Enredo enfadonho depende de fraca caracterização alienígena
Sinopse
Data estelar: 45832.1
Uma jovem residente da Enterprise, uma menina chamada Clara, é levada para conversar com a conselheira Troi. Ela diz ter uma “amiga invisível”, fato que está preocupando seu pai, Daniel Sutter. A betazoide, entretanto, tranquiliza-o, dizendo que o costume da garota é absolutamente normal. Clara tem morado em nave após nave, conforme seu pai troca de posto, e sua amiga imaginária “Isabella” está fornecendo uma companhia constante que de outro modo não existiria.
Enquanto isso, a Enterprise investiga uma rara nebulosa que se formou em volta de uma estrela de nêutrons. Conforme a exploração prossegue, uma estranha fonte de energia invade a nave e começa a estudá-la. O ser encontra Clara brincando no arboreto e imediatamente se materializa como a até então invisível e inexistente Isabella.
Clara fica impressionada ao ver sua amiga imaginária tornar-se real. Isabella convence a garota a fazer um tour pela nave, concentrando-se em áreas proibidas, como engenharia, ponte e bar panorâmico. A tripulação fica incomodada ao ver Clara aparecendo nesses lugares inesperados, principalmente quando ela culpa sua “companhia”, Isabella. A “amiga” não pode ser vista por qualquer dos adultos. Ao mesmo tempo, Picard e sua tripulação se veem às voltas com misteriosas fontes de energia que cercaram a nave como uma teia e estão fazendo com que ela perca potência.
Troi decide que Clara deve encontrar outras crianças e reserva para ela um lugar em uma aula de cerâmica. A garota imediatamente se entrosa com Alexander, o filho de Worf, até Isabella chegar e destruir uma das criações do menino klingon. Como Alexander não pode ver Isabella, ele atribui a culpa a Clara. Mais tarde, uma chorosa Clara confronta Isabella, perguntando por que ela tem sido tão má. Isabella responde friamente que quando os “outros” vierem, Clara e todos a bordo irão morrer.
Apavorada, Clara confessa ao pai que está com medo de Isabella. Sutter contata Troi, e a conselheira acompanha a pequena até seu quarto, para garantir que é seguro. Ela olha sob a cama e no banheiro, em um esforço para provar que não há nada se escondendo lá. Entretanto, quando abre o armário, Isabella aparece atrás dela e a deixa inconsciente, ao disparar um feixe de energia.
Estabelecendo uma relação entre Isabella e os seres que estão drenando a energia da nave, Picard começa uma busca pela garota. Ele a encontra com a ajuda de Clara, e ela conta que estava a bordo para estudar as fontes de energia da Enterprise. Quando Picard conta a ela que há modos de fornecer energia a sua espécie sem destruir a nave, ela responde que planeja destruí-los mesmo assim, por considerar que humanos são cruéis e maltratam suas crianças. Picard a convence de que isso não é verdade, e quando Clara pede que Isabella poupe a tripulação, as formas de energia que cercavam a nave desaparecem. Ela se desmaterializa. Picard ordena a Geordi que leve aos motores de dobra à potência máxima e direcione a energia para a nebulosa, fornecendo alimento aos alienígenas. Mais tarde, Isabella diz adeus a Clara em seus aposentos, e as duas prometem sempre continuar amigas.
Comentários
“Imaginary Friend” consegue provar uma coisa: A Nova Geração já não depende mais de boas histórias para se sustentar como uma série interessante. A premissa do episódio aqui é das mais desinteressantes, o desenvolvimento é bastante corriqueiro, o final é previsível, mas ainda assim o recheio é capaz de manter o telespectador sentado na cadeira, sem reclamar (muito).
A sensação que se tem é a de que é divertido passar mais uma hora a bordo da Enterprise, mesmo que não haja nada muito interessante para ver. E é exatamente isso o que acontece em “Imaginary Friend” – trata-se de um episódio que aborda um tema cotidiano, de forma cotidiana.
No início, tudo não passa de uma criança com problemas psicológicos que a levam a criar uma companhia imaginária. Não é preciso ser um gênio, ou mesmo conhecer muito da série, para calcular como o enredo vai se desenrolar a partir daí – o que faz do desenvolvimento da história algo facilmente antecipado pela audiência.
Pelo menos, a partir do momento em que o telespectador consegue superar o fato de que o tema do episódio é pouco inspirado, é fácil seguir adiante no “piloto automático”, apenas observando as reações dos personagens. Aliás, dos tripulantes, o único que recebe algum destaque por aqui é a conselheira Troi.
Ela é posta para bom uso, mas o papel de modo algum ajuda seu personagem a crescer. Ela é apenas o motor que faz a história avançar, em determinados momentos, ao inadvertidamente induzir um rompimento definitivo entre Clara, a menina, e Isabella, a amiguinha imaginária convertida em alienígena.
Alguns trechos do episódio são interessantes por mostrar a vida na Enterprise do ponto de vista de uma criança. Talvez o mais divertido deles seja o encontro de Clara e Isabella com Worf, que age, a seu modo, de forma extremamente simpática às meninas.
Olhando para a outra ponta do espectro, a caracterização dos alienígenas é tão flexível quanto a história exige. Infelizmente, a história exige demais – em princípio eles são pintados como, literalmente, o diabo encarnado (com direito a “olhinhos vermelhos” e tudo mais), mas acabam o episódio como seres profundamente “morais”, que decidiram matar todos a bordo porque os humanos supostamente maltratam suas crianças (!!!).
Ninguém aqui prega um realismo absoluto para os enredos, mas há certas licenças que os roteiristas tomam que chegam a questionar a inteligência e a atenção com que os telespectadores acompanham a história. Essa caracterização dos seres da nebulosa é, sem dúvida, um desses exageros.
Shay Astar dá boa vida a Isabella, com uma atuação bastante convincente para uma alienígena travestida de menina. Noley Thornton (Clara) também não fica nada a dever a seu papel. E Whoopi Goldberg manda a mesma enigmática Guinan de costume, mas infelizmente seus diálogos não estão aqui tão afiados quanto costumam ser (isso talvez tenha a ver com o fato de que o roteiro foi reescrito para incluir sua personagem na história, roubando algumas falas que seriam originalmente de Troi).
Da perspectiva de fotografia, não há grandes inovações. Os efeitos especiais são competentes como de costume. Entretanto, embora as tomadas em si sejam diferentes, não deixa de ser um incômodo déjà vu a velha história do “alienígena-bolinha-de-luz que passeia pelo exterior da nave para depois passear pelo interior e finalmente se manifestar de forma corpórea”. Talvez isso resuma bem a premissa desse episódio: uma velha e manjada história, com uma roupagem apenas ligeiramente diferente.
Avaliação
Citações
“Can you only communicate by threatening a small child?”
(Você só consegue se comunicar ameaçando uma criancinha?)
Jean-Luc Picard a Isabella
Trivia
- Rick Berman foi um apoiador inicial da premissa desse episódio. Ele comentou: “Onde mais senão na ficção científica você poderia fazer uma ideia de um amigo imaginário que acaba não sendo imaginário? É uma história sobre um alienígena que toma a forma da amiga imaginária de uma menininha e começa a perceber nosso mundo pelos olhos de uma criança.”
- O roteiro passou por vários freelancers antes de receber a reescrita final de Brannon Braga. Nas versões iniciais, Isabella era uma alienígena amigável e curiosa. Braga decidiu levar a personagem a uma direção mais sombria. Ele comentou: “Não estava funcionando bem na sua versão original e Jeri Taylor, Peter Fields e eu quebramos a história e tentamos fazer da amiga imaginária mais como uma má influência. Antes, era mais como Puff, o dragão mágico, e o alienígena estava simplesmente curioso e não tinha intenções malignas. Era uma fantasia relaxada e divertida. Decidimos tornar o alienígena malévolo, fazendo mal à criança.”
- Antes de ganhar seu título final, o episódio foi provisoriamente chamado de “Invisible Friend”.
- Versões iniciais do roteiro não tinham Guinan. Quando Whoopi Goldberg acabou ficando disponível, seu personagem foi inserido na história poucos dias antes do início das filmagens. A cena em que eles observam nuvens com Data havia sido escrita originalmente para Crusher e Troi, e depois para Guinan e Troi.
- “Imaginary Friend” foi filmado entre 26 de fevereiro e 5 de março de 1992, nos galpões 8, 9 e 16 da Paramount.
- As filmagens da dançarina vista no episódio “Cost of Living” foram feitas simultaneamente à fotografia principal deste episódio, no dia 28 de fevereiro, nas dependências da empresa de efeitos Image G.
- Noley Thornton, que faz Clara, voltaria como outra criança, Taya, em “Shadowplay”, de Deep Space Nine.
- O episódio marca a quinta e última aparição da alferes Felton (Sheila Franklin). Todas ocorreram durante esta temporada.
- Pela primeira vez ouvimos algo sobre os pais de La Forge desde o início de A Nova Geração. Graças a isso, ficamos sabendo que seu pai e sua mãe são oficiais da Frota.
- Brannon Braga descreveu a escrita deste episódio como a que lhe deu maior gratificação na quinta temporada, pela chance de usar crianças num papel importante. Ele também admitiu que não é um dos favoritos do público. “Era uma historinha bonitinha, talvez um pouco previsível. O conceito poderia ter sido melhor como um episódio de meia hora de Além da Imaginação do que uma hora de A Nova Geração.”
Ficha Técnica
História de Jean Louise Matthias & Ronald Wilkerson e Richard Fliegel
Roteiro de Edithe Swensen e Brannon Braga
Dirigido por Gabrielle Beaumont
Exibido em 4 de maio de 1992
Título em português: “Amigo Imaginário”
Elenco
Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Elenco convidado
Noley Thornton como Clara Sutter
Shay Astar como Isabella
Jeff Allin como Sutter
Brian Bonsall como Alexander Rozhenko
Patti Yasutake como Alyssa Ogawa
Sheila Franklin como Felton
Whoopi Goldberg como Guinan
Enquete
Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria