Às vezes, o mais difícil é dar um salto de fé
Sinopse
Data estelar: 61209.5
Com a intenção de mostrar que não são apenas crianças que roubaram uma nave, a tripulação da Protostar resolve fazer boas ações enquanto estão a caminho da Federação. Gwyn, Dal e Jankom estão num planeta, dentro de um submarino, tentando salvar uma espécie em extinção. Apesar das dificuldades e de quase quebrarem a Primeira Diretriz, eles são bem-sucedidos ao teletransportar uma aquatom grávida de uma parte do oceano com predadores para outro local onde está mais segura.
Em seu diário do capitão, Dal demonstra otimismo ao se aproximarem de uma estação de comunicação da Federação ainda no Quadrante Delta, com a possibilidade de serem aceitos. Gwyn continua tendo dificuldades em se lembrar do que aconteceu momentos antes de ver o reflexo de Zero, embora esteja tendo flashbacks do que pode ter acontecido.
A Protostar chega à estação CR-721 e eles são recebidos pelo tenente júnior, e único ocupante da Estação, Barniss Frex. Eles explicam a situação e solicitam asilo, com o desejo de se juntar à Frota Estelar. Frex realiza um cadastro de cada membro da tripulação, identificando cada um deles, com exceção de Gwyn, que não tem a sua espécie no banco de dados. Dal se surpreende por ter sido identificado, embora a informação seja confidencial e a Frota deva ser imediatamente comunicada.
Na Dauntless, Janeway está no holodeck revivendo o momento da partida de Chakotay e sua despedida, quando o comandante Tysess a informa de terem identificado a assinatura de dobra da Protostar dentro da Nebulosa Carina. Janeway deixa o holodeck, mas antes ela promete para o holograma de Chakotay, que, onde quer que ele esteja, ela irá encontrá-lo.
Na estação federada, a tripulação explora o local. Zero leva Gwyn até a enfermaria com o intuito de utilizar as instalações mais avançadas do que a própria Protostar na esperança de ajudar Gwyn a recuperar sua memória. Enquanto isso, Frex faz uma comunicação com a Protostar e, de repente, a estação entra em alerta vermelho. A arma do Adivinho funciona como um vírus, infectando a estação e fazendo com que os sistemas comecem a se virar uns contra os outros. A cama biomédica onde Gwyn se encontra a prende na cama e começa a encher o local com água. Zero, que tinha acabado de sair da enfermaria, se vê trancado pelo lado de fora. Quando todos conseguem entrar finalmente na enfermaria, percebem que não conseguirão tirar Gwyn a tempo. Felizmente ela consegue se livrar sozinha, utilizando a arma herdada do seu pai.
A estação está simplesmente um caos, e a tripulação da Protostar fica presa ali dentro sem conseguir voltar à nave. Eles encontram Frex, que os acusa de terem sabotado a estação. O único modo de escapar dali é através de módulos de fuga, mas Frex entra no único existente e os deixa para trás.
Eles acabam usando trajes espaciais e vão para o casco da estação. Lá, eles traçam um plano de saltar para o espaço e chegar à Protostar, que está em uma trajetória circular em torno da estação. Rok precisa fazer os cálculos precisamente de quando eles têm que saltar para chegar à nave no momento certo. Assim que eles pulam, uma grande explosão acontece fazendo com que eles recebam um impulso adicional, o que os leva a passar pela Protostar sem conseguir entrar pela comporta de carga. Felizmente, a holograma Janeway consegue resgatá-los com o raio trator. De volta à nave, Gwyn informa a todos que se lembrou de tudo.
Enquanto isso, a Dauntless chega a Tars Lamora e encontra o Adivinho flutuando em uma forma de estase.
Comentários
Passando os olhos pelos episódios de Prodigy até aqui fica difícil não tratar esse primeiro arco quase como se fosse uma temporada em si, e não apenas uma parte, ainda mais se levarmos em conta que “A Moral Star, Part 1”, e a “A Moral Star, Part 2” funcionam quase como um fim de temporada. Sendo assim, “Asylum” ecoa praticamente como um début.
De certa forma, não deixa de ser uma verdade, uma vez que agora temos algumas novas e importantes informações sobre a presença da máquina viva a bordo da nave, do plano do Adivinho para a aniquilação da Frota Estelar e da inserção da real Janeway na trama. Não é pouco, o que certamente faz criar expectativas sobre este segmento. Teríamos aqui um novo piloto, ou apenas um realinhamento da série, com essas novas informações? O que este episódio pode nos dizer sobre isso?
“Asylum” começa agitado e dinâmico, um caminho que Prodigy percorre muito bem. O final dos últimos episódios projetava um retorno talvez um pouco taciturno, com nossos heróis em busca da Federação sem saber que carregam uma arma poderosa a bordo. E, apesar desse episódio inicialmente seguir esse caminho que lhe seria natural, ele abre de maneira supreendentemente inusitada.
A cena da caça à “baleia” começa com um jeitão meio Star Wars, mas remete de forma direta a Star Trek IV e brilha com a música de Giacchino para a Kelvin timeline. A tomada da Protostar se aproximando para o transporte e depois partindo é belíssima, após transportar o animal, e perfeitamente “abraçada” pela trilha do maestro. Um belo começo que parece resetar e reverter a expectativa de que esse retorno seria um pouco mais sombrio, dados os últimos eventos em tela.
E, se Prodigy volta em ritmo de aventura, seus temas não foram esquecidos e, mais uma vez, a série nos surpreende. Era factível presumir que nossos personagens iriam demorar um pouco para encontrar a Frota Estelar, mas não é isso que acontece, e, ainda que esse encontro se dê através de uma estação no fim do mundo e com um membro que parece não atrair a simpatia de muita gente, ele traz consequências e deixa algumas mensagens para o futuro.
Nesse encontro um pouco inusitado por uma antecipação inesperada, temos momentos interessantes. O primeiro deles já na preparação dos meninos para esse encontro. Aqui, percebemos mais uma vez os anseios desses personagens, dúvidas e incertezas comuns à adolescência e ao crescimento, e principalmente a expectativa de encontrar um lugar de pertencimento. É digno de nota (mais uma vez) como os roteiristas da série conseguem manter a proposta de aventura e diversão sem jamais abrir mão de colocar temas mais sensíveis e pertinentes ao seu suposto público-alvo de forma sutil e tão bem alinhada com a sua estrutura de contar histórias.
Mas, além disso, temos mais alguns pequenos elementos inseridos no contexto. Quando a tripulação da Protostar passa pelo equipamento da Frota algumas revelações sutis, porém importantes são feitas. Jankom, Rok, Zero e até Murphy conseguem alguma informação sobre pelo menos de que espécie são. No caso do telarita, ele inclusive descobre ser de uma raça fundadora da Federação, o que provavelmente renderá algumas consequências na condução do personagem.
Quanto aos demais, nada muda. Confirmamos aqui que a Federação nunca teve contato com os vau n’akats, e que existe algum mistério a mais sobre a origem de Dal. Como essas descobertas os influenciarão e guiarão os próximos episódios é que nos resta saber, mas essa breve visita e esse pequeno “gostinho” de Federação acrescentam mais combustível ao desejo e à esperança de cada um deles de encontrar um lar e, mais, de saber quem eles realmente são.
Se existe um axioma que nunca falha é que quando tudo parece bem demais é que certamente algo dará errado. Podemos, aqui, assistir em primeira mão o poder destrutivo da arma a bordo da Protostar e, mais uma vez, essa ação segue um planejamento magistral. Como Gwyn teve a informação sobre a arma apagada de sua mente, eles mantêm o curso para a Frota Estelar e, ao encontrar uma estação tão distante, é possível testemunhar todo o poderio da arma na primeira ação da máquina viva, deixando os tripulantes a par do que eles precisam saber — embora o público já soubesse — e ainda manter a sinuca que foi criada, numa aula de como desenvolver um elemento de trama sem que alguém tenha que contar como a arma é poderosa. Em cinema e TV, não conte, mostre, uma lição que o time que escreve Prodigy domina com brilhantismo.
Tal conhecimento obviamente deve ser determinante para uma decisão sobre o rumo (literalmente falando) que esses meninos devem tomar a partir de agora. Se até aqui a Federação era o seu Santo Graal, agora deve ser evitada a todo custo. Justamente quando a almirante Janeway, agora a verdadeira, entra no jogo e partirá em busca de Chakotay e, por consequência, no encalço da Protostar e sua tripulação. Temos também mais um pequeno elemento relativo ao antigo primeiro oficial da Voyager e sua relação com Janeway, que, se não parece tão significativo ao menos por ora, nos lembra o porquê de a almirante estar nessa missão e ajuda a dar profundidade a ela, dada a conexão pessoal entre os dois personagens.
Embora já seja lugar-comum aqui, não tem como se furtar de reconhecer e elogiar a qualidade da produção em Prodigy, que nos brinda mais uma vez com o seu preciosismo técnico, entregando uma aventura com grande apuro visual em tomadas tão belas quanto eletrizantes — como a já citada cena de abertura –, bem como a destruição da estação espacial da Federação e uma brilhante edição de som, que abraça cada momento importante.
Em todo caso, procurando pelo em ovo, é possível fazer alguns questionamentos. Primeiro, quanto ao caráter do tripulante deixado na estação, que, mesmo com razões para desconfiar dos meninos, parece estar pensando somente em si mesmo quando usa a única capsula de fuga disponível. Temos um pouco de diálogo expositivo na cena da Aquaton, sem falar que ficamos sem saber por que eles estavam perseguindo o animal em um minissubmarino se a ideia já era transportar a fêmea para a nave e deslocá-la para um local seguro.
A estação só dispor dessa única capsula também soa estranho, ainda que haja um único tripulante a bordo. Fica claro que essa opção do roteiro visava apenas permitir a situação crítica que se criou, obrigando a Rok a “cientizar”, e a todos se lançaram num salto de fé, a fim de salvarem suas vidas.
Mas nada reduz o brilho de mais um segmento divertido de Prodigy, que continua oferendo ótimos minutos de diversão, entretenimento e esse sabor de “quero mais” ao final de cada episódio. E aqui, para aguçar nosso apetite, já sabemos que voltaremos com a revelação de Gwyn sobre a arma, com a USS Dauntless, a almirante Janeway e o Adivinho de volta ao jogo.
Brace for impact
Avaliação
Citações
“You know, Jankom swore he’d never been eaten alive… again.”
(Sabem, Jankom jurou nunca mais ser comido vivo… de novo.)
Jankom Pog
“Sometimes, the hardest thing is to take a leap of faith.”
“You want us to jump? I do not think that option is logically sound.”
“In outer space, there is no sound.”
“Your rebuttal is correct, but nonsense.”
(Às vezes, a coisa mais difícil de se fazer é dar um salto de fé.)
(Você quer que a gente pule? Eu não acho que essa opção soe logicamente.)
(No espaço não tem som.)
(O seu contra-argumento é correto, mas sem sentido.)
Dal e Zero
“Gwyn? Gywn! Gywn, Gywn, look at me! What is it?”
“…I remember everything.”
(Gwyn? Gywn! Gywn, Gywn, olhe para mim! O que foi?)
(… Eu me lembrei de tudo.)
Zero e Gwyn
Trivia
- No início do episódio, a tripulação da Protostar realoca um indivíduo de uma espécie em extinção, uma aquatom, que inclusive estava grávida. Isso remete fortemente à Jornada nas Estrela IV: A Volta para Casa, mas também tem ecos de Discovery, em “Magic to Make the Sanest Man Go Mad”, quando um gormagander é trazido a bordo da nave por se tratar de uma espécie em perigo de extinção.
- O tenente júnior Barniss Frex é o primeiro denobulano que vemos na Frota.
- Já era sabido que Rok-Tahk é da espécie brikar, mas, antes desse episódio, o nome da especie só tinha sido citado no livro para jovem adultos, Starfleet Academy: Worf’s First Adventure. Essa foi a primeira vez que vimos em tela o nome brikar ser citado.
- Em cena do holodeck, vemos a Protostar sendo batizada com uma garrafa de vinho Chateau Picard, com o mesmo rótulo visto na primeira temporada de Picard.
- A Protostar utiliza a mesma tecnologia de atracação com um corredor entre a nave e a estação, conforme visto no episódio de Discovery, “Such Sweet Sorry, Part 1”, quando a nave se conecta com a Enterprise.
- Jimmi Simpson aparece creditado na abertura, embora Drednok não apareça no episódio.
Ficha Técnica
Escrito por Kevin & Dan Hageman
Dirigido por Steve In Chang Ahn & Sung Shin
Exibido em 27 de outubro de 2022
Título em português: “Asilo”
Elenco
Rylee Alazraqui como Rok-Tahk
Dee Bradley Baker como Murf
Brett Gray como Dal
Angus Imrie como Zero
Ella Purnell como Gwyn
Jason Mantzoukas como Jankom Pog
John Noble como Solum (The Diviner)
Kate Mulgrew como holograma Janeway/vice-almirante Janeway
Elenco convidado
Jason Alexander como doutor Noum
Robert Beltran como capitão Chakotay (holograma)
Eric Bauza como Barniss Frex
Daveed Diggs como comandante Tysess
Bonnie Gordon como computador da nave
Jameela Jamil como Asencia
TB ao Vivo
Enquete
Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Nívea Doria