave Behind”. Apesar de nunca ter sido confirmado em tela, tudo indica que Mila é de fato a mãe de Garak.
- Este episódio duplo é tão importante para a saga de DS9 quanto o episódio “The Coming Of Shadows” o é para a saga de Babylon 5.
- Episódio indicado ao Prêmio Emmy de melhor penteado.
Ficha Técnica
História de Robert Lederman & David R. Long
Roteiro de René Echevarria
Dirigido por Avery Brooks
Exibido em 24 de abril de 1995
Título em português: “Causa Improvável”
Elenco
Avery Brooks como Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O’Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko
Elenco convidado
Andrew Robinson como Elim Garak
Carlos LaCamara como Retaya
Joseph Ruskin como o Informante Cardassiano
Darwyn Carson uma Romulana
Julianna McCarthy como Mila
Paul Dooley como Enabran Tain
Balde do Odo
Enquete
Edição de Mariana Gamberger